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sábado, 28 de janeiro de 2017

Lucilia Alzira Trindade DeCarli



1
A mensagem do poeta,
por muitos despercebida,
de forma sábia e completa
exalta a essência da vida!
2
Ante um fato contundente,
não podendo fazer nada,
é nas mãos do Onipotente
que eu coloco a minha estrada.
3
Antes que a vida se acabe,
não seja vão o viver
e aquilo que não se sabe,
que se comece a aprender.
4
As cinzas, na quarta-feira,
servem para nos lembrar
que esta vida é passageira
e que ao pó vamos tornar…
5
Da sua casa ao cartório
apenas um quarteirão...
Dada a preguiça, o casório
se fez por procuração.
6
Decretaste uma sentença
bem cruel, na despedida,
ao privar-me da presença
que era tudo em minha vida!
7
Deixando em mim forte anseio
pelo seu jeito de amar,
você se foi como veio:
- numa noite de luar!
8
Desde os tempos mais pagãos,
mulher, revelas quem és...
O mundo sempre nas mãos
e sempre um homem... aos pés!
9
Desprovida de coragem
não pude o amor declarar,
mas minha muda mensagem
estava escrita no olhar!
10
De volta, naquela viagem,
carregando o olhar tristonho,
via de perto a paisagem,
mas bem distante o meu sonho...
11
Envolvidos em discórdia,
a Deus pedimos perdão
e a "Eterna Misericórdia"
responde "sim"... de antemão!
12
Esta paixão, minha e tua,
transcende em cada arrebol…
Se é noite, ao clarão da lua,
e se é dia, à luz do sol!
13
Este ciúme, meu tormento,
brota em lágrimas veladas,
que, independente do intento,
revolvem "águas passadas"...
14
Foi pirraça inusitada
aquela da sogra à nora:
ficou com ela abraçada
para passar catapora!...
15
Levo pela vida afora
este dilema sem fim:
o "sim" que eu neguei outrora
fez mal ou bem para mim?!...
16
Mesmo em escrito disperso,
nossa língua portuguesa,
seja em prosa, seja em verso,
reveste-se de beleza!
17
Musa de tantos amores,
neles, inspirada a lua,
repete ao sol sem temores:
– “Incendeia-me… sou tua”!
18
Não conhece despedidas,
nem discórdias, nosso teto:
- é que ligam nossas vidas
os laços fortes do afeto!
19
Não sei se todos ponderam
a troca que o livro traz:
- grandes homens o fizeram,
grandes homens ele faz!
20
Na rua a multidão passa...
Humanos, juntos - é  certo -,
mas, vejo, pela vidraça,
cada qual no seu deserto.
21
Nas ruas de minha vida,
cada esquina uma lição,
e em cada etapa vencida,
muito zelo… de antemão!
22
Nau partindo – céu aberto,–
nas verdes águas do mar;
navega com rumo certo
na incerteza de chegar!…
23
Nem sempre vamos vencer
nessa ou naquela disputa...
O que importa é não perder
a coragem para a luta!
24
No bilhete em que disseste:
"vou, mas volto sem demora",
por descuido não puseste
nem o dia nem a hora...
25
Nos ombros dilacerados
Tu carregaste, Senhor,
o peso dos meus pecados
e o meu vazio... de amor!
26
Nossa amizade é tão forte
que eu ouso exemplificar:
– se um corre risco de morte,
o outro morre em seu lugar!…
27
O café, condecorado
por ter sabor sem igual,
hoje, fato consumado:
– é bebida universal!
28
O destino, em nossas vidas
trouxe o reencontro, depois
das distâncias percorridas
nos caminhos de nós dois
29
O relógio, sem piedade,
marcando o tempo inclemente,
foi transformando em saudade,
a esperança decrescente…
30
Os abraços das chegadas
e os abraços das partidas,
com tantas datas marcadas,
vão marcando as nossas vidas!
31
O terapeuta sugere:
- “Apimente” a relação!
Mas a mulher interfere:
- “Tô fora! Pimenta não!
32
Para enxergar a cobiça
e amparar prejudicados,
não deveria, a Justiça,
manter seus olhos vendados!
33
Por nunca amar quem me ama
e amar quem nunca me quis,
as feridas do meu drama
deixam dupla cicatriz...
34
Prisioneira deste encanto
que transmite o teu olhar,
preciso fugir, no entanto,
não quero me libertar!
35
Quando fingir é preciso,
seriamente eu me concentro:
– levo na face um sorriso,
enquanto eu choro por dentro.
36
Quando vens, só de passagem
no escasso tempo, mas pleno,
o amor faz grande a coragem
e o medo fica pequeno!..
37
Quem julga o seu semelhante
carrega pedras na mão
e o que odeia a todo instante,
as guarda em seu coração!
38
Quero ser como o coqueiro,
que não desiste, jamais;
mesmo envergado, altaneiro
à fúria dos vendavais!
39
Repasso o livro da vida...
Nessas páginas viradas,
reverti muita partida
em momentos de chegadas!..
40
Sanar miséria contida
no coração do indigente,
não consiste em dar comida,
mas tratá-lo como gente!
41
Se és menos corpo, mais alma,
se o mundo te fez ancião,
leva no semblante a calma
de ver findando a missão.
42
Sendo a existência pautada
com regras de retidão,
que a marca maior da estrada
seja os passos do perdão!…
43
Se viveres, amiúde,
longas noites de boemia,
perderás tua saúde
e para sempre a alegria…
44
Todo homem tem na mulher
um mistério a desvendar:
- sempre ela sabe o que quer,
mas nem sempre quer falar!...
45
Vigiando o companheiro
ela fica no seu pé;
só se afasta indo ao banheiro,
mesmo assim, de marcha a ré...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Maria Lúcia Daloce



1
Ao clamor da liberdade,
tremem os reis e as nações,
porque a força da verdade
tem mais força que os canhões!
2
À velha, o doutor confessa:
- Um susto ser-lhe-á fatal!
E o genro mais que depressa,
põe fantasmas... no quintal !
3
Com calma, plantai os grãos
e deixai-os florescer,
mesmo sendo, de outras mãos,
a ventura de colher!…
4
Com dois cálices de vinho,
na ilusão de “alguém” comigo,
bebo os dois, mas um restinho
finjo que é seu… e prossigo!
5
Contra as mágoas, a resposta
é que enxugues os teus prantos...
Sempre existe outra proposta
e com ela outros encantos!
6
Correndo de lá pra cá...
salário sempre apertado,
professor, no Paraná,
é “maior” abandonado!!!
7
De ilusões eu fui vivendo...
e a esperança, disfarçada,
via os meus sonhos morrendo,
mas nunca me disse nada!
8
Desconfiado o Godofredo
assim dizia, ouve bem:
- Quem sabe guardar segredo
não conta o seu pra ninguém!
9
De ser adulta, crescer,
quanta pressa eu tinha outrora...
Mas hoje ao envelhecer,
imploro ao tempo: - Demora!
10
Deus é um mistério, porém
os puros de coração,
entendem Deus, muito bem,
no dialeto da oração !
11
Diz o doutor, chateado,
que a pobre sogra morreu.
E o genro, todo animado:
- Muito bem, doutor, valeu!
12
Dos meus pais, da mocidade,
do café no terreirão,
guardo os fardos da saudade
nas tulhas ... do coração!
13
Em meus rascunhos guardados,
não há mistérios… Porque
nos versos que são lavrados
o tema é sempre… você!
14
Em tua ausência, a esperança
põe seus véus na realidade,
mas quem vive de lembrança
morre aos poucos… de saudade!
15
Entre os homens é preciso
plantar sementes de amor...
Para nascer um sorriso,
ao invés de tanta dor…
16
Entre os véus da noite, imerso,     
insone  em meu travesseiro,
escrevo  apenas um verso
e  a saudade... um livro inteiro!
17
Era Natal - eu me lembro!
nosso pinheiro enfeitado...
Hoje a saudade em dezembro,
põe enfeites... no passado!
18
Eu só queria "este emprego"...
e a idéia me entusiasma;
ter o salário e o sossego
de um funcionário... fantasma!
19
Foi numa briga acirrada
que se deu mal o grandão:
não foi na orelha... a dentada,
seu oponente era anão!
20
Foi um susto no velório
quando alguém gritou: - tá viva!
E o genro, em tom vexatório:
- Mas que velha vingativa!
21
Galgar os degraus da vida
requer audácia, demora.
Mas é enfrentando a subida
que o caráter se aprimora!
22
Imortal não sou agora,
mas eu tenho uma alegria:
– Sou poeta e ao “ir-me embora”…
deixo um rastro de poesia!
23
Jovem, se você me ouvisse,
daria aos velhos bom trato...
por entender que a velhice
é o seu futuro retrato!
24
Lá na roça em que eu trabalho,
passarinho um susto evita:
fiz da sogra um espantalho...
e a roça é sempre bonita!
25
Lavrador, por tuas mãos,
que Deus dotou de magia,
faz-se o milagre dos grãos,
dando o pão de cada dia!
26
Lavrador, são tuas mãos
que, em celeiros colossais,
deixam nas pilhas de grãos
as impressões…digitais!
27
Mesmo à distância, em teus braços,
minha saudade tem fim,
porque o amor, vencendo espaços,
faz a viagem... por mim!
28
Meu amor foi a semente,
nas covas de uma ilusão...
E floresceram, somente,
searas de ingratidão!…
29
Meu amor foi rua imensa...
onde o tempo fez, depois,
com a tua indiferença,
um abismo... entre nós dois!
30
Minha sogra é jararaca
e ao fingir que é minha amiga,
desafia e mostra a faca:
"Meu genro não é de briga!”
31
Minha sogra é uma eremita,
mas não sei por que razão
em minha casa é visita
de mala, cuia e colchão!!!
32
Minha vida hoje é um legado
de sonhos, renúncia... enfim,
por eu ter acreditado
mais nos outros... do que em mim!
33
Na altivez deste meu porte,
de rainha em pedestal...
existe a mulher que é forte
e a outra... que é de cristal!
34
Não fui covarde, lutei,
e o tempo deu-me as respostas:
- não fui eu que fracassei,
foi quem me virou as costas!
35
Não pares, se um vendaval
insiste em seguir teus passos;
quem faz sucesso é um cristal
que a inveja quer... em pedaços!
36
Não sendo o corpo imortal,
que não morra a boa ação:
Doar um órgão vital,
mais que amor... é salvação!
37
- Não tem cura a minha sogra?
Diz o genro a fazer planos...
E o doutor, zombando, logra:
- Ela aguenta mais cem anos!
38
Na pesca do Pantanal,
minha sogra foi também...
No escuro e não foi por mal,
aos jacarés fiz um bem!
39
Naquela mesa de bar,
nem nos tocamos, por medo...
Mas o amor em nosso olhar
era maior... que o segredo!
40
Nas mais árduas empreitadas,
sou feita de luz e raça;
porque à fúria das pedradas,
não temo em ser a vidraça!
41
Nesta viagem que é a vida,
o destino é o timoneiro,
mas a ilusão nos convida
a traçar outro roteiro!
42
No bilhete premiado
minha sorte deu azar:
- Vi meu prêmio confirmado,
mas me esqueci de jogar!!!
43
No meu velho travesseiro,
com as nossas iniciais,
teu amor breve e fagueiro
bordou lembranças... demais!
44
No ocaso da natureza,
com raridades infindas,
dos casulos sem beleza…
voam borboletas lindas!
45
Num sufoco, a seleção
prova a união do brasileiro:
se um deles tem convulsão,
treme e baba o time inteiro!
46
O doutor que faz serão
à noite e a semana inteira...
deve estar vendo a pressão
nos braços... é da enfermeira!
47
Olhar no espelho é magia
quando o rosto, envelhecido,
reflete com alegria
um jovem ... nele escondido!
48
O pau d’água não deu sorte
ao pedir “as saideiras’...
O garçom, um homem forte,
saiu com ele às carreiras!
49
Os meus natais de criança,
hoje eu sei, tinham magia.
Tios, pais, avós, festança...
tinham tudo e eu não sabia!
50
Quando há inverno maltratando
braços nus, sem cobertores,
peço a Deus um frio brando,
primavera, sol e flores!
51
Quem repara e só fuxica
certamente se esqueceu
de arrancar a "tiririca",
que na lingua floresceu…
52
Quem sofre uma desventura
não pode deixar de crer
que, após uma noite escura,
brilha a luz do alvorecer!
53
Saudade, esperança morta,
que ao coração não dá trelas...
Se a gente lhe fecha a porta,
ela arrebenta as janelas!
54
Se estou no rol dos profanos,
que muitos chamam de ateus,
a culpa é dos desenganos
profanando os sonhos meus!
55
Sem carícias, fui vivendo,
achando que estava certo.
E soa poucos fui percebendo,
a solidão bem de perto.
56
Sem os teus beijos e abraços,
sob a luz da solidão...
a saudade faz os traços
da tua sombra... em meu chão!
57
Sempre é triste a despedida
não importa em que linguagem,
mas bem pior que a partida
é não voltar... da viagem!
58
Sem presente e muito pobre,
a criança defendeu:
- Papai Noel é tão nobre...
Não foi desprezo, esqueceu!
59
Sempre voltas... E eu, magoada,
querendo dizer-te não,
enfeito a porta da entrada
com as flores... do perdão!
60
Sem teu amor e carinho,
brindo à ausência da ilusão…
neste cálice de vinho
com sabor… de solidão!
61
Se perder no jogo é azar,
sorte no amor é mancada...
Ao agarrar o meu par,
minha “dama’ era uma “espada’
62
Sogra invejosa é notório,
mas a do Zé não perdoa:
- Por pirraça, no velório
da “amiga”, foi de coroa!
63
Somando as horas de espera,
à falta dos teus agrados,
meus dias de primavera
são invernos ... prolongados!
64
Tiririca - erva danada,
que se espalha rapidinho ...
igual fofoca malvada,
espalhada em segredinho …
65
"Tiririca" é uma gentalha
que não tem o que fazer.
E praguejando se espalha
pra tentar aparecer.
66
Triste… a criança dizia
ao colega do orfanato:
– uma família eu queria;
nem que fosse… no retrato!
67
Um menininho de rua,
que uma família queria,
me pediu: - Me empresta a sua?
Nem que seja por um dia!

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sonia Maria Ditzel Martelo (1943 - 2016)


1
A chuva beijando o chão
o ventre da terra alcança
e é joia que no sertão
reluz em tom de esperança!…
2
A Natureza hoje chora
a cruel devastação
que faz o verde ir embora
e veste de cinza o chão !...
3
A nossa vida depende
de cuidas da Ecologia,
assim o verde resplende
em luz de infinda magia!
4
Ante os golpes do destino
jamais curve sua fronte,
olhe o pinheiro, menino,
tão altivo no horizonte !...
5
Ao ouvir a canção da alma
quando o silêncio se faz
sinto invadir-me tal calma
que encontro enfim minha Paz!...
6
As cordas de minha lira
levam-me a um mundo risonho
onde a saudade suspira
no doce embalo do sonho!...
7
A Trova é tão pequenina
mas quanta beleza encerra;
feliz de quem tem a sina
de espalhá-la pela Terra!...
8
Em sua onda cristalina
que nos afasta o conflito,
a Música nos fascina
e tem sabor de infinito!
9
É qual folha solta ao vento
o verso que diz minha alma:
– nem sei se tenho talento,
só sei que um verso me acalma!…
10
E quando nos falta o Amor
o mal vem logo em seguida,
tudo é treva, tudo é dor,
sem uma luz nesta Vida!...
11
Esta magia da Trova
um feitiço até parece,
tem a luz que a alma renova,
tem o encanto de uma prece !
12
Estes campos verdejantes
de minha terra querida
são esmeraldas brilhantes
a colorir minha Vida!...
13
Eu fui minha alma entregar
todinha para a Poesia
e assim achei meu lugar
num mundo só de magia!
14
Já perdida na distância
mas esquecida jamais:
adeus… adeus, minha infância,
adeus… até nunca mais!…
15
Maior conquista na vida
não é fama nem riqueza,
mas sim a vida vivida
para o Bem, para a Beleza!…
16
Marque presença na vida
pelas ações que pratica,
lembre: na hora da partida,
você vai… sua obra fica!
17
Meu veleiro de ilusões
singra os mares desta vida
e vencendo os vagalhões
talvez ache, enfim, guarida!…
18
Minha mais doce ilusão
é pensar que sou feliz
sem saber que o coração
fez de mim o que bem quis !...
19
Música que nos acalma
é sublime inspiração
a tanger nas cordas d’alma
pelas notas da emoção!
20
Não existe mais pureza,
mais encanto e mais calor
do que assistir a beleza
do despertar de uma flor!
21
Nas coisas simples que faço
tristeza não me pões véu:
– procurando meu espaço,
eu penso chegar ao céu!…
22
No gérmen que se faz planta
a promessa é chama acesa
dourando o trigo que encanta
e que põe o pão na mesa !...
23
Nos mistérios deste outono,
as folhas caindo ao chão,
tecem colchas de abandono
que envolvem minha ilusão! ...
24
Nossa vida é só ilusão
e o tempo é quem nos conduz
até o fim dessa missão
rumo a um tempo só de luz!…
25
Nos vendavais deste outono,
as folhas caindo ao chão
tecem colchas de abandono
que envolvem minha ilusão.
26
Pobre floresta que chora
sua alma triste, enlutada,
e vê seu verde ir embora
nas cinzas de uma queimada!
27
Quando a prata do luar
cintila seu brilho infindo
no imenso dorso do mar,
não sei de nada mais lindo!
28
Quando tudo terminar,
quando o sonho tiver fim,
quando nada mais restar…
brilha uma luz mesmo assim!…
29
Se tu quiseres ter paz,
esquece a dor e a agonia:
– o ontem já não volta mais,
sempre haverá novo dia!
30
Uma cabana, um amor,
um pedacinho de chão,
um mundo com muita cor
é sonho que sonho em vão!…
31
Um mundo melhor quisera
onde houvesse amor e paz,
mas bem sei que isto é quimera,
– não passa de um sonho audaz!
32
Um resquício de saudade
traz alento à nossa dor
pois revive na verdade
um velho sonho de amor!…
33
Veloz vento vagabundo,
por onde vais, meu rapaz?
Vais procurar pelo mundo
um cantinho onde haja Paz?

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...