Trovadores em Ordem Alfabética

  • A (49)
  • B (5)
  • C (22)
  • D (12)
  • E (14)
  • F (12)
  • G (9)
  • H (11)
  • I (4)
  • J (31)
  • L (34)
  • M (31)
  • N (8)
  • O (12)
  • P (11)
  • R (18)
  • S (13)
  • T (4)
  • V (5)
  • W (9)
  • Z (2)

sábado, 9 de agosto de 2025

Gilson Faustino Maia Petrópolis/RJ)

1
A ecologia é ciência
hoje muito comentada.
Busca o fim da violência
aos seres vivos, mais nada!
2
A lua vive distante.
Não chega perto porque
não quer olhar seu semblante
e a luz que vem de você.
3
A temperança eu conheço
por virtude necessária.
Seja na infância o começo,
como tarefa diária.
4
Cintura fina, eu sabia,
é de tanto trabalhar!
Não frequenta academia,
não tem tempo pra malhar.
5
Depois de uma certa idade,
querendo a vida entender,
vi que a mente da saudade
pode o passado esquecer.
6
Desde o berço à sepultura
caminharei sem temor,
conduzindo esta ventura:
ter nascido trovador.
7
Eu não sei se é por maldade,
porém é um fato frequente
chega um tempo em que a saudade
também se afasta da gente.
8
Falar de amor, eis o tema,
no céu, na terra, no mar,
na boate, no cinema,
onde eu puder te encontrar.
9
Fui ao doutor outro dia,
não me pergunte por quê.
Olhou a radiografia,
só viu, lá dentro, você.
10
Maria pula a fogueira,
mas cai, nas brasas, sentada.
Eis o fim da brincadeira:
a parte de trás queimada.
11
Na vida a gente imagina
tudo poder suplantar.
Olho os seus olhos, menina,
já começo a fraquejar.
12
Meus versos, quanta alegria
trazem ao meu coração.
À custa da poesia
é que eu suporto a traição.
13
Não é o mesmo que outrora,
mas vale a pena emendar.
Com amor que a gente adora,
vale reconciliar.
14
O leito ficou quebrado
pela dupla pesadona:
um cinquentão assanhado
nos braços da cinquentona.
15
Petrópolis, que beleza!
Que lugar encantador!
Já, assim, dizia a nobreza,
na corte do imperador.
16
Olha, amor, à minha mesa,
veneno e licor de vida.
Ou morro em minha tristeza,
ou vivo por ti, querida.
17
O sol nasceu, alegria!
Que bom que a chuva parou!
Vou secar a poesia
que a tempestade molhou.
18
Quando eu era bem criança,
as mãos limpas de aprendiz
transportavam esperança
de ser, um dia, feliz.
19
Quem parte deixa saudade.
Quem fica sofre demais.
Buscai a conformidade.
Desesperança? Jamais.
20
Saudade é coisa que passa
quando está pronto o caixão.
Oprime, destrói, amassa,
arrebenta o coração.
21
Se a gente, por vil destino,
perde, na vida, o que tem,
mais tarde, por dom divino,
perde a memória também!
22
Sofri e chorei baixinho,
fui te esquecendo, meu bem,
quando eu vi que o teu carinho
desembarcou do meu trem.
23
Tendo um passado tristonho,
desde os tempos de criança,
mostro o meu rosto risonho,
movido pela esperança.
24
Vamos buscar união,
paz, amor, fraternidade,
sem encolher nossa mão
ao querer felicidade.
25
Vejo, em minha fantasia,
que a sombra só diz verdade,
quando, à luz da poesia,
volto à minha mocidade.
26
Vem chegando o trem de ferro
entre os canteiros floridos.
Nele, você, se eu não erro,
vem pôr fim aos meus gemidos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Almerinda Liporage (Rio de Janeiro/RJ)

1
Bem caprichosa é a sorte
da infância desprotegida
que vive à espera da morte,
por nada esperar da vida.
2
Cantiga que me transporta
da angústia ao sono da paz
é ouvir a chave na porta
e teus passos logo atrás!
3
Com todo risco a correr
hei de em teus braços chegar:
sou rio que, até morrer,
corre à procura do mar.
4
Criança desprotegida...
feita de nãos e de nadas,
é só rascunho da vida,
rabiscado nas calçadas.
5
Do meu leito eu te arranquei;
mas por mais forte que eu banque,
do meu coração, eu sei,
não há nada que te arranque.
6
Em meu rosto deslizando
vem tua boca em anseios,
no teu beijo terminando
o mais doce dos passeios!
7
Em toda vida eu te vi
tão dentro dos sonhos meus,
que ao despedir-me de ti,
era a mim que eu dava adeus!
8
Eu sinto, na indiferença
com que o tempo me consome,
que em seu Livro de Presença
a vida apagou meu nome.
9
Meu orgulho se rebela
mas o amor faz perdoar,
porque a saudade é janela
que eu não aprendo a fechar.
10
Meus cataventos da infância,
em acenos coloridos
vejo ainda hoje, à distância,
catando sonhos perdidos.
11
Morre o amor .. o espólio é feito,
tudo partido em metade.
Minha inteira, por direito,
só ficou mesmo a saudade.
12
Mudou o jeito de amar...
E em nossa afeição madura,
a volúpia deu lugar
aos afagos da ternura.
13
Nas lâmpadas salpicadas
que enfeitam suas pobrezas,
as favelas enjeitadas
choram lágrimas acesas!
14
Nosso amor só necessita
de alguns metros de coragem,
porque a fronteira limita,
mas não impede a passagem.
15
Nosso amor tem tal magia,
que, mesmo em noites sem lua,
o luar, por cortesia,
brilha só na nossa rua.
16
Nós tanto nos pertencemos,
nosso amor vai tão além,
que nós dois já nem sabemos
qual de nós é mais de quem!
17
No verão era tão mini
a coleção que mostraram,
que uma passou sem biquíni
e os presentes nem notaram!
18
O espelho mostra inclemente,
nas marcas que o tempo aviva,
que hoje eu sigo para a frente
em contagem regressiva.
19
Pela “conversa” de amigo
e esse adeus dito com arte,
o que tu fazes comigo
não é renúncia, é descarte.
20
Por que crianças com frio
não tem o sol de um abraço,
se em tanto braço vazio
há desperdício de espaço ?
21
Por um orgulho idiota
eu não quis lutar por ti...
E com medo da derrota,
mesmo sem luta perdi.
22
Prometo seguir teus passos
na prece em que me concentro,
até que a cruz dos teus braços
se feche, comigo dentro.
23
Quebraste a nossa harmonia
e escravizado ao teu jeito,
meu coração, hoje em dia,
é um corpo estranho em meu peito.
24
Que valem os planos meus
de um dia acertar meus passos,
se o céu me acena com Deus
e eu busco o inferno em teus braços.
25
Se cantar alegra a vida,
por que se vê, pelo chão,
tanta cigarra caída
no fim de cada verão?
26
Sem dúvida nem receios,
meu eu te entrego desnudo.
Se o fim justifica os meios,
o amor justifica tudo!
27
Sem enredo a minha história
foi no tempo se perdendo:
se existe um dia de glória,
a vida está me devendo.
28
Se uma Trova me entristece,
fazê-la, sei que não devo ...
Tristeza ninguém merece
e, por isso, eu não a escrevo...
29
Se voltares por fineza,
entra e pisa devagar;
não acordes a tristeza
que cansou de te esperar.
30
Tão forte nos abraçamos,
confundidos no entrelaço,
que eu acho até que trocamos
de corações nesse abraço!
31
Teu ciúme em demasia,
sem limite a respeitar,
transformou em tirania
tua maneira de amar.
32
Tuas recusas sem jeito
mostram, de modo evidente,
que tens meu corpo em teu leito,
com outra imagem na mente.
33
Uma verdade evidente
não há texto que distorça:
-Ante a imagem contundente,
a palavra perde a força.
34
Um choque levou Zequinha,
sem fios e sem tomada,
ao se ligar na vizinha,
com a mulher dele ligada...

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Santiago Vasques Filho (Teresina/PI, 1921 - 1992, Fortaleza/CE)

1
A chuva traz à lembrança
uma janela quebrada,
a casa humilde e a criança
olhando, triste, a enxurrada.
2
Agora, sem mais nem quando,
sofrendo porque fugiste,
eu sonho que estás voltando,
para eu deixar de ser triste…
3
A jangada, quando alcança
dos mares a imensidade,
leva no bojo a esperança,
deixa na praia a saudade.
4
- Algo impede o casamento?
Se alguém sabe, agora fale!...
- Eu sei, seu padre... - Um momento!
Você é o noivo, e assim não vale!
5
Ao migrante maltrapilho,
que cruza o adusto sertão,
só resta, ao morrer-lhe o filho,
o consolo da oração…
6
Ao te encontrar, sem querer,
tarde linda, sol morrente,
mais triste que te perder
foi te rever novamente.
7
Apregoa o Zé Seráfico,
que a mulher está na dela:
- como um filme fotográfico,
só no escuro se revela…
8
Buscando esperanças vãs
no descompasso dos prazos,
gastei, sem ver, mil manhãs
e não sei quantos ocasos.
9
Cai a chuva fina e mansa,
e, na janela, que graça:
- O nariz de uma criança
achatado na vidraça!…
10
Casa assombrada... sombria...
Portas rangendo... Arrepio...
E o Zé tremia, tremia,
dizendo que era de frio!…
11
Coragem!... Sua mulher
tem poucos dias... Lamento...
- Doutor, se o destino quer,
mais uns dias eu aguento...
12
Da loja um ladrão levou
cristais valiosos ao léu,
e o lojista assim rezou:
- Pai nosso cristais no céu...
13
Das mágoas, dos sacrifícios,
das dores, dos sofrimentos,
fiz enormes edifícios
onde alugo apartamentos.
14
De longe, não desconfias
que, esperando tua volta,
tua ausência de mil dias
traz mil noites de revolta.
15
De repente este conflito,
quando a ausência me revolta,
por tudo que não foi dito
para trazer-te de volta!
16
Desconfio que a velhice
chega sempre bem depressa
quando se faz a tolice
de pensar que ela começa...
17
Descrente, maldigo até
meus atos de contrição,
por não ter, a minha fé,
o tamanho da oração!…
18
De volta à casa paterna,
revejo os vitrais antigos,
por onde a saudade eterna
repassa rostos comigo…
19
Diz, de cabeça enfaixada
- Não brigue, nem se aborreça.
Sua mulher, se é charada,
a minha é quebra-cabeça !...
20
Diz que vai me abandonar,
cai em pranto mas, depois,
perdoa e põe-se a rezar,
pedindo aos céus por nós dois…
21
Eis-me no inverno da vida
velando ocasos tristonhos,
mantendo a mão estendida,
tentando alcançar meus sonhos…
22
Ela se foi manhã cedo,
furtiva, sem que eu a visse,
guardando o rumo em segredo
para que eu não a seguisse.
23
Em passos e contrapassos,
ao som de acordes tristonhos
sempre foges dos meus braços
no bailado dos meus sonhos...
24
Endoidou e, em seus chiliques,
diz que é um relógio em destaque,
por isso vai, com seus tiques,
repetindo - tique-taque…
25
E o marido da Mercedes,
pintor sagaz, com seus trecos,
de dia pinta paredes,
de noite... "pinta os canecos".
26
Eu baterei na janela...
Confia em mim! - prometeu...
Mas foi a saudade dela
quem na vidraça bateu…
27
Grita a mulher do ladrão:
- Por onde andaste, cretino ?...
Não vejo qualquer menção
de assaltos, no matutino!
28
Há muita gente enganosa
qual goiaba sazonada:
- Por fora, a casca sedosa;
por dentro, podre ou bichada!
29
Maria!... grito, encantado,
quando me encontro sozinho.
Mas, quando estou ao seu lado,
só sei dizê-lo baixinho...
30
Não fosse a dor no traseiro,
numa corrida recorde,
diria, ainda, o carteiro,
que "cão que ladra não morde!...’
31
Não quis ver tua partida
nem teus acenos de adeus,
quando, agora, a tua vida
tem rumos que não são meus.
32
Não vivas com tanto orgulho
em razão do teu talento,
o tambor, que faz barulho,
tem, por dentro, apenas vento!
33
Na tua mão estendida
para este aperto de adeus,
vejo que a linha da vida
tem rumos que não são meus.
34
Nestas horas de sol-posto,
na saudade mais atroz,
nas fotos, beijo-te o rosto;
nas cartas, ouço-te a voz.
35
No forró do Zé Pancada,
que acabou no maior pau,
o Chicão desceu a escada
sem pisar nenhum degrau!
36
No peito a amargura cresce,
quando o caboclo, tristonho,
pede o inverno para a messe
e o inverno é apenas um sonho!
37
Numa farmácia, a freguesa
- Tem sal de frutas aí ?
Tem ? Então, por gentileza,
me dá um de abacaxi...
38
Nunca vi almas! - diz rindo.
E um cara na sua frente,
foi sumindo... foi sumindo...
transparente... transparente...
39
Os teus vestidos, Vitória,
e os lindos sapatos altos,
representam promissória
pela qual dou muitos saltos!
40
O velhinho monologa
contra o remédio, no leito:
- De que me adianta esta droga,
se o resto não tem mais jeito?!…
41
O velho galo, à noitinha,
ouviu a franga assanhada
dizendo para a galinha :
- Ele ainda "canta"... e mais nada!
42
Pago as vidraças quebradas,
que quebrei quando menino,
com as violentas pedradas
que hoje levo do destino!
43
Pelo espaço onde flutua,
nas noites claras de estio,
a lua ri de outra lua
que faz caretas no rio.
44
Pintora boa, de fato,
tem talento a Elizabete,
pois pintando o auto-retrato,
pintou-o "pintando o sete".
45
Por ser muito procurada
pra fazer qualquer trabalho,
foi, na loja, apelidada
de "garota quebra-galho"…
46
Promessa, cheia de graça,
de regressar, ela fez...
... Mas quem bateu na vidraça
foi a saudade, outra vez…
47
Quando teus olhos eu fito,
rezo neles a oração
de um monge em transe, contrito,
num ato de adoração!
48
Realismo mesmo mostrou
o pintor sacro Gregório,
que óleo de rícino usou
pra pintar... o purgatório!
49
Sem rival na adulação,
Belarmino Guararapes
chega a usar mata-borrão
no que o chefe escreve a lápis!…
50
Se não tens mais esperanças,
tantos são os teus fracassos,
muda o curso das andanças...
toma o rumo dos meus braços!
51
Se o patrão conta piada,
puxa-saco faz assim:
solta logo a gargalhada,
sem esperar pelo fim.
52
Se o tormento, como dizes,
é a remissão dos pecados,
por te amar - é bom que frises -
eu tenho os meus perdoados.
53
Socialite na butique:
Qual é a moda, seu Andrada?...
Agora, madame, o chique
é pagar conta atrasada...
54
Sofrendo tuas demoras,
com meus sonhos moribundos,
maldigo a fuga das horas
na precisão dos segundos!…
55
Tendo aos braços o serão
de nove meses atrás,
Marília exclamou: Patrão,
fazer serão... nunca mais!
56
Teus olhos nos meus pousados,
em silente confissão,
são dois monges deslumbrados,
rezando a mesma oração!
57
Tua ausência, tão sentida,
seria menor castigo
se eu soubesse repartida
minha saudade contigo.
58
Tu partes... mas, por piedade,
ao me deixares sozinho,
tira o espinho da saudade
do rumo do meu caminho!
59
Vendo o galã na TV
beijar a sua parceira,
grita o garoto: - Mãiêêê,
igual papai e a copeira!…
60
Verdade que se proclama
pelo efeito contraposto:
- quem joga pedra na lama,
recebe lama no rosto.
61
Vê, Rosário, o que me aprontas!
Eu te conheço do berço.
Tens um rosário de contas
do qual não pagaste um terço!...
62
Vive o rio seu conflito
no dolente marulhar,
marulho que é quase um grito
por nunca poder voltar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Dagmar Aderaldo de Araújo Chaves Mombaça (CE, 1908 – 2002, Rio de Janeiro/RJ)

1
A minha Rosa querida
perfumada e humana flor,
eu prendi à minha vida
com chaves do meu amor.
2
Amizade que se perde
por motivos tão banais,
não merece ser lembrada,
pois era fraca demais.
3
Anchieta, a sua calma
e o seu exemplo de fé,
eu entrego esta minh’ alma
e a minha vida, de pé!…
4
Eu amo esta luz divina
que da Providência advém,
que a minha mente ilumina
e o meu coração também.
5
Hoje é um dia de festa!
Mais de que festa, é de glória.
Subiu ao céu, Anchieta,
deixando o nome na história…
6
Mesmo sem a luz dos olhos,
todo homem sabe em razão
tirar da vida os abrolhos,
tendo a luz do coração.
7
Meu amigo. Vê se aguenta…
Não posso alcançá-lo, não!
Pois, ao chegar aos oitenta,
já, você é noventão.
8
Mudam o tempo, o costume.
E a grande transformação
não tira o doce perfume
da saudade em gratidão.
9
Não temo a luta renhida.
Vim do Ceará. Sou forte.
Venço os embates da vida
e as garras da própria morte.
10
No dia nove de junho
quando Anchieta morreu,
o mundo deu testemunho
que mais um Santo nasceu.
11
Para o céu irei um dia
e com Jesus, de mãos dadas,
ver que Anchieta – o meu guia
me guiou pelas estradas.
12
Qual um raio de esperança
com futuro promissor,
Ana Beatriz alcança
ao nascer, o nosso amor.
13
Que o Bom Deus com Anchieta
o Apóstolo do Brasil
proteja nosso planeta
com todo amor varonil.
14
Se não fosse um Anchieta,
Padre Cícero Romão,
era de temer a “gang”
e a máfia que aí estão.
15
Sim. Vale a pena viver
com muito amor fraternal
tendo fé e confiança
no Bom Deus Universal.
16
Sou Chaves. E a Rosa presa,
que tenho no coração,
tem o viço da beleza
da nossa longa união.
17
Sou poeta e jardineiro,
domino os versos e a prosa;
mas no meu lar – um canteiro,
pois quem manda mesmo é a Rosa.
18
Tenho dois netos bonitos
e uma filha bem querida:
– São três elos infinitos
que prendem a minha vida.
19
Vendo este mundo de dor,
com violência, sem Norte
peço sempre ao Salvador:
– Paz, amor e boa sorte.
20
Você me chama de velho
por desdém ou ironia;
mas se fosse meu amigo,
“velho amigo” chamaria.
21
Vou desfiando os meus dias
qual as contas de um rosário,
levando as horas vazias
da saudade em meu calvário.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Diamantino Ferreira (Campos dos Goytacazes/RJ)

1
À mesa…  taças de vinho…
Alívio de um sofredor.
Já não vive mais sozinho
quem encontrou novo amor.
2
A trova, de qualquer jeito,
chega forte e vai bem fundo.
Em seu contexto perfeito,
já percorreu todo o mundo.
3
A velhinha nem repara
na dança da bailarina:
seu tempo há muito passara…
- Pobre dela!  Triste sina!
4
Beijo nas faces, carícias
- como tantas, inocentes;
mas abraços são primícias
dos desejos mais ardentes!
5
Bonecos… acorrentados!
Libertar-se?  Isso em vão!
Se um tem os lábios selados,
reclamar da escravidão?!
6
Em noite de lua cheia,
tanta luz por sobre o mar…
Bem mais que o dia, clareia
bela noite de luar!
7
Escrevem tanta besteira!
Parem com isso, de vez!
Pois quem des…fralda  bandeira
de… frauda   o  bom  português!…
8
Gente na rua protesta,
mas nem pensa em trabalhar.
Diz que o governo não presta,
nada faz para ajudar…
9
Havia só uma ponte!
- Ao chegar, já vejo duas!
Que o progresso mais desponte...
Saudades de minhas ruas!
10
Lento barquinho que, às cegas
no mar da vida, encrespado,
sem menor temor – navegas
em busca do ser amado!
11
Lua, que vagas, serena,
na amplidão do azul celeste,
traz consolo à minha pena,
leva a dor que me trouxeste!
12
Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
13
Na mesma rede embalados…
Porém a vida é tão dura!
– No que pensam namorados
se não na vida futura?!
14
Não há palavra nenhuma
tão grande quanto “saudade”
que em sete letras resuma
a dor e a felicidade.
15
Não me negues teu retrato,
que isso é tola precaução,
pois já o tenho, de fato,
gravado no coração!
16
Não sou ave, nem sou peixe;
nunca aprendi a nadar,
mas peço a Deus que me deixe
um dia destes voar!
17
Nunca fui águia altaneira,
como nunca fui condor:
– remédios à cabeceira,
somente um velho… com dor.
18
Os meus garbosos oitenta
jamais pensei alcançar:
será que a carcaça agüenta
uns outros mais a chegar?
19
Para nos meter o malho,
como se fosse inimigo,
Deus inventou o trabalho,
deu-nos sogra por castigo!
20
Praia…  Sentado na areia,
sem nuvens de tempestade,
enquanto a mente vagueia
alguém chora de saudade!
21
Quando a mãe beija seu filho
- tesouro herdado de Deus! -
quanto fulgor! Quanto brilho
se espelha nos olhos seus!
22
Quão  tola a galanteria
que, em bailes, a multidão
exibe, falsa alegria
que não tem no coração!
23
Sendo unidos, todos nós,
podemos salvar  o mundo.
Vamos juntar-nos e, após,
nenhum prazer mais profundo!
24
Ser feliz é ser poeta;
mais feliz, só trovador:
ambos, sendo um só esteta,
dizem tudo com amor!
25
Sofrem tantos na agonia
do delírio, dito "amor";
isso tudo acaba um dia,
faz frio após o calor...
26
Tantos anos, e eu daqui,
cuidei da vida lá fora;
fiquei moço, envelheci...
- Mas estou voltando agora!
27
Temperança é sobriedade,
em tudo, moderação;
não usar à saciedade
o pouco que tem na mão.
28
Trovador!  Que trova fazes?
– Amigo, nem sei dizer!
Com ela, já fiz as pazes,
casados até morrer!
29
Uma placa numa estrada
deseja felicidade.
Mas, não sendo respeitada,
vem a morte… a eternidade…
30
Um casal apaixonado 
que anseia por se casar, 
vendo o relógio parado, 
cansou de tanto esperar…

Baú de Trovas 10

  451 Cresce a cidade… que pena… crescendo, perde a poesia; – na rua ninguém me acena, ninguém mais me diz bom-dia! A. A. DE ASSIS = = = = =...