quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Ary Santos Campos


As praias, por natureza,
encantam os olhos meus...
Fluxo, refluxo e beleza
são os caprichos de Deus.

As saudades não têm fim;
a luz do sol se apagou...
Secou a flor do jardim
e o trem da vida passou.

Com musas vivo a sonhar:
à noite durmo um pedaço,
num caderno ao despertar
uma trova eu sempre faço.

Dois copos, vinho à vontade:
um só segredo eu contei !
- É doida a cara-metade,
todo arranhado eu fiquei !

Do que vale o meu canteiro
de bom trigo, de primeira,
se joio dá mais dinheiro
na “cultura” brasileira ?!

Enquanto a vida não passa
enquanto a morte não vem,
quem deixa marcas de graça
têm outros mundos no além.

Entre mim e Deus existe
uma grande confusão;
pois tudo fica tão triste
sem amor no coração!

Hoje o sol nasceu tão lindo,
tão lindo, e eu me confundo:
- Será que Deus está rindo
ou rindo está o nosso mundo?

Justiça não me dá medo
pela palavra que tem.
Dá medo, não é segredo,
é da injustiça de alguém.

Meus amigos valem ouro,
seus laços eu estreitei,
amizade é meu tesouro,
sou tão rico quanto um rei.

Meus bons anos se passaram
com a leitura aprendi...
Hoje as letras se apagaram
mas o saber não perdi.

Não é correto ao carente
bons peixes sempre doar.
Pois um bom chefe, decente,
primeiro ensina a pescar.

Não sei mais o que fazer:
meu salário é um engano...
- Tenho medo de viver
numa tenda de cigano.

Não se vá, não, por favor,
não me faça essa maldade!
Se de fato você for,
eu vou morrer de saudade.

Nesse horizonte infinito,
onde o clarão é profundo,
raiam bênçãos, acredito,
para ungir a paz do mundo.

No paraíso que dista,
um grande fato ocorreu;
Eva o pecado conquista
e com o Adão se perdeu.

Oh minha vida pequena;
minha alma como corrói !...
- Linda morena, que pena,
quando te vejo me dói...

O nosso amor foi demais:
tudo em nós era risonho!...
Mas já ficou para trás
e transformou-se num sonho.

Os namoros do passado
eram raros de encontrar.
Hoje é clique no teclado
e já tem com quem amar.

Quando canto na viola,
já não canto mais sozinho,
pois do alto da gaiola
canta junto um canarinho.

Quem dera poder ficar:
devia nem ter nascido
para não ter que passar
no túnel desconhecido.

Quis saber do puro amor
que se apresenta em meu verso,
descobri que o trovador
vive com Deus no universo.

Uma tal "Sabedoria",
para dar aos olhos meus,
fez do sol a luz do dia
com a ciência de Deus.

Um vento leve me leva
para o Éden prometido...
Não sou Adão e nem Eva,
sou meu destino perdido.

Vejo uma foto distante
do meu tempo tão veloz
da minha vida constante,
- ai que saudade feroz?!

Vou em frente e devagar
procurando uma saída,
pois não consigo acertar
o rumo da minha vida!

Vou partir mais uma vez:
não parei, desde menino,
dessa vida sou freguês,
mala e cuia é meu destino.

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