Trovadores em Ordem Alfabética

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sábado, 2 de agosto de 2025

Fernando Câncio de Araújo (Fortaleza/CE, 1922 - 2013)

1
Adeus... e foste saindo,
dizendo que voltarias...
E a saudade entrou sorrindo,
da mentira que dizias...
2
A ilusão da meninice
com meus netos se refez:
– agora, em plena velhice,
eu sou criança outra vez!…
3
A mão triste, vacilante,
de porta em porta estendida,
é o troféu mais humilhante
que o pobre ganha na vida.
4
A mulher do seu Ventura
tem o beijo tão sugante,
que engoliu a dentadura
do dito... 'naquele instante"…
5
Ao ver-te assim neste encanto,
mãos postas em oração,
fiquei invejando o santo
que olhavas com devoção.
6
A vida de faz-de-conta
que levo desde menino,
é brinquedo de desmonta
nas peças do meu destino...
7
Bimbalham sinos tristonhos
entre as horas esquecidas,
como a lembrar velhos sonhos
perdidos em nossas vidas…
8
Enquanto o sino da igreja
martela o bronze perfeito,
minha saudade solfeja
na catedral do meu peito…
9
Entre velhos e crianças
há dois sinos na medida.
Quando um bimbalha: – Esperanças.
O outro bate o “pôr-da-vida”.
10
Era um poeta de mão cheia,
hippie, cabelos revoltos...
Só poetava na cadeia,
detestava versos soltos!
11
Meus olhos cheios de mágoa
buscam as pedras do chão,
são dois riachos sem água
perdidos na imensidão…
12
Nas tardes calmas sentidas
Bem-te-vi - que afinidade:
– tu a cantar - tristes vidas
eu, vida triste - saudade!
13
Na velha igreja em ruína,
desprezada em abandono,
a cruz cansada se inclina,
boceja o sino de sono.
14
Nesta saudade abrangente
que maltrata qual açoite,
vejo teu vulto silente
passando dentro da noite!
15
No palco azul desta vida
toda paixão é uma fraude,
pois no ato da despedida
somente a saudade aplaude...
16
O morro grita o seu nome
num frenesi sem igual
e vai sambando com fome
a deusa do carnaval!
17
O nosso sonho termina
num adeus triste, exaltado,
deixando no chão da esquina
o teu retrato rasgado!
18
O que me importa a saudade
se os netos brincam lá fora,
a renovar a ansiedade
dos velhos sonhos de outrora?!...
19
Pescador dos verdes mares,
quando embarca em procissão,
nos lábios leva cantares
e no peito uma oração…
20
Saudade, marcas doridas
de um momento que passou;
bandeirinhas coloridas
que o tempo nunca rasgou.
21
Se de lágrimas brotasse
a água carente do agreste,
talvez nunca mais faltasse
inverno no meu Nordeste.
22
Sertanejo, envelheceste,
tal cardo nascido ao léu:
– quantas secas tu venceste
com os olhos postos no céu.
23
Tarde sem chuvas, de estio.
Cigarras, que afinidade,
passamos horas a fio
cantando a mesma saudade...

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Eulinda Barreto Fernandes (Bauru/SP)

1
Abra a janela da vida
e mostre o alegre viver!
Que essa saudade doída
não a faça se esconder.
2
Acumular sentimento
dentro do meu coração,
não deixar no esquecimento
o carinho ao nosso irmão.
3
A jovem que se escondeu
nas manhãs da minha aurora,
de repente apareceu
bem diferente de outrora.
4
A medalha pendurada
que está encostada em meu peito,
foi um presente da amada
hoje ... um romance desfeito.
5
A minha casa tem grade
servindo de proteção;
suspeitos em liberdade,
delinquente sem prisão.
6
A ponte do ódio e do amor,
precisa ser balançada
para que o amor, triunfador,
passe livre em caminhada.
7
Busco teu querer em vão,
e vou vagando sem rumo.
Tropeço na solidão...
meu produto de consumo.
8
Cai a tarde e vem à mente,
as que eu vivi no sertão:
– Meu pai, trazendo a semente,
que lhe cabia na mão.
9
Da cadeira que balança,
e dos seus olhos tristonhos,
trago, na minha lembrança,
a vovó no fim dos sonhos.
10
Da casinha... que saudade
- perto da linha do trem -
Faz lembrar a mocidade
e as rodas em vai e vem.
11
Desfolhei as margaridas
pra saber do bem querer...
Mal querer às escondidas,
estava sempre a vencer!
12
Em cada página um poema,
em cada verso a emoção
de encontrar, sem ter dilema,
estampada a inspiração.
13
Foi do campo de batalha ...
- que tristes lembranças traz! -
Trouxe consigo a medalha
e o que queria era a paz!
14
Foi no calor da lareira...
com seu cheiro em toda casa,
me tomaste por inteira
deixando meu corpo em brasa.
15
Folhas mortas ... e eu revivo,
a cada outono que vem,
o nosso laço afetivo
e desse amor sou refém!
16
Há um renovar de energia
e um futuro de esperança,
ao sentir, na mão macia,
o carinho da criança!
17
Minha idade vem rolando
como as pedras no caminho.
Pedra a pedra vou juntando,
edificando o meu ninho.
18
Minha trova aprisionei
em moldura colorida,
o fato é que ali deixei
um pouco de minha vida.
19
Murmúrio que vem no vento,
com certeza deve ser
a voz de Deus, em lamento,
querendo nos proteger.
20
Na travessia da vida
 enfrentamos a batalha:
 - Ora se perde a investida...
 - Ora se ganha a medalha!
21
Na vida de um trovador
há sentimentos variados
e é da alegria e da dor,
que faz seus versos rimados.
22
No jardim em que plantei
para decorar minha alma,
lindas flores cultivei...
Espinhos? Tirei com calma.
23
O adeus assina a sentença...
e eu vejo, em meu padecer,
quando a tua indiferença
vira a página...sem ler!
24
O descendente italiano
sempre tem um sonho a mais:
– atravessar o oceano,
ver a terra de seus pais.
25
Para matar a saudade,
o meu diário eu abri.
Recordei, da mocidade,
momentos bons que vivi!
26
Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história...
Na página envelhecida
eu te prendi...na memória!
27
Por medo de te perder
ou por falta de coragem,
procurei sempre esconder
a minha parte selvagem.
28
Quando o feitiço acontece,
na loucura da paixão,
o nosso corpo padece
e perdemos a razão.
29
Se dói voltar ao passado,
quero sentir essa dor.
Lembranças... de um namorado:
– único e primeiro amor.
30
Sentindo o peso da idade
e, agora em compasso lento
vem, em mente, a mocidade
que se foi... tal qual o vento.
31
Sobreviver nesta vida
é travar uma batalha:
– chora-se a cada partida;
vibra-se a cada medalha!
32
Tantos anos e eu ausente...
Anos que eu sobrevivi.
Hoje vivo intensamente
compensando o que perdi.
33
Tristeza de um pescador
com a canoa no rio,
pensando no lar... e a dor
da fome e também do frio.

 BRINCANDO COM A SAUDADE

34
Anos atrás, as crianças
criavam as brincadeiras.
Eu trago, em minhas lembranças,
algumas mais costumeiras.
35
A tampinha da garrafa
era o jogo de botão.
Figurinha em bafa-bafa
e sempre de pé no chão.
36
Cantava escravo de Jó,
sem largar minha boneca.
Da galinha carijó,
as penas viram peteca.
37
Salva, carrinho de lata,
aviãozinho de papel,
como era quente a batata...
melhor é passar anel!
38
Cinco Marias trazia,
guardadas em embornal
e também quando chovia
o barco era de jornal.
39
Chega à noite, ao me deitar
e estando muito cansada,
estória vou escutar,
contada por uma fada.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Glória Tabet Marson (São José dos Campos/SP)

1
A alegria de viver
vai depender do momento...
Veranear pode ser
perfeito acontecimento.
2
A Escola se consolida     
quando o aluno, bem formado,
vai bem na escola da vida
por ter sido preparado!
3
Alegria de viver,
jamais poderá ter freios...
Sorrisos vão aquecer
todos os meus galanteios!
4
Atraídas pelas cores,
pela beleza que impera,
crianças fazem das flores
saudação à Primavera!
5
Buscando tecnologia,
o mundo, de hoje, se esquece
que a família em harmonia
tem o amor que nos aquece!
6
Céu do Brasil refletido
nas águas de um grande rio
retrata o país movido
por gente de muito brio!
7
Chegar às nuvens é sonho
de fugir da desventura,
mas jamais será tristonho
aquele que a Deus procura!
8
Cheiro de mato, gorjeio
dos pássaros... Que saudade!
Nada mudou e o passeio,
uma volta à mocidade!
9
Como faz a talhadeira
retirando toda aresta,
amolda-te por inteira:
– a vida vira uma festa!
10
Com uma enorme tristeza
que invade o meu coração,
eu contemplo a natureza,
fugindo da solidão.
11
Cor da pele? Quer saber?
não faz ninguém diferente.
Diferente é sempre ter
coração benevolente!
12
De barco, para o recanto,
fui por rio sinuoso,
e aquele pavor, no entanto,
tornou-se algo prazeroso!
13
Dia e noite navegando,
eu busco a felicidade...
céu e mar vou contemplando,
vendo você com saudade!
14
Do trem, a vista florida
logo foi me surpreendendo;
se assim olharmos a vida,
de sonhos vamos vivendo!
15
É gente que vai e vem
nesta vida de labuta;
São Paulo não se detém,
é cidade resoluta!
16
Enquanto favorecidos
levam vida sem coragem,
muitos pobres, decididos,
lutam, fraquejam, mas agem!
17
Esta família preciosa
ninguém de nós escolheu;
cordial e generosa,
foi Deus quem nos concedeu!
18
E vendo o tempo que passa,
afloram recordações:
– as retretas lá na praça,
flertes causando emoções!..
19
É verão, a natureza
se aprimora: o sol ardente,
o azul do céu... e a certeza
desse Deus onipotente!
20
Folhas e folhas rasgadas,
escritas com tanto ardor,
hoje “páginas viradas”
do que foi um grande amor!…
21
Homem de olhar penetrante,
sem que a donzela resista,
está certo que, por diante,
estará feita a conquista.
22
Na grinalda e no buquê,
flores brancas e amarelas;
se tudo tem o porquê:
isto é sonho das donzelas!
23
Não precisa ter chuteira
para mostrar futebol;
quem tem batida certeira
terá um lugar ao sol!
24
Nem sempre ter liberdade
traz total satisfação;
eu, presa a você, verdade,
mantenho acesa a paixão!
25
Num céu de rara beleza,
um arco-íris resplandece...
e, olhando, tenho a certeza:
é luz de Deus que aparece.
26
Onde tudo foi escuro,
mar e lua resplandecem;
sendo assim, eu asseguro:
namorados aparecem!...
27
O “ser feliz” nesta vida
está na simplicidade,
um só carinho, querida,
traduz a felicidade!
28
Preservação se constata
no Mato Grosso do Sul,
pois voa por toda a mata
a formosa arara azul!
29
Que bom se o Sol encoberto,
por nuvens de poluição,
mostrasse ao homem, por certo,
o tamanho da agressão!
30
Que bom seria se a Terra
estivesse em boas mãos,
liberta de qualquer guerra,
seriam todos irmãos!
31
Registrar minhas andanças
me traz intensa alegria;
com essas doces lembranças,
não deixo a vida vazia.
32
Saudemos nossa amizade
com o mais alegre brinde:
que ela a ninguém desagrade,
e que jamais ela finde!
33
Sei que nada nos aparta,
nem a distância malvada,
pois ao abrir sua carta...
Vejo-me até abraçada!
34
Tempo passa, vai embora...
restam lembranças, saudade...
busque, então, em cada aurora,
a doce felicidade!
35
Um rapaz encantador
agrada qualquer donzela,
se faz as juras de amor
num jantar à luz de vela.
36
Vale a pena envelhecer,
viver o hoje e ser feliz;
o passado remover
sem deixar a cicatriz!
37
Vão meus beijos tão distante,
levando o que mais esmero:
sentimento fascinante
de um amor sempre sincero!
38
Voando a primeira vez,
por entre nuvens passei;
quem sabe um dia, talvez...
estrelas contemplarei.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Sérgio Bernardo (Rio de Janeiro/RJ)

1
A glória não mais me acena...
Mas, por amor à ribalta,
eu sou artista que encena,
mesmo se o público falta!...
2
A nuvem que o céu escreve,
desfeita no entardecer,
é uma carta clara e breve
que o vento rasga sem ler...
3
Ao meter no basculante
seus cem quilos de ousadia,
que sufoco o do assaltante:
–  não entrava... nem saía!
4
Ao sentir que a noite nasce,
fecho as cortinas, ligeiro,
pra que o luar não te abrace
sem que eu te abrace primeiro!
5
Ao velho ator fracassado
resta o cenário sombrio
de um projetor apagado
junto ao cinema vazio...
6
Ao ver, com creme vermelho,
da esposa o rosto emplastado,
teve impressão o Botelho
de que entrou no inferno errado!
7
A Rainha, em sua ira,
quer presa a velha condessa,
porque, à noite, o Rei não tira
a "coroa" da cabeça!
8
A vida nada me entrega...
mas quando durmo, a teu lado,
sonho ter o que ela nega
sempre que sonho acordado!!!
9
Baiano, ele odeia pressa,
E avisa, ao se machucar:
–  Se tiver de pôr "compressa",
que seja bem devagar!!!
10
Cava o tempo uma cratera
onde a infância se ocultou,
pois não encontro quem era
no semblante de quem sou...
11
Celular eu não tolero
desde um pré-pago que eu tinha,
que tocou “Mamãe eu quero...”
no velório da vizinha!
12
Chega gritando o anãozinho
no velório do Jacó...
Pede alguém: – Fala baixinho!
E ele diz: – Baixinho é a vó !!!
13
Chegam antes do café...
E a comadre, num sussurro:
–  Visita que vem a pé
quase sempre “amarra o burro”!
14
Comprovo, num pranto mudo,
após a espera frustrada,
que o depois promete tudo
mas não cumpre quase nada!
15
Delírio próprio de um louco,
a que o amor me tem exposto:
–  Olhei-me no espelho há pouco
e em vez do meu... vi teu rosto!
16
Depois de um sonho frustrado
que a própria vida desfez,
insiste... volta ao passado
e sonha tudo outra vez!...
17
Entardece...e a dor dos sós
entra em meu quarto sombrio.
Ontem...tão cheio de nós...
E hoje...de ti, tão vazio!
18
Envelhecemos... Nós dois...
E hoje é que voltas, por fim...
Não pensei que o teu "depois"
fosse tão depois assim...
19
Feitos de instantes tristonhos,
se os meus dias são banais,
não é porque faltam sonhos,
mas porque há mágoas demais!...
20
Fiz à luz de um candelabro
a poesia aqui guardada.
–  Ele sabe o quanto me abro
nessa gaveta trancada.
21
Foram tantos namorados
com mãos lascivas demais,
que hoje ela é um banco de dados
só de impressões digitais!
22
Grita a roceira, ao olhar
seu filhinho na balança :
–  Doutor, só vim consultar...
Não vim vender a criança!
23
Meu sonho, num louco intento,
quis o céu e, em gesto aflito,
prendeu-se à pipa que o vento
despedaçou no infinito!...
24
Minha alma é nau que se solta,
e eu, sem comando de mim,
ouço os gritos de revolta
dos meus sonhos em motim !
25
Na campa do tal rapaz
que no batuque era um bamba,
em vez de por: "Aqui jaz"...
alguém gravou: "Aqui samba"…
26
Na festa de caridade,
Zé, com cara de tragédia,
tirando a média de idade,
foi parar na Idade Média!
27
Na porteira passa o dia
e a quem passa ele se queixa:
– Eu, por mim, trabalharia...
a preguiça é que não deixa!
28
Nas garras de amor tão louco
que exige agora o depois,
uma vida é muito pouco,
para o encontro de nós dois!
29
Nas horas de desencanto,
não me falta um bom amigo
que, se não seca o meu pranto,
ao menos, chora comigo!...
30
No churrasco, um pelo branco...
E o freguês, desconfiado:
–  Acho que o “boi” desse espeto
já “miou” no meu telhado!!!
31
No portão, seu “Love” a agarra...
E a mãe a põe na berlinda:
–  Tão cedinho e já na farra?
Diz ela: –  Já, não... Ainda!!!
32
Nos corações onde agora
falta o encanto da alegria,
quem sabe não tenha outrora
também faltado ousadia...
33
O elevador não fechava;
e, irritada, uma roceira
quis saber onde ficava
a "tramela" da "porteira"!!!
34
O Pacote é bom, Batista?
–  Pra mim é, pois dá dinheiro...
–  Ah, o amigo é economista?
–  Não, senhor... sou pipoqueiro!
35
O Zé segue o enterro... E ao ver
seu rosto, um verme diz, sério:
–  Quando esse "troço" morrer,
eu fujo do cemitério!...
36
Pelo guarda não multada
por dirigir velozmente,
exclama a moça, espantada
–  Meu Deus, que guarda imprudente.
37
Piada foi quando o Augusto
entrou no armário, apressado,
e quase morreu de susto
quando alguém disse: - Ocupado!
38
Pra falar sozinho, a esmo,
o louco quis inovar,
telefonando a si mesmo
do orelhão pro celular!...
39
Quando um cão grã-fino olhou
sua cadela, de esguelha,
meu cão pulguento ficou
"com a pulga atrás da orelha"!
40
–  Quero ficar um bebê...
Doutor, quais rugas removo?
–  O remédio pra você
seria nascer de novo!!!
41
Quis remédio contra insônia,
mas, sem óculos, não viu
que abria o vidro de amônia...
Aí, sim, que não dormiu!!!
42
– Refém do teu pouco caso,
de alvoradas não entendo...
Meus dias só têm ocaso
sem teu sol me amanhecendo…
43
Se entre os monstros, algum dia,
fosse eleito um presidente,
o fantasma venceria,
pois só ele é "transparente"!
44
Sem ousar, temendo assombros,
meus sonhos recolho e guardo...
E agora sinto em meus ombros
o quanto pesa este fardo!
45
Sempre que a vida me assalta,
eu luto com tanto empenho,
que é quando a força me falta
que eu meço a força que tenho!
46
–  Seu filho pôs brinco, Elisa
–  Que é que tem ? É moda usar!
–  Não tem nada... Mas precisa
pulseira, anel e colar ?
47
Sozinho, ao fim das andanças,
desfio nas madrugadas
meu rosário de lembranças
de ousadias não tentadas...
48
– Subiu na vida o Fernando.
–  Ficou rico? - indaga o Lima.
–  Não, senhor Está morando
seis barracos, morro acima !!!.
49
Tão bom se alguém inventasse
– para o gasto ser contido –
um relógio que marcasse
somente o tempo perdido.
50
Tem um cacoete vulgar
indo à reza, tal senhora:
na pressa de comungar,
já vai com a língua de fora!
51
Uma ironia que arrasa
quem vê perto a despedida:
– Sobram relógios na casa,
mas falta tempo na vida.
52
Vovó fez rir a torcida,
e a gincana quase "fura":
–  Quando a maçã foi mordida,
levou junto a dentadura!
53
Vovó se afoga ... e, no cais,
com vovô tentando a cura,
o boca a boca foi mais
dentadura a dentadura.

Oswaldo Soares da Cunha (Governador Valadares/MG, 1921 - 2013, Belo Horizonte/MG)

1 Abraços, beijos de fogo, em vez de aplacar o amor que anseia por desafogo, mais aumentam seu furor. 2 Abro os meus olhos e vejo que a manh...