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sábado, 19 de junho de 2021

Therezinha Dieguez Brisolla (SP)

 

1
A canequinha da casa
pertence à mulher do Osíres.
"Tá" desbeiçada e sem asa
porque serve a muitos pires!
2
Ao pai dela, o cafajeste
explica: "Foi num pagode"...
O velho é um "cabra da peste"
e a moça explica: "Deu bode!"
3
Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era a vista!
4
À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo!
5
Ao ver que estava em perigo
fechou a Jane, a matraca...
É que o Tarzan, sempre amigo,
hoje "tava com a macaca"!
6
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
7
A porquinha se casou
e chora o tempo inteirinho!
Bem que a mãe dela avisou:
"Não case com porco-espinho"!
8
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão...
"Essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!'
9
Bonita, pobre e sacana
é a nova mulher do Ernesto.
Do velho, só quer a grana
e, do filho dele... o resto!
10
 - Canta mal, essa "coroa"...
- Pois saiba que é minha tia.
- Se a música fosse boa...
- Pois é de minha autoria!
11
Chega tarde, o companheiro
e ao ver tanta grana, exclama:
- Como ganhaste o dinheiro ?!
Passas o dia na cama!!!
12
Chega a cantora, que é mestra
no gingado da cintura
e os integrantes da orquestra
nem olham pra partitura!
13
Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva, e o cão morreu!
14
Chora de fome o povão!!!
Pro aperto, depois dos censos,
dá o governo a solução:
Distribui milhões de lenços!
15
"Com Deus, vou subir a serra
sem perigo... eu tenho fé!"
Na curva, o bebum se ferra...
Deus subiu, mas foi a pé!
16
Com a filha "naquele estado",
o pagode interrompeu:
- Confessa ou morre ...tô armado!
Os três confessam: "Fui eu".
17
"Depois do jantar, o mate",
diz, ao filho, o anfitrião.
Foge, ao perigo, o mascate.
Foi sem tomar chimarrão!…
18
Deram sumiço ao rateio
do mensalão!... e, por zelo,
o ladrão, lá do correio,
diz que não aceita sê-lo!
19
Deu, à sua esposa mística,
que finge chilique e ataque,
uma viagem turística...
E ela já embarcou pro Iraque!
20
Deus cria a lua... as estrelas...
e uma pergunta o inquieta:
"Quem poderá descrevê-las?"
Então, Deus cria o poeta!
21
Diz, já caduco: - Que tédio!...
E a esposa, sempre calminha:
“- Quer jogar dama?” E, do prédio,
ele jogou a velhinha!
22
Diz ao dançar, enfadonha:
- Você sua !!! ...     O Zebedeu
Bem caipira e com vergonha
Diz baixinho : vô sê seu !!!
23
Diz “Não” à sogra e à cunhada.
- é astuto e não cai na rede –
“Família, aqui, só a Sagrada
e pregada na parede!”
24
Diz que quer dormir comigo,
em qualquer canto, a Gioconda...
Pra não ter esse "castigo",
comprei a cama redonda!
25
"Dorme comigo!... é o Joaquim!..."
peço, quando telefono.
E hoje que ela disse "sim"
olha o aperto!... eu tô sem sono!
26
É mãe de um casal!... e é duro
olhar a cena espantosa:
a filha em pijama escuro!
- O filho... em babydoll rosa!
27
Envergonhado e sem jeito,
meu coração sonhador
conserta o ninho desfeito
enquanto espera outro amor!
28
- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
29
Flagrando a esposa e o banqueiro,
pensa bem e esquece o orgulho:
-Vou precisar de dinheiro...
e sai sem fazer barulho!
30
Foi o bebum "muito esperto",
como eremita... e está crente
que, no calor do deserto,
o oásis é de água ardente!!!
31
Foi o par pro beleléu...
e o fantasma, em tom moderno:
- Venho, à noite, aqui no céu,
ou você vai lá no inferno?
32
Gera corrida e surpresa,
notícia mal pontuada:
"A Mulata Globeleza
visita a Serra, Pelada"!
33
Gritei: “- Pare, seu Joaquim”,
quando o trem apareceu...
Ele ainda olhou pra mim,
falou: “Ímpare!” e morreu...
34
Investigou tudo aquilo
que falavam da Tereza
e agora não tem mais "grilo"!...
Agora ele tem certeza!!!
35
Já velho o Sansão estrila:
"Minha mulher tá caduca...
Mal cochilei e a Dalila
tosou a minha peruca!?
36
Jaz o ancião na cascata!...
Seu anjo, que é seu abrigo,
já velho e com catarata,
não viu a placa "PERIGO"!
37
Leva o troféu “Bom de bola”
o craque da temporada.
Sem jogar nada, é o cartola
quem sempre leva a “bolada”.
38
Ladrão alto, bem vestido,
já sai, do quarto, ligeiro,
e ouve a voz... quase um gemido:
“Só lhe interessa dinheiro”?
39
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra como troféu!
40
Na guerra pela conquista
de um bom salário, valentes,
a manicure e o dentista
lutam com unhas e dentes!
41
Não sobrou uma peninha!!!
E o galo machão despista:
- Saio pelado da rinha
quando é verão, sou nudista.
42
Não houve pancadaria
nem sufoco na paquera...
“Sou homem”, disse a Maria.
Ainda bem que o Zé  não era!
43
Na pescaria, é a fisgada
tão forte, que a vara entorta!
E a boneca: - É peixe-espada?
Comer sardinha,  nem morta!!!
44
Nas Bodas de Ouro, ela encuca:
- Quer, meu bem, uma canjinha?
Grita o velho: - Tá caduca?
Que culpa tem a galinha?
45
No açougue foi tal o susto
ante o preço do filé,
que a peruca do seu Justo
ficou de cabelo em pé!
46
"No fogão eu passo o dia",
disse ele antes de casar.
Só não disse pra Maria
que o tal fogão era um bar!
47
Num dos quadros se consterna...
vê o pintor... mete o bedelho:
- Que homem feio! Arte moderna?
- Não, meu senhor... É um espelho!
48
Num pagode eu fui dançar
diz o velho, e "aconteceu"
quando a moça eu fui tirar:
– Quer dar-me a honra? E ela deu!
49
O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu não tem fogo!!!
50
O marido não aguenta
ver a cara da Maria!...
“Não dá pra trocar – lamenta
– veio sem a garantia!”
51
 O marido sai a campo
– e o pipoqueiro é estourado!...
vendo a esposa com sarampo
e o vizinho empipocado!!!
52
"0 que faz dentro do armário ?!"
Nu, no aperto, ele se poupa:
- "tem traças!... e o esposo otário:
- "Xi !!! comeram sua roupa!?
53
O salão, que se destaca,
lota, assim que a noite desce,
por um engano na placa:
- “Faço tranças” tá com S!!!
54
Os dois donos têm receio
que a maloca caia e, agora,
toda noite tem sorteio:
enquanto um dorme o outro escora!
55
Padre, eu sei quem é Jesus?,
diz o caipira e dispara:
“Conheço o sinar da cruz...
Num sei é espaiá na cara!”
56
O trovador tá empolgado
e até troféu quer ganhar!...
O tema é “Mar” e eis o “achado”:
- És meu mar... mas não faz mar!
57
Passa o efeito do remédio
e o velho, sem jeito, avisa:
- Demorou demais o assédio
e o furacão virou brisa!
58
- Peço a mão de sua filha...
e aí para, ante a visão:
Tá o sogro de sapatilha
e a sogra de sapatão!
59
Pede a graça ao padroeiro
e promete ao santo, à beça...
É um beato caloteiro
que não paga nem promessa!
60
Perdeu no xadrez também...
e, sem dinheiro, se abate
ouvindo a ordem de alguém:
— Se não der um cheque... mate!
61
Pedir votos, não foi "canja"!
Um político safado
criou confusão na granja
e saiu "ovocionado!?
62
Pergunta o "maitre", polido:
(no prato a vespa... tostada!)
- E qual foi o seu pedido?
- O prato da vez passada!
63
"Peruca!... dente postiço...
Tô velho", pensa o Danilo.
E, como só pensa nisso,
não dá pra pensar "naquilo"!
64
Por xeque-mate, em segundos,
perdeu tudo... e o que ele fez?
Pagou com cheque sem fundos
e foi parar no “xadrez”!
65
Por assédio à passageira,
o maquinista apanhou!!!...
Na maca, diz pra enfermeira:
- O meu trem descarrilhou...
66
Por vê-lo em farras constantes,
com humor, fez a surpresa:
- Querido, se chegar antes,
deixa a luz de fora acesa.
67
Pra casar, fingiu carinho
e ao tornar-se sua herdeira,
encomendou pro velhinho,
um pijama de madeira.
68
Pôs anúncios nas estradas:
"Por um módico aluguel,
moitas limpas, bem cuidadas".
E inaugurou seu"Moitel"!
69
Prende a sogra na moenda
e aí prepara a cilada...
Faz negócio com a fazenda
mas..."de porteira fechada!"
70
Pra cantá, estudamo um meis
e num é que nóis se gabe:
nóis quebra um galho em ingreis
e portugueis... nóis já sabe!
71
Quando a vida se distrai
ou dá tudo ou tudo nega;
Rico, pega o carro e sai...
pobre sai – e o carro pega!
72
“Que consulta milionária!”
diz o velhinho... e diz mais:
“Se a doença é hereditária,
é dívida dos meus pais!”
73
Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!
74
Se alguém de menina o chama,
se ofende o nenê Raul
que, tirando o seu pijama,
mostra o sapatinho azul!
75
Sem avisar, sorrateira,
foi ao pagode e azarou:
- No baile, um "chá de cadeira"!
Chegando em casa... "dançou"!
76
Se põe pijama listrado,
de zebra a mulher o chama...
E alguém explica ao coitado:
"Zebra é um burro de pijama"!
77
Seu dono, pra castigá-lo,
— perdeu, na rinha, outra vez —
com um dos filhos do galo
fez um franguinho xadrez!
78
Sultão velho vende, urgente,
tendas sem uso, importadas.
No aperto, dá de presente,
odalisca e esposa usadas.
79
- Talvez o ciúme a incomode
mas, seu marido eu cobiço...
como ele é bom no pagode!!!
- Meu bem, ele é bom só nisso!
80
"Tira a mão! - Diz, enfezada -
tá pensando que é baderna?"
"Desculpe, ao dançar lambada,
nunca sei de quem é a perna!?
81
Trabalha no vestiário
onde o marido é roupeiro,
e, pra aumentar seu salário,
“dá bola” pro time inteiro!
82
Um banhista, ante os apelos,
tenta salvar o Manduca
agarrando os seus cabelos.
Só que ele usava peruca!
83
Um remédio envenenado
e a Julieta morreu...
O Romeu foi condenado
porque ela disse: "Erro meu".
84
Vendo a fera, fica “um gelo”...
retira a cruz do pescoço.
Mas, o leão, ante o apelo:
“Só rezo depois do almoço!”
85
- Vamos ao circo sozinhos
e, por favor, fiquem calmas.
E as mães dos dois mosquitinhos:
- É que o povo bate palmas!
86
Vê o boneco em sua cama
e arma o maior alarido!
O "banana de pijama"
é um clone do seu marido!!!
87
- Vou ganhar... meu santo é forte!...
E o santo: - Eu não sei jogar...
Nem sei porque pede sorte,
se aposta em “jogo de azar”?!
88
"Zerou" no vestibular !!!
Com vergonha, ela tremeu,
disse ao pai, pra disfarçar:
- Sabe a última ?  Sou eu !

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Zaé Junior (1929 - 2020)

 Ao cumprir o meu dever
de filho, de pai, de irmão,
aprendi que compreender
vale mais que ter razão!
- - - - - -
A ternura que deixaste,
pai, qual herança tão nobre,
deixou-me na alma o contraste
de ser rico... sendo pobre!
- - - - - -
Brilhando ao sol, em cascata,
as águas, fazendo festa,
jorram confetes de prata
no carnaval da floresta!
- - - - - -
Cansado, mas com coragem
de continuar a jornada,
a vida é a minha bagagem,
que vou deixando na estrada!
- - - - - -
Com pena das minhas penas,
tais penas o assum levou,
e apenas penas pequenas
das próprias penas deixou!
- - - - - -
Copiando os astros distantes,
o sereno, em seus desvelos,
pousa estrelas de diamantes
na noite de teus cabelos!
- - - - - -
Depois da chuva inclemente,
levando um pássaro morto,
o ninho, na água corrente,
é nau fantasma e sem porto!
- - - - - -
Depois do amor sem censura,
nossos agrados sutis,
dizem coisas de ternura
que a nossa boca não diz!
- - - - - -
Dividindo, sem paixão,
tudo o que nos pertenceu,
levaste o teu coração,
mas não me deixaste o meu!
- - - - - -
Do teu perfil, na verdade,
só podes ver um pedaço,
pois para a tua vaidade,
o espelho tem pouco espaço!
- - - - - -
Em frente à perfumaria,
enquanto o ônibus espera,
pergunta o cego ao seu guia:
- Já chegou a primavera?
- - - - - -
Em silêncio vejo pura,
disfarçada em teu olhar,
a lágrima de ternura
que não querias chorar!
- - - - - -
E quando o inverno chegar,
saudosos, em seus desvelos,
meus dedos irão esquiar
na neve dos teus cabelos!
- - - - - -
Fiz da vida um labirinto,
do qual, se eu tento escapar,
quanto mais fujo, mais sinto
que estou no mesmo lugar!
- - - - - -
Há quem renove a esperança
e com promessas se iluda...
mas o Ano Novo é mudança,
que em verdade nada muda!
- - - - - -
Herói, que vence o cansaço
da vida em rude batalha,
tem no peito um marca-passo,
sua invisível medalha!
- - - - - -
Lembra? Eu brincava de Rei,
você... de escrava brincava;
do meu sonho hoje acordei,
escravo de minha escrava!
- - - - - -
Manhã... a geada caindo...
Mas se do inverno estou farto,
beijo os teus olhos se abrindo
e é primavera em meu quarto!
- - - - - -
Meu barraco, sem queixume,
fiz com redes de cipós...
mas a vida, com ciúme,
um a um desfez os nós!
- - - - - -
Meu cirquinho no quintal
era um circo de verdade;
na infância, não tinha igual
nem tem igual na saudade!
- - - - - -
Meu pai, a tua bondade,
que nos deu pão na pobreza,
é agora a farta saudade
que se serve em nossa mesa!
- - - - - -
Meu reino é um casebre antigo
onde um sol, sem majestade,
vem, de cócoras comigo,
aquecer minha saudade!
- - - - - -
Na Academia onde moram,
em sussurrante coral,
os imortais também choram
a morte de um imortal!
- - - - - -
Na existência dividida
pela incompreensão da idade,
se não te encontrei em vida,
te encontro, pai, na saudade!
- - - - - -
Na infância a gente brincava,
eu de sol, você de lua...
e o universo começava
e acabava em nossa rua!
- - - - - -
Não me agrada a falsa glória
que o jogo da vida tem,
pois sei que toda vitória
sempre é derrota de alguém!
- - - - - -
Não queiras cobrar com sangue
o mal que te machucou,
pois o mal é um bumerangue
que volta à mão que atirou!
- - - - - -
Na penumbra, sobre a toalha,
vultos que a vela produz
mostram que a sombra não falha,
por menor que seja a luz!
- - - - - -
No meu palco de ilusão,
quando se fecha a cortina,
ao terminar a sessão,
a ilusão nunca termina!
- - - - - -
No princípio, a solidão,
mas tu voltaste... e depois,
não coube em meu coração,
o que restou de nós dois!
- - - - - -
O atalho me leva à ermida,
a ermida me leva a Deus;
e Deus me leva à outra vida,
que a levou dos olhos meus!
- - - - - -
O bonde rangeu nos trilhos,
meu pai desceu, não sei onde...
Seguimos, a mãe e os filhos,
sozinhos no mesmo bonde!
- - - - - -
O chão não é de ninguém
nem do seu "dono", um instante;
do chão os homens só têm
sete palmos... e é o bastante!
- - - - - -
O meu sonho é um passarinho,
que de voar ficou farto
e acabou fazendo o ninho
na janela do meu quarto!
- - - - - -
O poeta mais que o soldado,
se quiser ser vencedor,
terá que amar, ser amado,
e só perder por amor!
- - - - - -
O tempo é como a caverna,
que não tem volta nem fundo,
onde a vida, que é eterna,
dura apenas um segundo!
- - - - - -
Ouço a melodia amena,
que vem do cosmos disperso
e minha alma, tão pequena,
ganha amplidão de universo!
- - - - - -
Plantando a vida se cansa...
e o caboclo, sem espaço,
colhe tão pouca esperança,
que não vale o seu cansaço!
- - - - - -
Quando a saudade é saudade,
saudade que faz penar,
saudade é felicidade
que se foi e quer voltar!
- - - - - -
Quando a seresta termina
sob o lampião do jardim,
a solidão, em surdina,
toca apenas para mim!
- - - - - -
Quem perde o tempo não sabe
que perde a vida também,
pois jamais a vida cabe
no tempo que a gente tem!
- - - - - -
Queres ferir-me gritando,
mas em soluços aflitos,
os teus murmúrios chorando
me ferem mais que teus gritos!
- - - - - -
Sagrado seja esse chão
no qual rezando, o roceiro
planta o próprio coração,
para a fome do ano inteiro!
- - - - - -
Se descobrir é preciso,
mais preciso é navegar;
"Terra à vista"... e um paraíso
floresceu além do mar!
- - - - - -
Sem abrigo, ao vento forte,
sem jardim e sem escolha,
sou frágil trevo sem sorte
à espera da quarta folha!
- - - - - -
Sem família, na orfandade,
aprendi triste lição;
quanto mais dói a saudade,
menos dói a solidão!
- - - - - -
Sem fronteiras, num só laço,
os homens são mais felizes,
pois a Terra, lá do espaço,
não se divide em países!
- - - - - -
Seu regresso foi surpresa,
pois já ninguém o esperava;
nem sentou... tinha outro à mesa,
na cadeira em que sentava!
- - - - - -
Teu olhar azul celeste
só sabia dizer não;
tantos não azuis disseste,
que azul virou poluição!
- - - - - -
Vovó, desfiando o rosário
das peraltices que fez,
foi zerando o calendário,
virou criança outra vez!
 
Fonte:
Alexandre Magno Andrade de Oliveira Reis

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Julimar Andrade Vieira (SE)

 


1
A dor que trago em meu peito
e transparece em meu pranto
me faz sentir o direito
de ser feliz quando canto.
2
A inteligência encerra
tudo quanto a força faz…
Da força resulta a guerra;
da inteligência, a paz.
3
Antes, nem dava importância
às "loucuras" que fazia.
Hoje, lembro a minha infância
com saudade e nostalgia.
4
Aprendi, desde criança,
a lutar pelo que quero.
Não hei de deixar herança
e nem receber espero.
5
Aprendi, desde menino:
Pra ser homem, de verdade,
não mentir, nem falar fino…
Precisa autenticidade.
6
À sombra do anonimato
somente os covardes agem.
Nunca, um cidadão sensato.
Nunca, um homem de coragem.
7
Caicó, quando o sertão
festeja teu centenário,
faço do meu coração
presente de aniversário.
8
Chegar pertinho de mim?
Como é que você se arrisca?
O incêndio começa assim:
basta haver uma faísca.
9
Contemplando um beija-flor,
ave de rara beleza,
percebi quanto primor
existe na natureza.
10
Costuma existir malícia
no carinho da mulher.
Sempre que nos faz carícia,
alguma coisa ela quer.
11
Cumpre bem a sua norma
em prol da sociedade
o jornalista que informa
sem distorcer a verdade.
12
De batalhar não desisto.
Hei de vencer algum dia.
Creio no poder de Cristo,
na Santa Virgem Maria.
13
De grandeza, desconfio
ser este o sonho da fonte:
ser, um dia, um grande rio,
todo coberto de ponte.
14
Deus, que fez o fogo, a água,
o vento, o frio, o calor...
misturou prazer e mágoa
na fabricação do amor.
15
Deus, no grande paraíso
que aos cegos reservais,
apenas se faz preciso
fazê-los ver. Nada mais.
16
Dura, suada e sofrida
quase sempre é a trajetória
de quem consegue, na vida,
a tão sonhada vitória.
17
Educar é a grande herança
que um pai consegue deixar,
mesmo que o filho, criança,
não consiga avaliar.
18
É na surdina, eu suponho,
juntinho à mulher querida,
que a vida se torna sonho
e o sonho se torna vida.
19
É nos teus olhos que leio
teus sonhos, tua mensagem.
Neles, um simples passeio
vale mais que uma viagem.
20
Enquanto eu viver na terra,
não quero julgar ninguém,
não quero punir quem erra,
nem ser carrasco de alguém.
21
Eu planto flor, colho hera.
Planto calor, nasce frio...
Isto não me desespera.
Insisto no meu plantio.
22
Eu quero ter, como herança
da pessoa mais querida,
somente a boa lembrança
do bem que me fez em vida.
23
Fruta - só da estação.
Mulher - se não for casada.
Trabalho - sem ter patrão.
Comida - sem ser salgada.
24
Guarapari, com certeza,
é a Cidade Saúde.
Terra de rara beleza.
Perfeição em plenitude.
25
Há muita gente que acha
que cachaça é coisa boa,
mas eu, se beber cachaça,
vou perder minha "patroa".
26
Há muito cego sabido
que nada de cego tem.
Se o vento sobe um vestido,
como o ceguinho vê bem!
27
Impor a força, o receio,
fazer uso de agressão…
não é este o melhor meio
de mostrar quem tem razão.
28
Língua pátria, espezinhada,
sem ter chances de defesa.
Mal escrita e mal falada,
nossa língua portuguesa.
29
Maria, os meus dissabores
espero ver desfazeres.
Não és Maria das Dores,
és Maria dos Prazeres.
30
Minha mãe, analfabeta,
sozinha aprendeu a ler,
mas fez seu filho, poeta,
muitas lições aprender.
31
Minha pacífica alma
merece a comparação
da fonte, que vence, calma,
os pedregulhos do chão.
32
Mulher, semelhante nossa,
uma  “costela” qualquer…
mas não há homem que possa
viver feliz sem mulher.
33
Nada existe mais sagrado
que a demonstração de afeto
naquele abraço apertado
que recebo do meu neto.
34
Nada expressa mais tristeza,
nem há vida mais tristonha,
que a de quem sofre a pobreza,
sem realizar o que sonha…
35
Não gosto de estardalhaço,
nem sou de fazer barulho,
mas tudo de bom que faço
me deixa um pouco de orgulho.
36
Não há nas canções de agora
sentimento ou poesia.
Prefiro, sempre, as de outrora,
com seu tom de nostalgia.
37
Não quer para si, não faça
o mal a outra pessoa.
Quem vive a fazer trapaça
a si mesmo amaldiçoa.
38
Nem sempre faço o que penso,
para evitar embaraço,
mas, por questão de bom senso,
penso sempre no que faço.
39
No Dia dos Namorados,
fiz algo surpreendente:
gastei todos meus  “trocados”
para te dar um presente.
40
Nosso amor ninguém desmente,
nem aprova ou recrimina,
pois eu sinto e você sente
discretamente, em surdina.
41
Numa fonte que desliza,
cristalina, pelo chão,
a natureza improvisa
sua forma de canção.
42
O futuro é resultado
do plantio no presente.
Da semente do passado
nasce o futuro da gente.
43
O poeta é quem descreve,
de maneira inteligente:
trova é o meio mais breve
de se dizer o que sente.
44
O rancor não engrandece
o passado de ninguém.
A gente prospera e cresce
amando e fazendo o bem.
45
O teu narigão vermelho,
que parece um pimentão,
espanta qualquer espelho
que não sofra da visão…
46
Para mudar a imagem
do Nordeste brasileiro,
falta dinheiro e coragem,
principalmente dinheiro.
47
Partir... voltar... não me queixo.
Isto faz parte da vida.
Saudade eu carrego e deixo,
no momento da partida.
48
Precisa de inteligência
dar inestimáveis provas
quem julga ter competência
para um concurso de trovas.
49
Qual faminto sem comida,
o ser sem inteligência,
sem saber, imita a vida
da flor que não tem essência.
50
Quem erra e assume o que faz
revela autenticidade,
mas pouca gente é capaz
de ter tamanha hombridade.
51
Quem me vê falar sozinho
não pense que falo a esmo.
Às vezes, faço, baixinho,
repreensões a mim mesmo.
52
Quem muito a si mesmo cobra
ou de si mesmo é juiz,
no pouco tempo que sobra
não dá para ser feliz.
53
Quem quer algo conquistar
precisa compreender:
ter esperança é sonhar,
ter ousadia é fazer.
54
Quem quer bens materiais
de uma forma desmedida
mostra egoísmo demais.
Não sabe viver a vida.
55
Rui Barbosa, num sorriso,
ao morrer, disse à Ciência:
“Vou mostrar no paraíso
o que é inteligência” .
56
São os sonhos, com certeza,
que à vida tornam risonha.
Por isto, esquece a tristeza.
Sonha, sonha, sonha, sonha…
57
Se eu fosse um passarinho,
desses que vivem perdidos,
iria fazer meu ninho
nos teus cabelos compridos.
58
Sentimento de criança
não comporta explicação.
Oscila como balança,
explode como vulcão.
59
Ser pobre não é defeito.
Falta, apenas, quem lhe ajude.
O que mostra o bom sujeito
é sua boa atitude.
60
Seu Padre, seja sensato:
não reclame a Santo Antônio!
Mais vale um bom celibato
do que um mau matrimônio.
61
Sofro fome, sede e peste,
sem saber o que é dinheiro,
mas não troco o meu Nordeste
pelo Rio de Janeiro.
62
Sujeito que fala fino,
sem qualquer explicação,
pode, até, ser nordestino,
mas não nasceu no sertão.
63
Tem mar morto, mar azul,
mar de toda qualidade.
Em Cachoeira do Sul,
um mar de felicidade.
64
Ter fé é ter esperança
numa conquista qualquer.
É com fé que a gente alcança
aquilo que a gente quer.
65
Uma estação... um apito...
uma partida de um trem...
No meu coração aflito,
a saudade do meu bem.
66
Vale bem mais ser ousado
que ter a vida vazia.
O sucesso é resultado
de uma dose de ousadia.
67
Volta, cigana bonita,
tu, que leste a minha mão.
Volta! Teu laço de fita
prendeu-se ao meu coração.
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Julimar Andrade Vieira nasceu em Teixeira/PB, em 1949. Desde os onze anos de idade escreve poesias, por influência do seu falecido pai, também poeta, Júlio Rodrigues Vieira. Integrou as equipes de radiojornalismo da Emissora de Educação Rural de Caicó (RN) e Rádio Arapuan, de João Pessoa (PB). Trabalhou durante quase 30 anos no Banco do Nordeste do Brasil, onde atuou, até pouco antes de aposentar-se, como Advogado, Assessor da Presidência e Chefe da Assessoria de Assuntos Institucionais, em Brasília-DF, órgão vinculado ao Gabinete da Presidência. Aposentado em 1998, exerceu a advocacia sem vínculo empregatício e ocupou o cargo de Chefe de Gabinete do Procurador-Geral do Estado de Sergipe (2007/2010). 

No campo literário, foi colaborador do jornal “A Folha” , de Caicó, onde foi Presidente da União Estudantil e sócio-fundador do Clube dos Trovadores do Seridó. No BNB, foi redator do jornal interno Comunicado ao Funcionalismo. 

Publicou o livro de poesias Coisas da Vida (1981). Fez parte do Coral do Carmo, em Recife-PE. Participou, também, de algumas antologias poéticas de âmbito nacional e vem participando, com razoável êxito, de vários concursos literários. 

É delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Aracaju (SE), onde reside atualmente.

Fonte:
União Brasileira de Trovadores Porto Alegre - RS. 
Trovas de Julimar Andrade Vieira e Júlio Rodrigues Vieira. 
Coleção Terra e Céu. vol. LXXIV. Porto Alegre/RS: texto Certo,  2016

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...