Trovadores em Ordem Alfabética

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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Bastos Tigre (1882 - 1957)


1
Aliança! algema divina,
a mais doce das prisões;
uma prisão pequenina
que encerra dois corações.
2
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.
3
AMBIÇÃO – De olhar agudo,
marcha, firme, aos seus ideais;
quer pouco, que mais, quer tudo;
se tem tudo ainda que mais.
4
Amizades são incertas.
Ao fazê-las, desconfia:
esta mão que agora apertas
bem pode espancar-te um dia.
5
Ao te ver fico mudo
mas mesmo assim, sou feliz.
Pois meu olhar te diz tudo
que a minha voz não te diz.
6
A Saudade é calculada
por algarismos também:
distância multiplicada
pelo fator “querer bem”.
7
Como infeliz é esta gente
que pensa que ser feliz
é não dizer o que sente
e não sentir o que diz!
8
Como será compreendida
a incongruência da sorte?
Pois há quem nasça sem vida
e ninguém morre sem morte.
9
Com tuas frias maneiras
eu não me incomodo, pois,
embora tu não me queiras,
meu amor vale por dois.
10
Cora a moral, fica rubra,
ante a imodéstia; pois, certo,
é feio que se descubra
o que deve ser coberto.
11
Da morte a sentença imprensa
trazemos desde o nascer:
assim que a vida começa
começa a gente a morrer.
12
Da vida o relógio rode
até que a corda se acabe…
Em moço, nada se sabe;
em velho, nada se pode… 
13
Depois de uma vida airada,
ao céu quis ir sem licença.
São Pedro pede-lhe a entrada-
e o morto, arrogante: – Imprensa!
14
Dinheiro não há que abrande
a dor que um peito magoa:
uma sorte é ” sorte grande”
outra coisa é ” sorte boa “.
15
Dos versos os mais diversos
já fiz: muita gente os lê…
Mas “poesia” há nos versos
que eu fiz pensando em você.
16
Elo de ouro! És a esperança
de horas risonhas e calmas! 
Felizes dos que, na aliança, 
acham a aliança das almas. 
17
Este velho batoteiro
quando a morte o trouxe cá,
ao ver a pá… do coveiro
foi dizendo: – bacará !
18
Eu, neste assunto de esmola
sem ambições me suponho:
estendo a minha sacola
peço um bocado de sonho…
19
Foi-me o amor, na mocidade,
um passatempo, comum:
tantas amei que, em verdade,
nunca tive amor nenhum.
20
Isto de amar considero
que ser amado requer.
E é por isso que eu não quero
querer a quem não me quer.
21
Jurar é falar a esmo,
é prometer sem pensar.
Juras não faças; nem mesmo
a jura de não jurar.
22
LIBERDADE – O cidadão 
livre, tem todo o direito
de fazer o que o patrão
acha que deve ser feito.
23
Maldigo quem te ache feia,
quem te ache bela também.
Quero mal a quem te odeia
e odeio a quem te quer bem.
24
Mente o peito que suspira?
O beijo é só falsidade?
Bendigamos a mentira
se ela é melhor que a verdade.
25
Meu amor enche-me a vida
e eu vivo feliz assim.
Basta que gostes, querida,
de ser querida por mim.
26
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!
27
Na minha face estás lendo 
que a minha mágoa é sem fim; 
mas sinto alívio, sabendo 
que não sofres… nem por mim! 
28
Namorados. Para ouvi-los
faço, ao lado esforços vãos,
Como dois mudos, tranquilos,
falam somente com as mãos. 
29
Não te queixes! Sofrem quantos
vivem, na vida, a lutar;
se não secassem os prantos,
o mundo era todo um mar.
30
Neste mundo organizado 
de encontro à lei natural,
tudo que é bom é pecado
e o que é gostoso faz mal.
31
No amor não há diferença:
nós mentimos, vós mentis...
E, se um diz o que não pensa,
outro o que pensa não diz.
32
“O cão que ladra não morde”.
Permitam que nesta quadra
eu do provérbio discorde:
sim, não morde… enquanto ladra.
33
Olhos tristes ou risonhos
vejo entre a gente do povo
dos restos dos velhos sonhos
fabricando um sonho novo… 
34
O meu coração é o cofre
que as minhas dores contém
e as dores que você sofre
eu nele guardo-as também.
35
O poderoso ? Merece 
pena, lamento, piedade! 
Ah! se ele ao menos pudesse
mandar na própria vontade! 
36
Os sonhos tem saúde, entendo,
nasceram com boa estrela.
Pena é viverem sofrendo
pelo medo de perdê-la.
37
Para se amar é preciso,
de todo, o juízo perder;
ter-se a um tempo, amor e juízo
isto é que não pode ser.
38
Ponhamos no calendário
mais um santo português
milagroso Santo Hilário, 
que os fados mais belos fez.
39
Quando Deus fez Portugal
lá plantou com sua mão
na terra; vinha e trigal
e o fado no coração.
40
Quando em meus braços te aperto,
satisfaço o meu desejo: 
de mim te sinto tão perto, 
tão perto que não te vejo.
41
Quando nós, discretamente 
ficamos conosco a sós,
é que ouvimos quanta gente 
chora e ri dentro de nós.
42
Quanta palavra bonita!
Quanto perdido latim!
E quanta cera erudita
para defunto tão ruim!
43
Quem canta seu mal espanta,
diz o provérbio ilusório.
Você, rapaz, quando canta
espanta, sim… o auditório.
44
Quem só a verdade aspira
com certeza inda não viu
que a verdade é uma mentira
que inda não se desmentiu.
45
Saudade, meiga Saudade
filha do amor e da ausência,
és a nossa mocidade
durante toda a existência.
46
Saudade é um mal que consiste 
em sofrer por vontade
mas na vida o quanto é triste 
não ter de quem ter saudade!
47
Saudade, palavra doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.
48
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
uma vontade de ver 
a quem nos vê à distância 
com os olhos do bem-querer.
49
Se a mulher que está contigo 
vive do “outro” a dizer mal, 
tem cuidado, meu amigo,
ela inda ama o teu rival.
50
Se a mulher sincera fosse,
sincera como o homem quer,
era uma vez... acabou-se
todo o encanto da mulher.
51
Se estou, meu amor, contigo,
tão feliz me considero
que quero mas não consigo
dizer-te o bem que te quero.
52
Seguro porto, esperança,
dos que andam pelo alto mar!
É nas procelas – bonança, 
farol… estrela polar…
53
Se te olho de quando em quando, 
Por Deus, não é por mau fim;
é que estou verificando
se tu olhas para mim. 
54
Seu dinheiro o homem, cioso,
não confia a qualquer, 
mas a honra de esposo
deixa nas mãos da mulher.
55
Trocar ideias contigo?
É possível, mas escuta:
quero ver, primeiro, o artigo
que ofereces à permuta.
56
Tu com todo o teu ardor
não estarás enganada?
Talvez confundas amor
com o prazer de ser amada.
57
Um filósofo de peso
é desta sentença o autor:
o beijo é fósforo aceso 
na palha seca do amor.
58
Um longo olhar que se lança
numa carta ou numa flor;
Saudade – irmã da Esperança,
Saudade – filha do Amor.
59
Um sonho é ter-te ao meu lado,
a te ver, ouvir, palpar… 
Que bom sonhar acordado
sem perigo de acordar!
60
Vacinei-me contra o amor
mas não tive resultado…
Nas farmácias – é um horror!-
tudo é falsificado. 
61
Você diz que é cego o amor…
Como se engana você!
Fecha os olhos o impostor
para fingir que não vê.

Fonte:
Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge (organizadores). Cem Trovas de Bastos Tigre. Coleção “Trovadores Brasileiros”- Editora Vecchi – 1959

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Cristina Cacossi


1
Acredite, há vida nova!
Ela traz perfume e cor...
Eu lhe mostro linda prova:
eis a primavera em flor!..
2
Água - oxigênio doado
a nós pela Providência...
Misericórdia, cuidado
e amor com nossa existência...
3
Ah ! Desafios sempre há !
O legal mesmo é enfrentá-los ...
Alegrar-se cá .. acolá ...
Deixar a vida "abrasá-los".
4
À moda "Gilberto Gil",
quero fugir com você ...
Ir para lugares mil,
sem perguntar o porquê ...
5
Capturamos aventuras
registramos amizade ...
Por entre belas molduras
vemos eterna saudade ...
6
Carimbar no coração
o dom – autenticidade -
é levar à multidão
um selo de qualidade!
7
Desliza o trem; vai fogoso
pelas estações da vida ...
Mas, no apito estrepitoso
desnuda minha ferida ...
8
Do céu vem terno clamor:
- Ame, lute por justiça!
Não ponha nesse penhor
nenhuma falsa premissa ...
9
Educação verdadeira
nos traz real liberdade;
ela abre toda fronteira
a gestos de humanidade!
10
Eis na taça levantada
coragem jovem, da luta
travada na caminhada
pela justiça absoluta !
11
Eis tomada de atitude:
para poder transformar-se,
cercar-se de magnitude -
é preciso mutilar-se!
12
Elo profundo entre seres
a família favorece ...
Com presença, com dizeres,
com amor ... superaquece !…
13
É preciso atravessar,
assistir, ouvir e ver.
Após a ponte, encontrar ...
e a vida reescrever.
14
É preciso ser como eles :
"buscar o eterno saber".
Acertam rumos, aqueles
que em seu líder ousam crer !
15
Espaço que dá saber,
que abole manipulados,
e estimula o bem-querer:
- escola - abre cadeados !
16
Felicidade: ei-la aqui,
aponta pra cima a seta.
Basta que todos daqui
entendam essa indireta!
17
Lindo arco-íris de pele
com seis tons encantadores!
Intenso amor se revele
desses braços multicores...
18
Milagre ... grata surpresa!
De um Francisco a outro Francisco
desce a pomba - que beleza
trazendo a paz ao aprisco!!
19
Mora no pequeno pé
sonho de paz, igualdade...
deposita sua fé
num jogo de humanidade...
20
Natureza ameaçada,
imersa na poluição;
tenta um ser do alto da escada
salvar o Sol, seu coirmão!
21
Nesse voo colorido
sinto uma leveza n'alma ...
Pairo, pois, estarrecido
voejando nessa calma ...
22
Nesse mundo equilibrado
há obrigações : - ser feliz,
de amigos ser rodeado,
ser dono do seu nariz!..
23
O mundo está em nossas mãos" :
eis a ideia a refletir ...
Porém, são somente os sãos
que conseguem assumir !
24
Onde há verdadeiro amor
há também cumplicidade ...
Mesmo estando ante o temor,
surgirá serenidade ...
25
O relógio possui frestas,
que permitem espiar
certas culpas tão funestas ...
que o tempo tenta apagar ...
26
Palavras são qual sementes:
- uma vez disseminadas
abraçam sonhos das mentes,
levando-os pelas estradas...
27
Perante um elo partido
um paradoxo subsiste:
- é sonho que foi rompido
ou liberdade que insiste...
28
Romantismo sempre existe,
transporta épocas, idade...
ele ao amor não resiste,
fazendo cumplicidade !

terça-feira, 11 de abril de 2017

Anis Murad (1904 - 1962)


1
Achei uma forma nova
de tornar-me trovador:
nossos lábios – uma trova
na doce rima do amor.
2
Alô!… Quem fala?… Esperança?….
– Um momento!… Vou chamar!…
Esperei… – pobre criança
que envelheceu a esperar!…
3
A minha alma – agradecida,
elevo a Deus com fervor,
pelo amor – maior da vida!
Que nasceu do nosso amor.
4
A minha alma não se cansa,
- embora desiludida,
de acalentar a esperança,
que é o acalanto da vida.
5
Amo no amor a ternura,
a meiguice, a suavidade;
o amor – que é todo doçura,
o amor – que é todo amizade.
6
Ao verme o verme me diz,
depois de me haver provado; e
bonito!… bebi anis…
Vou ficar embriagado…
7
Aqui jaz, na quadra imerso,
um vate, vivo e mordaz.
Fez sepulturas, do verso,
e sepultou-se; aqui jaz.
8
As trovas feitas a esmo,
são difíceis de fazer:
conversa contigo mesmo,
que a trova sai sem querer.
9
As trovas, quando eu as faço,
faço-as de mim para mim.
Vou dizê-las… que embaraço…
Estremeço… fico assim..
10
A vida é mesmo engraçada:
correr, correr, para enfim,
tombar, ao fim, para o Nada -
no eterno nada – sem fim…
11
A vida é noite fechada,
num coração sem amor.
Amor é Luz – madrugada!
Raio de Sol – Esplendor!
12
Bebida da mesma adega,
serás igual a teu pai…
Tu, Anis novo – que chega,
- “Quem é?” – Eu, Anis velho – que vai…
13
Cansado estou da esperança,
cansado do meu ser,
da própria vida – que cansa,
vivendo, assim, sem viver…
14
Com a luz, pai, que me deste,
do teu meigo olhar profundo,
eu vejo – no mundo agreste,
toda a beleza do mundo.
15
Dá tantas voltas a vida,
a gente, atrás, a correr…
Que gente doida, varrida!
Correr tanto, pra morrer!
16
Debaixo da nossa cama,
que tu deixaste vazia,
o meu chinelo reclama
o teu chinelo – Maria.
17
Deixa a vida do menino
viver a vida, meu bem,
ninguém muda o destino,
nem a vida de ninguém!…
18
Depois de sua partida,
mais a possuo, porque:
toda a saudade da vida,
ficou em mim – de você!
19
De sete meses gerado,
vim ao mundo temporão.
Já fui tesouro guardado,
em caixa de papelão.
20
Disseste não, fiquei triste,
mas disseste sim, depois.
Maldito “sim”, que persisti,
no eterno “não”, de nós dois.
21
Do meu berço pequenino,
fizeram tosca jangada,
que voga ao léu do destino,
para o destino do nada.
22
Do meu quarto de solteiro
- já cansei de te pedir,
vem buscar teu travesseiro,
que não me deixa dormir!…
23
“É bebida apetecida,
- de gostosura sem fim…
Se bebo desta bebida,
eu fico cheio de mim…
24
É, francamente, bobagem,
possuir televisão
se eu posso ver tua imagem,
no vídeo do coração.
25
Envelhecer! – que tristeza,
sentir a vida fugir
e ter a triste certeza,
que a morte certa há de vir.
26
Esperança!… quem diria,
quem diria – que a esperança
fosse os olhos de Maria,
vagando em minha lembrança.
27
Esperei-a toda a vida…
Nessa espera envelheci…
Ela – de verde, vestida
passou por mim e não vi…
28
Essa Maria – que existe,
chorando nos versos meus,
foi a saudade mais triste,
que alguém deixou num adeus!
29
Esses balões e as fogueiras,
trazem à minha lembrança,
as esperanças fagueiras,
dos meus tempos de criança!…
30
Esses teus olhos tão lindos,
misteriosos, profundos,
são dois abismos infindos
dois precipícios – dois mundos!..
31
Estes teus olhos brejeiros!
- Ah! Se eu pudesse, meu Deus!
Por noites, dias inteiros,
ver meus olhos nos teus!
32
Eu amo a vida, querida,
com todo o mal que ela tem!
Só pelo bem – que há na vida
de se poder querer bem.
33
Eu nada tenho de meu,
por isso vivo a cantar -
a graça que Deus me deu:
mulher, um filho – meu lar!
34
Eu seria bem feliz,
das mágoas que já sofri,
se pudesse, sendo anis,
ser somente para ti…
35
Eu só, tu só, nós dois sozinhos…
O amor chegou certa vez,
misturou nossos trapinhos,
somos um mundo: – nós três!
36
Guarda, meu bem, na lembrança,
esta lembrança do bem:
quem não tiver esperança,
seja a esperança de alguém!…
37
Guardo esta crença comigo,
com carinho e devoção:
todo mundo é meu amigo,
todo amigo: – meu irmão!
38
Há uma lâmpada encantada,
acesa no coração,
que tem a chama sagrada,
que se chama inspiração.
39
Mãe que traz uma criança,
nas entranhas de seu ser,
carrega a própria esperança,
no filho que vai nascer.
40
Mandei a saudade, um dia,
à procura de meu bem,
desse meu bem – que é Maria,
mas que é saudade – também…
41
Manhã de sol, que alegria!
De pés descalço, meu ser,
é um garoto que assovia,
na alegria de viver.
42
Mente, descaradamente,
o coração da mulher.
Diz que não gosta da gente,
só pra dizer que nos quer..
43
Mesmo velhinho e cansado,
não sei que estranha magia,
fico um saci, assanhado,
quando te vejo, Maria.
44
Na noite triste, vazia,
ouvi a voz de meu bem.
Corri louco de alegria,
abri a porta – ninguém!
45
Não, saudade, não açoite
o carro de bois, dolente,
gemendo dentro da noite…
chorando dentro da gente…
46
Não sei porque a lembrança,
de uma florzinha que cai,
faz-me pensar na criança,
abandonada, sem pai.
47
Não sei se foi por maldade,
não sei se foi por vingança:
mataram minha saudade…
roubaram minha esperança..
48
Na triste quadra da vida,
rima-se a felicidade,
com esta rima querida,
que se rima na amizade.
49
No meu ermo – “Soledade”,
alguém bateu, certo dia.
“Sou eu, a Saudade!”
- “Meu Deus! A voz de Maria!”
50
Nós nos queremos, querida,
com tanta simplicidade,
que o maior bem desta vida,
não vale a nossa amizade!
51
Olho o boi, de olhar parado,
que me fica amargamente
Parece que o desgraçado
tem piedade da gente.
52
Olhos risonhos, infindos,
que choram de quando em quando:
sorrindo – lindos, tão lindos;
feios, tão feios – chorando…
53
O trovador – simplesmente,
é uma pessoa feliz;
se às vezes diz o que sente,
nem sempre sente o que diz.
54
Por um beijo concedido,
ficou desfeito o noivado;
pois o futuro marido,
sentiu-se logo enganado.
55
Quando eu partir – não sei quando,
não ponhas, minha querida,
teus olhos, lindos, chorando,
sobre os meus olhos, sem vida.
56
Saudade – doce maldade,
que a gente sente e não vê,
mas eu vejo esta saudade,
esta saudade é você!…
57
Saudade – dor repartida
entre o que fica e o que vai.
Uma esperança perdida
num sonho azul que se esvai.
58
Saudade – rede vazia
a balançar tristemente…
ninando a melancolia
que dorme dentro da gente.
59
Saudade – sonho, desejo,
lembrança, recordação……
Um beijo – que já foi beijo,
um amor – que foi paixão…
60
Saudade – tristeza imensa,
por meu amor que não vem.
Saudade – tristeza imensa,
de alguém ausente… de alguém!
61
Se todo mundo quisesse,
melhor o mundo seria,.
se todo mundo soubesse,,
do nosso mundo, Maria.
62
Simples jardim sobre a cova,
trevos repousando em calma
Em cada trevo uma trova,
em cada trova a minha alma…
63
Só senti a luz da vida,
com mais calor e mais brilho,
quando tu deste, querida,
a luz da vida a meu filho.
64
Surpreendeu-me o garoto,
em colóquio com meu bem.
E diz, num sorriso maroto:
- Eu quero beijar, também!
65
Tal qual ingênua criança
nas noites de São João,
vou soltando as esperanças,
como quem solta balão!…
66
Também nas flores existe
uma saudade de amor…
Orvalho – saudade triste,
lacrimejando na flor…
67
Tens o sentido profundo
da fé – que é paz, é perdão!
Braços abertos ao mundo,
portal do céu – redenção!
68
Terá, mulher, se quiseres,
o mundo todo a teus pés.!
Porque é todo das mulheres,
que forem como tu és!
69
Tudo passa – na verdade,
passa tudo – sem parar.
Só não passa esta saudade,
que ficou no teu lugar.
70
Um vagido de criança
sacode todo meu ser:
era o pranto da esperança
que gritava pra viver.
71
Vem o trem cortando a serra,
no seu grito lancinante
Talvez saudade da terra
que foi ficando distante.
72
Vendo-a passar, ficou triste,
quando alguém lhe perguntou:
- E aquele amor… inda existe?
- Não! – respondeu… Já passou!…

Fonte:
Luiz Otávio e J. G. De Araújo Jorge (organizadores). 100 Trovas de Anis Murad. Coleção “Trovadores Brasileiros”. RJ: Editora Vecchi – 1959

Oswaldo Soares da Cunha (Governador Valadares/MG, 1921 - 2013, Belo Horizonte/MG)

1 Abraços, beijos de fogo, em vez de aplacar o amor que anseia por desafogo, mais aumentam seu furor. 2 Abro os meus olhos e vejo que a manh...