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sábado, 24 de dezembro de 2022

Luiz Otávio (Jardim de Trovas) 2

 

A dor que mais nos abala,
que fere profundamente,
não é a dor de que se fala,
mas a que apenas se sente.
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A trova recende a rosas
e sabe a favos de mel,
e é tão pequena que cabe
num cantinho de papel...
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A trova tudo nos conta.
De coisas belas nos fala.
Basta alma para fazê-la…
E ouvidos para escutá-la...
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Benditas sois, Caravelas,
que, enfrentando riscos mil,
trouxestes, entre procelas,
a semente do Brasil!
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Da vida, quando eu partir,
findando sonhos e dores,
serei levado, a sorrir,
por quatro anjos trovadores...
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Deixou a Felicidade
Saudade em meu Coração...
Depois a própria Saudade
cansou-se da Solidão...
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Há olhos para a Gramática!
Há olhos para a Razão!
Mas, lendo a trova, é preciso
ter olhos no coração...
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Nasce a trova facilmente
e correndo o mundo vai...
É como a água nascente,
ou como o orvalho que cai...
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Nas desgraças ou venturas,
há sempre, em todas as vidas,
angústias, medos, torturas,
de origens desconhecidas ...
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"Ninguém faz falta no Mundo"
— O povo não tem razão...
Perca um bem grande e profundo,
veja se faz falta ou não!...
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Numa simples despedida,
nunca sabemos, meu Deus,
se ao darmos um "até breve",
estamos dando um "adeus"...
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Oh! quanto nos atormenta,
na vida, que se dilui,
sentir que a saudade aumenta
e a esperança diminui!...
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Ó nuvens — minha alma implora! –
Segredai àquela ingrata
que, se ela não volta agora,
esta Saudade me mata!
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O que fala que é feliz,
está, por certo, enganado.
— Não creia no que ele diz...
vive apenas conformado...
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Os seus olhos sonhadores
me falam de seus desejos:
que os seus lábios tentadores
nasceram para os meus beijos...
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Parte ao encontro do amor
com um sorriso na face,
como se ele fosse um bem
que nunca nos enganasse...
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Pensa bem no que eu te digo:
um conselho sem ressábios
é dado num tom amigo,
com um sorriso nos lábios.
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Pra compensar a maldade
de ser o bem tão fugaz,
Deus inventou a saudade
— a melhor das coisas más...
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"Qualquer um faz uma trova..."
falaram-me com desdém…
Fazer... fazer... todos fazem...
A questão é fazer bem!...
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Que dolorosa ironia!
— Esta paixão derradeira
deu-me Ventura um só dia
e Saudade a vida inteira!...
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Rouba-se tanto, tão alto,
com tal malícia e sussurro,
que a gente, quando é honesto,
ganha diploma de burro...
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Saudade... luz do poente,
que se esconde atrás do mar,
voltando após, docemente,
na ternura do luar…
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Será feliz, com certeza,
o que, entre mágoas, prejuízos,
só vê, do mundo, a beleza,
da humanidade, os sorrisos...
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Tenho tudo nesta vida..,
Às vezes, penso: contudo,
se tu me faltas, querida,
de repente perco tudo!...
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Teus olhos, tua voz quente,
teu sorriso endiabrado,
dão logo impressão, à gente,
de ver o próprio pecado...
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Veio um dia a tempestade,
jogou-me a um canto da vida!
Tinha vinte anos de idade
e a mocidade perdida...
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Vida — mistério profundo!
Quem dirá da nossa Sorte?!
Que haverá depois do mundo?
Que haverá depois, da morte?!

Fonte:
Luiz Otávio. Cantigas dos sonhos perdidos. Coleção Trovas e Trovadores, organizada por Aparício Fernandes e Zalkind Piatigorky. RJ: Livraria Freitas Bastos, 1964.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Nei Garcez (O Paraná em Trovas)

 
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Curitiba em Trovas
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Conheça nossa cidade,
seus shoppings, parques e praças,
e em Santa Felicidade,
6ons vinhos, frangos e massas.
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Venha fazer um passeio
na Curitiba sorriso.
Seus parques, sempre em recreio,
são formas de paraíso.
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Curitiba hoje o convida,
entre o sol, ou com respingos,
conhecer a mais comprida
feira-livre dos domingos.
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Se você é enclausurado
por ouvir só dissabores,
deixe a tristeza de lado...
Venha pra Rua das Flores!
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Quando a vontade é viajar,
acompanhado, ou sozinho,
nunca fique a divagar...
Curitiba é um bom caminho!
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Da Curitiba de dantes
Saint Hilaire* deixou a ideia
de que, aqui, tinha habitantes
com tradição europeia.
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Todas as vinte e oito etnias
que imigraram para cá,
trouxeram intenções sadias
dando vida ao Paraná.
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O Paraná cresceu tanto
com os povos que acolheu
e, hoje, agradece este encanto
que cada etnia lhe deu.
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Curitiba de outrora,
pela cultura formada,
mostra, ao seu jovem de agora,
que continua ilustrada.
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Curitiba, tanta graça,
entre a prosa e a poesia
quanto mais o tempo passa
és, das Letras, a magia!

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Paranaguá em Trovas
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Desde o seu descobrimento,
o Brasil Colonial
principiou seu crescimento
a partir do litoral.
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Quem conhece a geografia
e as memórias de onde está,
sabe que aqui principia
a História do Paraná!
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Ao formar-se a povoação,
erigiu-se um santuário
- a Capela - em devoção
à Senhora do Rosário…
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Isto tudo começou
em meio a mil e seiscentos,
quando Lara** anunciou
muito ouro, aos quatro ventos!
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A corrida pelo ouro
descobriu Paranaguá
que, encontrando este tesouro,
desbravou o Paraná!
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A Província e sua História,
desmembrando o Paraná,
principiou, com grande glória,
dentro de Paranaguá!
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* Nascido em Orleans, o botânico, naturalista francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779 – 1853) chegou ao Brasil em 1816, acompanhando a missão do Duque de Luxemburgo. Na visita que fez  pela região em 1820, o botânico conta em seu livro aspectos dos Campos Gerais; as vilas e fazendas da região; costumes indígenas e aspectos físicos. Ele começou sua viagem em Itararé e passou por Castro, Curitiba, Paranaguá e Guaratuba, até continuar sua missão por Santa Catarina.

** Gabriel de Lara foi um sertanista paulista, natural de Santana do Parnaíba, no atual estado de São Paulo, e que fundou arraiais e vilas no sul do Brasil, sendo as principais Paranaguá e Curitiba.


Fonte:
Trovas em marcadores de livros enviados pelo trovador.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Luiz Otávio (Jardim de Trovas) I

* Na época não era obrigatório rimar o 1. com o 3. verso, somente foi normalizada esta obrigatoriedade com a fundação da União Brasileira de Trovadores, em 1966.

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A minha alma está. vazia,
alegre e gentil Princesa!
— Vem casar tua alegria
à minha grande tristeza!…
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As vidas têm — mesmo aquelas
mais felizes e serenas —
ondas de tédio tão grandes,
e alegrias tão pequenas!...
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Até a dor eu bendigo!
E declaro, francamente:
— Foi tanto afeto de amigo
que valeu ficar doente!
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Carregando só desgosto,
tristeza e desilusão,
o meu Natal tem o gosto
de uma noite de Paixão...
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Deves ter uma só alma,
em qualquer ocasião…
Sê sincero, embora sofras!
Traze puro o coração!
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É bem cruel esta dor
que me acabrunha., espezinha.
— saber que é meu teu amor,
mas, que nunca serás minha…
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E chegam depressa os anos!
E passam assim os dias:
— Milhares de desenganos
e bem poucas alegrias...
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... E há no mundo quem reclame
e que sinta a alma vazia,
tendo na vida quem o ame,
tendo o pão de cada dia!...
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... E os amigos fui perdendo...
Alguns, repentinamente...
Coração, triste, sofrendo,
levando a Vida pra frente...
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Eu, hoje, olhei-me no espelho,
e tive cruel desengano...
— Quantos anos fiquei velho,
no período de um só ano!
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Hoje, saudoso, relembro
nosso Passado tão doce...
Foi no Natal... em dezembro.
que o Papai Noel te trouxe…
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Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
— Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos...
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Não paras quase ao meu lado...
E em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida…
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Olhando o mar, penso em Deus.
E também, não sei porque,
no céu pondo os olhos meus,
eu me lembro de você...
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Os dias dos namorados
são singelos e risonhos!
Os dedos entrelaçados
e entrelaçados os sonhos!...
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Para o triste, Deus concede
— na sua grande clemência —
o consolo da Saudade
— Nossa Senhora da Ausência…
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"Perder tempo" — contingência
que o Homem traz aturdido,
sem saber que na existência
o melhor tempo é o perdido...
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Primeiro amor… doce encanto.
— Feliz página da vida
que, raramente, entretanto,
pode um dia ser relida...
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Se aos filhos tu podes dar
tua vida como exemplo,
não terás somente um lar,
mas, sim, um sagrado templo!
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Saudade... Quando partiste,
nunca pensei que assim fosse!
— Não há tristeza mais triste,
nem há palavra mais doce!...
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Teríamos a alma em paz,
lembrando a todo momento,
que, às vezes, sofremos mais
na espera do sofrimento!...
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Tu ficaste bem zangada!
Não sei a razão, contudo...
Tudo, talvez, por um nada...
E às vezes, um nada é tudo...
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Um dia é que eu percebi
o que há muito aconteceu;
o maior bem, que eu perdi,
foi a fé que já morreu!
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Um mês assim tão risonho,
eu juro: nunca vivi!
— Uns dias cheios de sonho..
Uns sonhos cheios de ti...


Fonte:
Luiz Otávio. Cantigas dos sonhos perdidos. Coleção Trovas e Trovadores, organizada por Aparício Fernandes e Zalkind Piatigorky. RJ: Livraria Freitas Bastos, 1964.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...