Trovadores em Ordem Alfabética

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sábado, 28 de junho de 2025

João Freire Filho (Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012)

1
Ah! Se esta brisa pudesse,
depois de tanger-me a lira,
levar-lhe, em forma de prece,
as trovas que ela me inspira!...
2
Alegava, após pilhado...
pilhando uma residência:
- A casa é de um deputado...
Concorrência é concorrência!”
3
A lua, que nos clareia,
é diferente de quem,
recebendo luz alheia,
não ilumina ninguém!
4
Ante a dor… não esmoreço,
sabendo, em meu caminhar,
que a Vida não cobra preço
que não se possa pagar
5
Às vezes, cismando eu fico
e ideias assim me ocorrem:
- "Porco gordo e sogro rico
só dão lucro quando morrem"...
6
A saudade é dependência…
É meu vício, em tal medida,
que você se fez a ausência
mais presente em minha vida!
7
As revoltas não têm fim
e explodem cada vez mais,
que a fome acende o estopim
das convulsões sociais!
8
A Terra vive conflitos,
sangrando, de guerra em guerra,
e é com voz branda… e, não, gritos…
que se há de ter Paz… na Terra!
9
A tormenta, que atordoa,
não distingue, em mar bravio,
a humildade da canoa…
da soberba do navio!…
10
A Verdade anda tão rara,
que a Mentira, sorridente,
já nem sequer se mascara
para enganar tanta gente!
11
A vida me presenteia
com tamanhas alegrias,
que a tristeza é um grão de areia
na ampulheta dos meus dias!
12
Bendita a fonte escondida…
que escorre e, por onde passa,
trazendo a graça da vida,
dá tanta vida de graça!
13
Cai na rua… Perde o tino,
no alcoolismo em que se esvai…
E, aos passantes… um menino
diz, inocente: – “É meu pai”…
14
Cantando terno estribilho
e esquecendo que era escrava,
Mãe Preta aleitava o filho
de quem os seus açoitava!…
15
Cometeu esta tolice
aquela ciumenta crônica:
que o marido despedisse
a "secretária eletrônica"!
16
Com sabor de penitência…
de brinde contra a vontade,
vou bebendo a tua ausência…
em meus porres de saudade!
17
Com seus dois metros e tal,
a solteirona assegura
não ter casado, afinal,
por falta de homem à altura!
18
CURVA FECHADA - ele leu
na placa... e, em sua tolice,
parou o carro e desceu...
para esperar que ela abrisse...
19
Da ternura ao desvario..
do desvario à ternura,
nosso amor vive no fio
da mais sublime loucura…
20
Deu fuzuê, acredite,
com a filha do Aristeu,
quando a sua “apendicite”
com quatro quilos nasceu…
21
Distante, a lua prateada,
entre nuvens de inconstância,
me lembra a mulher amada…
mais amada… se à distância!
22
Distante do olhar das ruas,
num sonho que me enternece,
em nosso céu brilham luas
que só nosso amor conhece!…
23
Dos meus tempos mais risonhos
descubro, agora, os segredos:
- cabia um mundo de sonhos
no meu mundo de brinquedos!
24
É bem mais que um pesadelo
a minha sogra ‘querida”...
Ela é um fio de cabelo
na sopa da minha vida...
25
É o desvario do mando
de alguns Senhores da Terra…
que implanta, de quando em quando,
os desvarios da guerra!
26
Eu compreendo os desvios
a que leva uma paixão…
As vezes, são desvarios
que dão à vida… razão!…
27
Eu lhe disse: “se eu passar
dos trinta, não casarei!”.
E ela: “enquanto eu não casar,
dos “trinta” não passarei...”
28
Faz-me rir certo vizinho:
a uma dona meio macha...
chamando-a "meu biscoitinho"
levou tremenda bolacha!...
29
Fim do amor… Desiludidos,
sabemos juntos, mas sós,
que há silêncios inibidos…
tentando falar por nós!
30
Hoje, em meu leito, sem ela,
enquanto resisto ao sono,
a Saudade é sentinela…
dando plantão… no abandono!
31
Imperfeito, eu rogo, aflito,
por nosso amor, que é perfeito:
- Não faças de mim um mito…
que mitos não têm defeito!
32
Liberdade — sentinela
da Paz, em qualquer lugar!
E quem não lutar por ela…
não tem mais por que lutar!
33
Lutando por ideais,
mesmo à beira da utopia,
tenho enfrentado os “jamais”
com meus “sempres” de ousadia.
34
Meu coração se acautela
e, imerso em desilusões,
faz da razão sentinela…
contra novas invasões!
35
Meus ideais mais risonhos
correm livres, sempre em frente,
numa corrente de sonhos,
que rompe qualquer corrente!
36
Na pesca, era o Chico Armando
o maior ... pescava aos feixes...
até que o pesquei... pescando
num Entreposto de Peixes...
37
Na vida, que te conduz
às mais diversas pelejas,
se não puderes ser luz,
que, ao menos, sombra não sejas!
38
Nosso amor, desde o começo,
tem tal alcance e medida,
que, quanto mais envelheço,
mais o sinto… além da vida!
39
O cafuné deles dois,
na rede, foi arretado...
E, nove meses depois,
batizou-se o resultado...
40
O meu amor te ocultei!
Seguimos rumos diversos…
Passou-se o tempo, e, hoje, eu sei:
- permaneceste em meus versos!
41
Poeta é aquele que abraça
a noite, sentindo-a sua,
e bebe estrelas na taça
inspiradora… da lua!
42
Que encrenca, junto ao jazigo,
causa o defunto... esquentado:
- “Nada de tampa comigo,
que eu vou morrer... sufocado!”...
43
Quem ama… libera o ardor
dos impulsos naturais,
que, em desvarios de amor,
loucura alguma é demais !
44
Quem tem a luz do saber,
muito mais que outro qualquer,
tem de cumprir o dever
de ser luz… onde estiver!
45
São tão poucos os esforços
para amparar a pobreza,
que eu chego a sentir remorsos...
pelo pão em minha mesa!
46
Saudade - aquela torneira
que, apesar de bem fechada,
pinga e pinga... a noite inteira,
mantendo a insônia acordada!
47
Saudoso, namoro a Lua
e sinto, por seu feitiço,
que o nosso amor continua,
embora nem saibas disso!
48
Se em casa ele manobrava,
maquinista, um "trem" de filhos,
na rua a mulher levava
a vida "fora dos trilhos"...
49
Sem você, luto, em conflito,
contra o que a sorte me fez...
a ver se desfaço o mito
de só se amar uma vez!
50
Sineiro que não se cansa,
meu Passado, sem piedade,
tange os sinos da lembrança,
para acordar a Saudade...
51
Sonhador, poeta… e amante
de quanto a vida me dá,
que importa a lua distante…
se os meus sonhos chegam lá ?!…
52
Tenho um segredo profundo
- e, é de amor… – e, tarde ou cedo,
eu gostaria que o mundo
soubesse desse segredo!
53
Teu ciúme, cortando os laços
do nosso amor, me magoa…
mas meu amor abre os braços
e, por amor, te perdoa!
54
Toda noite ela regressa
em meus sonhos erradios…
Não há distância que impeça
de eu tê-la… em meus desvarios !
55
Vai pra pesca... apetrechado...
Mas, sendo ao caniço avesso,
volta com peixe embalado,
etiquetado... e com preço!...
56
Vem do sol a luz de prata
que parte da lua encerra…
E a lua, modesta e grata,
deita pratas sobre a terra!

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)

1
Adoro a treva ao açoite
do vento que não tem dono:
Deus fez o escuro da noite
para a carícia do sono.
2
A dor que minha alma corta
de maneira aguda e infinda,
é ter-te à conta de morta
sabendo que és viva ainda.
3
Amor perfeito suponho
se houvesse seria assim:
ela dentro do meu sonho,
seu sonho dentro de mim.
4
Amor que passou – rosário
de saudade e de ilusão,
folhinha de calendário
que a gente atira no chão.
5
A trova é gemido brando,
breve cantiga inocente,
que dizemos suspirando,
pensando na amada ausente.
6
Dá de graça o que recebes
de graça se diz, em suma,
e o que te peço e me negas
não te custou coisa alguma. 
7
Da distância em que me vejo
quero ir pelos espaços
voando para o teu beijo,
fugindo para os teus braços
8
Da trova fiz o meu pão
minha cantiga inocente,
a voz do meu coração
e o sentir da minha gente.
9
De meus idílios, o fado
me traz em triste labor:
quanto mais sou desprezado
mais aumenta o meu amor.
10
De quem favores te pede
nunca procures fugir;
- só sabe a dor de quem pede
quem precisa e vai pedir.
11
Destaco a minha folhinha
quando o sol nascendo vem:
o calendário da vida
mais um dia a menos tem...
12
Deus pensou em nós. Primeiro
para esculpir nosso amor,
deu-me uma alma de troveiro
deu-te a ternura de uma flor.
13
Eu quando tiver certeza
que meu bem já não me quer,
irei matar a tristeza
nos braços de outra mulher.
14
Fui à missa e rezei muito,
depois de haver comungado,
deixei a igreja e encontrei-te:
nem Deus evita o pecado. 
15
Inda recordo, querida,
foi numa noite de lua,
te beijei e a minha vida
se misturou com a tua.
16
Inverno, a terra se veste
de flores em profusão,
somente a minha alma agreste
vive em eterno verão.
17
Meu coração, se a esperança
dentro dele se renova,
se alegra qual a criança
que veste uma roupa nova.
18
Meu coração triste e frio,
sofrendo sempre em segredo,
faz lembrar ninho vazio
na solidão do arvoredo.
19
Mulheres que estão me olhando
pensando no mesmo assunto,
são como freiras rezando
na intenção de um só defunto.
20
Na minha cova - meu leito
eterno - por caridade
ninguém plante amor perfeito,
dou preferência à saudade.
21
Não sei de maior pecado:
não sou santo e, como tal,
vi meu retrato guardado
dentro do teu manual.
22
Nem sempre a face do espelho
mostra exato as dimensões,
há quem dê o bom conselho
com segundas intenções.
23
Nosso amor, que se renova,
aumenta em tal proporção
que não cabe numa trova
nem dentro do coração.
24
No teu jardim, entre flores,
feliz estou ao teu lado
meu calendário de dores
hoje marcou feriado.
25
Nunca me chames de ingrato
porque com outra casei:
podia eu, metal barato,
dar liga a ouro de lei?
26
Parece uma coisa louca:
para aumentar meu desejo
eu vejo que tua boca
Deus fez em forma de beijo.
27
Penso em ti de olhos fechados
e o pensamento aprofundo:
ah! se estivesse ao teu lado 
para glória do meu mundo!
28
Prometo dar-te um milhão
de beijos, se me disseres
quem tem o meu coração
que perdi entre as mulheres.
29
Quando os raios prateados
do luar beijam a noite,
pede a saudade pernoite
nos corações namorados.
30
Quem tiver a alma doente
não fuja deste caminho:
recorde a mulher ausente
faça trova e tome vinho.
31
Rico de amor como eu
não há quem possa igualar,
e o muito que Deus me deu
é pouco para te dar.
32
Saudade – alívio das dores
e dentro da alma se estampa
qual um canteiro de flores
plantado sobre uma campa.
33
Sobre minha enfermidade
disse o doutor, com razão;
é o germe de uma saudade
destruindo o coração.
34
Teu olhar sereno e terno
sobre os meus olhos pousou,
qual chuva de fim de inverno
num campo que já secou!
35
Vendo-te assim tão formosa,
de porte esbelto e sereno
para intrigar uma rosa
chamei-te cravo moreno.
36 
Vi teus braços… que ventura!
teu colo… as pernas… que gosto!
Agora, tira a pintura,
que eu quero ver o teu rosto.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Humberto Del Maestro (Vitória/ES)

1
A chuva cessou há pouco, 
mas o frio continua... 
Grita o vento como um louco 
por entre os becos da rua. 
2
Acordo, olho o céu e vejo 
que a manhã imaculada 
traz os perfumes de um beijo 
que roubou da madrugada. 
3
A minha casa é pequena, 
e embora tal restrição, 
nela reside serena 
minha doce inspiração. 
4
Amo a minha biblioteca, 
doce nave da ilusão, 
pois nela sigo até Meca 
ou molho os pés no Jordão. 
5
Ando em busca da centelha 
do teu beijo de esplendor 
e da papoula vermelha 
que escondes com teu pudor. 
6
Ao longe, de madrugada, 
por sobre o mar terno e lindo, 
a pequenina jangada 
parece a lua dormindo. 
7
As nossas línguas macias, 
em carícias muito loucas, 
parecem duas enguias 
disputando em nossas bocas. 
8
A tarde se abrasa em cores 
e lentamente desmaia. 
O céu, pintado de flores, 
lembra uma enorme lacraia. 
9
A tarde triste adormece. 
Estrelas piscam em cruz... 
Ao longe, a lua parece 
delgada foice de luz. 
10
A trova é um poema grácil, 
que surge de um mundo etéreo: 
- Para quem sabe é bem fácil. 
- Pra quem não sabe é um mistério. 
11
Brilha o céu como turquesa 
e o nascente é de romã… 
Nunca vi tanta beleza 
surgindo assim, na manhã. 
12
Chego a pensar que sou forte, 
vendo a velhice chegar, 
pois mesmo perto da morte 
consigo ainda sonhar. 
13
Cresci buscando esperança, 
nada achei e foi fatal. 
E quantas deixei, criança, 
brincando no meu quintal. 
14
De noite durmo e desperto... 
E, nesse doce vaivém, 
a infância chega tão perto 
que escuto apitos do trem. 
15
De tudo quanto me assiste, 
neste mundo miserando, 
nada me fala mais triste 
do que a velhice chegando. 
16
É frio, a noite descansa; 
o espaço é vasto e medonho. 
De repente, a lua mansa 
surge nos braços de um sonho. 
17
É noite calma de lua. 
Os ventos, em rodopios, 
são violinos na rua 
tocando valsas nos fios. 
18
Escondes mito e bonança 
na aparente timidez. 
Tens a graça e a temperança 
de um gatinho siamês. 
19
Essa mancha exígua e preta, 
no seu colo alvo e desnudo, 
lembra frágil borboleta 
toda feita de veludo. 
20
Fico olhando o teu aprumo. 
És linda e jovem demais... 
E eu sou um barco sem rumo, 
sem mais direito ao teu cais. 
21
Inefável labareda, 
a borboleta a voar 
parece um lenço de seda 
que um anjo esqueceu no ar. 
22
Meditando em meu cansaço 
não me entristeço nem rio... 
os troféus do meu fracasso 
valorizam meu vazio. 
23
Menino ainda acredito, 
olhando o céu com minúcia, 
que as estrelas do infinito 
sejam mimos de pelúcia. 
24
Meus versos feitos de sedas, 
do mais puro tom lilás, 
lembram calmas alamedas 
em tardes cheias de paz. 
25
Minha porta, que era arguta, 
de repente ensandeceu. 
Qualquer toque que ela escuta, 
julga logo ser o seu. 
26
Na doce tarde de outono, 
ruflam brisas em farol. 
As nuvens louras, sem dono, 
lembram novelos de sol. 
27
Na estrada que compartilho, 
meu coração, aos pedaços, 
lembra a mãe que já sem filho 
nina a solidão nos braços. 
28
Nasci na vida tristonho 
e vou por ela tão sério, 
que é por isso que o meu sonho 
tem as marcas de um cautério. 
29
Noite linda. O céu aberto 
faz-se de suave emoção. 
A lua chegou tão perto 
que eu quase a peguei na mão. 
30
Numa batalha renhida, 
vou lutar até o fim, 
pois quero sair da vida 
muito melhor do que vim. 
31
O arquiteto faz o traço, 
seu trabalho é no nanquim. 
Eu vivo as trovas que faço, 
que elas são partes de mim. 
32
O dia já nasce lindo. 
Passam ventos frios, nus. 
A manhã acorda rindo 
num escândalo de luz. 
33
Olhos brandos, mãos que espargem 
sorrisos como troféu... 
Pelo que os filhos lhe fazem 
as mães merecem o céu. 
34
O menino que era sonho 
de alma da cor do marfim, 
não sei mais onde é que o ponho, 
depois que cresceu em mim. 
35
O tempo amassou meu rosto. 
Não doeu, foi devagar... 
Mas as mágoas e o desgosto 
como é que custam passar. 
36
Pai querido, não morreste, 
que a morte nos lembra um fim 
e tudo aquilo em que creste 
anda a viver dentro em mim. 
37
Passa o vento num arrulho. 
A noite é fria lá fora. 
Como é gostoso o barulho 
da chuva caindo agora. 
38
Pelas manhãs de bonança, 
junto à brisa que flutua, 
borboletas são crianças, 
brincando alegres na rua. 
39
Penso ainda ser menino, 
correndo à toa na rua, 
empinando, sem destino, 
a branca raia da lua. 
40
Pressinto estar de partida 
e o mistério me seduz. 
Se fecho os olhos na vida 
acordo em mimos de luz. 
41
Que bom ficarmos juntinhos, 
distantes de um novo adeus, 
pois vejo nos seus olhinhos 
todo o carinho de Deus. 
42
Quero as minhas tardes feitas 
de luzes em algazarras; 
cheias de cores perfeitas, 
com festivais de cigarras. 
43
Saudade é dor muito estranha, 
toca no peito tão fundo 
que sinto que a minha entranha 
abriga as dores do mundo. 
44
Saudoso comprei passagem 
de retorno à minha infância. 
Mas como seguir viagem 
se eu nem sei mais a distância? 
45
Tem encanto, tem magia 
minha pequena janela, 
que ao abri-la a cada dia 
eu vejo a vida mais bela. 
46
Trabalho, sofro, padeço 
carregando a minha cruz, 
para ver se pago o preço 
desta roupagem de luz. 
47
Tudo se foi da lembrança... 
E do nosso antigo enredo 
nem mais a marca da aliança 
se acha gravada em meu dedo. 
48
Um doce aroma flutua 
nesta noite de ateneu 
e há tanta paz pela rua 
que eu penso que o céu desceu. 
49
Um gesto só, um arranjo, 
um traço apenas de acuro 
e acabarás sendo o anjo 
que em minhas preces procuro. 
50
Um remorso me espezinha 
se ponho, com aflição, 
no seu corpo de andorinha 
meus olhos de gavião. 
51
Veio Deus. Do caos agreste, 
ergueu o espaço sem fim. 
Porém tu bem mais fizeste 
do nada que havia em mim. 
52
Vitória: – um colar de ilhas! 
Cantar-te, com que talento?! 
Já bastam as maravilhas 
que escuto na voz do vento.

Oswaldo Soares da Cunha (Governador Valadares/MG, 1921 - 2013, Belo Horizonte/MG)

1 Abraços, beijos de fogo, em vez de aplacar o amor que anseia por desafogo, mais aumentam seu furor. 2 Abro os meus olhos e vejo que a manh...