Postagens por Marcador

sábado, 10 de dezembro de 2016

Francisco Macedo



1
Antes do verbo era o nada,
o caos do "não-existir"...
Mas, Deus, de forma ordenada,
fez cada coisa surgir.
2
A trova nascida da alma
tem mensagem diferente,
ela incendeia e acalma
as atitudes da gente.
3
Bateu na porta da frente
e correu para a de trás.
Desta forma inteligente,
pegou dez “sócios” ou mais!
4
Buscando a felicidade
por este mundo sem fim...
Descobrir uma verdade:
Ela está dentro de mim!
5
Ciúme não é terror
e não há quem me convença
que seja prova de amor
ou que não seja doença.
6
Contemplo à noite, à janela...
e entre as estrelas e a lua,
eu sinto o perfume dela
que no meu quarto flutua.
7
Eu digo e tenho certeza:
Cigarro só traz derrota,
numa ponta a brasa,
na outra ponta um idiota.
8
Garrancho, graveto, espinho,
feito de amor, que eu suponho,
vai aquecer nosso ninho
para “chocar” nosso sonho.
9
João-de-barro, um engenheiro,
que jamais leu apostila.
Seu ninho é quase um mosteiro:
- poema feito de argila!
10
Na rapidez da informática
meu sonho dura um segundo,
numa proposta automática:
paz, ponto com, ponto mundo.
11
Neste emadrugadecer
em silêncio sepulcral,
fiz o check-in do meu ser
pro reino do amor total!
12
O meu vício é controverso,
tem dependência e vicia.
sou dependente do verso,
rima, métrica e poesia!
13
Proibido proibir,
esse beijo de nós dois.
Eu beijo e vou assistir
o que acontece depois!
14
Saudade é o fundo de um poço
onde minha alma vegeta,
mantendo vivo, no fosso,
o coração do poeta!
15
Saudade, uma imensa conta,
com juro que sempre dobra.
Se chega um dia a tal monta
vem a solidão e cobra!
16
Saudade, um grande cercado,
sem cancela e sem mourão;
onde vivo “enchiqueirado”
à sombra da solidão.
17
Só uma prisão eu respeito,
quando rendo-me à paixão...
Qualquer castigo eu aceito,
se a cela é o teu coração!
18
Toda espera é dolorida...
Nos faz sofrer ou chorar,
mas é pior, nesta vida,
não ter por quem esperar.
19
Três invenções sem futuro:
carro, mulher e baralho.
As três me deixaram "duro",
não sei quem deu mais trabalho!
20
Uma cena inusitada,
tão bonita e comovente.
Em ribalta improvisada,
com público inexistente...
21
Uma estrada, uma esperança,
uma mesma direção....
Sonho livre de criança
nas asas do coração!
22
Um passeio de canoa,
com minha mulher amada,
em Veneza, numa boa.
e eu não queria mais nada!
23
Vença o medo, a escuridão...
Desistir, nunca, jamais!
Vá, lute até a exaustão,
perseguindo os ideais.
24
Vida, a longa caminhada:
- Nascer, viver e morrer.
E ao final sua morada,
você não pode escolher.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Helvécio Barros



1
A amizade não quer palmas
por ajudar seus irmãos.
Deus olha o fundo das almas
e nunca a palma das mãos.
2
Abro a janela bem cedo
e ouço músicas bizarras...
- São as vozes do arvoredo,
no coro de mil cigarras...
3
Ah! Quantos vão pelo mundo,
sem calor, de alma abatida,
fugindo a cada segundo
da própria sombra da vida! 
4
Amigos só de lorota,
há na terra em profusão!
- Mas os bons a gente nota
num só aperto de mão...
5
Andei as trancos na vida
como humilde peregrino:
– Cheguei ao fim da subida
sem chegar ao meu destino!
6
A própria infância também,
é do Passado uma voz:
- Saudade, às vezes, de alguém
que vive dentro de nós…
7
A trova simples, sonora,
parece flor do sertão!
A gente fácil decora,
mas quem sente é o coração.
8
Cabelos brancos ao vento.
Saudade feita de neve!
Mil fibras de sentimento
dizendo a tudo: – Até breve!…
9
Carro de bois do sertão,
acordando as madrugadas,
a ouvir-te a triste canção,
ouço o choro das estradas...
10
Carta de afeto relida,
de quem nos quis muito bem,
traz um pedaço de vida,
na saudade que contém.
11
Castro Alves o teu vulto
já pertende à Eternidade:
- A Justiça foi teu culto!
- Foi teu Credo a LIBERDADE!
12
Com seu azul tão profundo
O céu de beleza imensa,
Parece mostrar ao mundo
De Deus a eterna presença.
13
Dá a todos teu abraço,
e não viverás à toa!
– Cada amigo é um pedaço
da nossa própria pessoa!
14
Definir foi sempre em vão,
da saudade o seu por quê…
Mas, se vem do coração,
saudade, enfim, é você…
15
Do sonho sou vagabundo,
trilhando rumos diversos…
Não tendo nada no mundo,
 o mundo abraço nos versos.
16
Duas almas bem unidas
ninguém separa jamais.
Às vezes, são duas vidas,
que a vida já fez iguais!
17
Em qualquer templo que seja,
sorri a noiva em seu véu...
- De flores, cobre-se a igreja!
- De sonhos, veste-se o Céu!
18
Fui pela vida cantando
cantigas de alacridade...
- Agora, vejo, chorando,
que a própria vida é saudade!
19
Há sempre um dia cinzento
vivendo dentro de nós...
- Reticências de um lamento...
- Tristeza que não tem voz!
20
Mesmo com truques velados,
tinha a mocinha de outrora
mais tolerantes pecados
e menos pernas de fora...
21
Muita lágrima sentida,
em silêncio sei que enxugas…
São reticências da vida
pelos caminhos das rugas.
22
Não choro, na solidão,
a vida que vai passando,
choro, apenas, com razão,
o que a vida vai matando!... 
23
Não te julgues o primeiro,
nem que sejas um portento:
quanto mais alto o coqueiro,
mais fácil se verga ao vento! 
24
Na vida o nosso papel
é tal qual o pirulito:
- Quando a língua chega ao mel,
o dente trinca o palito...
25
Nesta cabana esquecida,
e sem você, quem sou eu?…
Um resto, talvez, de vida
que a própria vida esqueceu!…
26
Ninguém altera jamais,
nossos caminhos terrenos:
- Alguns têm tudo demais!
- Outros têm tudo de menos! 
27
Ninguém por certo é perfeito
numa total plenitude.
- Quem conhece o seu defeito
já tem alguma virtude.
28
O lar é viga, cimento,
a modelar gerações!
- Cartilha do sentimento,
feita de mil corações! 
29
Palhaço, visão querida,
dos meus tempos de criança...
velha saudade escondida,
no meu baú de lembrança!
30
Quando alguém foge à virtude
e pisa as rosas do Amor,
passa a ser espinho rude,
já que não soube ser flor! 
31
Quem sonha é sempre criança,
na vida não tem idade…
Vive tecendo esperança!
Vive juntando saudade!
32
Tal qual arisca serpente,
a mulata, quando passa,
mexe com tudo da gente,
belisca o sangue da raça...
33
Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
Quanto mais longe, mais cresce!
Quanto mais perto, mais dói!
34
Velho mar, soturno e rude,
entre nós – que afinidade:
gemendo a mesma inquietude,
chorando a mesma saudade...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Milton Souza



1
A gorducha Dona Benta
quando senta esparramada
deixa a cadeira onde senta
quase um mês descadeirada.
2
Amor, barriga crescida,
passa o tempo, espera tanta...
chega o milagre da vida
que faz a mãe virar santa.
3
Ao vencedor, toda a glória!
Mas festeje com cuidados:
que a euforia da vitória
nunca humilhe os derrotados.
4
A vida é feita de escolhas:
os acertos, festejamos...
O duro é virar as folhas
nas tantas vezes que erramos...
5
Brinquedos lindos aqueles...
Mas a criança, sofrida,
trocaria qualquer deles
por um prato de comida…
6
Com flores ou cicatrizes,
horas duras e horas boas,
a infância forma as raízes
da educação das pessoas.
7
Como gato na água fria
quando vê careca perto,
porco-espinho se arrepia:
pensa no escalpo, por certo.
8
Contigo sempre reparto
este amor que não termina:
é na penumbra do quarto
que o nosso amor se ilumina!
9
Craque que chuta bastante,
seu lugar no time encontra
mas um “chute” de estudante
é, quase sempre, gol contra...
10
De tanto passar calote,
o “salafra” se deu mal:
foi com muita sede ao pote
ao lograr um policial…
11
Dizer adeus foi tolice,
mas este orgulho maldito
só deixou que eu descobrisse
depois que eu já tinha dito!...
12
Enseadas sem saída,
abismos dentro das almas:
no revolto mar da vida
não existem praias calmas.
13
Eu sou frango... e só me ralo:
se escapo de ser canjinha,
quando estou virando galo
sou morto e viro galinha.
14
Foi dura a separação...
E eu sigo nessa ressaca:
no cais do meu coração
somente a saudade atraca…
15
Gatos miam no telhado,
mas ela nunca reclama:
o som abafa o “miado”
do “gato” da sua cama…
16
Grita o galo no terreiro,
demonstrando muita zanga:
"Não sobe no meu poleiro
o frango que solta a franga."
17
Leitor viciado e indefeso:
- sempre um livro em frente a face...
eu seria um grande obeso,
caso a leitura engordasse...
18
Licor de Deus, sem mistura,
sem cores artificiais,
segue a água a brotar pura
para dar vida aos mortais.
19
Mais fortes... mais apagadas...
ora sumindo ou voltando,
as lembranças são pegadas
que o destino vai deixando.
20
Meu caminho é o teu caminho!
Se a morte nos separar,
quem chegar no céu sozinho,
chora até o outro chegar.
21
Meu sofrido coração
não guarda mágoa ou rancor:
é uma usina de perdão
que opera a todo vapor.
22
Meus sonhos não são modelos;
alguns me fazem chorar...
Mas não tenho pesadelos:
pesadelo é não sonhar!...
23
Morreu de tanto fumar,
e pra limpar seu pulmão
tiveram que colocar
três chaminés no caixão!
24
Não se queixa o pobre Zé,
ganha a vida sem mutreta:
limpador de chaminé,
só ri vendo a coisa preta.
25
No amor, deixe o leme solto:
o vento indica aonde vais...
No amor – sempre – o mar revolto
é mais seguro que o cais…
26
Num fogo constrangedor,
ele brinca com a desgraça:
“Garçom, me passa o extintor...
e empina a nova cachaça…
27
O amante, quando flagrado
pelo marido, extasia:
fica mais arrepiado
do que gato na água fria.
28
O amor que nos impulsiona
torna fácil o impossível:
nenhuma usina funciona
quando falta combustível!
29
O farol do amor é o marco
que orienta a alma perdida:
Cristo é o cais que acolhe o barco
que vaga no mar da vida.
30
O mar da vida não muda,
pouco adianta lamentar:
quando o vento não te ajuda,
usa as mãos para remar.
31
O marujo, em alto mar,
faz motim, reclama e xinga:
“Comida pode faltar,
mas não pode faltar pinga!!!”
32
O pai é sempre o primeiro
se o filho está precisando.
Quem tem um pai verdadeiro,
tem sempre exemplos sobrando.
33
Os netinhos são fregueses
de amores ilimitados:
avós são pais duas vezes,
porém, mais açucarados...
34
O velho cais destruído
pelo mar aterrador
ficou muito parecido
com nosso sonho de amor...
35
O vovô namorador
não aguenta a menininha:
- Eu tenho sede de amor,
mas a fonte está sequinha…
36
Para quem faz o que pode,
busca o rumo, insiste e tenta,
a felicidade explode
e até corrente rebenta...
37
Passa o tempo, passa a vida,
mas fica, em qualquer idade,
uma criança escondida
dentro de cada saudade...
38
Por mais que a gente se zangue,
mande embora sem escolta,
mulher chata é bumerangue:
faz a curva e sempre volta...
39
Qual licor adocicado
que embriaga devagar,
teu beijo me tem deixado
tonto e louco por te amar.
40
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
41
Quando a nuvem da má sorte
cobre de sombras teu mar,
a esperança é o vento forte
que faz o tempo mudar.
42
Quando no embalo do amor
almas inventam desejos,
duas taças de licor
dão novo sabor aos beijos.
43
Quando nosso amor espelha
o que o desejo revela,
a lua fica vermelha
só de espiar na janela...
44
Quando o altar vira mercado
que busca lucros ou votos,
sempre há um Deus falsificado
para enganar os devotos.
45
Quando o mar da vida, escuro,
sufoca a esperança viva,
Deus é sempre o cais seguro
para quem vive à deriva.
46
Quando qualquer luz se acende
faz a vida ressurgir.
A própria sombra depende
de uma luz para existir.
47
Quando um filho perde a trilha
perseguindo falsos brilhos,
toda a vida da família,
geralmente, sai dos trilhos.
48
Quem faz guerra soma os custos
e um dado sempre atrapalha:
quem paga o sangue dos justos
mortos em cada batalha?
49
Sempre que trepida o amor,
brotam gemidos sem fim.
Se gemido fosse flor
motel seria jardim.
50
Se não fosse a fantasia
que o sonho pinta na mente,
muita gente morreria
sem nem saber que foi gente...
51
Se nem sei se circo existe,
se chorar é o que mais faço,
por que é que o destino insiste
em me fazer de palhaço?
52
Tem tanto fogo a menina
que seu mergulho estupendo
deixa a água da piscina
completamente fervendo.
53
Todas as fontes secaram:
deserto em volta de mim...
Meus sonhos todos murcharam,
vivo na espera do fim...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Izo Goldman



1
A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à-toa!...
2
A grandeza imaginária
que todo vaidoso tem,
é uma estrela solitária
brilhando sobre... ninguém...
3
A Independência eu relembro,
meu Brasil, com muito orgulho:
- sonho em Sete de Setembro,
realidade em Dois de Julho!
4
Ao ser preso, o vigarista,
explica, muito matreiro:
- Sou apenas cientista,
faço "clones" de... dinheiro!
5
A queimada é um jogo insano...
A floresta pega fogo...
E, no fim, o ser humano
é o perdedor deste jogo!
6
A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...
7
A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...
8
A sorte, esquiva e malvada,
não dá “chance”, só trabalho...
Eu a sigo pela estrada,
e ela foge pelo atalho!...
9
A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz…
10
A violência eu detesto,
porque é pelo amor que eu luto,
sem amor o mundo é um “resto”
eternamente de luto!
11
Bate o sino em tom profundo,
lembrando a mulher que um dia
entregou seu Filho ao mundo,
sabendo que O perderia!
12
Cara cheia...Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
13
“Cara-metade”, em verdade,
é uma expressão... trapaceira...
- a gente quer a metade
mas tem que “engolir”... inteira…
14
"Casamento... - alguém já disse -
é chegar à encruzilhada
onde acaba a criancice
e começa...a criançada..."
15
Castro Alves, teu valor
está na contradição
do eterno escravo do amor
lutar contra a escravidão.
16
Coitado do Zé Maria:
- a mulher quase o esfola,
pois voltou da... pescaria...
co'um biquíni na sacola...
17
Com seu valor aumentado,
saudade é a restituição
do que já nos foi cobrado
pelos sonhos e a ilusão...
18
Contradição bem marcada,
que teima em nos separar:
- Meu amor toca a alvorada,
e o teu não quer acordar..
19
Coração não tem idade
quando vive de lembrança;
se a lembrança tem saudade,
faz, da saudade, "esperança''!
20
Depois que tu foste embora,
no meu peito, o desencanto
não desabafa nem chora,
não tem voz e não tem pranto...
21
Dois sentimentos moldados
no mesmo barro sem cor:
- é o ódio, pelos pecados,
pelas virtudes, o amor!…
22
É "Carcará" o apelido
do Zé, porque... come... e cisca...
Mas a mulher diz: - "Duvido!
Aqui em casa nem... belisca..."
23
Ele trouxe ao seu rebanho
muito amor e muita luz.
Barqueiro de um barco estranho,
talhado em forma de cruz!
24
É no rosto da criança
que o sorriso é mais bonito:
- tem a força da Esperança
e o tamanho do Infinito!
25
É nos momentos tristonhos
que eu peço à minha lembrança
que traga de volta os sonhos,
no aconchego da esperança…
26
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…
27
Enquanto eu tirava espinhos
das rosas que te ofertava,
deixavas nos meus caminhos
os espinhos que eu tirava...
28
"Esta peixada está quente!"
reclamava o Zé Maria;
e o dono do bar: - "Ó xente,
'se qué', tem pexera fria!”
29
Estás só...Mas, mesmo assim,
como se fora um castigo,
sinto um ciúme sem fim
do "ninguém" que está contigo!
30
És um arbusto florido...
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois... te abraça..
31
Eu, na vida, sou barqueiro
dos meus sonhos sem destino:
- sonho bom é o passageiro,
sonho mau é o clandestino.
32
Eu sou príncipe tristonho
porque, na história real,
não há, na escada do sonho,
sapatinhos de cristal!...
33
Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo "fotografia
de chuva"...por "dois cruzeiro"...
34
Foi no Grito do Ipiranga
que o povo outrora servil
sacudiu do jugo a canga
e fez gigante o Brasil!
35
Fui pirata, aventureiro,
no Mar da Felicidade;
hoje, a ferros, sou remeiro
na galera da saudade.
36
Jogam “xadrez” as nações,
e, no “jogo” em que se empenham,
sacrificam os “peões”,
para que os reis se mantenham.
37
Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira ...
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira …
38
Marcando suas fronteiras
as bandeiras eram trapos,
e, os trapos eram bandeiras,
na Querência dos Farrapos!
39
Meu conflito e meu fracasso
é que as trovas que componho
têm sempre os versos que eu faço,
e nunca os versos que eu sonho…
40
Na Barra o que mais encanta
é o contraste bem marcado: 
- o Rio, passando, canta,
e o sertão canta parado...
41
Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando...
42
Na cidadania existem
os deveres e os direitos,
e os "direitos" só persistem
se os "deveres" forem feitos!
43
Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
- a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...
44
Na jangada a vela panda
parece um ouvido atento,
à espera de prece branda
que há no murmúrio do vento.
45
Na velhice, as incertezas,
para ocupar os espaços,
vão empilhando tristezas
e acumulando cansaços..
46
Nem o Sol pode entender
a estrela que ele namora:
- É “Vésper” no anoitecer,
mas é “D’Alva” à luz da aurora…
47
Nesta "corrida" da vida,
quando o Destino nos solta,
só sabemos na "saída",
que a "corrida"... não tem volta!
48
Neste sesquicentenário,
meu Brasil, sinto presente
teu passado legendário
e o teu futuro ascendente!
49
No seu biquini apertado,
Maria me deixa mudo,
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
50
No viver o que mais cansa
são estas andanças vãs,
correndo atrás da esperança
e perseguindo amanhãs.
51
O pai da moça, que é mau,
Chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau",
tava namorando em..."braile"!!!
52
O teu gesto de ternura,
na minha vida sofrida,
foi um copo de água pura
matando a sede da vida! ...
53
 " O trabalho é que enobrece!"
Dizem todos ao Raul.
E ele responde: - "Acontece,
que eu detesto sangue azul!"
54
Partir é quase morrer...
É deixar na despedida
um pouco do próprio ser
e muito da própria vida…
55
Partiste, e eu fiz o que pude,
num brinde à felicidade,
mas, quando eu disse -"saúde!"
ela respondeu... "Saudade..."
56
Peixinho mais mascarado
do que aquele eu nunca vi:
- só belisca anzol marcado,
"minhoca com... pedigre"…
57
Perdoa, amor, o meu jeito
de te olhar quando te vejo,
teu olhar me diz... “Respeito!”,
meu olhar te diz... “Desejo!”...
58
Pergunta o padre ao noivinho:
- "É de espontânea vontade?"
e ele respondeu baixinho:
- "Não senhor...necessidade!...”
59
Poeta do cativeiro,
nos teus versos triunfantes,
eu vejo um "Navio Negreiro",
sobre "Espumas Flutuantes"!
60
Por artes do coração
Castro Alves foi vencido;
lutou contra a escravidão,
sendo escravo de Cupido!
61
Pulando do nono andar,
o otimista diz a alguém
que, no quarto, o vê passar:
- Até agora... tudo bem!!!
62
Quando o silêncio é uma prece,
sob a lua, em noite calma,
no meu bairro até parece
que as velhas ruas, têm alma...
63
Quando os "Dezoito do Forte"
marcharam, cabeça erguida,
não foi por desprezo à morte
e sim por respeito à vida!
64
Quando pergunta o burrinho,
diz a mula envergonhada:
- "Tu nasceste, meu filhinho,
por causa de uma...burrada!..."
65
Queimadas... Devastação...
Natureza poluída...
e os homens, por ambição,
destroem a própria vida!
66
Quem morreu naquela Cruz,
foi o Corpo e nada mais:
- ninguém apaga uma Luz
crucificando ideais!
67
Quem pela força conquista,
não conquista de verdade;
não há força que resista
à força da liberdade!!!
68
Sai do museu, braço dado
com sua sogra, o Sinfrônio:
- e o guarda grita, alarmado:
- "Tão roubando o patrimônio!"
69
Se a gente fosse dar crédito
ao que diz a maioria,
só de "autor de livro inédito"
tinha uns mil na Academia!...
70
Se a saudade embala a rede,
meu amor, de olhar frustrado,
vê, no branco da parede,
teu semblante desenhado…
71
Se a tua ausência magoa,
magoa mais a saudade...
Muitas vezes a garoa
molha mais que a tempestade…
72
Se disseres que, hoje em dia,
vivo no "mundo da lua",
depois de um beijo, eu diria:
- "Vivo sim! E a culpa é tua!...”
73
Sem esquinas ... sem saídas ...
muitas vidas são assim ...
Ruas retas e compridas,
e um grande portão no fim …
74
Se tu queres divulgar
uma notícia qualquer,
basta o fato confiar,
em segredo... a uma mulher…
75
Tem mais nobreza e valor
o triunfo conseguido,
quando, humilde, o vencedor
aperta a mão do vencido!
76
Têm uma força tamanha
as nossas trovas singelas,
que acendem, "Flor da Montanha",
mais cento e cinquenta velas!
77
Teu "Adeus" eu não censuro,
censuro é um erro fatal:
- meu amor não fez "Seguro"
que pague a "perda total"…
78
Todo "barbeiro" sustenta
que a "batida" foi assim:
- "Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!..."
79
Uma devota a rezar
é o que a rendeira parece,
faz da almofada um altar,
de cada renda, uma prece!
80
Velho Chico, eu te saúdo,
pois vencendo o rude agreste,
fazes, acima de tudo,
a redenção do Nordeste!
81
"Vem aí um furacão!!!",
avisa a rádio, "Cuidado!!!"
e o genro por ...precaução...
põe a sogra...no telhado!!!
82
Vencendo medos e mágoas
foi que o sublime barqueiro
que andava por sobre as águas
trouxe luz ao mundo inteiro.
83
Vendo alguém varrer o chão,
ele deita de comprido,
e, dá logo a explicação:
- "Quero ser...doido varrido..."
84
Virtude é fazer o bem
pelo prazer de fazê-lo,
mesmo sendo para alguém
que não fez por merecê-lo.
85
Zé Pescador não sossega,
mente tanto que dá gosto,
só que os peixes que ele... "pega"
têm carimbo do entreposto.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...