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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Luzimagda Martin Ramos da Fonseca (Canteiro de Trovas)


A força das minhas mágoas,
ninguém pode calcular.
É mesmo feito a das águas,
que ninguém pode parar!
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Busco fé nas horas mortas,
quando a dor me faz chorar.
Busco ter saídas, portas,
para de novo sonhar.
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Carregado em emoções,
pode o livro conduzir…
Ao real, ou ilusões…
mas sempre ajuda a seguir.
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Com um futuro risonho,
sonhei poder alcançar...
Tudo não passou de sonho.
Apenas pude sonhar!
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Deixar o dia mais lindo,
incumbe-se a bicharada
primavera reluzindo,
sendo a mata agraciada.
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Em meio à tanta beleza,
tendo a paz a nos cercar,
veremos quanta riqueza,
criou Deus, ao nos criar.
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Este amor, outrora lindo,
deixou marcas, muita dor.
E, hoje, embora já findo,
não se tornou desamor!
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É triste a efemeridade
da nossa pobre existência,
confundindo a humanidade,
elucidando a ciência.
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Existe a felicidade,
sempre pronta a nos rondar,
obstáculo na verdade,
é nela, não confiar.
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Faz frio, junto ao fogão,
relembro a paz e o carinho,
horas mortas de ilusão...
que adornaram este ninho.
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Fez da mentira aliada,
no caminho que tomou
e a vida por Deus lhe dada,
em mentira se tornou.
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Foi por minha culpa e pressa,
que o meu destino mudou.
O tempo passou depressa...
e a vida nos afastou!
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Foi uma breve atração,
sentimento sem amor,
fogo intenso de paixão,
que provocou tanta dor!
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Havia serenidade
no aconchego dos meus pais.
Ternura muita bondade,
que não olvido jamais!
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Na emoção de um abraço,
criamos um novo alento…
Até mesmo a dor de fracasso,
se ameniza no momento.
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Não foi amor, foi paixão
que como fogo apagou.
Cremado virou carvão
E nem a cinza ficou!
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Não havia ali fartura,
mas tudo dava e sobrava.
No milagre da ternura,
o pão de multiplicava!
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Não me joguei nos seus braços...
Meu impulso dominei...
Entre dezenas de abraços,
lamento o seu...que deixei.
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Netos... são continuidade,
dos bebês que foram meus.
São bênçãos da eternidade,
presentes dados por Deus!
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O livro é porta aberta,
que nos exorta e conduz,
na busca da coisa certa…
Da luz, que brilha e reluz!
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O medo, não subestimem,
lhes  causa estagnação…
É forma com que oprimem,
seu livre arbítrio e ação.
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O meu lema é o amor,
norteando minha vida.
Meu baluarte na dor…
refrigério na ferida.
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O que dizer da verdade
intrínseca em cada ser?
O erro, na realidade,
é nossa forma de ver.
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O seu miado manhoso,
adorna-me e faz feliz.
É gostoso, carinhoso…
Gatinho, que sempre quis.
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O tempo passa corrido…
Tudo deixando pra traz.
Por tudo, que foi perdido…
Se perdem horas de paz.
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Para estudar, todo dia,
a condução era o trem.
Hoje revivo a agonia…
E a saudade deste bem!
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Plena em cores e alegria,
a nossa vida transcorre,
coloquemos poesia,
no nosso tempo que corre.
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Por vezes na adolescência,
por um simples, “não te ligo”,
amargamos consequência
de intenso e amargo castigo!
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Se este beijo existisse,
no momento da partida…
Talvez você não partisse…
Partindo assim minha vida.
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Sua imagem aparece
em todos os sonhos meus.
Acordo e se desvanece,
pois estás junto de Deus!
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Tempo perdido...eu lamento.
Você foi e não voltou.
Hoje, eu amargo o tormento,
pensando: – o vento levou…
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Teu amor, doce quimera,
me fez sorrir e chorar.
Tudo ficou no “quisera”!
Valeu a pena sonhar!
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Teu sorriso deslumbrante,
de uma riqueza sem par,
fez de mim eterna amante…
Sonhando te reencontrar!
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Ter como foco a criança,
será de grande nobreza,
ver surgir nova esperança,
recobrar a realeza.
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Um passado inesquecível,
está vivo na memória.
Tudo nos será possível…
Resgatando nossa história.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) 1


Ao se casar o carteiro,
o bebê chega depressa;
— Comigo o tiro é certeiro,
e a encomenda, via expressa!
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A toda pergunta feita
respondeu com tanto "não"
que lhe aplicou a Receita
multa por "só... negação"!
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A vendedora ladina
jura que não é trapaça:
— Olha o véu que a Messalina
"não" usou por ser devassa!
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Com Adão no paraíso,
Eva pensa ao ir pra cama;
— Ah! Se eu tivesse juízo,
dava pra ele... um pijama!
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Convidado a ver pelada,
diz, irado, o garanhão;
— Mulher pelada? Que nada!
Só vi homem de calção!
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Diz a galinha-d'angola:
— Meu marido é mesmo um saco!
Quando tiro a camisola,
logo ele grita: — "Tô fraco"!
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Em meu sonho, a sogra berra:
— Joga mil no burro e dobra! —
Mas seu palpite me ferra;
burro fui eu... deu a cobra!
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Imperfeita é minha lira:
meu "muso" é manco, coitado!
O verso que ele me inspira
sempre sai de pé quebrado!
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Na feira de antiguidade,
ao ancião combalido,
perguntam, não sem maldade:
— Vem comprar ou ser vendido?
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Na noite do seu casório,
sendo um noivo muito antigo,
usou até suspensório,
mas não suspendeu o artigo...
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No escuro, sente a "mão-boba"...
Grita a velha: — Patifão! —
Mas, entre os dentes, diz: — Oba!
Bendito seja o apagão!
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O ladrão me deu pancada,
me roubou e saiu rindo...
Pra vingar, xinguei, danada,
cada nome feio lindo!
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— O meu marido é carteiro,
porém bem cedo aprendeu
que, no lar, o tempo inteiro,
só quem dá as cartas sou eu!
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O meu problema é pagar
altos custos de energia;
basta a luz eu apagar
que acesa fica a Maria!…
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Pão-duro, o cara declara:
— Ter cara-metade é asneira.
Se a metade já é cara,
imagina a esposa inteira!
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Pensa o luso: — Um pesadelo!
Tudo meu em hipoteca...
É de arrepiar cabelo!
A sorte é que sou careca...
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Quando a Zazá sai da linha,
o Zezé nunca se importa;
a mulher é uma galinha,
mas ele, um galinha-morta!
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Quis apagar a queimada,
mas caiu numa esparrela,
pois, estando "alambicada",
a mais queimada foi ela!
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— Que injustiça aos meus instintos!
Amo o galo, ando na linha,
choco ovos, cuido dos pintos
e me chamam de "galinha"?!!!
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Sendo tão feia a encalhada,
com reza só conseguiu
um cego, que, na "largada"
pelo braile... desistiu!
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— Senhor, escutai meu rogo,
dai-me um exímio parceiro!
— Filha, pra apagar seu fogo
só lhe arranjando um bombeiro!
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Suja o muro o pichador.
Preso, grita e faz baderna;
— Isto é um engano, Doutor!
Só fiz arte pós-moderna.
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Tendo o Zé imensa pança,
queixa-se sua mulher
que a barriga dele avança,
porém nunca o que ela quer.
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— Tenho grande novidade:
estou grávida. Que apuro!
— Foi contra sua vontade?
— Que nada! Foi contra o muro.
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— Vem furar onda comigo! —
propõe, na praia, a faceira,
Diz o luso; — Que castigo!
Eu não trouxe a furadeira...

Fonte:
Enviado pela trovadora.
Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013.

domingo, 22 de janeiro de 2023

Madalena Castro (Canteiro de Trovas)


 A poesia me faz
pelas nuvens viajar,
só com ela eu sou capaz
de ir ao fundo do mar.
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A vida é feito uma flor
que vai se despetalar,
regue-a sempre com amor
para não vê-la murchar.
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A vida é grande ciranda
e cada vez mais rodada,
Uma hora a gente manda
Na Outra a gente é mandada.
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Cirandeira, cirandeira
venha logo cirandar,
aproveite a brincadeira
hoje é noite de luar.
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Das flores do meu jardim,
só uma eu gosto mais dela,
é o pequenino jasmim
que enfeita a minha janela.
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Doce e gostosa lembrança
eu guardo no coração,
do meu tempo de criança
vendo o luar do sertão.
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Estou sentindo saudade
dos beijos que mamãe dava,
quando eu bastante à vontade
no seu colo me deitava.
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É tão grande a singeleza
dos versos de um trovador,
e tem muito mais beleza
quando ele fala de amor.
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Eu gosto de contemplar
o luar lá do sertão,
pois ele me faz lembrar
do meu querido torrão.
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Eu levo o tempo sorrindo
contemplando a natureza,
só assim vou extinguindo
as mazelas da tristeza.
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Eu não sou nenhuma artista
gosto de ler, de escrever,
por sorte sou cordelista
isto eu faço com prazer.
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Eu queria ser doutor.
mas mudei de opinião,
passei a ser trovador,
que me traz mais emoção.
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Foi na voz de um trovador
que lá da minha janela,
escutei versos de amor
pra sua amada tão bela.
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Foi no carnaval passado
que meu grande amor perdi,
não sei quem foi o culpado…
só sei que muito sofri.
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Gosto do Bloco das Flores
onde o lirismo irradia,
me faz lembrar dos amores
que conheci na folia.
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Igualzinho ao vendaval
o nosso amor começou,
terminado o carnaval
este amor se evaporou.
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Mamãe foi a flor mais bela
que brotou no meu jardim,
bem delicada e singela
que o Senhor mandou pra mim.
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Mando daqui meu abraço
com ternura e nostalgia,
dos encontros no terraço
que a gente sempre fazia.
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Me recordo com saudade
do meu tempo de criança,
eu tinha felicidade,
amor e muita esperança.
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Na noite em que está brilhando
o luar do meu sertão,
minha mente sai voando
e me traz inspiração.
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Nesta grande brincadeira
não dou bolas pra ninguém,
eu passo uma noite inteira
cirandando com meu bem.
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O frevo enlouquece a gente,
nos faz até delirar,
e neste delírio quente
nós frevamos a sonhar.
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O poeta expressa a dor
também expressa alegria,
faz declaração de amor
nos versos da poesia.
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O teu sorriso, meu bem
tem a graça de uma flor,
quando se abrindo ela vem
no jardim do nosso amor.
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Pode até fazer calor
o sol, meu corpo queimar,
mas por sentir tanto amor
não deixarei meu lugar.
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Quando estou com meu amor,
não vejo o tempo passar,
sinto-me igual ao condor
num largo espaço a voar.
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Que coisa boa, chegou
o verão tão esperado,
mas o sol quente deixou
meu rosto quase queimado.
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Recife, nunca esqueci
do teu passado de glória,
de tudo que descobri
nos vários livros de história.
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Saudade bate e machuca,
nunca respeita o sujeito,
deixa a cabeça maluca,
se aloja dentro do peito
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Saudade é faca que corta
sem ter gume pra cortar,
e bate na sua porta
sem você nem esperar.
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Saudade é fogo que queima
machucando o coração,
e só por maldade teima
em trazer recordação.
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Ser uma grande cantora
era tudo o que eu queria,
findei sendo professora
de cordel e poesia.
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Sou mulher e sou feliz,
não devo nada a ninguém,
de tudo um pouco já fiz
e vou muito mais além.
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Todas mulheres são flores
vindas da Mãe Natureza,
despertadoras de amores
por terem graça e beleza.
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Todo o sertão agradece
ao ver a chuva caindo,
seu povo reza uma prece
e vai pro campo sorrindo.

Fonte:
https://ubt-recife.blogspot.com/

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

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