Postagens por Marcador

sábado, 17 de julho de 2021

Cônego Benedito Vieira Telles


 1
A esperança também gera
o mal que a saudade tem,
quando a gente vive à espera
do sonho que nunca vem.
2
Amigo, qual tenra planta,
tem de ser bem cultivado.
Se outro valor se levanta,
você pode ser trocado...
3
A neve nos pinheirais,
nestas paragens do Sul,
forma brincos de cristais
na terra da gralha azul.
4
À sua mesa haja o pão,
partilhe-o com quem não tem.
Reparta-o com o irmão,
que não o falte a ninguém.
5
Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer...
Com ela, as frescas aragens!
6
A trova, menor poesia,
síntese da inspiração.
São sete pés de maestria,
que medram no coração!
7
A trova não envelhece,
assim é toda a poesia.
É perene como a prece,
imortal a cada dia!
8
A vida é dura, renhida,
porém tem muita poesia.
Faço parte da torcida
da esperança a cada dia.
9
Cidade do coração,
tens meio milhão de amores,
tu és a ‘Cidade Canção’,
Maringá, urbe das flores!
10
Coração de mãe é grande,
infinito como o amor.
Sua ternura se expande
como o perfume da flor!
11
Em vez de bombas, canhões,
fome, miséria, orfandade,
que se unam os corações
na paz da fraternidade!
12
Frondosa árvore, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti saudades ficaram!
13
Há festa no céu, na Terra,
foi a maior deste Mundo,
nos mares, rios e serras...
Natal, mistério profundo!
14
O domingo é do Senhor,
dia pascal do cristão.
Vamos ao altar do Amor
enriquecer-nos do irmão.
15
O homem foi feito perfeito,
à semelhança de Deus;
às vezes, fico sem jeito
de não ser igual aos meus.
16
Ontem falara às estrelas,
e sussurros seus ouvia.
Foi difícil entendê-las!...
Novo dia em cantoria.
17
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
18
O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave o ninho envelopa
para abrigar seus amores.
19
Pode entrar. A casa é sua,
sempre me traz alegria.
Ao sair, esta é a rua...
se puder, volte. Bom dia!
20
Por que não curtir saudade,
que é parte do nosso ser?
– Saudade não tem idade,
fica em nosso entardecer.
21
Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
22
Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
23
Quisera ter coisas novas
escritas, mas tudo em vão.
Só encontrei algumas trovas
no escrínio do coração.
24
Quisera ter tantas vidas
pra levar a Paz e o Bem.
Lancei sementes nas lidas...
agradeço a Deus. Amém!
25
Receba, de coração,
o que posso repartir:
à mesa, um pouco de pão,
e a alegria de sorrir.
26
Rústico curral bovino,
maternidade do Amor.
– No corpo de um Deus-Menino,
nasceu-nos o Salvador.
27
Sai o hábil semeador
e lança a boa semente.
Chamado pelo Senhor,
planta-a na alma da gente.
28
Senhor, neste amanhecer,
louvo a tua criação:
da aurora ao entardecer,
eu te encontro em meu irmão.
29
Sigo minha trajetória
pelos caminhos, cantando.
No coração, trago a história
desde que O segui, sonhando.
30
Traz-me a árvore lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meus sonhos desde a aurora.
31
Tudo o que é criado passa,
porque tudo é contingente.
Deus sempre, com sua graça,
renova a vida da gente.
32
Uma prece eleve a Deus,
com fé peça hoje a cura
para alguém junto dos seus
e cure essa criatura.
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Cônego Benedito Vieira Telles nasceu no Distrito de Campo Místico, hoje, cidade e comarca de Bueno Brandão/ MG, em 1928. Filho de pais católicos praticantes, Luiz Vieira Telles e Maria da Conceição Telles. Eram doze irmãos. Aos domingos, íam à Missa na Matriz de São Bom Jesus da Pedra Fria, igreja em que foi batizado, crismado, fez Primeira Comunhão. Nesta matriz rezou a Primeira Missa solene, em 1960, em Ação de Graças pelo chamado ao sacerdócio.
 
Em 1945, entrou no Seminário dos padres da Congregação Salesiana, em Lorena – SP. Concluídos os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior São José, Rio de Janeiro – DF, foi ordenado sacerdote por dom Jaime Luiz Coelho, em 1960, na primeira catedral de madeira, cujo bispo de Maringá ordenava-lhe o primeiro padre da diocese.

Foi nomeado vigário coadjutor da catedral, Secretário do Bispado, Chanceler da Cúria Diocesana. Implantou pastorais na catedral: catequese paroquial e nas escolas, Obras das Vocações Sacerdotais, cujas vocações floriram. Ia mensalmente às capelas dos distritos de Maringá, zonas rurais, para dar-lhes assistência espiritual. Fundou o Movimento Familiar Cristão e outros. Foi nomeado Cura da Catedral de Maringá. Pároco por quase nove anos. Foi transferido para a paróquia de Inajá. Depois, pároco em Guairaçá, Atalaia, comunidades desta arquidiocese. Exerceu o magistério de Direito na Universidade Estadual de Maringá até a aposentadoria e Unicesumar.

Colaborou na Folha do Norte do Paraná, imprensa diocesana e outras obras, que constam em Livros Tombos das paroquiais que administrou.


Fontes:
Trovas obtidas nos Boletins de Trovas "Trovia", de A. A. de Assis.
Biografia adaptada obtida da Arquidiocese de Maringá, em 2016.
http://arquidiocesedemaringa.org.br/noticias/695/60-anos-da-arquidiocese-de-maringa-conheca-a-historia-do-conego-benedito-vieira-telles

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Professor Garcia (Jardim de Trovas) - 1 -

 

Amor! Quem no amor se esmera
faz da existência sofrida,
um riso de primavera
e esquece as mágoas da vida!
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Ante os seus atos incertos,
Pilatos, viu ante a cruz...
Jesus, de braços abertos,
enchendo o mundo de luz!
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Ao longe, escuto o cicio
de um canto triste e plangente;
é a voz cansada de um rio
chorando as dores que sente!
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A saudade se resume
no sisudo ritual,
desse silêncio sem lume
da solidão outonal!
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De volta à igrejinha antiga,
vi minha infância tão bela...
Cantando a ancestral cantiga
no altar da mesma capela!
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Dou meu conselho ao mais velho
num breve e simples resumo:
Segue a estrela do evangelho
que a luz da treva é sem rumo!
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Enquanto a lua se arruma
abre a janela e se alteia...
A onda escreve de espuma
hieróglifos na areia!
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Eu começo a perceber
que a saudade se completa,
nas horas do entardecer
do coração de um poeta!
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Eu guardo os sons e os afetos,
com os quais, mamãe me embalava;
e hoje, eu embalo os meus netos
com as canções que ela cantava!
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Mãe! O amor com que me aqueces,
e acende a luz que me guia,
se eu fosse pagá-lo em preces
seriam cem mil por dia!
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Mãe - três letrinhas, só três,
e em qualquer outro alfabeto,
gênio nenhum, nunca fez
palavra com tanto afeto!
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Meus versos, entre os aflitos,
se escondem da lua cheia;
porque versos mais bonitos
a espuma escreve na areia!
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Na infância, a gente nem sente,
quanto o tempo nos desgasta;
mas como desgasta a gente,
depois que a infância se afasta!
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Na infância, essa tez bonita!
Na velhice, não há fuga;
nem se escondendo, se evita
a mão da primeira ruga!
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Não precisa pressa alguma,
para a vida mais ditosa;
o sol, sem pressa nenhuma,
pinta a tarde cor de rosa!
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Num ranchinho abandonado,
no insensível desengano,
vive um sonho do passado
na bonequinha de pano!
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O rio, arrastando o entulho,
sem reclamar do que sente,
mostra a violência do orgulho
que entulha o peito da gente!
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Ó, sonho de amor de outrora,
te procuro tanto em vão,
que nem sei mais por quem chora
esse velho coração!
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Parte a jangada!... E, ante a bruma,
entrega os sonhos plebeus,
aos braços do mar de espuma
e aos remos das mãos de Deus!
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Por mais que não me respondas,
te pergunto, ó velho mar:
– Se não pões almas nas ondas,
quem faz a onda chorar?
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Prendi meus olhos, naqueles
olhos verdes, tão risonhos;
nem pensei que o riso deles
fosse a prisão dos meus sonhos!
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Quando a jangada se lança
aos sopros dos vendavais,
enfrenta o mar, na esperança,
de sempre voltar ao cais!
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Quem luta e crê não se cansa,
por mais que a vida se oponha;
que a crença, é a própria esperança
da paciência de quem sonha!
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Se a velhice nos impede
dos sonhos da mocidade...
Essa distância se mede
pelos passos da saudade!
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Sinto em velhas madrugadas,
que entre nós dois sempre a sós,
conversamos de mãos dadas
e há solidão entre nós!
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Só depois que o sol desmaia,
deixando o céu mais aflito,
a orquestra da tarde ensaia
seus arranjos no infinito!
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Tempo, por que me envelheces,..
Não vês que a melancolia
é a mais sofrida das preces
que se reza ao fim do dia?!...
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Velhos sonhos andarilhos!...
Hoje, cercados de afetos...
Vivem presos aos meus filhos
e aos carinhos de meus netos!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Luiz Damo (As Faces da Trova) - 2 -


A flor, quando desabrocha,
quase deixa de ser flor,
pra se transformar em tocha
aspergindo aroma e cor.
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A morte exige passagem
para à vida subtrair
o colorido da imagem
e a esperança do porvir.
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A vida pede socorro
nas estradas da existência,
contra a falta de decoro
e excesso de prepotência.
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De volta para o passado
movido pela saudade,
vemos o homem, apressado,
perder sua identidade.
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Dos bons momentos vividos
raramente alguém esquece,
dos maus e dos mais doídos
qualquer alma se entristece.
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Entre o anil do firmamento,
aonde o sol, fulgente, impera,
da nudez do chão cinzento
brota a vida e prolifera.
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Frente à tumba do passado
prostrado chora o descrente,
por ver sendo sepultado
um pouco do seu presente.
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Hoje, o ser humano investe,
na aparência, com excesso,
como se o que come e veste
fossem fontes de sucesso.
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Não permita que a vaidade
se sobreponha à virtude,
ambas crescem com a idade
mas conflitam amiúde.
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Não te iludas com as flores
que encontrares nos caminhos,
por trás das vistosas cores
podem esconder espinhos.
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Na vida tens dois caminhos,
num deles deves optar
e o que tem menos espinhos
escolhe pra caminhar.
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No altar onde há tradição,
cultivá-la, pode ser,
muito mais que obrigação
um santo e nobre dever.
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Numa taça de água fria
não deprecia quem dá,
mas refresca de alegria
alguém que com sede está.
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Nunca faças de um fracasso
do sucesso, a sepultura,
porque o teu próximo passo
pode ser o da ventura.
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O presente nos revela,
uma vida, igual façanha,
mais a imagem que foi dela
e aquela da sua entranha.
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O presente planejado
não se assusta do futuro,
povo que não tem passado
imerge em porvir escuro.
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Ouvindo o choro do vento
minha alma se contorcia,
não via, mas seu lamento,
era igual ao que eu sentia.
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Pelas frinchas da janela
aonde refulge a manhã,
a estrela numa olhadela
entra em forma de espiã.
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Pode haver alguém que diga
com toda a sinceridade,
na maldade, quem se liga,
não terá a felicidade.
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Que jamais o ser humano,
venha um dia ser lesado,
por vingança ou por engano
muito menos desprezado.
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Que tem vida após a morte,
diz a fé, ela existe, sim!
Quem na vida tem um norte
não deve temer o fim.
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Se a pedra o caminho veda
e até lhe faz sucumbir,
por que não fazer da queda
um degrau para subir?
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Se à regra tens a exceção
e adotá-la, até te alegra,
não faças dela uma ação,
nem da exceção tua regra.
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Sempre, à noite, quando deito,
sonho em poder despertar,
com o arquétipo refeito
no entusiasmo de lutar.
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Sempre que nuvens espessas
sob o firmamento abundam,
fazem jorrar às avessas
águas que as terras fecundam,
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Se nos jardins se acastelam
flores que exalam perfumes,
juntas brindam, mas revelam,
nos espinhos, seus ciúmes.
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Sonhamos que o bem retorne
a nós sempre que o perdemos,
colhemos frutos, conforme,
as plantações que fizemos.
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Tem muita gente que faz
de um simples ventilador
um tornado forte e audaz
com poder destruidor...
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Tudo na vida são fases
com diferentes matizes,
algumas mais eficazes
e outras bem menos felizes.
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Tudo passa nesta vida,
se não fosse, perde a graça!
Quando a paz lhe for tolhida,
cresce a dor que nunca passa.

Fonte:
Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Luiz Damo (As Faces da Trova) - 1 -

A amizade é joia rara,
nem sempre tem sido assim,
para quem nunca zelara
só resta chorar seu fim.
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À força que o vento tem
tudo agita, treme ou cai.
Ninguém sabe donde vem
tampouco para aonde vai.
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Antigamente, à partilha,
mais valor era agregado,
o amor que unia a família
hoje, está quase apagado.
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À paz, caminhas sorrindo,
sempre buscando a igualdade,
enquanto vais, Deus vem vindo,
pra abraçar a humanidade.
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Basta uma oportunidade
para o talento aflorar,
misto de audácia e vontade
faz o sonhador vibrar.
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Cada passo dado à frente
não tenha dois pra voltar,
melhor andar lentamente
que correr e não chegar.
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Com a noite não se iluda,
se nela a luz não permeia,
à noite a lua não muda
a não ser, de nova à cheia.
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Desce a noite e cobre a tarde
espalhando a nostalgia,
igual a um braseiro que arde
na última brasa do dia.
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Deus mantenha sempre unido
todo o grupo familiar,
filhos, esposa e marido,
num aconchegante lar.
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Do silêncio mais profundo
que alguém deseja provar,
seja o silencioso mundo
do seu ser a questionar.
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Dos projetos mais serenos
que acalentas em teu ser,
sejam grandes ou pequenos
são frutos do teu viver.
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Em constantes mutações
o mundo, hoje, se apresenta,
fruto das "revoluções",
ou das pedras que ele enfrenta.
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Frente à flor despetalada
o beija-flor nem lastima,
Diz: – Volto noutra florada,
pra buscar matéria prima.
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Lá, na torre, o sino toca,
pra oração da Ave Maria,
frente à noite nos coloca
no final de mais um dia.
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Mesmo que a morte cessasse
de o medo, no homem crescer,
fá-lo advir desde que nasce,
se estendendo até morrer.
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Não basta olhar-se de frente
movidos pela emoção,
olhe o casal, firmemente,
sempre à mesma direção.
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Não deixe as trevas crescerem
em tamanho e intensidade,
tampouco, a vida envolverem,
no lençol da obscuridade.
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No tilintar do badalo
o estrondo quase estremece,
cresce à medida que o estalo
retumba e depois fenece.
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Num campo todo florido
vejo mais que o seu fulgor,
sinto o mundo renascido
e um futuro promissor.
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Nunca falte o pão na mesa
nem a vontade de obtê-lo,
tendo a fonte à natureza
quem o obtém possa comê-lo.
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Nunca seja acomodado.
nem desafie o perigo,
pois, caminhando ao seu lado,
pode estar um inimigo.
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O elevador sobe e desce
sem a menor distinção.
Pede que ele te obedece
sem reclamar da missão.
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O filho nunca envelhece
face os seus diletos pais,
sempre um bebê lhes parece,
quando envelhece, jamais.
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Os mais sublimes valores
sempre deves cultivar,
para não colher horrores
nas lavouras do teu lar.
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O sol, com seus raios fartos,
brilhando de dia, atua,
o homem pra dormir, tem quartos,
diferentes dos da lua.
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Quem não come o que apetece
come mal ou passa fome,
não comendo o ser padece
e o corpo assim se consome.
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Saudade, fruta colhida,
nos pomares do passado,
seu sabor, espelha a vida,
refletida ao nosso lado.
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Saudade, se torna o fruto,
quase nunca adocicado,
guardado em estado bruto
no celeiro do passado.
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Se a dor se tornar aguda
difícil de suportar,
peça a Deus a Sua ajuda
para o dilema enfrentar.
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Teimosia e intransigência,
o embrião da petulância,
semelhantes pela essência,
berço eterno da arrogância.
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Verdes lençóis estendidos
na forma de parreirais,
fonte de vinhos, servidos,
em nobres cerimoniais.

Fonte:
Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

domingo, 11 de julho de 2021

Argentina de Mello e Silva (Canteiro de Trovas) 1


Amor! RelÍquia tão rara,
ao relógio se aparenta:
com pouca corda ele para,
com muita corda... arrebenta!
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Aprende, amigo, a fingir
com quem não te sabe amar.
Não faças ninguém sorrir
com a dor que te faz chorar.
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Democrata ou social
— qualquer um que os povos tomem,
sempre o regime ideal
é o valor real do homem!
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É mais pobre do que o pobre
que disso tem sentimento,
o rico quando "descobre",
que o é por merecimento.
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Eu me sinto alienada
dos bens que a vida contém.
O tudo no mundo é nada,
e o nada é tudo também!
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Folha que segue a torrente
à sorte desconhecida.. .
É assim a vida da gente
e há tanto orgulho na vida!
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Há muita verdade omissa
na justiça que anda aí.
Em nome dessa justiça
quanta injustiça eu já vi!
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Hoje que o mundo é um deserto
de moral, de paz, de fé...
a gente procura o certo
mas já nem sabe o que é!
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Liberdade ! Os que propalam
o teu valor que constrói,
são os mesmos que se calam
quando a força te destrói.
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Mais ostentas teu orgulho
mais de ti eu tenho dó.
És como um dourado embrulho
por dentro cheio de pó.
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Menina feia, chorosa,
alegra teu coração.
Nem sempre a mais linda rosa
foi o mais lindo botão.
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Na hecatombe da montanha
tem o mundo o seu retrato;
tanto grito, tanta sanha,
"e a montanha expele um rato".
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Não esqueça um só segundo
de honrar a vida que tem.
Só o viver neste mundo
não enaltece ninguém!
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Neste mundo quem quiser
ter amor — precisa amar!
Mas o amor como Deus quer,
quem, no mundo, pode dar ?
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No mundo não esqueçamos
que os bens encontrados cá,
bem pouco tempo os guardamos:
a vida empresta — não dá !
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O homem — esse vagabundo
que é um gigante e um pigmeu,
busca mundos, e o seu mundo
ele jamais entendeu!
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Os males que não se espera
sorrateiros advêm.
E a gente se desespera
por outros que nunca vêm !
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Ostente com sobriedade
o muito que você tem.
Que também é caridade
não humilhar a ninguém.
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Para que o homem pudesse
sublimar sua alma nua,
foi mister que Deus lhe desse
a mesma Cruz que foi Sua !
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Para ser grande, serena,
um bom conselho segui;
fui me fazendo pequena,
quanto menor — mais cresci!
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Seja sempre enaltecida
a caridade de quem,
tendo bem pouco na vida,
divide o pouco que tem.
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Se na reta do teu mundo
qualquer nuvem te ameaça...
não recues um segundo:
para... olha... escuta e.. passa!
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Sofrimentos todos têm.
A paz nem sempre se alcança.
Mas, nunca se viu ninguém
vivendo sem esperança!
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Uma caridade há
que de vaidade se embebe.
Exalta àquele que dá,
humilha quem a recebe.

Fonte:
Argentina de Mello e Silva. Trovas dispersas. Curitiba/PR: Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1984.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...