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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Myrthes Neusali Spina de Moraes (Caderno de Trovas)


A igreja toda enfeitada,
e a bela noiva no altar.
Que destino... que mancada!
Não veio o noivo casar.
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A saudade nos conforta,
na dor por alguém ausente,
pois abre sempre uma porta
a quem se encontra carente.
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As folhas caem no outono
vão cobrindo todo chão.
As aves nesse abandono,
debandam sem direção.
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Belas flores perfumaram
os jardins de nossas casas.
Os passarinhos cantaram,
bailando, a bater as asas.
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Dos folguedos de criança,
eu tenho muita saudade.
Vovó é a doce lembrança
que me traz felicidade!
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Em fria noite de inverno
eu dispenso o cobertor,
pois teu abraço tão terno
faz-me até sentir calor!
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Já no outono desta vida,
muitos espinhos pisei.
Encontrei uma saída:
em vergeis os transformei.
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Mamãe carinhosa e bela,
que saudade de você...
da história da Cinderela
e do Saci-Pererê.
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Minha mãe, quanta saudade,
do teu tão doce cantar.
Tempo de felicidade,
que hoje só posso sonhar.
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Ninguém foge do destino,
diz um dito popular,
mas, quando se é pequenino,
como nele acreditar?
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No inverno, a formiguinha
trabalhava sem cessar
e a folgada cigarrinha
ficava a cantarolar!
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No inverno, em noite bem fria
e insônia a me torturar,
para espantar a agonia,
faço versos ao luar.
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O inverno chegou depressa
e com muito vento e frio.
O tempo corre e não cessa
de nos fazer desafio.
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O outono já passou,
tão depressa como o vento
e tristonha me deixou
contigo em meu pensamento.
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O peão de boiadeiro,
foi na arena o boi montar,
e o destino traiçoeiro
veio a vida lhe roubar.  
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Primavera, tu chegaste
florindo nossos jardins
e feliz tu nos deixaste,
quando colhemos jasmins!
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Procurei no meu jardim
uma rosa pra lhe dar,
Só encontrei branco jasmim
perfumando todo o ar.
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Quando a saudade dorida
sufocar-lhe o coração,
prossiga com fé na vida,
busque a Deus em oração.
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Quando as folhas, sem beleza,
no chão a rodopiar,
é o outono, com certeza,
que anuncia seu chegar.
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Quando o inverno acabar
e a  tristeza então sumir,
irei de novo cantar
sem pensar mais em partir.
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Se com lágrimas pudesse
fazer o outono voltar,
pediria a Deus em prece
pra de novo te encontrar.
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Se um acidente acontece,
sem a pessoa querer,
joga a culpa no destino,
para deixar de sofrer.
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Se você tem um pomar,
guarde bem essa lição:
não deixe de acrescentar
bons sucos à refeição!
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Uma florzinha cheirosa
dentro de um livro rasgado
trouxe a lembrança saudosa
daquele outono passado.
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Um ratinho muito esperto,
saiu  da toca e correu,
mas um gato estava perto,
(triste destino!...) e o comeu!
= = = = = = = = = = =
 
Violetas e jasmins
florescem na primavera.
Alegram nossos jardins,
perfumando a atmosfera.
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Fonte:
UBT – Bragança Paulista

domingo, 11 de dezembro de 2022

Manoel Monteiro (Canteiro de Trovas)

 

Adoro a Virgem Maria;
Maria ensinou-me a ler;
outra roubou-me a alegria
e tu me fazes morrer.
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Ao vê-la, em vistoso templo,
fazendo o pelo-sinal,
fui imitar-lhe o exemplo,
ficou me querendo mal.
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Aprendi, cheio de ardor,
pensando no paraíso,
o A B C de meu amor
na carta de teu sorriso.
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Costuma-te a ser jocundo,
coração, não desesperes:
Hás de viver neste mundo
sem entender as mulheres.
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De ternas flores mimosas
terno leito vou fazer,
embora possa entre as rosas
teu corpinho se esconder.
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Filhinha, toma cuidado!.,.
não largues mais tua cruz,
que o demônio anda trajado
nas roupagens de Jesus.
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Fiz inveja a muita gente
no dia em que andei contigo...
Até um lírio inocente
mostrou-se meu inimigo.
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Fui confessar-me e na grade
contei meus crimes e o teu,
se é bonita... disse o frade,
e rindo me absolveu.
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Maio surgiu entre flores.
Tudo ri no mês de maio.
Só eu, senhora, desmaio*
pelo caminho das dores,
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Meu peito sofre calado,
nunca chorou nem gemeu,
pois se o fizer, desgraçado,
sua fortuna perdeu.
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Milagres - terra de Olinda
quando o sol no azul desmaia,
é corpo de moça linda
deitado à beira da praia.
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No dia em que tu fizeste
a primeira comunhão,
a hóstia do amor me deste,
guardei-a em meu coração.
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Nos olhos não tenho pranto,
Lucília o pranto levou.
Pela morta chorei tanto
que a pobre fonte secou.
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Os dobres causam-me espanto!
Antes de morto previno:
se houver dobres me levanto
e quebro as cordas do sino.
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Pois da vida nos escombros
minha esperança me diz:
há de cair de teus ombros
este manto de infeliz.
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Seguindo junto ao teu seio,
vendo teu rosto sem véu,
julguei-me um santo em passeio
pelas estradas do céu.
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Somos cinco retirantes
pelas estradas reais!
Pobres dos nossos descantes,
descantes pobres de mais! ...
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Suporto negro ciclício,
mas não conto meu desgosto
que, pelos traços do rosto,*
todos lerão meu suplício
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Todo moço que for pobre,
faça o que eu faço também
para quem mágoas descobre
só desprezo o mundo tem.
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Um só desejo na vida
eu sinto-me perseguir:
é nos teus braços, querida...
pousar a fronte e dormir.
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Vem aos meus braços abertos,
desce do teu quinto andar,
que os anjos do céu, espertos,
procuram te namorar.
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Vivo ausente de Palmares,
feliz terra onde nasci.
Eu lá não senti pesares,
vim padecer foi aqui.
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* Na época não era obrigatório rimar o 1. com o 3. verso, somente foi normalizada esta obrigatoriedade com a fundação da União Brasileira de Trovadores, em 1966.
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Fonte:
Adelmar Tavares et al. Descantes. Recife/PE: Tipografia da Imprensa Oficial. 1a. edição publicada em 1907.

Oswaldo Soares da Cunha (Governador Valadares/MG, 1921 - 2013, Belo Horizonte/MG)

1 Abraços, beijos de fogo, em vez de aplacar o amor que anseia por desafogo, mais aumentam seu furor. 2 Abro os meus olhos e vejo que a manh...