Trovadores em Ordem Alfabética

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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Ruth Farah Nacif Lutterback (Cantagalo/RJ, 1932 – 2017)

1
A cidade que conserva
o coreto do jardim,
seu patrimônio preserva
uma riqueza sem fim.
2
A “muralha” mais temida
é o desprezo que se tem
desgastando a nossa vida
pelos caprichos de alguém.
3
A necessidade faz
do cidadão um artista.
Na “corda bamba” é capaz
de ser um equilibrista.
4
Ante às agruras da vida,
não se entregue facilmente.
Após batalha vencida,
o “sol” brilha novamente.
5
Ante o terror das queimadas
na floresta, com carinho,
as árvores abraçadas
tentam proteger os ninhos.
6
As lágrimas cristalinas
são fantasias matreiras,
rompendo espessas neblinas
de uma ilusão passageira.
7
Bem-te-vi, após cantares
de manhã no meu jardim,
vai alegrar outros ares,
mas não te esqueças de mim.
8
Casamento, na verdade,
se não for bom para os dois,
põe em risco a liberdade
e o mais triste vem depois.
9
Cidadania é saber
manter a honra constante,
ser sincero no dever
e servir ao semelhante.
10
Concedido por esmola
o perdão não traz fiança.
Dificilmente consola
tendo sabor de vingança...
11
Confirmando uma aliança
de sonho e realidade,
o Sol é o pai da Esperança
e a Lua, mãe da Saudade...
12
Desejando muitos anos
de existência bem vivida,
esquivo-me dos enganos
 surfando as “ondas” da vida...
13
Educação garantida
“vem do berço” _ o próprio lar
 (melhor escola da vida).
Não há quem possa negar…
14
É mais amigo quem fala
a dura e cruel verdade
do que um outro que se cala
por mera comodidade.
15
Espelhando-se no Mar,
que ardentemente a deseja,
a Lua apaga o luar
para que o Sol não a veja....
16
Euclides em “Os Sertões”,
mostrou a realidade:
- Canudos sob opressões
de fraterna crueldade...
17
Eu faço um pé de moleque,
de tão bom, não vejo igual.
Mas, por causa de um pileque,
troquei o açúcar por sal...
18
Fim de solo ressequido,
cai a chuva no sertão.
O caboclo agradecido
louva a Deus em oração.
19
Fraternidade  no lar
prova a presença do amor,
dando exemplo singular
de família de valor.
20
Havendo a chuva descido
fininha, qual branco véu,
o caboclo agradecido
rudes mãos eleva ao céu.
21
Idade não é velhice
a poesia  nos comprova
quando idosos, com meiguice,
fazem da vida uma trova.
22
Meu amor pelo Brasil
somente Deus o comprova.
Mostrá-lo? Nem de perfil,
pois não cabe numa trova…
23
Mulher de rara beleza
não deve, jamais, pintar-se,
pois obra da natureza
não necessita disfarce.
24
Na minha Escola de samba
o enredo, por tradição,
são trovas de gente bamba    
alegrando a multidão.
25
Não lhe dou o meu perdão
porque, mais que insensatez
é achar que ainda tem razão
depois do que você fez...
26
Não se deve macular
a inocência da criança
proibindo-a de sonhar
por maldade ou por vingança.
27
No enterro do Geraldão
joguei flores no defunto.
Dando um tropeço no chão,
por bem pouco não fui junto...
28
No velório do Tião,
por causa de uma topada,
caí dentro do caixão.
Só ele não deu risada...
29
Num arbítrio de questão,
é amigo de verdade
quem, de fato, dá razão
usando sinceridade.
30
O belo na juventude
traz orgulho, por costume.
Mas beleza sem virtude
é uma rosa sem perfume...
31
O galo foi defender
sua honra na cozinha:
depois de tanto cozer...
vira caldo de galinha?!!!
32
Oprimido na gaiola,
lamentando a escravidão,
o sabiá cantarola
para o algoz sem coração.
33
O uso dos celulares
tornou-se prioridade,
pois até em nossos lares
não há mais fraternidade.
34
O vento, por peraltice,
leva folhas pelo espaço.
Que bom se um dia o sentisse
levando as preces que faço…
35
Penetrando, lentamente,
na choupana esburacada,
banha a cabocla dolente
tênue raio da alvorada.
36
Portadora de elegância
e esmerada equilibrista,
a garça exibe arrogância
na tela do grande artista.
37
Quando o jovem tem, por norma,
ser um homem de valor,
seu próprio caráter forma
sendo um exímio escultor.
38
Quando povos e nações
consideram-se irmanados,
não há discriminações
- direitos são respeitados.
39
Quando um poeta falece,
junto à Lua vai ficar
mergulhado em doce prece,
eternamente a sonhar.
40
Se alguém lhe fizer um mal,
mesmo sem justa razão,
pessoalmente ou virtual,
abrace-o, de coração...
41
Se na vida tudo passa,
da diferença me esgueiro.
Não importa a cor ou raça
quando o amor é verdadeiro.
42
“Sorrir é o melhor remédio”
- é receita garantida.
Não respire o próprio tédio;
abra a cortina da vida!
43
Surgindo meiga, serena
e por muitos esperada,
tão formosa, a Lua Plena
em serenata é cantada.
44
Tive um trabalho danado
com a vaca, hoje cedinho:
não deu leite empacotado
nem quis sentar no banquinho...
45
Uma praça sem coreto,
mesmo pintada em painel,
é não ter rima em soneto
ou a pedra num anel.

domingo, 17 de agosto de 2025

Relva do Egypto Rezende Silveira (Belo Horizonte/MG)

1
A bengala que rastreia
os caminhos, sem cansaços,
é feito a luz que se alteia,
guiando o cego em seus passos.
2
A brisa doce e envolvente
traz seu perfume - que incensa
a saudade - e, novamente,
eu sinto a sua presença!
3
As vagas brancas, rendadas
vêm seu bramido amainar
nas areias nacaradas,
que são molduras do mar.
4
A tempestade de areia
minha trilha não ofusca,
pois fulge a crença e norteia
os meus passos nestas busca.
5
A vigília tem seu jeito
de inquietar meu coração.
Fica ao meu lado no leito,
despertando a solidão.
6
Bendiz a lida na enxada
o lavrador quando sente
cheiro da terra molhada
fertilizando a semente.
7
Cai o idoso num tropeço,
derrubando uma guria,
depois… paga um alto preço
por uma noite de orgia.
8
Criam mentiras e ofensas
um abismo entre nós dois
que vai minar nossas crenças
num romance sem depois.
9
Das mãos de Deus vai caindo,
em forma de chuva mansa,
a bênção da água…e espargindo
as sementes da esperança.
10
Desato os nós do passado
e as tramas de um sonho eu teço:
sonho é tear encantado
que motiva o recomeço.
11
Disse o carteiro, confuso:
- mora aqui o “seu” Leitão?
- Não mais, respondeu o luso:
virou torresmo e sabão.
12
Estás distante... a inquietude
a minha vida consome.
E, na prece, em solitude,
a ladainha é o teu nome.
13
Fecunda o ventre rosado
do amor, a fértil semente
e, a mãe, abriga um legado
que é futuro em seu presente…
14
Feito um luzeiro divino,
o mestre guia o estudante
na conquista de um destino
produtivo e fulgurante.
15
Finda o dia... A noite desce...
Tudo invade sem tardança.
Então, meu sonho adormece
à sombra de uma lembrança.
16
Homem da terra!… No entanto,
 por sua sabedoria,
 meu pai resplendia tanto
 que se fez estrela – guia.
17
Insensatez?! Não! As horas,
no limiar do sol-pôr,
eu eternizo em auroras
nos braços do meu amor.
18
Manda notícia! É o que peço.
Basta dizeres: “Eu te amo”.
E esperarei teu regresso,
saudosa mas sem reclamo.
19
Minha vigília parece
ritual que me consome
na ladainha da prece,
digo, em delírio, teu nome.
20
Mostra o leito em desalinho
   que a indiferença trocamos
   pelas juras e carinho
   quando o amor nós celebramos.
21
Na inspiração… devaneios,
num ritual sem esperas,
dou asas aos meus anseios,
recriando primaveras.
22
Na madrugada, em teus braços,
o nosso amor se faz pleno.
E o desejo, com seus laços,
torna este mundo pequeno.
23
Não rasgue a terra em trincheiras
onde a guerra esconde a dor.
Plante malvas nas floreiras,
componha versos de amor.
24
No alvor, o sol com magia
os véus da noite descerra.
E boceja um novo dia
junto à franja azul da serra.
25
No barco do amor navego,
sem tristezas nem cansaços,
e sou cativa - não nego,
das correntes dos teus braços!
26
No brilho do teu olhar,
a tua alma é refletida.
Nesse encanto, eu vou buscar
o norte da minha vida.
27
No instante da despedida,
o pranto contido... o adeus,
marcando por toda a vida
renúncia dos sonhos meus.
28
No seu talvez reticente,
senti acordes de adeus,
e, em farrapos, de repente,
me despi dos sonhos meus.
29
O meu peito maltratado
por um talvez sem razão
é menino de recado
que a resposta aguarda em vão.
30
Partes com indiferença
   sem adeuses nem sinais
   e crias barreira imensa
   para abafar os meus ais.
31
Passa o tempo... E se renova
toda energia perdida:
a melhor idade prova
que a idade é prova de vida.
32
Pescador, em travessia,
leva a fé como se fosse,
no labor do dia a dia,
o seu cantil de água doce.
33
Professor em sua trilha,
iluminando outro ser,
cultiva o dom da partilha
na partilha do saber.
34
Quando volto à antiga herdade,
ouço do passado o canto...
E, no colo da saudade,
toda notícia é acalanto…
35
Quase seco, em lodo, o rio
segue lento sem cantar:
natureza em desafio
tentando o homem alertar.
36
Receio os falsos anelos
que deixam, sempre, o vazio:
são quais sonhos paralelos,
margens opostas de um rio.
37
Revendo a pesada conta
que a vida me faz pagar,
a prova dos nove aponta
que eu nunca soube "somar"!
38
Roçando da noite o véu,
o tempo, que tudo invade,
desvenda aos círios do céu
mistérios da eternidade.
39
Rompeste um antigo laço
contudo, mantenho aceso
este amor que não desfaço,
mas disfarço com desprezo.
40
Se agora o tempo que resta
é pouco para nós dois,
façamos dele uma festa,
pois nada conta o depois!
41
Se a tempestade de areia
a minha visão embaça,
o lume da fé se alteia
e mostra que tudo passa!
42
Segue o amigo de verdade
ao nosso lado onde for,
ou, em forma de saudade,
no alforje do viajor!
43
Se o desejo me arrebata,
preceitos são esquecidos:
vivo paixão insensata
na linguagem dos sentidos.
44
Se, por receio, o meu sonho
perde a magia ou a cor,
de novo, o torno risonho
por força do nosso amor!
45
Sinto a saudade roçar
o véu do tempo... E, acordado,
em sonho, vou resgatar
todo o encanto do passado.
46
Tu partiste!… E, no abandono,
perdi minha identidade,
pois nem de mim sou mais dono,
sendo escravo da saudade.
47
Véus do tempo, lentamente,
   ganham a bênção contida
   no brinde do sol nascente
   que, em seu bojo, traz a vida.

Ruth Farah Nacif Lutterback (Cantagalo/RJ, 1932 – 2017)

1 A cidade que conserva o coreto do jardim, seu patrimônio preserva uma riqueza sem fim. 2 A “muralha” mais temida é o desprezo que se tem d...