sábado, 12 de novembro de 2016

Wandira Fagundes Queiroz

 
 1
"A BANDA” em nossa paquera,
Diz o vovô: me marcou.
Esnoba a vovó: Já era …
–  Não vê que “a banda” passou ?!
2
A esmo, na multidão,
tentando esconder meus ais,
meu fardo de solidão
pareceu pesar bem mais.
3
A esposa numa pirraça
diz ao marido "rueiro":
- Se de "graça" não tem graça,
me passa a grana primeiro.
4
A estrela guia parece
 aos meus olhos de criança,
 minha mãe dizendo, em prece:
 Não me abandone, Esperança!
5
A Fé, a Escola, a Família,  
caminhando de mãos dadas,
são três faróis, em vigília,
iluminando as estradas.
6
A grande riqueza humana
consiste em se perceber
quando a luz do “ter” profana
e ofusca a imagem do “ser”.
7
Amigo, não tenha pressa,
pois a vida é um bem precioso.
A treva às vezes começa
em um sinal luminoso!
8
Ante o samba, que o fascina,
Noel Rosa nem vacila,
trocou logo a medicina
pelo “feitiço” da Vila.
9
As nuvens choraram tanto,
que o sol compensa o escarcéu,
tecendo com doce encanto
mais sete cores no céu!
10
A trova é mais que um recado
escrito por nossa mão,
é um lindo cartão timbrado
pela voz do coração.
11
A vida é uma bela viagem
se o excesso de “informação”
não excluir da bagagem
“enlevos” do coração.
12
Comida sem « exagero »
disse o médico ao doente:
-Não me leve ao desespero…
dotô, sou um rico emergente…!
13
Completando o doce enleio
entre a rosa e o beija-flor,
o sabiá faz, de permeio,
o seu papel de tenor.
14
Cumpre a lua a sua meta
de “musa” da inspiração,
no momento em que o poeta
transforma luar em canção.
15
Das águas os desafios,
ao deixarem as nascentes,
não são transbordar os rios
mas… mantê-los transparentes.
16
Defender a Ecologia
de forma séria e decente,
é preservar a harmonia
da própria casa da gente.
17
De um inquieto jornalista
em meio às revoluções,
nasce o grande romancista,
das “Veredas” dos “Sertões”
18
Deus em sua maravilha
foi capaz de harmonizar
a quietude de uma ilha
com a turbulência do mar.
19
Dos pais nos vêm a genética,
identidade e valores,
e de Deus a alma poética,
que acalanta os sonhadores.
20
Finge o sol, quando declina,
que se cansou do fulgor ,
dando à estrela pequenina
seu momento de esplendor.
21
Já não sei se nos dói mais
na estrada de tantos trilhos,
soltar-se da mão dos pais...
ou soltar a mão dos filhos.
22
Já que a lua da cidade
 se perdeu na poluição,
 – oh queimadas, por piedade,
 poupem o luar do sertão!
23
Maranguape o teu “luar”
 que “Catulo” enalteceu,
 multiplicou seu brilhar
 depois que o “Chico” nasceu.
24
Mesmo em trovas mais dispersas,
por laços universais,
identidades diversas
congregam sonhos iguais.
25
Meu coração, “paparazzo”,
guardou imagens tão belas,
que mesmo as sombras do ocaso
são manhãs, ao lado delas.
26
Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
27
Mulheres, que o amor fecundo
faz sublimar seu pendor,
são “mãos que embalam o mundo,”
independentes de cor.
28
Não deixe que maus momentos
ofusquem seus ideais.
Sobre “velhos” tons cinzentos,                         
“novas” cores brilham mais.
29
Não sei como Deus sabia,
mas deu-me, quando nasci,
a família que eu queria
e os amigos que escolhi.
30
Não teme a seca inclemente
quem confia em seu labor;
planta a pequena semente
sentindo o cheiro da flor.
31
Na vida, essa pauta imensa,
por direito ou por dever,
a gente escolhe a sentença
e a cumpre, sem perceber.
32
No lençol, que era perfeito,
entre os “motivos florais”,
o tempo foi sem respeito
bordando “saudade” a mais.
33
No livro, em que foi guardada
para lembrar nosso amor,
morre a flor, desidratada,
pois “pranto” não rega a flor
34
O fogaréu da queimada
Nem “despacho” ele respeita…
-Atravessa a encruzilhada –
“e já deixa a janta feita”.
35
O guarda chega algemando:
- Não quero saber de arruaça!
- De que rua está falando…
se eu só bebi nesta praça?
36
O jambo é tão brasileiro,
não por seu sabor apenas:
deu também nome a Jambeiro
e "cor" às nossas morenas!
37
O lar que planta amizade
não se expõe aos temporais,
dos tais conflitos de idade
que afastam filhos de pais.
38
O mais cruel beijo do mundo
demonstrou de forma ingrata,
que no espaço de um segundo
alguém trai, condena e mata.
39
O mar estende seus braços
para na praia grafar,
encantos que os nossos passos
apagam… sem decifrar.
40
O tempo mostrou com calma,
que apesar dos seus desvelos,
não pôde polir minha alma
sem respingar meus cabelos.
41
Para mim nuvens, na altura,
correndo de “déu em déu”,
são anjos da agricultura
tecendo chuva no céu.
42
Passa o tempo… e a mocidade
vai deixando, em seu lugar,
pegadas para a saudade,
um dia, me procurar!
43
Por mais que o conhecimento
do amor é Luz que fascina,
sem a LUZ do “entendimento”
parece mera doutrina.
44
Quando aos luzeiros da fama
se agregam luzes do Bem,
há um brilho, a mais, que se inflama
e imortaliza também.
45
Quem planta o amor tem na Paz
de uma velhice serena,
prazer de olhar para traz
e dizer: – “Valeu a Pena”!
46
Quem volve os olhos apenas
às grandezas é um incréu.
São pelas portas pequenas
que os “santos” entram no céu.
47
Saudosismo, este legado,
que o tempo deixou-me a esmo,
guarda o encanto do passado,
em saudades de mim mesmo.
48
Se a insensatez determina
o valor que o homem tem,
não lhe basta a luz Divina,
ele quer ser Deus também…
49
Se a noite é escura e vazia
pela fé, que é a luz Divina,
vejo que a Sabedoria
não brilha, mas, ilumina.
50
Somente o tempo é que ensina
que alguns momentos da idade,
ele apenas data e assina,
mas... quem descreve é a saudade.
51 
 Sonhar com dias risonhos,
impõem-nos desde menino,
mas não ensinam que os sonhos
não mudam nosso destino.
52
Tentando aparentar trinta,
o cinquentão se “ferrou”.
Comprou um estoque de tinta,
mas… o cabelo acabou.
53
Transcendo o sonho e refaço
minhas rotas do passado,
para ter de novo o abraço
do ventre em que fui gerado.
54
Usando o adubo da fé
em Vila Capivari,
o povo, ao plantar "café",
fez nascer "Jambeiro" ali!
55
Visto a dois o entardecer
traz emoção diferente:
É como se amanhecer
se eternizasse na gente.
56
(Para o poeta potiguar Zé Lucas)
Zé Lucas não viveria
em alegria completa,
sem o sertão e a poesia
dando mais vida ao poeta.

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