Postagens por Marcador

sábado, 20 de maio de 2017

Élen Novais Felix (1946 - 2015)


1
A bengala da ousadia
que um cego leva na mão,
é a luz que Deus irradia
em seus olhos sem visão.
2
A ganância desmedida
leva ao fracasso que dói...
Feliz quem sabe que a vida
é um prêmio que se constrói.
3
Amizade…A segurança
que invade o meu coração,
ao ver a mão da esperança
segurando a minha mão!
4
Amizade… Exaltação
de um sentimento perfeito,
que me traz a sensação
de que Deus mora em meu peito!
5
Anoitece…a lua espia
A varanda em soledade,
E banha a rede vazia
Em seu clarão de saudade.
6
A queimada em tempo breve
apagando a luz do dia,
anula o que Deus escreve
no livro da ecologia!
7
A queimada que se alastra
na floresta, pressagia
a queda de uma pilastra
no templo da ecologia.
8
As espadas da descrença
não ferem meu coração,
nem há presságio que vença
o poder de uma oração.
9
Ausente o rei da seresta
chora a Vila pesarosa…
Mas Deus recebe com festa
o seu filho, Noel Rosa!
10
A vida é um barco divino
tendo ao leme, a mocidade…
Porém, no ocaso, o destino
me leva ao cais da saudade!
11
Brincando, o vento travesso
pelas areias se espraia,
enquanto muda o endereço
das brancas dunas da praia!
12
Desse bilhete velhinho
o passado não se apaga;
onde falta um pedacinho,
a saudade cobre a vaga...
13
Em meu rosto, de mansinho 
a mão da terceira idade, 
traça o mapa de um caminho 
onde trafega a saudade.
14
Em nossa humilde morada
se há pouco pão sobre a mesa,
a ternura partilhada
compensa qualquer pobreza.
15
Envelhecido e tristonho,
tão longe da mocidade,
bebo na taça do sonho
o conhaque da saudade.
16
Há na queimada que enlaça
a floresta em fogaréu,
escura nuvem que embaça
os olhos azuis do céu.
17
Lampadário de bonança,
luzente, formoso e terno,
nada supera a esperança
que existe no olhar materno!
18
Mesmo numa noite triste
quando meu mar se encapela,
minha canoa resiste:
é que Deus vai dentro dela.
19
Na festa plena de encanto
um brinde, um beijo, um anel...
E em vez de sal, no meu pranto
impera o gosto do mel!
20
Na incerteza da jornada
que a vida me faz seguir,
nem mesmo de madrugada
vejo a saudade dormir!
21
Na mesma rua onde os nobres
desfilam pompa e capricho,
se encontram crianças pobres
entre montanhas de lixo.
22
Não chorei na despedida...
Sempre fui ousado e forte;
se a morte é maior que a vida,
o amor é maior que a morte.
23
Na rua, o guri sem nome
que, da miséria, é refém,
sempre encontra o medo e a fome
mas a justiça não vem.
24
Nem mesmo o sol nos desperta
do feitiço sem pudor,
que nos envolve e acoberta
nas madrugadas de amor!
25
No morro, quanta criança
vive feliz, sem cautela;
Deus também planta esperança
na miséria da favela.
26
No olhar de qualquer criança
residente na favela,
sempre existe uma esperança
partilhada à luz de vela.
27
No sertão pobre e carente
chuva é a mão que Deus descerra
e apaga a fogueira ardente
que queima a face da terra.
28
Numa lágrima salgada
eis a vida resumida;
nas emoções da chegada
e nas dores da partida!
29
O frio invade a palhoça
e da face do espantalho,
que vigia a minha roça
descem lágrimas de orvalho.
30
O mar num longo suspiro
inveja a serenidade
da brisa que faz seu giro
pelas dunas da saudade.
31
O tempo da mocidade
passa em constante corrida,
e depois chega a saudade
no ensaio da despedida.
32
Para a criança sem nome,
a calçada, à luz da lua,
é o cativeiro da fome
na liberdade da rua!
33
Pela potência de um grito
ninguém conquista a bonança...
Maior que um protesto aflito
é o silêncio da esperança.
34
Pobre guri que, na rua,
faz seu tristonho pernoite,
mastigando a fome crua
no prato escuro da noite.
35
Quando, à cafifa se entrega
e,com ela, corre ao léu,
alegre, o gurí, carrega
seu pedacinho de céu!
36
Quando a miséria se expressa
em mão tímida que implora,
qualquer pão se faz promessa
que enxuga um olhar que chora...
37
Quando cessa a tempestade,
resta a estrofe derradeira
da seresta da saudade
no compasso da goteira.
38
Quando o medo me deprime,
uma esperança bem forte
entra em meu peito e reprime
os maus presságios da sorte.
39
Quando rezas em surdina
mãe, vejo nos olhos teus,
a inspiração que ilumina
tua conversa com Deus!
40
Quando uma estrela se apaga
no céu de róseo porvir,
um novo sonho me afaga
e o dia acorda a sorrir!
41
Quanta miséria contida
no olhar tímido e tristonho
de uma criança perdida
entre farrapos de sonho... 
42
Quanto mais cresce a ambição
sem cautela, em mãos de ateus,
mais vejo o mundo sem pão
e a humanidade sem Deus.
43
Regeu a banda o Divino
mas agora, aposentado,
seu famoso bombardino
já se encontra enferrujado !
44
Se a mão da treva se estende
em meu caminho e me alcança,
na chama que Deus me acende
conquisto nova esperança.
45
Sem teu amor que me exalta
o sol nem mesmo reluz!…
e eu percebo em tua falta
que falta faz tua luz !
46
Se o teu rosto, Pai, confessa
o cansaço das jornadas,
quanta ternura se expressa
em tuas mãos calejadas!
47
Toda noite, espero, aflito
que ela volte…E na ansiedade,
vejo, mirando o infinito,
o infinito da saudade.
48
Um cego tem seus segredos
e viver não o intimida:
faz, pela ponta dos dedos,
a descoberta da vida.
49
Um pão nas horas de fome
e um teto nas noites frias,
para as crianças sem nome
são apenas utopias.
50
Viver na rua é proeza
que um pivete aprende cedo,
pois nas trevas da pobreza
a fome é maior que o medo.
51
Volta do samba invocado
e a sua mulher reclama:
- Nem vendo o meu rebolado
o Juca despe o pijama!

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Argemiro Martins Corrêa (1918 - 1992)


1
Ao ver passar um enterro,
a minha filhinha exclama:
- Olha, papai, quanta gente
vai carregando uma cama!...
2
A aranha, para caçar
o inseto, incauto e inocente,
vive a tecer, sem cessar…
Destino é a aranha da gente.
3
Com alguém que recebeu
seu título de doutor,
recebi também o meu
diploma de trovador.
4
Eu comparo o juramento
feito por uma mulher,
à folha seca que o vento
leva para onde ele quer.
5
Eu trago na alma a ferida
de uma grande ingratidão
– eu não te culpo, querida,
são coisas do coração!
6
Felicidade é não ter
nada que acuse a consciência,
sobrecarregue o viver,
ou comprometa a existência.
7
Férias – pausa merecida
nos labores escolares,
com a magia refletida
na intimidade dos lares.
8
Grato, meu Deus, meu Senhor,
pelo sonho que sonhei,
e a saudade que deixou
– nunca mais o esquecerei!
9
Há muita gente que, embora
da elite esteja no centro,
tendo a opulência por fora,
guarda a miséria por dentro.
10
Não há dor, não há ferida
que possa inspirar mais dó
do que a tristeza da vida
daquele que vive só.
11
Não se sabe, na verdade,
se é chorando, se é sorrindo,
quando ela fala a verdade,
quando ela fala mentindo.
12
Não vale ser bom e honesto
se o teu casaco é de estopa.
- Infelizmente o que vale
é a qualidade da roupa...
13
Não vás, nessas excursões
dos sonhos de um matrimônio,
eleger, entre as visões,
invés de um anjo, um demônio!
14
Nem mesmo a saudade adoça
essa mágoa que se vê
numa noite aqui na roça,
sem luar e sem você...
15
Nos quatro versos da trova
eu ponho a minha paixão,
velha história - sempre nova,
e fonte de inspiração.
16
O sorriso de Maria
tem um mistério estupendo,
lembra o sol de um belo dia,
e a paz da tarde morrendo.
17
Por muito que ele se esforce
em controlar emoções,
ora o mundo se contorce
na fogueira das paixões.
18
Que eu fosse alguém, por um dia,
quem me dera, meu Senhor,
pois nenhum mal me faria
um belo anel de doutor!
19
Quem ao suicídio é levado
pra se ver livre da vida,
desperta desapontado
ante a vida preterida.
20
Quem definir poderia
a vida, em seu esplendor,
se, jamais, em nenhum dia,
houvesse provado o amor?
21
Quem que não sente saudade
dos tempos que já viveu,
quando com a felicidade
andou e não percebeu?
22
Saudade é a doce presença
de quem muito nós amamos,
e nem sequer ela pensa
estar presente onde estamos!
23
Sou pobre, não tenho nada,
nada que possa te dar.
- Poeta só tem a estrada
e o direito de sonhar...
24
Tanto o bem como a maldade,
tem linha satisfatória,
e a plantação é à vontade,
só a colheita é obrigatória.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Antonio Juraci Siqueira


1
A bela imagem nos traz
ilusão que nos aterra:
De longe um ninho de paz,
de perto, um campo de guerra.
2
Ademar Macedo encerra
nesta vida o seu papel.
Um homem que deixa a Terra,
um anjo que chega ao céu!
3
Ampara o menor que implora
tua ajuda e, nesse afã,
plantarás no chão do agora
a semente do amanhã.
4
Ao tempo tudo se rende,
tudo passa ou se renova;
só não passa o que se prende
nos quatro versos da trova!
5
Ao vê-los, minha alma chora,
porta-retratos, que além
das recordações de outrora
portam saudades, também!...
6
As nossas buscas eternas
pelo fim de tantos ais,
hão de vir por mãos fraternas
tão diversas, tão iguais.
7
Canta Trovador! Teu canto
alvissareiro e fecundo
é uma canção de acalanto
ninando as mágoas do mundo!
8
Com amor segue em teus trilhos,
do bom caminho não sai
para que, sempre, teus filhos
possam chamar-te de…Pai!
9
Com certeza alguém fará
protestos aos versos meus
só porque afirmo: — Quem dá
aos pobres e empresta, adeus!...
10
Criança alegre brincando
se afigura, aos olhos meus,
um lírio desabrochando
nas mãos sagradas de Deus.
11
Deus fez o mundo certinho
porém, por divina troça,
fez a mulher do vizinho
bem mais bonita que a nossa!
12
Em noites frias, sem lua,
quando meus versos componho,
eu cubro a verdade nua
com meu casaco de sonho.
13
Entre os chatos eu aponto
um que a todos aporrinha
ao dizer: - "Eu nem te conto!..."
E conta a vida inteirinha!...
14
Esculpir-me: eis o que faço
dia e noite, noite e dia
e, agindo assim, passo a passo,
conquisto a minha alforria!
15
Eu flagro, de vez em quando,
meu vizinho e a Maristela;
ontem mesmo o topei dando
um beijo na boca dela! 
16
Evita os tortos caminhos,
que o céu não vem por milagre;
o tempo apura os bons vinhos,
e, os maus, transforma em vinagre.
17
Felicidade - brinquedo
que todos querem, porém,
se para alguns chega cedo,
para outros tarda ou não vem...
18
Futebol, ópio do povo
e a um só tempo, redenção:
rico, pobre, velho ou novo
igualados na emoção.
19
Mãe – palavra que aproxima
criador e criatura;
tão singular que só rima
com a palavra… Ternura!
20
Minha alma se satisfaz
prenhe de amor e de encanto
ao ver a pomba da paz
pousada nas mãos de um santo!...
21
Momento eterno, maiúsculo,
prenhe de amor e magia:
nós dois fitando o crepúsculo
na rede da poesia!
22
Mundo digitalizado
onde tudo é virtual:
pais e filhos lado a lado
numa distância abissal!
23
“Não caso nem amarrado!”,
disse o noivo. E a noiva, então,
trouxe o bruto acorrentado
por espontânea pressão!
24
Não deixes que as desventuras
sepultem teus ideais;
vê que nas noites escuras
as estrelas brilham mais!
25
Não sente, nunca, a fadiga
desta existência bizarra
quem no peito de formiga
tem coração de cigarra.
26
Não sente o tempo passando
quem vive a vida com gosto
e traz um riso enfeitando
as marcas do próprio rosto.
27
Nessa estrada em que trafego
nem sempre flores conquisto
pois sei que em terra de cego
quem tem um olho... é malvisto!
28
No aceno a paixão reparte 
a dor que se multiplica
na tristeza de quem parte,
na saudade de quem fica!
29
Num Brasil de ouvidos moucos
a vida perde os encantos
quando a ganância de poucos
promove a fome de tantos!…
30
Num cantinho iluminado
pela luz da solidão,
um coração desprezado
espera outro coração.
31
Num mundo violento onde 
morre o peão pelo rei,
quanta injustiça se esconde 
sob a máscara da Lei!
32
O canibal, sem alento,
tentando a fome aplacar,
no dia do casamento
comeu a noiva... no altar!
33
Olho a imagem... Lá no fundo,
eu vejo, entre o claro-escuro,
que é Deus indicando ao mundo
onde é o país do futuro!
34
Pequenos sóis, duas gemas
banhadas de sedução,
são os teus olhos algemas
que prendem meu coração.
35
Por menor que seja, creia,
o lixo é problema certo:
de pequenos grãos de areia
é que se forma o deserto!
36
Pouco vale a vaidade
e a aparência exterior;
o sangue da humanidade
é todo da mesma cor.
37
Prudente quem não descarta
apoio a crentes e ateus
pois o amanhã é uma carta
lacrada nas mãos de Deus.
38
Qual pavilhões desfraldados
que ao mundo pedem clemência,
a vida manda recados
em prol daa própria existência!
39
Qualquer vivente se esbarra
nesta evidência que aterra:
– é no balanço da farra
que o bom farrista se ferra!
40
Quem não se rende ao fracasso
e nem se abate ante as dores,
transforma os seus trilhos de aço
em passarelas de flores.
41
Racistas, intransigentes, 
olhai o exemplo da mão:
cinco dedos diferentes
na mais perfeita união!
42
Se eu de ti me separar,
vagarei no mundo a esmo.
Somos um! Se eu te deixar,
darei adeus a mim mesmo.
43
Semeia sonhos, resiste,
planta amor pelos caminhos,
que a travessia mais triste
é a que fazemos sozinhos.
44
Sempre que na noite calma
ouvires passos na rua,
não tenhas medo, é minha alma
andando em busca da tua!
45
Sonho um mundo sem arenas,
mais justo, mais solidário,
onde a paz não seja, apenas,
três letras no dicionário.
46
Tomado por ânsia extrema,
o poeta o peito escalavra
e deita o grão do poema
no fértil chão da palavra.
47
Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
48
Vejo o Sol, fonte de vida,
e penso no amor de Deus
qual grande ponte estendida
unindo crentes e ateus.
49
Viver é corda e caçamba,
sonhar é pura emoção
pois se a vida é corda bamba,
o sonho é um belo balão!
50
Viver fiado em quimera
é coisa que não convém
porque de onde não se espera...
de lá mesmo é que não vem!
51
Vou carregando meu fardo
sem praguejar nos caminhos
pois sou feito a flor do cardo
que desabrocha entre espinhos... 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Adelir Coelho Machado (1928 - 2003)


1
Acumulando jornadas,
hoje sigo as fantasias
que vestem de madrugadas
as minhas noites vazias!…
2
A droga é falsa ilusão
no torneio dos fracassos...
Tira a vergonha, a razão,
e arrasta a vida aos pedaços.
3
A empregada de hoje em dia 
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as cantadas do patrão!!!
4
Ante um transe tão profundo,
o próprio Deus, de mãos postas,
pede perdão para um mundo
de mensagens sem respostas.
5
Apagada a mocidade,
no carvão encontro meios
de, entre as cinzas da saudade,
acender meus devaneios!
6
A saudade hoje tem pressa…
Sobe ao céu, a Deus, a Marte…
De joelhos faz promessa,
meu amor, para buscar-te.
7
Busco a harmonia dos mares
que a tempestade aniquila
com lucidez de luares
na consciência tranquila!...
8
Dorme demais… não tem pique
para dar carinho a Tônia.
Ela vai fazer trambique
para o cara ter insônia!!!
9
Em teus braços me abandono...
O teu amor é guarida
e folha verde de outono
no verão da minha vida.
10
Enquanto vibra o universo,
o mar-poeta se enleia
pelo acalanto de um verso
que o sol escreve na areia.
11
Esqueço… não desespero
porque sei quanto doeu
o pranto amargo e sincero
que sua culpa verteu.
12
Findam noites estreladas,
no renascer da harmonia:
o sol com Deus de mãos dadas
abrem as portas do dia.
13
Foi no trem que a moça disse
com seus “ares” de tolinha:
– Se tentar uma tolice,
eu não chego ao fim da linha!!!
14
Imortal sempre serei
na saudade e nos afetos
dos filhos que ao mundo dei
e na vida dos meus netos.
15
Meu laçarote de fita
que o tempo fez em retalhos
prende uma infância infinita
nos meus cabelos grisalhos.
16
Meu namorado querido!
Nosso amor tão lindo e puro
será por Deus aquecido
nos caminhos do futuro!…
17
Milagre da terra ardente
no estorricado sertão:
brota do trigo a semente
para a mesa ter mais pão.
18
Não revido esta invernia
da minha alma anoitecida.
Tenho uma estrela vadia
me aquecendo o céu da vida.
19
… Não ventava, nem chovia.
Tudo silêncio, asseguro…
Somente a rede gemia
naquele quartinho escuro!!!
20
Nosso grisalho carinho
é bênção que Deus nos deu:
és presença em meu caminho,
eu sou presença no teu!
21
Ouço a minha alma cantando
a mais doce melodia:
Sei que Deus está ninando
minha infante fantasia!…
22
Para que contar invernos?
Do tempo vivo à mercê.
Quero que sejam eternos
meus momentos com você.
23
Pelo exemplo de Jesus,
Padre Anchieta é o retrato
do milagre de uma cruz
que salvou o mundo ingrato.
24
Pelos caminhos do céu,
vai, balão iluminado!
mas volta como um troféu
à terra, sempre apagado.
25
Preciso de uma pedra só:
mas que seja bem bonita
e se avolume do pó
de uma esperança infinita!…
26
Procurando coisa alguma,
meu sonho sempre se alteia…
Faz com pilastras de espuma,
os meus castelos de areia!…
27
Procuro a paz dos caminhos
com verdes encruzilhadas
onde encontre frágeis ninhos
protegidos nas ramadas!…
28
Que o tempo – guri travesso
fugindo a cada segundo,
não esqueça do endereço
do amor que lidera o mundo.
29
Rezar é belo, criança,
não há mistérios na prece...
Deus dá o pão da esperança
enquanto o trigo não cresce!
30
Se a noite chega cansada
de caminhar sempre ao léu,
Deus dá vinhos de alvorada
na taça rubra do céu.
31
Seja palácio ou favela
a educação sempre traz
a esperança que revela
um mundo pleno de paz.
32
Ser Gente é ter semelhança
com Deus em sua virtude:
Inocência de criança
amor em cada atitude.
33
Tanta falta de capricho!
Outra vez está de porre?
– Fui ao bar matar o bicho…
Mas o danado não morre!!!
34
Teu beijo – doce quentão
é vício que não supero.
Me embriaga de emoção…
Quanto mais bebo, mais quero!…
35
Tudo é mentira, patroa!
É fofoca desta gente…
O patrão diz que sou boa
porque faço prato quente!!!
36
Vejo auroras encantadas
no peito do trovador:
Quatro versos de mãos dadas
numa ciranda de amor!…

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...