quinta-feira, 10 de novembro de 2016

P. de Petrus (1920 - 1999)


1
A aurora, calma e silente,
áurea luz no céu espraia...
- Vitória do sol nascente
sobre a noite que desmaia...
2
Alto lá, diz a franguinha
para o frangão maltrapilho:
- eu não vou sair da “linha”
em troca de um grão de milho.
3
A minha sogra endiabrada,
– onça que o diabo me deu,
devia estar “empalhada”
na vitrine de um museu!
4
A mulher do meu vizinho,
que em amores não se aperta,
mesmo errando no caminho,
chega em casa na hora certa.
5
A primavera vem vindo!…
 Há festas, risos e amores…
 é Deus que chega sorrindo
 pelo sorriso das flores…
6
Certos olhos, já cansados
pelo tempo que passou,
lembram faróis embaçados
que o mar da vida embaçou.
7
Desce à campa a sogra má,
e explica um verme sereno:
- Hoje, irmãos, jantar não há,
porque este prato é veneno!
8
Disse um verme sorridente,
vendo o judeu no caixão:
- Este é um manjar diferente,
que se come à prestação!
9
Do amor, em triste momento,
fomos nós dois à falência,
- não por falta de talento -
faltou a luz da experiência.
10
Do Calvário veio a glória,
cheia de paz e de luz,
onde a divina vitória
nasceu em forma de cruz.
11
Eu bem que desconfiava
desse jeitão de Maria,
o segredo que eu guardava,
todo bairro já sabia.
12
Fui alegre, e tive sonho,
dei todo o amor que era meu,
alegrei alguém tristonho:
– Hoje o tristonho sou eu!
13
Levaste, no desenlace,
o meu Futuro e a Esperança,
como se alguém carregasse
meus brinquedos de criança…
14
Louvo essas mãos calejadas,
que, sem escola e instrução,
aprenderam, com enxadas,
todo o alfabeto do chão!…
15
Maria da Luz, que é bela
e almeja um claro futuro,
contrariando o nome dela,
namora sempre no escuro.
16
"Meu bem, se foste enganado,
que Deus me cegue sem dó...”
E ele agora está casado
com mulher de um olho só!
17
No cinema o filme estreia...
Bem juntinhos, ele e ela,
dão reprises, na plateia,
dos beijos vistos na tela!
18
"O ar da serra eu lhe receito",
- disse o doutor ao Santana.
E este, em casa, satisfeito,
pega um serrote e se abana!
19
Para um 'nu" de fino gosto,
ao posar, sem medo, a nora,
com vergonha cobre o rosto,
mas deixa o resto de fora...
20
Que me adianta a fibra estoica,
o estridor de tantas queixas,
a insistência quase heroica,
se quero amar-te, e não deixas?!
21
Rastro de espuma esbatida,
que o barco deixa nas águas,
faz lembrar a minha vida
toda orvalhada de mágoas.
22
Saudade – espelho encantado
que mostra, aos olhos da gente,
toda a imagem do passado
revivendo no presente…
23
Sejam brotos ou coroas,
isto dispensa argumento,
são sempre as mulheres boas
que inspiram maus pensamentos!
24
Se uma pedra arremessada
chega a ferir fortemente,
fere menos a pedrada
que a língua de muita gente!
25
Sinto-me velho e inseguro,
porque o tempo me enganou;
plantei, feliz, meu Futuro,
e a semente não vingou…
26
Tem dez filhos o ceguinho...
E a cada filho que nasce,
explode sempre o vizinho:
- Calculem se ele enxergasse!
27
Tens tanto fascínio, tanto,
que as flores, puras e belas,
se curvam cheias de encanto
quando tu passas por elas!

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