Postagens por Marcador

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Roberto Resende Vilela


1
A educação esmerada,
ao preparar para o novo,
conduz, em sua escalada,
à identidade de um povo.
2
Alegria verdadeira,
neste mundo de ilusão,
é sonhar a vida inteira...
sem tirar os pés do chão.
3
A luz que jorra na fonte
que os olhos não podem ver,
amplia mais o horizonte
que a nuvem tenta esconder !
4
A mentira, com extrema
e total habilidade,
tem passado, sem problema,
como exemplo da verdade!
5
A noite, pela cidade…
coração triste e alma nua,
eu sempre encontro a saudade
me procurando na rua!
6
Ao som do despertador,
erga-se alegre... sorria!...
E agradeça ao Criador
pelo sol de um novo dia!
7
A Trova bem construída...
que aos bons princípios conduz,
pelos escuros da vida
é uma cascata de luz!
8
Cai a chuva... o rio inunda...
o vento torce o arvoredo...
Mas, se a raiz é profunda,
nenhuma planta tem medo!
9
Com belas coreografias
no chão e na imensidade,
as aves, todos os dias,
dão lições de liberdade!
10
Da varanda da fazenda,
uma saudade sem fim
escuta aquela moenda
que agora só range em mim!
11
Embora longe e tardia,
com débil luminescência,
a estrela do amor nos guia
pelas noites da existência.
12
Esta mulher que me inspira
– Musa na luta esculpida –
é ingênua, pobre e caipira,
mas razão da minha vida!
13
Este relógio é um castigo!
- Vai, de meia em meia hora,
acordando um sonho antigo...
que se nega a ir embora!
14
Mesmo contra a correnteza
- poluída, que envenena -
o Amor à Pátria é a certeza
de que a luta vale a pena.
15
Mesmo quando se fracassa
e a vida é mar de incerteza,
a esperança, embora escassa,
é sempre uma vela acesa!
16
Nada machuca, dói tanto
nem nutre mais a descrença
e o profundo desencanto
do que a extrema indiferença.
17
Não malogre o seu desejo…
Nem pense que é uma vergonha,
pois é nas asas de um beijo
que chega à lua… quem sonha!
18
Nem mesmo em noite de inverno
o luar contém mais brilho
que as luas do olhar materno
rondando o berço de um filho!
19
Nos bons tempos das varandas,
das mangueiras nos quintais
e das alegre cirandas
o mundo sonhava mais!
20
O meu coração é um galo
empoleirado no sino
silencioso e sem badalo
da capela do destino!
21
O meu espírito é um frade
em sua própria capela...
a procura da saudade
que vagueia dentro dela!
22
O patrimônio maior
- saldo da luta… sofrida -
todos sabemos de cor:
É o bom exemplo de vida.
23
O poeta não lamenta
o caminho e a caminhada,
pois é a graça que o sustenta
todo o tempo, em toda a estrada!
24
O que fiz, quando criança,
deu rédeas à mocidade...
Hoje - o coração balança
na gangorra da saudade!
25
Pelas veredas singelas
da Trova e da Poesia,
se difundem as mais belas
lições de Filosofia.
26
Por entre as ramas hirsutas,
em pomares carregados,
o luar espreme frutas
na boca dos namorados!
27
Quando a estiagem persiste
e a terra se faz ardente,
nenhuma nuvem resiste
aos apelos da semente.
28
Quando piso, descuidado...
as trilhas da solidão,
sinto, a cada passo dado,
minha mãe me dando a mão!
29
Quanto mais se estende a mão
e a justiça cresce e avança,
mais brilha, no coração,
a centelha da esperança!
30
Quem não escolhe a semente,
nem cultiva com capricho,
às vezes colhe somente
restolhos e carrapicho.
31
Quem trabalha a ecologia
Com exemplo e amor profundo
Sente o prazer e a alegria
De estar melhorando o mundo.
32
Rio de águas incontidas,
como é vária a tua sorte,
- se tu levas muitas vidas,
carregas também a morte.
33
Sem dúvida, em toda parte,
Naturalmente, não cansa:
Brinca, grita, ri, faz arte…
-criança é sempre criança!
34
Sem responder pelos atos,
à luz da conveniência,
ainda há muitos Pilatos
crucificando a inocência!
35
Se quiseres um luar
prateando o interior,
deixa em ti mesmo piscar
uma centelha de amor.
36
Sob os trapos do luar,
na brisa envolvente e branda,
a saudade vem chorar
pelos cantos da varanda.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

César Torraca


1
A cova do falecido
tinha tranca e cadeado.
Por ciúme desmedido
da viúva do coitado.
2
Cantou muito bem, embora
saísse todo quebrado,
pois cantou uma senhora
que tinha o marido ao lado!
3
Desprezando a minha crença,
quando te vejo passar,
ao sentir tua presença...
ponho pecado no olhar!
4
Distraída, a moça entrou
sozinha no elevador
e ao gabineiro falou:
- Vamos pro quarto, senhor.
5
Diz a vacina, zangada:
- No braço eu não vou gostar;
fico mal acomodada;
é melhor outro lugar!
6
Ela é nova e ele velhinho...
e veio um par de rebentos...
- curioso é que, ao vizinho,
não faltaram cumprimentos...
7
"Lucíola", minha "Senhora",
foi em "Sonhos d'Oiro" a "Diva",
"As Asas de um Anjo" e agora
é a "Expiação" rediviva.
8
Mordomo nada primário,
educado e muito ordeiro,
não abre nenhum armário
sem antes bater primeiro.
9
Na cova da falecida,
ao ver o patrão em pranto,
o viúvo, alma ferida,
viu porque ganhava tanto...
10
No futebol se consola
e ganha a vida suando;
ela também, "dando bola",
vai na vida prosperando…
11
O Anedotário horroroso
que ele repete em torrente,
é do tempo em que o famoso
Mar Morto estava doente!
12
O canário não cantava,
entretanto, o vendedor,
a quem comprou explicava:
"Não canta, é compositor..."
13
O maiô que, por acaso,
veste a jovem modernista,
foi comprado a longo prazo,
porém, deixa tudo à vista!
14
O pai de santo aplicado
quando da terra "partiu",
tinha o corpo tão 'fechado"
que nem o legista abriu...
15
Sendo aventureiro e otário
virou pinguim o Pereira:
sem tempo de entrar no armário,
se escondeu na geladeira.
16
Se o marido chega tarde,
em silêncio, sem tropel,
é a mulher quem faz o alarde,
com seu rolo de pastel!
17
"Seu pulso está muito lento",
diz o doutor, mas confessa
o cliente, bem atento:
- Não faz mal, não tenho pressa!

domingo, 3 de setembro de 2017

Benedito de Góis


1
Ah! Se Deus me desse a graça
de ter-te sempre ao meu lado,
eu não teria a desgraça
de viver tão maltratado…
2
Ave-Maria! Soou
lá na capelinha o sino.
E só a saudade ficou
de um coração peregrino...
3
A vida é como um navio
que, na procela do mar,
vai indo como Deus quer,
até seu porto encontrar.
4
Eu vivo perambulando
noite e dia sem cessar.
A sorte de um vagabundo
que nasceu para penar...
5
Há nos teus olhos ciúmes,
no teu corpo sedução.
No meu peito, uma saudade
nas noites de solidão.
6
Minha mãe, deusa querida,
santa que reza por mim,
és razão da minha vida,
és a flor do meu Jardim!
7
Minha terra tem salinas,
tem rios, tem coqueirais.
Também tem moças bonitas,
para quem mando os meus ais.
8
Na minha vida o caminho
é sempre tão negro e atroz...
Nem sequer tenho um carinho,
dela já não escuto a voz...
9
No meu silêncio tristonho
que teu amor me deixou,
minha vida é quase um sonho
e tudo, tudo arruinou...
10
No pé daquele arvoredo
coloquei o nome dela,
para que morra em segredo
o amor que tenho por ela.
11
Ó lua branca e formosa,
mandai do céu, por favor,
um bom presente, uma rosa,
como oferta ao meu amor...
12
Ó mundo todo maldade,
tu, que me roubas a calma,
dá-me um pouco de bondade
e alívio para minha alma!
13
Ó! Tu que pisas mansinho
e tens um bom coração,
dá-me bastante carinho
e mata minha paixão!
14
Quando eu a vejo sozinha
na escuridão dos meus dias,
sinto a dor que me espezinha
e as esperanças sombrias...
15
Saudade, dor que me invade
o coração facilmente...
Espinho atroz da maldade,
que me destrói lentamente...
16
Se ela por mim sentisse
um sentimento qualquer,
nem que ela apenas fingisse
que foi um dia mulher...
17
Se tu soubesses, morena,
o gosto que o beijo tem,
não me fazias tal cena...
me beijarias também.
18
Só entre escolhos vivido,
não sei mais o que fazer.
Eu já me sinto perdido
quando não posso te ver!
19
Tarde sombria de outono,
Orion já longe vai…
Quisera sempre ter sono
na hora em que o pranto cai.
20
Você, ó fada encantada,
dona do meu coração,
não lembra a vida passada,
berço de negra ilusão...
21
Vou sentindo dentro em mim
um quê de amor e paixão.
Meu viver é tão ruim
que até Deus tem compaixão...

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...