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sábado, 7 de junho de 2025

Alvitres do Professor Renato Alves - 5 -


20.

O rio vem correndo tranquilamente... De repente, acelera, agita-se, e nos oferece o imponente espetáculo visual da queda d’água. Logo adiante, retoma a calma e continua seu curso...            

Vejam como a sensibilidade do poeta nos conta  isso através de uma linda trova!
    
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...
( A. A. de Assis)

 
21.
No poema “A  um  poeta”,  Olavo Bilac  retrata o trabalho exaustivo que é escrever. Ressalta, porém, que, pronta a obra, este trabalho não deve ser percebido pelo leitor (“...que na forma se disfarce o emprego do esforço...”).  A mesma ideia parece estar presente na trova de Adelmar: “tão fácil, depois de feita, / tão difícil de fazer...”.

Certamente é também a este esforço que se refere a expressão “dura prova” na trova de Jotagê.
 
Ao ler uma bela trova
depois que pronta ficou,
quem calcula a dura prova
por que o poeta passou?
(J. G. de Araújo Jorge)
 
22.
Diz-se que “o Perdão traz mais bem-estar espiritual a quem perdoa do que a quem é perdoado”...

O perdão  ilumina e fortalece o coração do perdoador, capacitando-o a continuar perdoando e, portanto, aprimorando-se espiritualmente, numa espécie de círculo virtuoso.  Veja como o trovador conseguiu traduzir com simplicidade esta ideia, com base nos pares: perdão/luz,  ilumina/eleva,  eleva/perdoa.
 
O perdão é luz na treva
do coração da pessoa.
Quem se ilumina se eleva
e quem se eleva, perdoa!
(Alfredo de Castro)

 
23.
Na trova humorística é mais que conhecida a preferência pela temática da “sogra”, que sofre avassaladora e sistemática gozação.  No entanto, nesta primorosa trova de Sérgio Ferreira da Silva,  a sogra levou a melhor...
 
A minha sogra me deu
um troféu e uma medalha...
e, no diploma, escreveu:
“VENCEDOR – TEMA: CANALHA”
(Sérgio Ferreira da Silva)

 
24.
Às vezes, a repetição (reiteração) pode valorizar muito uma trova. Veja como o uso deste recurso foi fundamental para a ideia central e o efeito humorístico  das trovas abaixo:
 
Ao por-lhe a esmola no prato
pergunta ao surdo, baixinho:
– És mesmo surdo de fato?
E ele: – ”Surdinho, surdinho!”
(Vasques Filho)

Nunca vi almas! – diz rindo.
E o cara na sua frente,
foi sumindo, foi sumindo,
transparente, transparente...
(José Maria M. de Araújo)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Alvitres do Professor Renato Alves - 4 -


15.
“Tu és pó e ao pó retornarás”:   Nesta belíssima trova de Alonso Rocha, uma reflexão filosófica sobre o Homem, sua importância e seu destino. Um exercício de humildade para ser sempre lembrado!
 
Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.
(Alonso Rocha)

 
16.
Às vezes, a beleza da trova está baseada  num achado que nos leva a reflexões filosóficas, às vezes,  a um sentimento lírico etc  etc. Esta trova, porém, nos remete, primeiro,  a uma imagem física de grande beleza plástica, para depois nos fazer sentir  a profundidade afetiva que encerra este gostoso abraço.   
    
Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
(Wandira Fagundes Queiroz)

 
17.        
Na pequenina trova, às vezes basta um também pequenino detalhe para valorizar o estilo e a linguagem. Vejam como o “foi não...”, construção típica do linguajar regional, no final do 2º verso, serviu para conferir autenticidade nordestina ao que é dito, embora o autor seja mineiro de Pouso Alegre.
    
Não desprezei meu Nordeste,
desprezo, eu juro, foi não...
Foi a dureza do agreste
Que me afastou do sertão!
(Alfredo de Castro)

 
18.
Às vezes fico pensando se o rigor formal exigido nos concursos e jogos florais não pode nos privar de certas joias da criatividade poética na composição da trova. Reparem na beleza desta trova de rima simples que, no entanto, jamais seria premiada em concursos nos dias atuais.
 
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem.
– Quando tu vens, ela vai...
Quando tu vais, ela vem...
(Luiz Otávio)

 
19.        
Esta trova apresenta três aspectos que merecem comentário:
1. É de rima simples;
2. Apresenta um “enjambement” entre os 1º e 2º versos, recurso condenado por muitos;
3. Tem uma linda metáfora para “esquecimento”! 
(As ondas vão apagar o nome, assim como o trovador foi “apagado”...)
    
Gravei teu nome na areia
da praia, como castigo:
– Façam-lhe as ondas o mesmo
que tu fizeste comigo!
(Corrêa Júnior)

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Alvitres do Professor Renato Alves - 3 -


10. A Trova e a  tecnologia:


Evidentemente, como em todos os gêneros, o vocabulário usado pelo trovador vai, aos poucos, refletindo a realidade da vida em cada época:
 
Teu beijo, pela internet,
vem sempre com tal calor,
que qualquer dia derrete
meu pobre computador...
A. A. de Assis

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 11. Eis o roteiro perfeito para se chegar ao coração da trovadora:
    
 Se a distância, por maldade,
tua presença me furta,
pelo atalho da saudade
torno a distância mais curta!
Maria Nascimento

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12. Já viu uma trova construída só com substantivos?
Pois veja esta de Domingos Freire Cardoso, de Ílhavo (Portugal),vencedora no IV Concurso Literário Cidade de Maringá – Tema: ROÇA
 
Roça: mata, fogo, chão,
força, braço, homem, dor;
Plantas, flores, frutos, pão,
terra, vida, infância, amor!!!…
Domingos Freire Cardoso

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13. Eis um belo exemplo de rima rica nos 1º e 3º versos  onde  se usaram  palavras de formas  iguais,  mas  de  sentido  e classes  diferentes (substantivo e verbo)                       
    
 Se abusas das tuas saias,
dos decotes, dos perfumes,
não posso impedir que saias,
mas eu morro de ciúmes!
Elisabeth Cruz

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14. Trova com suíte:

Durante algum tempo fizemos na UBT-Rio um concurso chamado "Uma trova pra responder" que consistia em construir uma trova-resposta para uma  pergunta formulada em outra  trova. Já o site  “falando de trova” lançou, certa vez, um desafio semelhante: construir uma suite (continuação) para uma trova apresentada, do que resultou o seguinte:
 
Trova original

Que pena: o sol – ato falho –
ao lhe ofertar seu calor,
matou a gota de orvalho
que brincava sobre a flor!...

    
Suite
 
Porém, antes de matá-la
com seu fulgor deslumbrante,
houve por bem transformá-la,
com sua luz, em diamante!         
Renato Alves

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Alvitres do Professor Renato Alves - 2 -


7. Trova é cultura:

Por mais simples que seja, a trova, às vezes, contém imagens que exigem um conhecimento específico para serem apreciadas plenamente. Por ex: O diamante é o estágio mineral mais puro do carbono, um elemento químico que forma milhares de compostos. É muito  brilhante, mas, um dia,  já  foi um negro carvão...
 
Se o erro ficou distante
seja pleno o teu perdão
Não se cobra ao diamante
seu passado de carvão!
(Pedro Ornellas)


8. Na poesia simbolista (escola literária do final do séc.XIX, tendo, no Brasil, como seu maior representante, o poeta Cruz e Sousa) uma das características é a  "sugestão": o poeta não exprime diretamente o que sente, mas sugere, insinua, apela para os sentidos. Prefere criar um clima sugestivo, de formas vagas, em vez de dizer diretamente.

Às vezes,  percebo por  trás da beleza de algumas trovas, este mesmo efeito do Simbolismo, uma certa atmosfera de insinuação...
    
Este teu corpo de miss
me deixa o coração tenso...
Imagina se eu te visse
daquele jeito que eu penso!
(Clarindo Batista/RN)
 
De meu pai, em mim gravada,
guardo a imagem, rotineira,
de uma camisa suada
sobre as costas da cadeira...
(Edmar Japiassú Maia/RJ)

 
9. Coincidência na Trova:

Conforme nos alertou Luiz Otávio em "Meus irmãos os Trovadores":
 
"Nas trovas, como em todos os gêneros, podemos encontrar identidade de inspiração, semelhança de ideias, igualdades nas estruturas. Geralmente sem maldade... Assim, aconselho aos poetas que lerem alguma trova muito idêntica a uma sua, que não atirem a primeira pedra... Muitas vezes, a que você está lendo e julga ter sido plagiada da sua,  foi feita e publicada muitos anos antes."
 
Para ilustrar os comentários do mestre, cito abaixo 5 trovas iguais na temática (dupla visão do bêbado) e estruturas semelhantes. Da minha parte, posso garantir que nunca tinha lido qualquer uma das outras três.
 
Que genrinho inteligente!
Bebeu uma vez na vida,
viu duas sogras na frente,
nunca mais topou bebida!
(Élton Carvalho)
 
De fogo, o goleiro Armando,
enfurecendo a galera,
viu duas bolas entrando,
e pulou na que não era!
 (Pedro Ornellas)
 
Chegou tarde, vista torta,
do boteco o Zé Morais,
viu duas sogras na porta
e não bebeu nunca mais!
(Pedro Ornellas)

O pileque faz das suas!
Pra mim, porre nunca mais!
– Minha sogra virou duas...
castigo assim é demais!
(Josué de Vargas Ferreira)

Tomou "todas" – Que exagero!
Ficou com dupla visão...
Foi pra casa e... Oh! desespero!
Duas sogras no portão!
(Renato Alves)

 
Observem, agora, a semelhança de temas nos versos muito conhecidos em "Chão de Estrelas" na trova abaixo:
 
"A porta do barraco era sem trinco,
e a lua furando nosso zinco
salpicava de estrelas nosso chão..."
(Orestes Barbosa)

Dos pingos que a lua espalha
ficava o chão pontilhado...
É que meu rancho de palha
tinha furos no telhado
(Pedro Ornellas)

terça-feira, 3 de junho de 2025

José Feldman (Trovas em Preto & Branco:) Luiz Poeta*

 análise das trovas de Luiz Poeta por José Feldman


As trovas de Luiz Poeta expressam uma profunda reflexão sobre a vida, a espiritualidade, a solidão e as relações humanas. Cada uma delas traz temas universais imbuídas da experiência humana e podem ser comparados a obras de outros poetas, revelando tanto semelhanças quanto diferenças em estilo e abordagem. A escolha lexical nas trovas desempenha um papel crucial na criação de metáforas que evocam emoções e experiências profundas. Ao selecionar palavras específicas, ele não apenas constrói imagens intensas, mas também infunde suas metáforas com significados adicionais.

Trova 1: A Graça de Deus

"A graça de Deus é vasta,  
Deus sempre me abençoou  
e enquanto a vida se arrasta,  
agradeço por quem sou."

Nesta trova, Luiz Poeta expressa gratidão pela graça divina e pelas bênçãos recebidas. A metáfora da "graça" sugere um espaço ilimitado e generoso, implicando que a presença divina é abundante e sempre disponível. Essa concepção de Deus como uma força benevolente reflete um sentimento de gratidão e conexão espiritual. 

A palavra "graça" carrega uma conotação de benevolência e generosidade, enquanto "vasta" sugere infinitude. Essa escolha lexical torna a metáfora poderosa, evocando uma sensação de acolhimento e proteção divina. A combinação das palavras cria um sentimento de gratidão.

A ideia de reconhecer a presença de Deus na vida cotidiana é um tema recorrente na poesia de “Cecília Meireles”, que também fala sobre a espiritualidade e a conexão com o divino. Poetas americanos como “Walt Whitman" exploram temas de gratidão e autoconhecimento, refletindo sobre a relação do eu lírico com a vida e o universo. A busca por significados e a relação com o sagrado são comuns em muitas tradições poéticas, incluindo a obra de "Pablo Neruda", que frequentemente aborda a espiritualidade de forma intensa e pessoal.

Trova 2: A Solidão

"A solidão é assim:  
metade de um falso inteiro,  
início de um falso fim  
que nunca foi verdadeiro."

A solidão é apresentada como uma contradição, uma experiência complexa que pode ser tanto um início quanto um fim. Aqui, a solidão é comparada a um "falso inteiro", o que sugere que ela é uma experiência incompleta e enganadora. Essa metáfora revela a dualidade da solidão, que pode parecer plena, mas na verdade é fragmentada e insatisfatória. 

A escolha de "metade" e "falso" sugere incompletude e desilusão. Essas palavras intensificam a metáfora, transmitindo a ideia de que a solidão é uma experiência ilusória, um estado de falta que não é verdadeiro. O uso de termos que contrastam entre si ajuda a reforçar a complexidade da solidão.

Essa abordagem se assemelha à obra de "Fernando Pessoa", que frequentemente explora a solidão e a fragmentação do eu. A solidão como uma condição humana também é tema de poetas ingleses como "John Keats", que reflete sobre a melancolia e a busca pela conexão. A dualidade da solidão é um tema universal encontrado na poesia latino-americana, como em "Gabriela Mistral", onde a solidão é muitas vezes associada ao amor e à perda.

Trova 3: Portas Fechadas e Abertas

"Com tanta porta fechada,  
Deus nos mostra a porta aberta.  
Quem entra na porta errada,  
erra mais do que acerta."

Aqui, Luiz Poeta usa a metáfora das portas para simbolizar as oportunidades na vida. As portas simbolizam oportunidades e escolhas na vida. A metáfora sugere que, apesar das dificuldades e obstáculos, sempre há uma nova possibilidade. Essa imagem é poderosa porque ilustra a esperança mesmo em momentos de desespero. 

A simplicidade das palavras "porta" e "aberta" facilita a compreensão da metáfora, mas também a torna mais impactante. A ideia de portas representa escolhas e oportunidades, e o contraste entre "fechada" e "aberta" evoca uma esperança renovada diante das dificuldades.

A ideia de que, mesmo diante de dificuldades, há sempre uma nova chance é semelhante à filosofia encontrada na obra de "Mário Quintana", que fala sobre o otimismo e a esperança. Poetas americanos como "Emily Dickinson" também abordam a ideia de escolha e oportunidades, refletindo sobre como as decisões moldam nossas vidas. A metáfora de portas é comum na poesia de "Neruda", que frequentemente fala sobre caminhos e escolhas.

Trova 4: Linhas do Amor

"Das tuas mãos, li as linhas,  
mas como sou mau leitor,  
não percebi que eram minhas,  
as linhas do teu amor."

Nesta trova, a ideia de leitura se torna uma metáfora para a compreensão das relações amorosas. As "linhas" representam os sentimentos e os destinos que se entrelaçam nas relações amorosas. Essa metáfora sugere que as histórias de amor são escritas e lidas, enfatizando a conexão profunda entre as pessoas. 

A palavra "linhas" é evocativa, sugerindo não apenas a escrita, mas também o traçado de um destino. Ao associar "linhas" com "mãos", a metáfora se torna íntima, oferecendo uma sensação de conexão pessoal. A expressão "mau leitor" sugere uma falta de percepção, intensificando a confusão emocional.

A dificuldade em perceber o amor do outro pode ser comparada à obra de "Adélia Prado", que explora as nuances do amor e das relações humanas. A confusão sobre os sentimentos também é um tema abordado por poetas como "Sylvia Plath", que frequentemente fala sobre a complexidade e as ambivalências do amor. A ideia de "linhas" como uma representação do amor é uma imagem poética que está personificada na obra de "William Blake", que também utiliza metáforas visuais para expressar emoções.

Trova 5: A Educação e o Amor

"Fiel ao que a mestra ensina  
com tanto amor e ternura,  
orgulhosa, a pequenina  
sorri ao fim da leitura."

A relação entre educação e amor é celebrada nesta trova. A palavra "fiel" sugere lealdade e dedicação. Essa escolha implica que a relação entre a mestra e a aluna é baseada na confiança e no respeito mútuo. A fidelidade ao ensino indica um compromisso profundo com o aprendizado, destacando a importância da figura da mestra na formação da criança. As expressões "amor" e "ternura" são fundamentais para a metáfora, pois criam uma imagem de um ambiente educacional caloroso e acolhedor. Essas palavras evocam um sentimento de segurança e carinho, que é crucial para o desenvolvimento emocional da criança. A combinação dessas palavras sugere que o aprendizado é uma experiência afetiva, não apenas intelectual. A escolha de "pequenina" ao invés de "menina" confere uma conotação de fragilidade e inocência. Essa palavra cria uma imagem de vulnerabilidade, enfatizando a proteção que a mestra oferece. Refere-se à fase de formação da criança, onde cada passo é significativo.

A imagem da "pequenina" que aprende e sorri ecoa a obra de "Monteiro Lobato", que valoriza a educação como um meio de crescimento e desenvolvimento. A abordagem carinhosa da aprendizagem também pode ser comparada à obra de "Walt Whitman", que fala sobre a importância da educação e do amor no processo de formação do indivíduo. A conexão entre o aprendizado e a alegria é um tema comum na literatura, refletindo a importância do conhecimento como forma de amor.

Trova 6: Poder do Amor

"Há poder na onda do mar;  
há poder no Sol ardente,  
mas há mais poder no olhar  
de quem ama ardentemente."

Nesta trova, o poder do amor é exaltado, superando até mesmo forças da natureza. O "olhar" é uma metáfora para a conexão emocional e o amor profundo. Sugere que a capacidade de amar é uma força poderosa, mais impactante do que qualquer elemento natural, destacando a intensidade das emoções humanas. 

A escolha de "poder" e "ardentemente" infunde a metáfora com uma sensação de intensidade e força. "Onda" evoca a natureza, enquanto "olhar" sugere uma conexão emocional profunda. Essa combinação de palavras cria uma imagem poderosa da força do amor em contraste com a força da natureza.

Essa ideia assemelha-se com a poesia de "Vinícius de Moraes", que frequentemente celebra a força do amor em suas muitas formas. A comparação com elementos naturais é um recurso comum na poesia de "Pablo Neruda", que também reconhece o poder transformador do amor. A intensidade do olhar como símbolo de amor é uma imagem poderosa que pode ser encontrada na obra de "Rainer Maria Rilke", que explora a profundidade das emoções humanas.

Trova 7: Aprendizado pela Dor

"Quem nunca tomou porrada,  
não sabe nada da vida;  
faz da avenida, a calçada  
e da calçada, avenida."

Aqui, Luiz Poeta reflete sobre a importância da experiência e do sofrimento como parte do aprendizado da vida. A "porrada" é uma metáfora para as dificuldades e desafios que enfrentamos. Essa expressão sugere que o sofrimento é essencial para o aprendizado e a maturidade, refletindo a ideia de que a vida é uma série de lições. 

A palavra "porrada" é forte e coloquial, transmitindo a brutalidade das experiências de vida. As comparações com "avenida" e "calçada" estabelecem um contraste entre caminhos e escolhas, reforçando a ideia de que a dor é uma parte fundamental do aprendizado.

Essa ideia é similar à obra de "Drummond", que explora a dor e a experiência como fundamentais para a compreensão da existência. A noção de que a dor ensina é um tema comum na poesia de "Langston Hughes", que fala sobre as lutas e os desafios da vida. A metáfora das "portas" e "caminhos" é recorrente, mostrando como as experiências moldam a percepção da vida.

Trova 8: Fantasias e Desejos

"Roubei tuas fantasias,  
mas tu ficaste com as minhas;  
guardaste mais que podias  
e eu quis bem mais do que tinhas."

Nesta trova, a troca de fantasias entre amantes é explorada, mostrando como os desejos e sonhos podem ser compartilhados e, ao mesmo tempo, se tornam fontes de conflito. As "fantasias" simbolizam os sonhos e aspirações pessoais. Essa metáfora expressa a troca emocional entre duas pessoas, mostrando como as relações podem envolver um compartilhamento profundo de desejos e esperanças. 

"Roubei" sugere uma ação ativa e quase íntima, enquanto "fantasias" evoca sonhos e desejos. Essa escolha de palavras cria uma tensão emocional, refletindo a complexidade das trocas nas relações. A palavra "guardaste" implica cuidado, intensificando a conexão entre os amantes.

Essa ideia de troca e possessão é semelhante à poesia de "E. E. Cummings", que frequentemente explora as complexidades das relações amorosas. A tensão entre o que se deseja e o que se possui também aparece na obra de "Gabriela Mistral", que fala sobre amor e anseios não correspondidos.

Trova 9: Achismos e Descobertas

"Tanto achismo e tanto achado,  
tanto eu acho e... "desachei",  
que olhando o lado errado,  
eu percebo que acertei."

Nesta reflexão sobre a incerteza e a descoberta, Luiz Poeta aborda a complexidade da busca pelo sentido. A metáfora do "desachei" sugere a ideia de que, ao tentar entender a vida, muitas vezes encontramos respostas inesperadas. Essa expressão é um jogo de palavras que reflete a incerteza e a complexidade da busca pelo conhecimento. 

O uso de "achismo" e "desachei" confere um tom informal, que torna a reflexão mais acessível. Essas palavras criam uma sensação de incerteza e humor, refletindo a complexidade da busca por respostas na vida.

Essa ideia de que o erro pode levar a acertos é uma abordagem que ressoa com a obra de "Fernando Pessoa", que explora a ambiguidade da experiência humana. A filosofia da incerteza também é encontrada na obra de poetas americanos como "Robert Frost", que frequentemente fala sobre as decisões e seus resultados imprevisíveis.

Trova 10: Novo Dia e Graça

"Temos sempre um novo dia  
a cada dor que não passa...  
se a vida nos desafia,  
Deus concede nova graça."

A última trova traz uma mensagem de esperança e renovação. A "dor" é uma metáfora para as dificuldades da vida, enquanto o "novo dia" simboliza a esperança e a renovação. Essa metáfora sugere que, mesmo diante do sofrimento, sempre há uma oportunidade para recomeçar e encontrar paz. 

A expressão "novo dia" sugere renovação e esperança, enquanto "dor" é uma palavra que carrega peso emocional. A escolha lexical aqui estabelece um contraste entre o sofrimento e a possibilidade de renascimento, reforçando a ideia de que sempre há uma nova oportunidade para recomeçar. 

A ideia de que cada novo dia é uma oportunidade de renovação é um tema comum na poesia de "Cecília Meireles", que frequentemente fala sobre a beleza do recomeço. A relação entre dor e graça também é abordada na obra de "Neruda", que reflete sobre a luta e o consolo divino. A esperança frente aos desafios da vida é uma constante em muitas tradições poéticas, refletindo a busca universal por significado e luz.

Considerações Finais

As trovas de Luiz Poeta são um testemunho da riqueza e da profundidade da experiência humana, utilizando metáforas para intensificar o significado dos versos e convidar à reflexão. A escolha cuidadosa de palavras e a construção de imagens poéticas revelam uma sensibilidade que conecta o eu lírico a temas universais como amor, solidão, aprendizado e espiritualidade.

Várias influências podem ser cruciais para a composição das trovas de Luiz Poeta. A tradição da poesia brasileira, que inclui nomes como Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, pode ter moldado sua abordagem lírica, enfatizando a relação entre emoções e a natureza. A poesia romântica e moderna, tanto no Brasil quanto em outras culturas, traz à tona a busca por autenticidade e a exploração de sentimentos profundos. Além disso, as influências da música popular brasileira, com sua rica tradição de letras poéticas, podem ter contribuído para a formação de suas trovas.

As metáforas nas trovas são fundamentais para dar maior conteúdo e discernimento aos versos. Elas funcionam não apenas como recursos estilísticos, mas também como ferramentas de comunicação que permitem ao leitor perceber a complexidade das emoções e experiências. Por exemplo, a metáfora da "solidão" como um "falso inteiro" sugere que o eu lírico está consciente das ilusões que a solidão pode criar, promovendo uma reflexão mais profunda sobre a condição humana. Além disso, o uso de metáforas relacionadas à natureza, como "a onda do mar" ou "a luz do olhar", conecta as emoções humanas a elementos do mundo natural, criando uma harmonia entre o interior e o exterior. Essas imagens evocativas não apenas enriquecem a estética dos versos, mas também aprofundam a compreensão do leitor sobre as nuances das experiências descritas.

Em suma, as trovas de Luiz Poeta são um reflexo da intersecção entre a tradição poética e a experiência pessoal. Através do uso habilidoso de metáforas e uma escolha lexical cuidadosa, ele cria uma linguagem que é ao mesmo tempo acessível e profunda. Essa combinação permite que suas trovas repercutem com o leitor, convidando-o a explorar suas próprias emoções e reflexões. Assim, Luiz Poeta não apenas narra histórias, mas também oferece um espaço para que cada um de nós possa encontrar significado e beleza nas complexidades da vida.
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* LUIZ GILBERTO DE BARROS, registrado na Sociedade Brasileira de autores, compositores e escritores de música – SBACEM – como LUIZ POETA, nasceu em 1950, em Bangu, no Rio de Janeiro. Escritor, Poeta, Contista, Cronista, Ensaísta, Trovador, Aldravianista, Sonetista, Músico, Compositor, Produtor Musical, Artista Plástico, Gestor Educacional e Docente Aposentado  de Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa. Paralelamente às atividades profissionais, destaca-se também no meio artístico como produtor fonográfico, violonista, guitarrista, compositor, poeta e artista plástico. É Verbete do Dicionário de Música Popular Brasileira Antônio Houaiss e detentor de  relevantes títulos acadêmicos. Fundador de diversas entidades culturais Nacionais e internacionais. Autor premiadíssimo em inúmeros concursos no Brasil e no Exterior. Foi Presidente da Academia Pan-Americana de Letras e Artes; do Centro Cultural Leopoldina de Souza Marques, da Faculdade Souza Marques, e Diretor Presidente do Jornal “ O Coruja “, de circulação universitária. Membro da Academia Luso-Brasileira de Letras, – Cerc Universal des Ambasssadeurs de la Paix, Divine Academie Française de Letters y Arts, Associação dos Acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, e outras. Dá nome, à Sala de Leitura de uma das  escolas onde lecionou (EM Evangelina Duarte Batista-RJ ) da Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro. Sua obra artística é eclética e engloba mais de 10.000 trabalhos (músicas, poesias, ensaios contos, novelas, textos dramáticos e crônicas – além de telas e trabalhos artesanais ). Tem CDs e DVDs gravados, tendo publicado mais de 100 obras publicadas entre livros-solo, antologias, CDs, DVDs, jornais e revistas.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, Alba Krishna, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul e Gralha Azul Trovadoresca. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou de sua autoria 4 ebooks.. Premiações em poesias no Brasil e exterior.
Fontes:
José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Biografia resumida, obtida na Confraria Brasileira de Letras, enviada pelo trovador.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Alvitres do Professor Renato Alves - 1 -


1. Já reparou que as pessoas dinâmicas, que estão sempre em atividade, são as que mais recebem críticas? Sempre há os "engenheiros de obras feitas" a condenar os erros do irmão que produz. Pois bem! Veja como este aspecto da conduta humana foi bem captado na trova abaixo!
    
Quem não faz, risco não corre.
Erro...engano...quem não falha?
Só pode errar quem socorre,
age, executa, trabalha!
(Maria Thereza Cavalheiro+)


 2. "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe!" – Esta sucessão de momentos bons e momentos maus, quase sempre efêmeros, que ocorrem durante toda a vida, foi flagrada de forma magistral nessa metáfora trovada de Waldir Neves, nosso saudoso irmão.
    
Ao longo da caminhada
em que a vida nos conduz,
vão-se alternando, na estrada,
luz e treva... treva e luz...
 (Waldir Neves+)

 
3. A trova, ordinariamente leve e sutil, às vezes envereda pelo terreno das trágicas paixões que assolam a alma humana. Veja como, em quatro versos apenas, é possível criar-se um clima de tragédia que mexe com a nossa sensibilidade.
    
Achado morto em seu leito,
o anão do circo da esquina
apertava contra o peito
a foto da bailarina...
(Waldir Neves+)

 
4. Observe o clima de  intimidade  e aconchego que esta trova  cria!
    
Eu me rendo, abaixo o tom,
te abraço e logo me apego...
Tranco a porta, ligo o som,
fecho a cortina e me entrego!
 (Ailto Rodrigues)

 
5. Será que todo mundo é mesmo tão rigoroso em sua auto-avaliação? Eu acho que não!... Os homens, em geral, são até generosos demais no julgamento de seus atos. Como disse Fernando Pessoa:
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo...
São todos uns príncipes... "

 
Caso, um dia, o homem consiga
a si mesmo conhecer,
eu duvido que ele diga
que teve "muito prazer".
(Miguel Russowsky+)

 
6. Sendo a língua o meio de expressão da arte literária e, por consequência, da trova, um de seus gêneros, a correção gramatical é uma preocupação constante de alguns trovadores, servindo-lhes, às vezes, até  de  tema:

Ao ler, na fábrica, o aviso
dizendo:  "VAGAS NÃO Á",
comenta alguém, num  sorriso:
– Nem para o emprego do "H"?
(Waldir  Neves+)
 
Dois ladrões, num intervalo,
foram juntos almoçar.
Um deles pediu... "roubalo"!
e o outro... "furtos do mar"!
(Edmar Japiassú Maia)
    
Sempre contando lorota,
diz que fala até chinês,
e, ao dizer-se poligrota,
assassina o português.
(Maria Nascimento)
 
"Cuidado com os degrais!"
– dizia o aviso ao freguês.
E ninguém tropeçou mais...
(A não ser no português!)
(Renato Alves)


continua...

Fonte:
http://pedromello.blogspot.com, blog desativado.

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1 Adoro a treva ao açoite do vento que não tem dono: Deus fez o escuro da noite para a carícia do sono. 2 A dor que minha alma corta de mane...