Postagens por Marcador

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nilton Manoel Teixeira



1
A noite calada e escura
que silencia meu pranto,
revela toda a amargura
na falta de teu encanto.
2
A vida com seus mistérios
mostra-nos e muito bem
que, no Poder homens sérios,
são sérios se lhes convém.
3
Bom de boca, o Zé Boquinha,
sustenta toda a família…
Aqui… emprego não tinha!
vira-se bem em Brasília.
4
Canta o galo, nasce o dia!
do chão da praça o sem nome,
põe num canto a moradia,
para lutar contra a fome.
5
Casa velha, quanto encanto!
tem cobras, cupins, lagartos…
uma história em cada canto
e fantasmas pelos quartos.
6
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
7
Com esse salário de fome…
sem ver a cor do dinheiro,
pobre, nem papel consome…
Fazer o que no banheiro.
8
Com meu freezer sem nadinha,
vou amargando o rosário.
Quem come pão com farinha
sabe o que vale o salário.
9
Conduzindo arma sem porte,
foi detido o valentão,
que, da praia, por esporte,
vinha abraçando um canhão.
10
Corre-se tanto, mas tanto,
pelo pódio e sua glória
que, o enfim é o fúnebre pranto,
de um troféu ao fim da história!
11
Depois dos cinqüenta, creio,
tudo é lucro e coerência;
homem que não faz rodeio,
sabe o que vale a existência.
12
Depois que a polícia veio
acabou todo o mistério;
Gemidos (que eram de dois)
sumiram do cemitério.
13
Deriva, momento incerto,
em que a vida segue a esmo,
mas quem vai de peito
vence a tudo, até a si  mesmo .
14
Dia da árvore, na escola,
faz-se festa às derrubadas;
a folhagem, sempre amola
sujando pátio e calçadas.
15
Do homem a pior desgraça
é casar com mulher burra;
a vida todinha passa,
na pior, de surra em surra.
16
Do jeito que a coisa vai
em tudo se põe durex…
pobre, sem panela sai
pra comer de marmitex.
17
Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
Hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
18
Em férias, certo doutor,
ganha auréola de moleque,
quando perde sua cor,
no exagero de um pileque.
19
Enfim dono dos saberes
da vida, em música e dança,
concluo que, o fim dos seres
é o limite da esperança.
20
Fez-se pai o jornalista
e, uma ideia lhe desfralda:
- Batiza a filha, o egoísta,
com o nome de… Jornalda!
21
Florestas? – Quero espigões!
e a fauna toda enjaulada!
… e a moda de altos portões,
esconde a noite estrelada.
22
Fortaleza é o pobre honesto
ante as tentações da vida;
Quem planta,colhe e de resto
deixa a rota mais florida.
23
Gostava tanto de pão,
que casou com o Zé da Massa;
coitada vive na mão,
sempre só triste e sem graça.
24
Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.
25
Homem maduro tem força;
firme, enfrenta ondas e ventos…
por mais que os anos lhe torça,
jamais perde os bons momentos.
26
Indo por outros caminhos
neste mundo, às vezes rude,
vou fugindo dos espinhos
pois, das mulheres, não pude!
27
Leia a sorte, meu senhor!
-Que sorte tenho cigana?
mãos de pobre professor
vive sem linhas e  grana.
28
Meu filho só dá trabalho…
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho…
por isto estou empregado!
29
Meu pai, exemplo perfeito
de luta e vitalidade;
ao partir, por ser direito,
deixou sincera saudade.
30
Muda o  mundo…tudo muda!
mas no campo do saber
há quem todo o tempo estuda,
mas é “verde” de morrer.
31
Na caminhada, maduro,
ponho fogo na fornalha;
quero deixar no futuro,
as lições de quem trabalha.
32
Na feira da corrupção
dois produtos têm destaque:
-laranja na execução;
pepino na hora do baque!
33
Não existe culpa imensa
para quem crê no perdão,
tendo o Deus de sua crença
tranquilo em seu coração
34
Na rua, toda nuazinha,
escondendo a cara santa,
no carnaval da Lurdinha,
até morto se  levanta
35
Nesse comércio bizarro
de promoção de viés.
Ainda venderão carro
dando de brinde mais dez.
36
No circo da vida explode
o que a vida sempre dá:
um é pipoca se pode;
o outro, apenas piruá!
37
No espaço da folha branca
o universo do escritor,
torna a vida bem mais franca
se traça versos de amor.
38
No lirismo de meu povo
sonho e tenho sempre fé
que num dia de sol novo
será plena a paz.. de pé!
39
O amante da Filomena,
se encontra o ex-marido dela,
treme tanto de dar pena…
e geme sem dor com ela!
40
O chifre em terra rachada
em bucolismo infernal,
é o adorno que traça a estrada
da carência de água e sal.
41
O meu palácio encantado,
onde o ano todo é natal,
é um quadradinho alugado,
chamado “caixa postal”!
42
O mundo – pleno em magia,
nossa bola de cristal,
mesmo amargo, traz poesia,
aos momentos mais sem sal.
43
O mundo vive pedante;
grita e clama por socorro!
Gasta-se alto a todo o instante,
Não com gente… com cachorro!
44
Os teus olhos patrocinam
pensamentos variados;
todos aqueles que animam
os sonhos dos namorados.
45
Por entre as pedras da fonte,
cantante em sai alegria,
o bardo vê no horizonte
sua fonte de poesia.
46
Promoção de negro humor
em grandes filas, à vista;
qualquer “lixo” tem valor,
na glória do varejista…
47
Quando há morte programada
pelos quadrantes da terra,
homens que não valem nada
sentem paz plantando guerra.
48
Quando o homem é homem não chora,
enfrenta as farpas da vida,
vence a fauna hostil com a flora
tornando a estrada florida.
49
Quem como eu faz poesia,
sabe que a glória é completa:
- Ninguém aposenta o dia
de trabalho de um poeta.
50
Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do  bem que faz
um céu de Sol mais aberto.
51
Quem tem vida vive atento
pelos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.
52
Ribeirão Preto é café
-terra amiga e sempre nova-
quinze décadas de fé
que todos cantam em trova.
53
Sem ter bolas de cristal,
quem sabe onde pisa faz
de sua estrada um rosal
se é do Bem e pela paz.
54
Sem ter calçado e camisa
pra não cair na prisão,
salário de pobre é a brisa
mal dá pra comprar o calção.
55
Solteiro? – Querida! Ó vida
de prazeres… sonhos tantos!
Casados? ? Os nós da lida,
cegam os reais encantos!?
56
Talento é ter arte e graça
brincando com a vida séria;
pobre curte até a desgraça
com o salário da miséria.
57
Viver pobre é contramão
mundo triste de aguentar;
A sorte que traz o pão
enfrenta os jogos de azar.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Olivaldo Júnior


1
A mentira mais sincera
sempre peca pelo excesso:
agradar a quem espera
que essa vida é só sucesso.
2
Ante os "beijos do cinema",
o casal enfim se rende;
todos sabem que esse tema
facilita um "happy end".
3
Ao clarão da tarde quente,
te abandono e tenho medo:
quando chove só na gente,
nasce a lágrima em segredo.
4
Ao tentar ser mais feliz,
disse adeus à solidão;
mas nenhum amigo quis
animar-me um violão...
5
Ao tomar de um violão,
tomo o bonde da esperança;
no abandono da estação,
estaciono em mim criança.
6
As palavras caem frouxas
no terreno dos ouvidos;
as imagens são as trouxas
nestes ombros doloridos.
7
Cada história dessa vida,
no arvoredo de uma voz
que se fez de adormecida,
só renova a Elis em nós.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
8
Cada lágrima guardada
guarda, sim, o coração:
fica sempre represada,
entre a voz e um violão.
9
Calendário da mentira
tem seu próprio movimento,
mas o povo que se vira
vira o jogo e muda o vento.
10
Cansadíssimo de tudo,
dou adeus à Boa Sorte,
calo a boca, fico mudo,
mas te amo até a morte.
11
Canto triste, na ribeira,
denuncia o poetinha
que se dera à cordilheira,
poesia que ele tinha.
12
Carrilhões, barulho santo,
como a música em João
Pernambuco, doce espanto
que nos dói no coração.
13
Castro Alves, bom poeta,
como um grande cantador,
conquistou a nobre meta
de expurgar do negro a dor.
14
Coração de mentiroso
sempre tem um bom motivo 
para achar maravilhoso
ser do próximo o mais "vivo". 
15
Coração de namorado
bate as horas como o sino,
avisando que é chegado
novo amor ao seu destino.
16
Coração que diz “Adeus”
bate fraco e sem barulho;
queira logo, nosso Deus,
eu me livre desse orgulho.
17
“Devagar, se vai ao longe”,
diz o povo em seu adágio;
seu adeus me fez o monge
da “saudade sem pedágio”.
18
Entre campos e cidades,
esta máxima conduz:
as mentiras são verdades
que queriam vir à luz.
19
Entre velhos pergaminhos,
chilreando feito gralhas,
namorados são pombinhos
que dividem as migalhas.
20
Folhas secas são histórias
de um verão inesquecível;
entretanto, até memórias
têm seu tempo previsível.
21
Fora escrava e alforriada,
"Anastácia" em ré menor,
mas, no céu da batucada, 
mulher negra é sol maior.
(Pelo Dia Latinoamericano da Mulher Negra)
22
Hoje, quando sou sincero
e lhe escrevo minha alma,
muito mais me desespero,
dando adeus a toda calma.
23
Inda espero, distraído,
por teu carro à minha porta:
canto triste, dolorido,
esperando quem me importa.
24
Já perdi seu telefone,
só me vale seu e-mail:
hoje vivo só, “alone”,
sem a hora do recreio.
25
Já são trinta e dois verões
sem Elis cantando ao vivo;
tempo passa sem senões,
pois seu canto é redivivo.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
26
Lá do Sul, do comecinho
do pais que tanto amou,
certa Elis fez seu caminho
no país que a consagrou.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
27
Ladrilhada de brilhante,
ou “sujinha” de poeira,
Poesia é todo instante
que se pega na “peneira”.
28
Meu amigo mais querido,
Baden Powell de ilusão,
fez-se em algo conhecido:
abandono e eterno não.
29
Meu amigo mais querido,
com histórias de aventura,
fez-se logo o preferido
da saudade que perdura.
30
Meu poeta preferido
não escreve, nem recita,
mas dedilha, comovido,
cada nota que visita.
31
Na historinha familiar,
o João chamou Maria,
e Maria, sem pensar,
fez a ele companhia.
32
Namorado sempre esconde
quando chora de saudade,
pois amor, se perde o bonde,
nunca perde a majestade.
33
Na valsinha da memória,
num coreto enfim desperto,
todo mundo vira história
e anoiteço em um deserto.
34
No cantinho, atrás da porta,
meu amor ficou sozinho;
muitas vezes, quem importa
diz adeus devagarzinho.
35
No desenho de um acorde,
no lirismo de uma rima,
eu só quero que concorde:
seu adeus é nosso clima.
36
No divã da inconsciência,
entre Freud e o próprio eu,
peço a Deus a paciência
que o Abandono já comeu.
37
No lirismo do palhaço,
todo feito em poesia,
fantasio e me desfaço
desta falsa alegoria.
38
No serão da fantasia,
entre quarto e o calendário,
violão faz companhia
para um homem solitário.
39
No sertão de minha vida,
vivo feito o Riobaldo:
só "veredas" dão guarida
para o rio do Olivaldo.
40
No seu dia, Poesia,
todo mundo fica atento:
a metáfora, tardia,
busca o pé até do vento!
41
O barquinho, Poesia,
de mil versos carregado,
desemboca n’alegria
do oceano desdobrado.
42
O ninguém se faz de “flor”,
vale bem o quanto pesa;
quando espeta o seu amor,
despetala quem despreza.
43
O Pinóquio poderia,
se ele fosse brasileiro,
ser o dono d'alegria
desse trem eleitoreiro.
44
O segredo do abandono
se revela ao sol mais pleno:
és verão, e sou outono,
neste inverno nada ameno.
45
O verão que amarelece
cai em folhas, coração;
mas você jamais fenece,
faz do outono floração.
46
Para honrar o meu ofício
e “animar” a biografia,
vou pular no precipício
dos amantes da poesia.
47
Poesia bota em cheque
toda a nossa imensidão:
tempo curto de moleque,
breve tempo de ancião.
48
Poesia, forma vaga,
lua fixa a nós defronte,
cada verso é tua baga
neste cacho de horizonte.
49
Por pensar demais em ti,
vivo o carma desta prova:
incorporo um bem-te-vi,
bem te vejo e faço trova.
50
Pra dizer adeus assim,
não precisa piedade:
basta ser um ser a fim
de matar felicidade.
51
Quando a banda toca Chico,
fico alegre e, de repente,
muito mais tristonho eu fico,
porque tu estás ausente.
52
Quando choro com razão
percebendo o que se deu,
dou-me inteiro ao violão,
que me dá o que era meu.
53
 Quando eu era só abismo
no silêncio de meus ais,
tu me deste o “catecismo”
da amizade, luz no cais.
54
Quando vi a nossa foto,
desgastada, na gaveta,
vi nascer um terremoto
neste inóspito poeta.
55
"Romaria" de canções
arrastando a "Madalena",
travessia e comoções:
era Elis roubando a cena.
(Pelo Aniversário de Elis Regina)
56
Se jurei não mais falar
sobre nada do que disse,
é porque sou de trocar
a promessa por crendice.
57
Sem resposta a meus e-mails,
tua ausência é muito forte;
já tentei “milhões” de meios,
mas “deletas” minha sorte.
58
Se o verão lhe der licença
e o caminho for propício,
chegue e faça a diferença,
doce outono, neste início.
59
Solidão e violão
são irmãos e não se largam:
uma amarga o coração,
outro adoça os que se amargam.
60
Todo adeus tem duas beiras,
duas margens de amizade;
numa beira, estão trincheiras,
noutra beira, só saudade.
61
Todo outono faz de mim
o jardim que fora eterno;
mas o "eterno" do jardim
ressuscita findo o inverno.
62
Trabalhando desde cedo,
aprendendo a conquistar,
todo jovem perde o medo
de esboçar o céu no mar.
63
Uma casa de escritores
junto ao "rio guaçuano"
foi a causa dos amores
que cobri de desengano.
64
Um adeus só quer dizer
o que nunca se diria:
diz-se adeus para esquecer
quem jamais esqueceria.
65
Vaga-lumes incendeiam
a plateia de meninos:
são poetas que semeiam
poesia aos pequeninos.
66
Vulnerável coração,
coração dilacerado:
a cantora chora, não,
é soluço marejado.
 (Pelo Aniversário de Elis Regina)
67
Violão deixado ao léu,
tua estante, muitas folhas,
todos vivem sem papel,
no entreato sem escolhas.
68
Violão que vive mudo,
sempre à espera de seu bem,
sonha dedos de veludo
que o dedilhem para alguém.
69
Violão, tens muitas cordas,
mais até que o coração;
entretanto, quando acordas,
só se move a da emoção.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...