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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Nemésio Prata (Trovas em Branco & Preto)

 


1
Ao ver a imagem singela
do barco, tranquilo, ao mar,
lembrei-me: não há procela
que Deus não possa acalmar!
2
Bom Humor em injeção 
comprimidos, ou xarope, 
é a melhor prescrição 
para tristeza a galope!
3
Correndo, desesperado,
de mala e chapéu na mão,
o passageiro, coitado,
perdeu o trem... e a razão!
4
Ensinar é dom sublime
que requer saber e amor;
o que muito bem exprime
a lide do Professor!
5
Homem, mau, vil e perverso;
toda vez que tu desmatas,
mesmo em nome do progresso,
é a ti mesmo que tu matas!
6
Na mata o machado bate
forte pra tirar "madeira";
e assim o "homem" abate,
uma a uma, a mata inteira!
7
Olhando com bem clareza
pras marcas do seu herdeiro,
já não tem tanta certeza
de ser o pai verdadeiro!
8
Por aqui passava um rio
caudaloso e pleno em vida;
hoje mal se vê um fio
d'água suja e poluída!
9
Se a lua inspira o Poeta...
também o faz o arrebol;
venturoso é para o esteta
ter os dois por seu farol!
10
Seja-lhe a vida a favor,
ou o seu viver adverso,
regala-se o Trovador
na lide de fazer verso!
11
- Solta-me! Clama o navio
ao cais que o faz prisioneiro;
- deixa-me sair vadio
pelo mar... que é meu parceiro!
12
Tem quem só quer receber
para si o que é melhor,
porém ao aparecer
chance pra dar: dá o pior!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

AS TROVAS DE NEMÉSIO EM PRETO E BRANCO
por José Feldman


AS TROVAS UMA A UMA

1. Acalmando as Tempestades
Esta trova reflete a ideia de que, mesmo diante das adversidades (as tempestades da vida), a fé em Deus pode proporcionar tranquilidade. O barco representa a jornada da vida, enquanto a presença divina sugere proteção e esperança.

2. O Poder do Bom Humor
O humor é apresentado como um remédio poderoso contra a tristeza. A metáfora dos "comprimidos" e "xarope" sugere que, assim como medicamentos, o bom humor é essencial para a saúde mental, enfatizando a importância de uma atitude positiva.

3. Desespero e Oportunidade Perdida
Aqui, o passageiro simboliza aqueles que, na pressa da vida, perdem oportunidades valiosas. A "mala e chapéu" indicam a carga emocional e as responsabilidades que ele carrega, e a perda do trem é uma metáfora para a perda de controle e direção na vida.

4. A Nobreza do Ensino
A figura do professor é exaltada como alguém que, além de transmitir conhecimento, deve ter amor pela educação. A expressão "dom sublime" destaca que ensinar é uma vocação que envolve dedicação e compromisso com o futuro.

5. A Destruição da Natureza
Esta trova critica a degradação ambiental, alertando que a exploração desenfreada dos recursos naturais traz consequências. A ideia de que "é a ti mesmo que tu matas" sugere uma reflexão sobre o impacto das ações humanas sobre si mesmos e as futuras gerações.

6. O Machado e a Mata
Com uma abordagem similar à anterior, aqui Nemésio usa a imagem do machado como símbolo da destruição. A repetição da palavra "abate" enfatiza a continuidade da devastação, mostrando um ciclo de morte que se perpetua por ações humanas.

7. Dúvidas de Paternidade
Esta trova de forma humorística aborda a insegurança nas relações familiares. O "herdeiro" e a "certeza" contrastam, refletindo sobre a complexidade das relações humanas e as dúvidas que podem surgir em laços familiares, questionando a identidade e a paternidade.

8. O Rio Poluído
A transformação do rio de "caudaloso" a "fio d'água suja" é uma poderosa metáfora para a degradação ambiental. Essa imagem expressa a perda da pureza e vitalidade do meio ambiente, um lamento sobre o impacto humano na natureza.

9. Inspiração Poética
A trova destaca a dualidade entre a lua e o arrebol como fontes de inspiração. Isso sugere que a beleza pode ser encontrada em diferentes formas e momentos, e que o artista deve estar atento a essas fontes para criar.

10. Alegria na Criação
Independente das circunstâncias, a figura do Trovador expressa que a criação poética é uma fonte de alegria. A palavra "regala-se" indica que a arte é um refúgio e uma forma de expressão que traz satisfação.

11. Clamor por Liberdade
O navio clamando ao cais representa o desejo de liberdade e exploração. Essa metáfora reflete o espírito aventureiro e a luta contra as amarras que prendem, simbolizando a busca por autonomia e novas experiências.

12. Egoísmo e Generosidade
Esta trova critica a natureza egoísta de algumas pessoas, que se aproveitam das oportunidades sem considerar os outros. A dicotomia entre "receber" e "dar" ressalta a falta de altruísmo e a necessidade de uma reflexão ética sobre as ações humanas.

TEMAS ABORDADOS PELAS TROVAS DE NEMÉSIO E SUA SIMILARIDADE COM POETAS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Natureza e Degradação Ambiental
Nemésio em várias trovas critica a exploração desenfreada dos recursos naturais, alertando para as consequências de uma relação desequilibrada entre o ser humano e o meio ambiente. Essa preocupação é cada vez mais relevante no contexto atual, onde a urgência das questões ecológicas se torna inegável. Essa temática é comum na literatura, desde poetas românticos como William Wordsworth, que exaltava a beleza natural, até contemporâneos como Adélia Prado, que também aborda a relação do ser humano com a natureza de forma crítica.

2. A Condição Humana e a Busca por Identidade
A exploração da paternidade e das incertezas nas relações familiares revela uma busca profunda por identidade e pertencimento. A dúvida e a insegurança são sentimentos universais que ressoam com a experiência humana, conectando a poetas que também exploraram a complexidade das relações. Essa preocupação é encontrada em obras de Fernando Pessoa, que explorou a fragmentação do eu, e em poetas contemporâneos como Marianne Moore, que também refletiu sobre a complexidade das relações interpessoais.

3. O Papel do Professor e a Educação
A valorização do ensino como um ato de amor e dedicação destaca a importância da educação na formação do indivíduo e da sociedade. Nemésio se une a uma longa tradição de poetas que reconhecem a nobreza e o impacto do educador na vida das pessoas. A exaltação do professor como figura essencial na formação humana ecoa o pensamento de poetas como Cecília Meireles, que valorizava a educação e o saber.

4. Humor e Alegria como Remédios
A capacidade de encontrar alegria e leveza em meio às adversidades evidencia uma resiliência humana notável. O humor, apresentado como um remédio, reflete uma estratégia vital para enfrentar os desafios da vida. Esta ideia de que o humor pode curar a tristeza se alinha com a obra de poetas como Mário Quintana, que frequentemente usou a leveza e o humor como formas de enfrentar as dificuldades da vida. Ambos os poetas promovem uma visão positiva, ressaltando a importância da alegria.

5. Liberdade e Autonomia
O desejo de liberdade, simbolizado pelo clamor do navio, encapsula a luta intrínseca do ser humano por autonomia e exploração. Essa busca é um tema constante na literatura e ressoa com o espírito aventureiro presente em diversos poetas, desde Alfred Lord Tennyson, que abordou a busca por liberdade e aventura, até poetas contemporâneos que lutam contra as limitações sociais. Nemésio se junta a essa tradição ao expressar o anseio por explorar o mundo.

6. Egoísmo e Generosidade
A crítica ao comportamento egoísta e a promoção da generosidade revelam uma preocupação ética que é fundamental para a coexistência social. A reflexão sobre a moralidade das ações humanas é um convite à introspecção e à mudança. Poetas como Vinicius de Moraes exploraram a complexidade das relações humanas e a importância da generosidade. Nemésio, ao abordar essa dualidade, reflete uma preocupação ética que ressoa com a tradição poética.

Poetas românticos como Gonçalves Dias e Alphonsus de Guimaraens também exploraram a natureza e as emoções humanas. A busca por identidade e a crítica social em poetas modernistas, como Carlos Drummond de Andrade, mostram similaridades com a abordagem nas trovas, que também questiona valores e realidades contemporâneas. Poetas contemporâneos como Marcelino Freire e Juliana Gomes abordam a identidade e as relações sociais de forma incisiva, refletindo preocupações semelhantes às de Prata em um contexto atual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As trovas de Nemésio Prata compõem uma teia de temas que refletem a complexidade da condição humana e a interação do ser humano com o mundo ao seu redor. Ao longo de suas trovas, aborda questões essenciais como a natureza, a degradação ambiental, a busca por identidade, a importância da educação, o poder do humor e a dualidade entre egoísmo e generosidade.

Em suma, as trovas de Nemésio Prata não apenas capturam a essência da experiência humana, mas também convidam à reflexão sobre questões que permeiam a sociedade contemporânea. Seu estilo poético, que combina musicalidade e profundidade, permite que suas mensagens ressoem através do tempo, estabelecendo um diálogo com poetas de diferentes épocas e tradições. As suas trovas são um testemunho da capacidade da poesia de tocar a alma humana, oferecendo consolo, reflexão e, acima de tudo, uma conexão com o que significa ser humano.

A combinação de leveza e profundidade é uma das características que tornam suas trovas tão impactantes. Consegue, com elas, evocar emoções complexas e instigar reflexões sobre temas que permanecem relevantes. Essa habilidade de sintetizar sentimentos e ideias em formas simples é um testemunho de sua verve poética.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Filemon Francisco Martins ((Trovas em Preto & Branco)


1
A felicidade é um sonho,
- por que deixar pra depois?
O amor é sempre risonho
na vida vivida a dois.
2
Cai a chuva na vidraça
e eu fico triste, porquê
não há beleza, nem graça,
nesta casa sem você.
3
Criança és flor, és bonança
espargindo luz e amor,
porque trazes a esperança
de um futuro promissor.
4
“Das coisas belas da vida”
que colhi, em profusão,
eis a mais nobre e querida:
em cada TROVA um irmão!
5
Falando de amor, Maria,
que saudades sinto agora
daquela doce alegria
que em teus olhos vi outrora.
6
Gosto da vida pacata,
homens simples dos sertões,
pois vejo usando gravata
por aqui muitos ladrões.
7
Nenhum poema é mais belo
e inspira tanta esperança
do que um sorriso singelo
no rosto de uma criança.
8
No meu balaio carrego
sonhos de amor e venturas,
mas muitos sonhos, não nego,
se tornaram desventuras.
9
Quantas noites, meu amor,
olhando, no céu, a lua,
eu me sinto um trovador
pensando na imagem tua.
10
Que o teu futuro, criança,
seja de luz e esplendor,
vislumbre de confiança
no mundo do desamor.
11
“Sorriria de feliz”
e o mundo teria paz,
se o coração que maldiz
soubesse perdoar mais.
12
Tenho certeza que a trova
– poema feito de amor -
é um sonho que se renova
na vida de um trovador.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = 

AS TROVAS DE FILEMON MARTINS EM PRETO E BRANCO
por José Feldman

As trovas de Filemon Martins são belas expressões de sentimentos profundos e reflexões sobre a vida, o amor e a inocência. Cada uma delas traz um toque de sabedoria e carinho, capturando emoções que ressoam com muitos de nós.

AS TROVAS UMA A UMA

1. A felicidade é um sonho
A felicidade é apresentada como um ideal, um sonho que deve ser buscado. O amor, descrito como "risonho", indica que a partilha da vida a dois é fundamental para a realização desse sonho.

2. Cai a chuva na vidraça
A chuva simboliza tristeza e melancolia. A casa "sem você" representa a ausência de um amor, enfatizando que a beleza da vida está intrinsecamente ligada à presença do outro.

3. Criança és flor, és bonança
A comparação da criança a uma flor expressa a fragilidade e beleza da infância. A criança é vista como portadora de esperança, sugerindo que o futuro pode ser iluminado pela inocência.

4. “Das coisas belas da vida”
A valorização das conexões interpessoais é central. A frase "em cada TROVA um irmão" indica que a arte e a poesia podem unir as pessoas, criando laços de fraternidade.

5. Falando de amor, Maria
A menção a Maria e a "doce alegria" expressa uma nostalgia profunda. A lembrança dos olhos do amado sugere que o amor deixa marcas duradouras na memória.

6. Gosto da vida pacata
A preferência pela vida simples contrasta com a corrupção e desonestidade, simbolizadas pelos "homens usando gravata". Há uma crítica à superficialidade e à hipocrisia da sociedade.

7. Nenhum poema é mais belo
O sorriso de uma criança é exaltado como a mais pura forma de beleza. Essa simplicidade é um reflexo da esperança e da pureza que ainda existem no mundo.

8. No meu balaio carrego
A imagem do "balaio" representa a carga emocional que o eu lírico carrega. A dualidade entre sonhos e desventuras reflete a realidade de que nem todos os desejos se concretizam.

9. Quantas noites, meu amor
A lua simboliza a inspiração e a contemplação noturna, reforçando a ideia de que a distância do amor provoca reflexão e saudade.

10. Que o teu futuro, criança
Um desejo sincero para que as crianças tenham um futuro brilhante, mesmo diante das adversidades. O "mundo do desamor" sugere um ambiente difícil, mas a confiança é uma luz a ser cultivada.

11. “Sorriria de feliz”
O perdão é apresentado como uma solução para a maldade e a discórdia. A ideia de que um coração que perdoa poderia trazer paz ao mundo é um forte apelo à empatia e compreensão.

12. Tenho certeza que a trova
A trova é vista como uma forma de arte que renova sentimentos e experiências. É um testemunho do poder da poesia em refletir o amor e as vivências humanas.

TEMAS ABORDADOS PELAS TROVAS DE FILEMON E SUA SIMILARIDADE COM POETAS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Felicidade e Amor
A busca pela felicidade é um tema universal. Filemon sugere que o amor é a chave para essa felicidade, refletindo a visão romântica de que a união entre duas pessoas é essencial para a realização pessoal. Poetas como Pablo Neruda e Vinicius de Moraes também exploraram essa conexão, enfatizando a intensidade e a beleza do amor. Para Neruda, o amor é um ato de resistência, uma força que nos conecta profundamente com o outro e com nós mesmos.

2. Solidão e Ausência
A tristeza provocada pela ausência de um amor é um sentimento profundo e recorrente na poesia. Filemon expressa essa dor de forma sensível, semelhante ao que Fernando Pessoa fez com sua famosa saudade, mostrando como a ausência pode modificar a percepção do mundo.

3. Inocência e Esperança
A criança como símbolo de esperança remete a uma visão otimista da vida. Cecília Meireles capturou essa essência, ressaltando a beleza da infância e a pureza dos sentimentos, mostrando que a inocência é uma forma de resistência ao desespero do mundo. A infância e a inocência trazem esperança em meio à tristeza. As crianças são flores que brotam em nossos corações.

4. Relações Humanas
O trovador valoriza as conexões humanas, refletindo uma visão de comunidade e amor fraternal. Esse tema é também central na obra de Adélia Prado, que muitas vezes fala sobre as relações interpessoais e a importância do afeto na vida cotidiana, nas relações simples que encontramos a verdadeira beleza. A vida cotidiana é repleta de amor fraternal.

5. Saudade
A saudade é uma emoção complexa, que mistura nostalgia e amor. Carlos Drummond de Andrade explorou essa sensação, mostrando como as memórias moldam nosso presente e futuro, a hipocrisia da sociedade nos rodeia. Precisamos valorizar a autenticidade e a verdade, mesmo que isso nos leve a desilusões.

6. Simplicidade e Crítica Social
A crítica à superficialidade e à desonestidade é um tema pertinente em várias obras. Machado de Assis também abordou a hipocrisia social, mostrando que a verdadeira riqueza está na simplicidade e na honestidade.

7. Inocência e Beleza
Filemon destaca a beleza do sorriso infantil, um tema que ressoa com a obra de Manuel Bandeira, que também cultivou a ideia de que a simplicidade e a pureza são fontes de verdadeira beleza, a simplicidade do sorriso infantil é um lembrete de que a beleza reside nas pequenas coisas, mesmo em tempos difíceis.

8. Sonhos e Desilusões
A dualidade entre sonhos realizados e desilusões é uma reflexão sobre a vida humana. Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, também lidou com essa questão, abordando a relação entre aspirações e a dura realidade. 

9. Romantismo
O romantismo é uma constante na poesia, e a contemplação da lua é uma imagem clássica que evoca emoções profundas. Lord Byron e Mary Shelley usaram a natureza para expressar sentimentos amorosos e melancólicos.

10. Esperança e Confiança
O desejo de um futuro promissor para as crianças é um apelo à esperança em tempos difíceis. Poetas contemporâneos, como Martha Medeiros, também enfatizam a importância de cultivar a esperança em meio às adversidades, o futuro das crianças está entrelaçado com a luz que conseguimos cultivar hoje.

11. Perdão e Paz
O perdão como caminho para a paz é um conceito fundamental em muitas tradições literárias. Guilherme de Almeida e outros poetas enfatizaram a importância do perdão como um ato de amor e compreensão, somente assim podemos alcançar a paz que tanto desejamos.

12. Poesia e Renovação
A ideia de que a poesia renova sentimentos é uma reflexão sobre o poder da arte. Rainer Maria Rilke analisou a transformação que a poesia pode trazer à vida e às emoções humanas, pois a poesia é o caminho. Ela nos renova, transforma nossas dores e alegrias em algo eterno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As trovas acima expostas são um bordado de emoções, reflexões e críticas sociais. Elas abordam a complexidade das relações humanas, a busca pela felicidade, a importância da inocência e a necessidade de esperança e perdão.

Filemon Martins, através de suas trovas, oferece uma visão profunda e sensível da vida. Seus versos são um convite à reflexão, à busca de conexões autênticas e à valorização das emoções que nos tornam humanos. Ao explorar a complexidade dos sentimentos e das relações, ele deixa um legado atemporal que continua a ressoar, inspirando novas gerações a encontrar beleza e significado em suas próprias experiências. Não apenas torna suas mensagens mais acessíveis, mas também intensifica o impacto emocional de seus versos.

Os versos contidos nas trovas, carregam um peso emocional que nos lembra que, apesar dos desafios, o amor, a esperança e a poesia são fundamentais para a nossa jornada, fazendo delas uma contribuição valiosa à literatura e à poesia.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Fabiano Wanderley (Trovas em Preto & Branco)

 


1
Ao ver, a morte estampada,
na face de uma criança,
vê-se, ali, riste, ceifada,
para sempre, uma esperança,
2
Como que por acalanto,
descerra a noite, o seu véu.
Cobre a terra com seu manto,
expondo estrelas no céu! 
3
Confirmando as suas lendas,
por capricho, o velho mar,
cobre as areias de rendas,
quando a praia vem beijar…
4
Desista, irmão, dessa guerra,
abrace a paz benfazeja,
pois a vida, enfim, se encerra,
onde o combate, sobeja.
5
Em noite de lua cheia,
envolto a tanto esplendor,
um poeta galhardeia,
versando trovas de amor.
6
Nada detém tanto encanto,
nem tanta essência de amor,
qual o feito sacrossanto,
do desabrochar da flor!
7
No grande palco da vida,
desse enredo tão atroz,
em cada cena exibida,
há sempre um pouco de nós.
8
No voo, a linda graúna,
com graça e simplicidade,
entoa, por sobre a duna,
seu canto de liberdade.
9
Pelos caminhos da lida,
quantos castelos ergui...
- E esses sonhos, pela vida,
com trabalho, os consegui!
10
Por ser um real tormento,
indefinível ao pintor
e um sublime sentimento:
– A saudade não tem cor!
11
Quando no espelho me exponho,
a velhice me valida,
com marcas de um lindo sonho
e gratidão pela vida…
12
Saudade é dor que se sente,
por quem, por qual, ou razão.
Um vazio que há na gente:
— Mistério de um coração!...

As Trovas de Fabiano Wanderley em Preto & Branco
por José Feldman

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

As trovas de Fabiano Wanderley expressam uma profunda sensibilidade e uma riqueza de temas que vão da vida e da morte, passando pelo amor, saudade e a beleza da natureza.

1. Morte e Esperança
"Ao ver, a morte estampada, 
na face de uma criança..."
A imagem da morte na face de uma criança evoca uma perda trágica e precoce. A esperança, representada na inocência infantil, é ceifada, gerando um profundo sentimento de desolação. Este contraste entre a vida e a morte estabelece um tema de fragilidade da existência.

Álvares de Azevedo aborda a morte com um tom melancólico em poemas como "Noite de Luar". Adélia Prado explora a fragilidade da vida e a dor da perda, refletindo sobre a esperança perdida.

2. Beleza da Noite
"Como que por acalanto, 
descerra a noite, o seu véu."
A noite é personificada como um ser que acalma e cobre a terra. O véu da noite revela as estrelas, sugerindo que mesmo na escuridão há beleza e serenidade. Essa metáfora reflete como a escuridão pode ser reconfortante e cheia de maravilhas.

Olavo Bilac celebra a beleza noturna em poemas como "O Caçador de Esmeraldas". Cecília Meireles utiliza a noite como metáfora para introspecção e mistério.

3. Mar e Lendas
"Confirmando as suas lendas, 
por capricho, o velho mar..."
O mar é descrito como um ente caprichoso que, ao cobrir as areias, traz à tona as lendas que o cercam. Isso sugere a conexão entre natureza e cultura, e como os elementos naturais inspiram histórias e mitos que enriquecem a tradição.

Gregório de Matos fala sobre o mar e suas lendas em sua obra, refletindo a natureza e o misticismo. Em “Marília de Dirceu”, de Tomás Antonio Gonzaga é um marco da poesia romântica do século XVIII no Brasil. O amor idealizado entre o eu lírico e Marília, uma figura que simboliza a beleza e a pureza, utiliza o mar como símbolo de amor e saudade, ligando natureza e emoção.

4. Paz vs. Guerra
"Desista, irmão, dessa guerra, 
abrace a paz benfazeja..."
Aqui, há um forte apelo à paz. A guerra é vista como um combate que não traz benefícios, enquanto a vida é efêmera. Esta trova reflete um desejo universal por harmonia e compreensão, ressaltando a futilidade da violência.

Vinícius de Moraes em "Soneto da Separação" reflete sobre a dor da guerra emocional e a busca pela paz interior. Eucanaã Ferraz aborda a luta pela paz em um mundo conturbado, destacando a importância da harmonia.

5. Amor e Poesia
"Em noite de lua cheia, 
envolto a tanto esplendor..."
A lua cheia simboliza romance e inspiração. O poeta, em um momento de beleza, expressa suas emoções através das trovas de amor, sugerindo que a arte é uma forma de manifestar sentimentos profundos e eternos.

Camões em "Os Lusíadas" e seus sonetos líricos transmitem a força do amor e da inspiração poética. Hilda Hilst explora o amor sob diversas facetas, incorporando a paixão e a sensibilidade em sua obra.

6. A Flor como Símbolo
"Nada detém tanto encanto, 
nem tanta essência de amor..."
A flor é um símbolo da pureza e do amor. O "feito sacrossanto" do seu desabrochar representa a beleza da vida e a fragilidade dos sentimentos humanos, reforçando a ideia de que o amor é uma experiência sublime.

Cassiano Ricardo usa a flor como símbolo de beleza e efemeridade em sua poesia. Marina Colasanti também utiliza a flor para simbolizar a fragilidade e a beleza da vida.

7. A Vida como Palco
"No grande palco da vida,
desse enredo tão atroz..."
A metáfora do palco sugere que a vida é uma performance, onde cada um desempenha um papel. As experiências, boas e más, são partes de um enredo maior. Isso invita à reflexão sobre nossa individualidade e a interconexão entre as histórias humanas.

Shakespeare em suas peças explora a vida como uma performance, refletindo sobre os papéis que cada um desempenha. Adélia Prado trata da vida cotidiana como um palco onde emoções e experiências são vividas intensamente.

8. Liberdade e Natureza
"No voo, a linda graúna, 
com graça e simplicidade..."
A graúna é um símbolo de liberdade e beleza. Seu canto sobre a duna sugere uma celebração da simplicidade e da natureza, lembrando que a verdadeira liberdade está em viver de forma autêntica e em harmonia com o mundo ao nosso redor.

Guilherme de Almeida celebra a natureza e a liberdade em seus poemas. Carlos Drummond de Andrade frequentemente incorpora a natureza para discutir a liberdade e a condição humana.

9. Sonhos e Trabalho
"Pelos caminhos da lida, 
quantos castelos ergui..."
Aqui, o trovador reflete sobre a construção de sonhos através do trabalho duro. Os "castelos" simbolizam aspirações e realizações, enfatizando a importância do esforço e da perseverança na busca por objetivos na vida.

Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" reflete sobre o esforço e os sonhos na vida. Marçal Aquino aborda o tema da luta e dos sonhos em suas narrativas, enfatizando a perseverança.

10. Saudade
"Por ser um real tormento, 
indefinível ao pintor..."
A saudade é apresentada como um sentimento profundo e complexo, que não pode ser facilmente definido ou representado. Essa ideia ressalta a dor da perda e a nostalgia, que são experiências universais, porém únicas para cada indivíduo.

Fernando Pessoa, em sua obra, explora a saudade como um tema central, refletindo sobre a ausência e a nostalgia. Mário Quintana fala da saudade com leveza e profundidade, capturando a dor e a beleza desse sentimento.

11. Reflexão sobre a Velhice
"Quando no espelho me exponho, 
a velhice me valida..."
A velhice é vista como um processo de validação da vida, onde as marcas são testemunhos de experiências vividas. A gratidão pela vida sugere uma aceitação madura do tempo e das memórias que moldam a identidade.

Cecília Meireles discute a passagem do tempo e a sabedoria adquirida com a idade. Marina Colasanti reflete sobre a velhice e as memórias, reconhecendo a beleza do envelhecer.

12. Mistério do Coração
"Saudade é dor que se sente, 
por quem, por qual, ou razão."
A última trova explora a complexidade da saudade, identificando-a como um mistério do coração. O vazio que ela causa é uma expressão da conexão emocional que temos com os outros, destacando a profundidade dos laços humanos e o impacto da ausência.

Pablo Neruda explora o amor e a dor em seus poemas, refletindo sobre a complexidade dos sentimentos. Ana Cristina César aborda a intensidade emocional e os mistérios do coração em suas obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de Fabiano Wanderley revelam um rico bordado de temas universais, tecendo reflexões profundas sobre a condição humana. Através de uma linguagem poética acessível, o autor aborda questões como a fragilidade da vida, a busca pela paz, a complexidade do amor e a inevitabilidade da saudade.

Cada trova, embora possa ser lida de forma isolada, ressoa com as demais, criando um diálogo interno que enriquece a compreensão do todo. A morte e a esperança, por exemplo, estabelecem um contraste que permeia a experiência humana, enquanto a beleza da noite e a liberdade da natureza evocam a necessidade de encontrar serenidade em meio ao caos.

A natureza desempenha um papel central nas trovas, funcionando tanto como cenário quanto como símbolo das emoções humanas. O mar, as flores e a noite não são apenas elementos estéticos, mas sim representações das complexidades da vida, refletindo a influência do romantismo na literatura brasileira. Essa conexão com a natureza também aponta para uma valorização do que é efêmero e belo, uma característica que liga o trovador a poetas clássicos e contemporâneos.

As trovas não apenas exploram sentimentos pessoais, mas também capturam a essência da experiência coletiva. A luta pela paz, a construção de sonhos e a aceitação da velhice são temas que ecoam a universalidade da condição humana. A saudade, em particular, aparece como um sentimento intrínseco à vivência de quem ama e perde, solidificando a ideia de que a dor e a beleza coexistem.

Enfim, as trovas de Fabiano Wanderley são um convite à reflexão sobre a vida em suas múltiplas facetas. Elas nos lembram da importância de valorizar os pequenos momentos, da beleza encontrada na dor e da interconexão entre todos nós. Nas trovas acima, dialoga com tradições tanto antigas quanto contemporâneas, explorando temas universais que ressoam ao longo do tempo. Cada uma de suas trovas reflete uma profunda sensibilidade, conectando-se a grandes poetas que discutiram a vida, a morte, o amor e a saudade.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

domingo, 22 de setembro de 2024

Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho (Trovas em Preto & Branco)

                              

1
Após a noite que embaça
a janela do viver,
ressurge a luz na vidraça
com um novo amanhecer.
2
Capiau faz dentadura
sem ter o dente frontal,
pois deste modo assegura
um sorriso natural.
3
Dia das Mães! Não se esqueça
dos presentes de ninguém:
por incrível que pareça,
sua sogra é mãe também!
4
Enquanto a gente descansa
na metade de um caminho,
um outro qualquer alcança
a outra metade sozinho.
5
Galopando sem receio
um indomável equino,
vou pela vida em rodeio
no cavalo do destino.
6
Há uma lição que sem cola
pelo estudante é sabida:
– na vida a melhor escola
é a grande escola da vida.
7
Mostra a vida, mostra a história,
que a prática da coerência,
determina a trajetória
de uma correta existência.
8
O amanhecer se vislumbra
quando o sol em sua ida,
se elevando da penumbra
irradia a luz da vida.
9
O migrante em sua andança
parte do amado rincão.
Leva consigo a esperança
mas deixa o seu coração.
10
Pela sua grande crença,
salvou-se, na Arca, Noé:
- não há dilúvio que vença
um homem cheio de fé!
11
Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
12
Se alastrando lentamente
qual um glaucoma, o rancor,
impede os olhos da gente
de enxergar a luz do amor.

As Trovas de Dulcídio em Preto & Branco
por José Feldman

As "Trovas de Dulcídio" são uma bela coleção de versos que refletem temas como a vida, a esperança, e as relações humanas. Cada estrofe traz uma mensagem profunda e poética.

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Renascimento e Esperança
A imagem da luz que ressurgem após a noite simboliza renovação. A noite representa dificuldades ou desafios, enquanto o amanhecer sugere que sempre há uma nova oportunidade para recomeçar.

William Wordsworth, em poemas como "Daffodils", celebra a beleza da natureza e a esperança que ela traz, mostrando como momentos simples podem rejuvenescer o espírito.

2. Autenticidade e Simplicidade
A figura do capiau que faz dentadura sem o dente frontal reflete a beleza da imperfeição. Isso sugere que um sorriso genuíno, mesmo que não perfeito, é mais valioso e autêntico.

Em "Ode à Simplicidade", Pablo Neruda exalta a beleza nas coisas comuns, destacando a autenticidade que reside na vida cotidiana.

3. Dia das Mães
O tom humorístico destaca a importância de reconhecer todas as figuras maternas em nossas vidas. A sogra, muitas vezes vista com desconfiança, é lembrada como parte da família, enfatizando a necessidade de inclusão e amor.

Adélia Prado frequentemente explora a dinâmica familiar e as relações, revelando a complexidade e a profundidade do amor familiar.

4. Caminhos da Vida
A metáfora de um caminho dividido ilustra a singularidade de cada experiência de vida. Enquanto alguns descansam, outros avançam, ressaltando que cada um tem seu próprio ritmo e jornada.

Rainer Maria Rilke em "Cartas a um Jovem Poeta", discute a importância de seguir o próprio caminho, enfatizando a singularidade da experiência humana. Rafael Cortez aborda questões da vida moderna e as emoções que a cercam, refletindo sobre a condição humana de forma íntima. Marco Antônio Camelo aborda a vida a partir de suas experiências, refletindo sobre a passagem do tempo e as emoções que isso provoca.

5. Cavalo do Destino
A imagem do cavalo indomável simboliza a vida em sua essência selvagem e imprevisível. A ideia de "rodeio" sugere que, apesar dos desafios, devemos abraçar a jornada com coragem e determinação.

Fernando Pessoa, em "Mar Português", a aceitação do destino e a busca pela liberdade são temas centrais, refletindo a luta interna e a busca por significado.

6. Escola da Vida
Esta trova enfatiza que as lições mais valiosas vêm das vivências, não dos livros. A "grande escola da vida" é um convite a aprender com as experiências cotidianas.

Mário Quintana (frequentemente aborda a sabedoria que vem das experiências cotidianas, mostrando que a vida é a melhor professora.

7. Coerência e Existência
A coerência é apresentada como um guia moral. A trajetória de vida de alguém é moldada por suas ações e valores, indicando que viver com integridade é fundamental para uma vida plena.

Cecília Meireles, em seus poemas a busca pela verdade e a integridade moral são temas recorrentes, refletindo a importância de viver de acordo com os próprios valores.

8. Luz e Esperança
Este poema celebra a luz que vem com o amanhecer, simbolizando novas oportunidades e a beleza que surge após tempos difíceis. É uma reflexão sobre a importância da esperança.

Vinicius de Moraes no "Soneto de Separação", fala sobre a luz que traz esperança mesmo em momentos de tristeza, mostrando a dualidade da vida.

9. Migrante e Esperança
O migrante carrega consigo a esperança, mas também a dor da separação. Essa dualidade ilustra os desafios enfrentados por aqueles que buscam novas oportunidades, mas que deixam para trás o que amam.

Alfonsina Storni busca por um lugar no mundo e a nostalgia de laços perdidos, refletindo a experiência da mulher em um mundo em transformação.

10. Fé e Resiliência
A referência a Noé simboliza a força da fé em tempos de adversidade. A mensagem é que a fé pode ser uma âncora em meio a tempestades, permitindo que se supere as dificuldades.

Carlos Drummond de Andrade em poemas como "A Máquina do Mundo", aborda a condição humana e a necessidade de fé para enfrentar as incertezas da vida.

11. Nostalgia e Reflexão
A saudade é vista como um túnel que conecta passado e presente, permitindo ao eu lírico escapar do estresse da realidade. Refere-se ao poder das memórias e como elas nos confortam.

Em Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), a simplicidade e a reflexão sobre a natureza e o tempo trazem uma forte sensação de nostalgia em sua poesia. A obra de Marília Gabriela traz uma profunda reflexão sobre sentimentos e memórias, semelhante à nostalgia presente nas trovas de Dulcídio.

12. Emoções Conflitantes
O rancor é comparado a um glaucoma, que obscurece a visão do amor. Isso sugere que a raiva e o ressentimento podem nos impedir de enxergar a beleza e a luz que o amor oferece.

Sylvia Plath explora emoções profundas e conflitantes, especialmente o amor e a dor, revelando a complexidade da experiência humana. Ana Cristina César explora a complexidade das emoções humanas e a busca por identidade, semelhante à introspecção de Dulcídio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Trovas de Dulcídio dialogam com uma vasta tradição poética, refletindo temas universais que ressoam através dos tempos. A busca pela autenticidade, a reflexão sobre a vida, e a luta entre emoções opostas são comuns a muitos poetas, mostrando que, apesar das diferenças culturais e temporais, a essência da experiência humana permanece constante.

Dulcídio se destaca por sua capacidade de traduzir sentimentos complexos em uma linguagem acessível e direta, o que o torna um precursor da poesia contemporânea que busca conectar-se com o público em um nível mais íntimo. A forma como ele explora a beleza nas imperfeições e nas nuances do cotidiano pode servir de inspiração para poetas atuais adotarem uma abordagem semelhante, celebrando as experiências comuns que, muitas vezes, passam despercebidas.

Além disso, seu uso do humor e da ironia em questões familiares e emocionais permite um espaço de reflexão e leveza, incentivando novos poetas a abordarem temas pesados com um toque de leveza. Essa dualidade de emoção é uma característica marcante da poesia contemporânea, que frequentemente lida com a complexidade das relações humanas.

A influência de Dulcídio também é evidente na valorização da cultura popular e na oralidade, elementos que muitos poetas contemporâneos incorporam em suas obras. Essa conexão com as raízes culturais e a tradição oral enriquece a literatura atual, promovendo uma poesia que é tanto um espelho da sociedade quanto uma celebração das experiências individuais.

Por fim, a reflexão sobre a vida, a busca por sentido e a aceitação das emoções conflituosas, presentes nas trovas de Dulcídio, dialogam diretamente com as inquietações da poesia contemporânea. Poetas atuais continuam a explorar e expandir esses temas, criando uma tapeçaria rica e variada que honra a tradição enquanto se projeta para o futuro.

Assim, ele não apenas deixou um legado significativo, mas também pode ser uma fonte de inspiração para a nova geração de poetas/trovadores, que encontram em suas trovas uma forma de expressar a universalidade da experiência humana em suas próprias vozes. A intertextualidade que surge entre sua obra e a poesia contemporânea reforça a ideia de que a literatura é um diálogo contínuo, onde o passado e o presente se entrelaçam, criando novas significações e possibilidades.
Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...