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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Dorothy Jansson Moretti (Trovas...e Trovões...)


Coisa difícil é fazer uma trova. Todo trovador sabe disso.

Num soneto, apesar da exigência das quatorze linhas... são quatorze linhas para você dizer o que sente, em versos de sete, dez e até doze sílabas.

A trova não! Quatro linhas, sete sílabas cada uma, primeira rimando com a terceira, segunda com a quarta, ritmo estabelecido e regulado, obedecendo a um decálogo peremptório e intransigente. Qualquer deslize em um mínimo desses detalhes... e o seu trabalho de semanas fundindo a cuca, vai parar na “cestinha amável e caprichosa”.

Por essas justíssimas razões, o ex-presidente da UBT de São Paulo, Izo Goldman, não admite que alguém use o termo “trovinha” (que linda a sua trovinha)... Ele fica uma arara:

- Nós não fazemos “trovinhas”! Fazemos TROVAS! (O diminutivo, mesmo em tom carinhoso, é implacavelmente rejeitado.)

Há dias, passando por uma rua em Sorocaba, dei com uma inscrição na parede de um sobrado. Não gosto de paredes rabiscadas (para não dizem de quem rabisca paredes), mas li a inscrição... e fiquei pasma:

Se consigo por no rosto
um sorriso que inexiste,
da dor diminuo o gosto
e me sinto menos triste.
Ass. G.M. (Seria General Motors?)

Uma trova linda! Linda e sensível.

G. M., apareça! Em vez de usar as paredes dos prédios, mande suas trovas para os concursos das UBTs do país e receba prêmios pela sua sensibilidade, pela sua capacidade! Você é um excelente trovador.

Desta vez concordei plenamente com o Izo Goldman, se alguém disser de sua trova “Que linda a sua trovinha!”

Vou atalhar, curto e grosso:

- Epa! Trovinha, neca! Isso daí é um tremendo... TROVÃO!

Obs.: Não sei se G. M. é o autor da trova (alguém sabe?), ou se ele apenas a copiou.

Fonte:
Jornal “O Guarani” – 03/02/90

Luiz Carlos Abritta (Álbum de Trovas)


A natureza se vinga
de toda agressão sofrida
e essa revolta respinga
no centro de nossa vida!
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Aos jovens dou um conselho,
nesta vida tão incerta:
não se olhem tanto no espelho
pois Narciso é morte certa!
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Ao teu prazer eu me entrego
- seja lá o que quiseres –
pois te escolhi, eu não nego,
entre todas as mulheres.
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As tuas mãos - que brancura
 - que bonito de se ver,
 pois elas têm a ternura
 dos lírios do amanhecer.
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Busco de novo a verdade
na aspereza dos caminhos,
e só encontro a saudade,
a solidão dos sozinhos!
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Casaste... triste eu sofria,
pois vestiste, bem contente,
a camisola macia
que eu te dera de presente!
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Depois de fazer a ronda,
o galo ficou danado:
a galinha, tão redonda,
quis botar ovo quadrado!
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Desde que tu foste embora,
 tua saudade é açoite
 que já começa na aurora
 e dói mais durante a noite!
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Dessa forma Cristo pensa:
"maior será o perdão
quanto maior for a ofensa".
- Que bela e sábia lição!!
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De todo "não" que me deste,
 o que mais triste me fez
 foi aquele que disseste
 disfarçado num "talvez".
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Do meu verso é sempre a fonte
 essa cidade lendária
 chamada Belo Horizonte,
 a Capital centenária!
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Do simples pó eu procedo,
sei que a ele hei de voltar;
a vida não tem segredo:
é um eterno retornar.
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Em cada nota eu receio,
na pauta que a vida escreve,
que transformem nosso enleio
numa simples semibreve.
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É muito estranho, meu bem,
 o relógio do destino:
 vai de manso, vai e vem,
 depois bate em desatino!
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E se em tupi é “kiri”
e lá na Itália “bambino”,
no sul só falam “guri”:
diabruras de “menino’!
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Essa vitória alcançada
 nos obriga a meditar:
 sem o povo não há nada,
 que verdade singular!
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Eu bem sei que tu me esperas
 e, se te vejo, ao sol-posto,
 projeto um céu de quimeras
 na moldura do teu rosto!
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Eu confesso abertamente,
e disso não me envergonho,
que tu foste, simplesmente,
o amplo portal do meu sonho.
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Eu sei que o belo e a verdade
 caminham juntos na vida
 e atinjo a felicidade
 se a ternura é dividida.
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Eu te agrado, tu me agradas,
e, no doce cativeiro,
sem algemas, sem ciladas,
tu me prendes por inteiro!
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Eu te amo tanto, mas tanto
que já pus num pedestal
toda a glória desse encanto,
que se tornou imortal.
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Eu te digo, com alegria,
e a realidade comprova
que o melhor da poesia
é a beleza de uma trova.
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Eu tenho perseverança
e à tristeza me anteponho:
garimpeiro da esperança,
sempre vivi do meu sonho.
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Foi no tempo da janela
e do namoro à distância
que a vida, muito mais bela,
tinha tão grande importância!
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Jamais eu temo o fracasso
 pois me deste o teu amor
 e a simples força do abraço
 me transforma em vencedor!
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Na magia desse sonho,
 nessa noite calma e pura,
 a sonata que componho
 tem as notas da ternura.
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Não foi perto, nem distante:
o nosso amor, ideal,
nasceu da luz de um instante
e se tornou imortal!
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Não me queres... pouco importa...
Só penso no alvorecer,
pois ele sempre abre a porta
à sedução de viver!
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Nas horas mortas da noite,
sem luar e bem-querer,
tua ausência é puro açoite
que duplica o meu sofrer.
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Na tessitura do sonho,
vou cortar, sem mais tardança,
esse nó górdio que imponho
a um amor sem esperança.
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Navegador solitário,
singrando as águas do mar,
jamais pensa em numerário,
mas conjuga o verbo amar!
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Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
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Nenhum amor se constrói
só com flores e ternura,
pois aquele que mais dói
certamente é o que mais dura.
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Nessa vereda que é a vida,
vou de tropeço em tropeço,
pois cada nova subida
é sempre um novo começo.
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Nesse exílio que me imponho,
não senti que era miragem
e dos pedaços de sonho
eu recompus tua imagem.
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Nosso amor já teve história
e, por isso, eu te proponho
seja posto na memória
do relicário do sonho.
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Novo estatuto vigora
nas leis do amor hoje em dia:
sei que vale mais o agora
do que a mais bela utopia!
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Numa alquimia de nume,
 à tristeza me anteponho,
 transformando teu perfume
 no perfume do meu sonho!
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O açougueiro viu passando
 a mulher que é só pele e osso
 e disse, a faca afiando:
 "Isso é carne de pescoço".
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Olhando o tempo passar,
no relógio da memória,
eu senti coisa invulgar,
pois revivi nossa história!
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O que conta nessa vida
não é tempo nem idade,
mas a procura renhida
da deusa felicidade.
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O tempo passa depressa
e tão rápido ele flui
que nunca mais recomeça:
– sou a sombra do que fui.
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Quando o cãozinho e o menino
se abraçam por um segundo,
solto o canto peregrino:
- Há salvação para o mundo!
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Quis esquecer-te... não pude:
 a saudade é traiçoeira
 e ela sempre nos ilude,
 pois nos prende a vida inteira!
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Quis retratar um romance
 que fosse mesmo um primor,
 e fiz, com tinta e nuance,
 uma aquarela de amor.
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Sempre foste minha amada
e, no doce cativeiro,
sem algema e sem mais nada,
tu me prendes por inteiro.
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Se não me dás teu carinho,
se não me queres amar,
sou barco triste e sozinho,
que já não quer navegar.
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Se navegar é preciso
e viver nem tanto assim,
vou partir com teu sorriso,
em busca do mar sem fim!
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Se todos temos defeitos,
se o mistério vem de Deus,
se nem os bons são perfeitos,
o que dizer dos ateus?
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Somos poeira que a vida
 sempre leva de roldão;
 em sua sanha atrevida,
 ela não vê coração.
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Só se louva a juventude,
porém jamais alguém disse
que só se atinge a virtude
quando se alcança a velhice.
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Tira o véu da hipocrisia,
joga longe esse teu manto,
e verás que a noite fria
se transforma em puro encanto.
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Todos querem sufocar,
 com disfarces atrevidos,
 e sordidez invulgar,
 o grito dos excluídos .
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Tudo ele faz com amor
e traz o céu na bagagem;
na verdade, o trovador
de Deus na Terra é a imagem.
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Tu partiste... e essa magia
 que deixaste no meu peito
 vai fazer que certo dia
 tu voltes de qualquer jeito.
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Vejo o mar em ondas mansas
- foto de rara beleza -
e, reforçando as lembranças,
um céu chamado Veneza!
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"Veredas, grandes sertões"...
a nossa vida é uma estrada
toda cheia de senões,
do início ao fim da jornada.
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Vou definir a saudade
e não sei se estarei certo:
saudade é aquela vontade
de que o longe fique perto.

Henriette Effenberger (Trovas Temáticas)

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SAUDADE
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Para falar de saudade
sempre se vai precisar
ter um pouquinho de idade
e coisas para lembrar...

Saudade de nossa infância,
saudade de tempos idos...
Saudade pela distância
dos nossos entes queridos.

Saudade de gargalhadas,
saudades da adolescência,
das noites enluaradas,
plenas de efervescência...

Saudade não é lembrança,
saudade não é sofrer.
Lembrança sem esperança,
isso ela pode até ser.…

A campa tão nua e fria
do morto desconhecido
recebeu a cortesia
de um ipê todo florido.

A saudade, envelhecida,
virou apenas lembrança
não dói mais como ferida,
pois já perdeu a esperança…

Na quietude da noite
onde até o silêncio dorme,
a saudade, qual açoite,
retalha o sonho disforme.

Nos meus momentos de insônia,
minha saudade acalanto
e ela, sem cerimônia,
repousa sobre meu pranto.

Pra espantar felicidade,
a maldade tanto fez
que se vestiu de saudade
pra machucar outra vez.

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DESTINO
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A vida que tenho agora
é apenas resultado
de escolhas de outrora,
de opções do passado...

Dizem que eu tive sorte,
que o destino me sorriu,
ao escolher o meu norte
todo caminho se abriu.

O que chamam de destino,
boa, má sorte ou maré
eu apenas denomino
fruto de trabalho e fé.

Sei que fiz o meu destino,
palmo a palmo, linha a linha,
nada veio repentino
nem tive fada madrinha...

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PAZ
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A paz nem sempre é perfeita,
esconde-se em descaminhos,
entre dores, fica à espreita,
como rosa entre os espinhos.

Paz: muitas vezes usada
para gerar tanta guerra,
palavra tão desgastada,
não a vemos cá na Terra.

Pedir paz é tão vulgar,
lugar comum, um clichê;
melhor mesmo é desejar
que a paz habite em você...

Viver na Paz do Senhor,
nos dizia a tia Sila,
só mesmo com muito amor
e com fé que não vacila.

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ESTAÇÕES DO ANO
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Bom seria cada dia
viver como a primavera,
trazendo luz e alegria,
pois o verão nos espera..

Na primavera me aninho,
sou colibri, beija-flor,
sou menina-passarinho
buscando por teu amor...

Gosto de verão “caliente”,
sol daqueles de rachar,
que aquece a alma da gente
e nos convida a amar.

Verão agora é assim
chove, chove, sem parar.
Essa água não tem fim,
parece o céu a chorar...

Às vezes penso que o outono
por vir depois do verão
é uma estação de sono,
de invernos que chegarão...

O  verão com sol brilhando
e um azul no céu sem fim;
no fundo está preparando
o outono que existe em mim...

Não gosto de tempo frio
nem daquele céu cinzento.
O inverno, eu avalio,
é um velho rabugento...
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Henriette Effenberger nasceu em Bragança Paulista-SP. Romancista, contista, memorialista, poeta, escreve também literatura infantil. Publicou, em 2002, em coautoria com Maria Dulce N. K. Louro, seu romance de estreia, A Ilha dos Anjos. Outros livros publicados: A aventuras do Superagora (infantil); SSAAM – 80 anos de acordes em harmonia; Aeroclube de Bragança Paulista – uma trajetória nas asas do tempo; Liga do Pico, Futebol e Pinga e Sindicato do Comércio de Bragança Paulista – 70 anos; Linhas tortas, em 2008, composto por contos premiados em concursos literários nacionais e internacionais, com apresentação de Ignácio Loyola Brandão, e Vida de Sabiá – o que sabiam os sabiás além de assobiar, vencedor do Prêmio João de Barro de Literatura Infantil, editado em 2009, pela Fundação Cultural de Belo Horizonte. Em 2017, organizou a coletânea de contos: Horas partidas e a coletânea de contos e crônicas do Movimento Mulherio das Letras.

Fontes:
Editora Penalux
UBT Bragança Paulista

Dorothy Jansson Moretti (Tertúlia da Saudade) I


Trovas Infantis    


"Ao céu vai o bem dotado.
E o criminoso aonde vai?"
Diz o filho do advogado:
"Não sei... isso é com meu pai..."
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Guri do boné virado,
estilingue... palavrão...,
hoje, vigário ordenado:
- Pax vobiscum, meu irmão!
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"O canivete, meu bem",
diz ao garoto o vizinho,
"é teu! Vai ver o que tem
dentro do teu tamborzinho!"
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Pancada de chave inglesa
amontoou o Garcês,
que para a própria surpresa,
acordou falando inglês!
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"Por que é que  eu te chamo, Nei,
de "porquinho" ... faz favor?"
"É que ainda eu não cheguei
ao tamanho do senhor..."
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"Que tanto estudas, Leal?"
"Geografia, Seu Garcês."
"Humm... e onde está Portugal?"
"Na página cento e três."
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"Vovô, feche os olhos já!
Vi papai dizendo à Guida
que quando você fechá,
vamo ficá bem de vida!”
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TROVAS VÁRIAS

A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.
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A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.
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“Ai doutor, não acredito...
Picada por um “barbeiro?
Veja, só! Pois o maldito
me disse que era engenheiro!!!”
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A lua, em passo indeciso,
muda o andante da sonata,
pondo pausas de improviso
no pentagrama de prata.
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A nova-rica não topa
sugestão de amigo seu.
Diz que não vai para a Europa
porque não fala europeu.
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Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí, à toa,
e somos nós que voamos.
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Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
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Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.
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Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.
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Eu me faço de blindado.
Amor? Bobagem... Pieguice...
Meu medo é que, apaixonado,
eu me envolva na tolice.
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Guardo os bons tempos da vida,
e os maus procuro esquecer,
mas a memória, atrevida,
teima em roubar-me o prazer.
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Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
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Matuto filosofante
vendo filme que arrepia:
“E esse era o ”inferno de Dante...”
“Imagine o de hoje em dia!”
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Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombros fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos...
e eis-me sonhando outra vez!
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O amor, ao termo da vida,
deixa na pauta apagada    
uma só nota sentida,
canto de cisne... mais nada.
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O cara, dentro do armário,
diz: “Não é o que você pensa...
“Eu já sei”, responde o otário,
“o gajo é o lá da despensa.”
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Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés de um Nada.
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Os erros que fiz na vida
quero apagar sem alarde
mas, a consciência revida
e, aos brados, me diz: é tarde!
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"Para sempre!" Será mesmo?
Não importa a duração
é promessa feita a esmo,
mas aquece o coração.
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Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.
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Que bela seria a vida
se, acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
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Somos tão bem afinados,
que, em termo gramatical,
podíamos ser chamados
"encontro consonantal"!
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Trem-de-ferro, o teu apito
lembra-me um sino plangente:
tanta mágoa no teu grito,
tanta saudade na gente!"
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Triste e sozinha eu me deito,
mas encontrando um desvão,
a lua invade o meu leito,
e afugenta a solidão.
 

Jessé Nascimento (Sementes de Trovas)

 

A formiga na labuta
nos dá profunda lição;
não se curva ao peso e à  luta,
vive em perfeita união.
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Caminhos, jardins e praças,
flores, cores - que beleza!
Deus derrama suas graças
dando graça à natureza!
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Chora o coração sentindo
tristeza, nunca revolta;
os amigos vão partindo
numa viagem sem volta.
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Com meus sonhos mais singelos
embalados na esperança
venho erguendo meus castelos
desde os tempos de criança.
3° Lugar em Magé/RJ -1995
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Corres tanto, mocidade,
és pela vida levada.
Amanhã serás saudade,
serás velhice, mais nada...
1" Lugar Concurso Estudantil Rio de Janeiro -1995
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Dos outros não dependamos,
mas cada um erga a voz;
a paz que tanto almejamos
começa dentro de nós.
Menção Especial em Israel - 2015
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Leu “Campanha do Agasalho”,
quando por ali passou;
o espertalhão ou paspalho
em vez de deixar, pegou.
6. Lugar, em Cantagalo/RJ - 2017
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Lindo olhar, belo sorriso,
rosto de tal perfeição,
sugere o traço preciso
do Senhor da criação.
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Na dureza da porfia
para moldar minha história,
Deus me abençoa e me guia
para chegar à vitória.
Menção Especial, no Uruguai - 2020
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Na padaria, o cliente:
- O pão está bem "quentinho?"
Com sorriso, a atendente;
- Veja como está "fresquinho".
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Navegando nas poesias,
nas ondas da inspiração,
iço as velas de alegrias
deixo o rumo ao coração.
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No sonho e imaginação,
vou compondo cada verso;
partindo do coração,
viajo pelo universo.
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Num cenário colorido,
cheio de encanto e alegria,
a vida tem mais sentido:
a primavera extasia!
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O genro sempre é quem dança,
a minha sogra é um porre;
o nome dela é "Esperança"
que é a última que morre.
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Por mais que as regras morais
moldem o bom cidadão,
dia a dia os imorais
na vida melhor se dão.
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Pra acreditar foi um custo;
na primeira gravidez,
levou um tremendo susto;
foram cinco de uma vez!
3" Lugar, em São Gonçalo/RJ - 2017
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Quando a razão não alcança
por mais que pareça incrível,
ter fé é ter esperança,
ter fé é crer no impossível.
Menção Honrosa, em Maranguape/CE - 2019
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Quantas vezes nós choramos
por tantas coisas banais...
Mas, jamais nos esqueçamos;
há outros que sofrem mais.
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Que a humanidade resista
ao mal que, sagaz, avança
eu sou poeta otimista:
ainda existe esperança!
Vencedora em Itaocara/RJ - 2020
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Se a tua cruz é pesada
e vives só de lamento,
hás de encontrar pela estrada
outros com mais sofrimento.
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Semelhante a um quartel
tem sido assim minha casa;
minha mulher, coronel
e eu sempre patente rasa.
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Senhor Deus, misericórdia!
Neste conturbado mundo,
nos corações põe concórdia,
mais perdão e amor profundo.
Menção Especial, em Cantagalo/RJ - 2017
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Tenho ciúme e desgosto
quando, à  noite, leve brisa
afaga o teu meigo rosto
e os teus cabelos alisa.
Menção Especial em Niterói/RJ - 2012
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Teu cego e amargo ciúme
que me desgosta e alucina
tem sido o cortante gume
que ao amor leva a ruína.
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Teu olhar, quanta ternura!
Tuas mãos, quanto carinho!
Teu amor, oh, que ventura
pôs a vida em meu caminho.

Fonte:
Enviado por Jessé Nascimento.
Autores diversos da UBT-Angra dos Reis. Sementes poéticas. SP: Daya Ed., 2021.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Jerson Brito (Magia das Trovas) – 1


A melhor alternativa
para alcançar a vitória
é tornar a tentativa
atitude obrigatória!
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Aquela vila afastada,
nas brenhas do interior,
parece pobre... Que nada!
É manancial de amor…
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A riqueza genuína
da tapera ou da mansão
vem do amor que predomina,
não se mede com cifrão.
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Da minha infância tranquila
recordo, os olhos marejo.   
Mil vezes aquela vila
do que concreto e azulejo!
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Digo com sinceridade:
É melhor pro coração,
o amargor duma verdade,
do que o mel d’uma ilusão
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Ela é charmosa e pequena,
concisa, porém, completa.
Eis a trova, expressão plena
da mensagem do poeta.
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Esperança assim defino:
rio que corre veloz,
banhando nosso destino
sem chegar à sua foz.
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Existe um tênue limite
entre paixão e loucura;
para as duas, acredite
não é fácil ter a cura.
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Faltou bronze ao escultor
que, sem outra solução,
resolveu, na praça, expor
a estátua do herói anão!…
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- Fui bronze! Missão cumprida!
Disse o sujeito aos parentes,
sem mencionar que a corrida
só tinha três concorrentes.
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Já tentei tirar de mim
a semente dessa flor,
que espalhou no meu jardim
o perfume do amor.
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Libertado das ruínas
de um amor sem solidez,
ao abrir outras cortinas,
meu coração se refez.
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Na crise, eu me fortaleço,
não perco os sonhos de vista;
toda queda é o recomeço
para quem crê na conquista!
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Na luta, quando entendido
o recado de um tropeço,
qualquer espinho vencido
escreve um fim... e um começo!
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Não maldiga o desafio
se a jornada é longa e dura;
a glória é fruto macio,
carregado de doçura.
= = = = = = = = =

No baú da experiência,
guarde dor e alegria.
As lições dessa vivência
são úteis no dia-a-dia.
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Nossa paixão dissemina,
nos sonhos, a insanidade
quando surge, clandestina,
disfarçada de saudade.
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No teu sussurro extravasas
um sopro avassalador
que mantém vivas as brasas
da fogueira deste amor.
= = = = = = = = =

O fracasso e a vitória
fazem parte do existir.
É normal na trajetória,
de vez em quando cair.
= = = = = = = = =

Olhando estas mãos feridas,
lamento, orgulhoso, as falhas
e não as chances perdidas
no decorrer das batalhas!
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O vivente caminheiro,
se palmilha senda escura,
na esperança tem luzeiro
que no coração fulgura.
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Qual cometa incandescente,
a paixão passa e se vai,
deixa no peito da gente
uma dor que nunca sai.
= = = = = = = = =

Quem se empenha na leitura
nada perde e tem certeza
de que, para a mente escura
livro aberto é luz acesa.
= = = = = = = = =

Se de rancor está cheio
nosso coração doente,
estão vazias, eu creio,
a nossa alma, a nossa mente.
= = = = = = = = =

Sentindo o golpe certeiro
da paixão que me extasia
louvo teu sorriso, arqueiro
de notável pontaria.
= = = = = = = = =

Se o fracasso tem dois lados,
vale muito a decisão;
chorar os planos frustrados
ou bendizer a lição.
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Se põe fogo em nossa cama,
amor, esse teu perfume
é a mesma essência que inflama
o facho do meu ciúme!
= = = = = = = = =

Será crescente a desgraça
da fome e grande o lamento
enquanto existir quem faça
da ganância um alimento.
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Sobre opiniões e crenças,
a sensatez nos diria
que o respeito às diferenças
tece teias de harmonia.
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Somos almas garimpeiras
nessa vida de perigos
onde, em lavras rotineiras,
valem ouro os bons amigos.
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Tentei enxugar meu pranto
na fronha do travesseiro.
Péssima ideia, porquanto
chorei mais, senti teu cheiro…
= = = = = = = = =

Um amor especial
trouxe a flecha do cupido,
a saudade, esse punhal,
fez meu coração partido.
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Um cenário me devasta:   
a garrafa de champanhe,
duas taças, vela gasta
e ninguém que me acompanhe.

Fontes:
Messias da Rocha (org.). Múltiplas palavras vol. III. Juiz de Fora/MG: Ed. dos Autores, 2022.
Livro enviado por Lucília Trindade Decarli
Recanto das letras do trovador.

Sílvia Svereda (Jardim de Trovas) - 1

 

Às vezes, nem é preciso,
ouvir nossa própria voz,
se o teu olhar e o sorriso,
falaram tudo por nós.
= = = = = = = = =
 
Bela infância…a ingenuidade,
o tempo proporcionou.
Mas perdeu a validade,
quando esse tempo passou.
= = = = = = = = =

Brilha a luz de uma quimera,
ao raiar de um novo dia,
nesta nova primavera,
que já em breve,  principia.
= = = = = = = = =

Consiste em viver e amar,
numa oferenda de amor.
Ser uma estrela a brilhar,
no universo, em seu negror.
= = = = = = = = =

Deus da vida, Te saúdo,
O Teu amor quero ter.
Graças dou Meu Deus, Meu Tudo,
graças pelo meu viver!
= = = = = = = = =

Devolve nossa eloquência,
um livro é boa semente
que tem como consequência,
abrir caminhos da mente.
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Ele ensina aos filhos seus,
que a missão seja cumprida,
na fé e no amor de Deus,
a luta será vencida.
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Eu ouvi: _É só um cão…
Tão grande foi meu espanto,
qual punhal no coração,
sangrando em forma de pranto.
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Ficar presa? Nunca mais,
obstáculos dominei.
Sem temores, sem meus ais,
pois no amor eu me encontrei.
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Já é hora da partida,
eu sinto a ausência de alguém…
Sem adeus, sem despedida,
somente um vulto … ninguém!
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Lágrimas de poeta são,
orvalhos nas madrugadas,
dentro da alma e coração,
em amor são transformadas.
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Na casinha do interior,
era só felicidade .
Nas férias, com meu amor…
Hoje, lembranças, saudade.
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Na lembrança, ainda presente,
maior emoção contida.
Foi quando um pingo de gente,
modificou minha vida.
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No nosso tempo que corre,
poesia é livramento,
pois nossa alma ela socorre,
traz paz a todo momento.
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No tempo, quero voltar,
mas não posso, é impossível.
Agora é só recordar,
um passado inesquecível!
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O amor, assim, de repente,
em qualquer tempo aparece.
Qual a luz da chama ardente,
qual o poder de uma prece.
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Obstáculos… surgirão,
valerá a experiência.
Tenha determinação,
fé, coragem, persistência.
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O pôr do sol no infinito,
qual lindo troféu dourado,
tornando o céu tão bonito,
que sinto Deus ao meu lado.
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O sofrer da minha mente
não tem mágoa ou dissabor.
Vou seguindo sempre em frente,
pois meu lema é  o amor.
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Para o sol iluminar,
nossas janelas abrimos.
E bem cedo demonstrar,
toda a paz que nós sentimos.
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Poeta, refletes na alma,
teu espelho interior,
transformando em paz e calma,
as intempéries do amor.
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Quem ama não escolhe a hora,
há amor a todo momento .
No anoitecer ou na aurora,
o que importa é o sentimento .
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Voar num tapete mágico,
viver o sonho mais lindo …
Um romance ou conto trágico,
o livro é sempre bem-vindo.

Fonte:
Jardim de Trovas

O Livro em Trovas

 
Deste espaço que, na vida,
preenchemos com tempo certo,
daremos conta devida,
da Vida no Livro aberto!
Alberto Fernando Bastos
Rio de Janeiro/RJ, 1921 –

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“Livro é presente de amigo”
– é o que se diz fartamente.
E eu acrescento comigo:
“Livro é um amigo presente”.
Anatole Ramos
Ervália/MG, 1924 – 1994, Goiânia/GO

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Dar um livro de presente
este remédio me enseja:
quem o dá é inteligente
e espera que o outro o seja...
Aparício Fernandes
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

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Livros há cuja estrutura
lembra a do arado, na essência:
– rasgam sulcos de cultura
no campo da inteligência.
Cesídio Ambrogi
Natividade da Serra/SP, 1893 — 1974, Taubaté/SP

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Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto...
Fechado é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
Cyro Armando Catta Preta
São Paulo/SP, 1922 – 2010, Orlândia/SP

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Semeador de esperanças,
Lobato foi mais além:
dando livros às crianças,
semeou sonhos também!
David de Araújo
Santos/SP

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O livro é o maior dos bens,
sem ele crescem teus males...
Dize-me os livros que tens
e eu te direi quanto vales.
Durval Mendonça
Rio de Janeiro, 1906 – 2001

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Se queres ter um Amigo
que não fala, pois é mudo,
o Livro é luz que bendigo,
que calado, fala tudo.
Filemon F. Martins
São Paulo/SP

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Livro bom, lido com calma,
traz emoção e alegria...
Por isso dói tanto n’alma
ver uma estante vazia!
Hermoclydes Siqueira Franco
Niterói/RJ, 1929 – 2012, Rio de Janeiro/RJ

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Nada mais belo, decerto,
no cenário da esperança,
que a imagem de um livro aberto
sob o olhar de uma criança!
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

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Não sei se todos ponderam
a troca que o livro traz…
Grandes homens o fizeram,
grandes homens ele faz!
Lucília A. Trindade Decarli
Bandeirantes/PR

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É celulose modesta,
mas seu destino, fecundo,
pois – da sombria floresta –
o livro ilumina o mundo.
Maria Thereza Cavalheiro
São Paulo/SP , 1929 – 2018

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O livro, triste mar morto,
na estante, limpo, fechado.
Luzeiro, molde, conforto,
livro velhinho, ensebado.
Nair Starling
Santa Luzia do Rio das Velhas/MG, 1909 -

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Quando passo alguns minutos
no pomar, a um livro atento,
eu penso em colher bons frutos...
Os frutos do pensamento.
Nereu Humberto Frickmann
Niterói/RJ

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De livros encham-se as casas,
eis um conselho excelente,
pois o livro, aberto em asas,
põe asas n’alma da gente.
Orlando Brito
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

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Bendito aquele que lança
um livro sério, profundo,
e faz voltar a esperança
que vai fugindo do mundo.
Paulo Emílio Pinto
Conselheiro Lafaiete, 1906 – ????, Belo Horizonte/MG

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Dai bons livros à criança
e um ensino permanente:
o livro é verde esperança,
que abre os caminhos da mente.
P. de Petrus
São Paulo/SP, 1920-1999

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Sempre em silêncio profundo,
entre dores e alegrias,
no livro se encerra um mundo
de eternas sabedorias.
Reinaldo de Aguiar
Natal/RN, 1921 – 2010

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Não me tenhas por ausente;
se não vai carta, não zangue.
O livro é o melhor presente,
feito com suor e sangue.
Renato Baez +
São Paulo/SP

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Mais sábio na vida é quem
possui a sabedoria
daqueles que sempre têm
bons livros por companhia.
Sebas Sundfeld
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

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Aberto em asas de paz,
na escola, no lar, na igreja,
por todo o bem que nos faz,
o livro bendito seja!
Vera Vargas
Curitiba/PR, 1922 - 2000

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Um livro, um filho, uma planta,
pela estrada percorrida...
Quem consegue glória tanta,
plantou sementes na vida.
Wilson Dantas
Ceará-Mirim/RN, 1920 – 1998, Natal/RN

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Fonte: Sammis Reachers (seleção e edição). Poemas sobre Sua Majestade, o LIVRO: uma microantologia. ebook.

Auta de Souza (1876 - 1901)


Ama e serve, sofre e luta…
Sem lâmina que a sublima,
a pedra largada e bruta
nunca seria obra-prima.
- - - - - –
 
As rosas também cobriram
o lenho santo da Cruz
quando os espinhos cingiram
a cabeça de Jesus!
- - - - - –

Caridade verdadeira,
em todos os seus caminhos,
quando oferece uma rosa
sabe tirar os espinhos.
- - - - - –

Colhi, entre amigos meus,
este conceito profundo:
– Mãe é um sorriso de Deus
nos sofrimentos do mundo.
- - - - - –

Como dois botões pequenos,
duas flores orvalhadas,
teus olhos dormem serenos
sob as pálpebras cansadas.
- - - - - –

Embora desiludida,
alma cansada e sincera,
por muito te doa a vida,
não desanimes!… Espera!
- - - - - -

Eu quero bem às crianças
porque não sabem mentir:
são pombas lindas e mansas,
passam na vida a sorrir.
- - - - - –

Eu amo as minhas lembranças,
minhas saudades e dores,
assim como amo as crianças,
os passarinhos e as flores.
- - - - - -

Mãe de filhinhos dos outros,
mulher de mãos benfazejas…
Diz o Mundo : – “Deus te guarde!…”
Diz o Céu : – “Bendita sejas!…”
- - - - - –

Não acredito que seja
assim como dizem, não...
Ai daquele que deseja
viver sem uma ilusão...
- - - - - –

Não te maldigas, querida,
mesmo se a dor te magoa:
é sempre feliz na vida
a alma que é pura e boa.
- - - - - –

Ó alma triste, chorosa
como uma dália no inverno,
despe da mágoa trevosa
o negro cilício eterno!
- - - - - –

Obsessão de quem ama,
ninguém consegue entendê-la:
parece vaso de lama
encarcerando uma estrela.
- - - - - –

Quando eu morrer, quero um manto
como o de Nossa Senhora,
que seja feito de pranto
do Céu quando nasce a aurora.
- - - - - –

São flores azuis boiando
à tona d'água, de leve,
esses dois olhos beijando
o teu semblante de neve.
- - - - - –

Segue o ideal que te aquece,
serve ao bem, seja onde for;
trabalho que permanece
é o que se faz por amor.
- - - - - –

Se há noites frias, escuras,
também há noites formosas;
há riso nas amarguras,
entre espinhos nascem rosas.
- - - - - –

Tenho a luz dos dias meus
nesta sentença concisa:
coração entregue a Deus
tem tudo de que precisa.


Fontes:
– Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,
– Auta de Souza. Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...