quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Olavo Dantas Coelho (1901 - 1997)


1
Ao dormir de ti me esqueço
e parece singular:
- No momento em que adormeço,
só contigo vou sonhar.
2
Com o lenço que retirei
de tuas mãos, todo alvor,
minhas lágrimas sequei,
disse adeus ao teu amor.
3
Em cada adeus que te dou,
um suspiro vai voando.
Como é longo, certo estou
que ele vai te acompanhando.
4
Entrei na vida querendo
riquezas, fama e louvor.
A vida é, fiquei sabendo,
sonhos, trabalhos e amor.
5
Estavas alegre quando
eu te vi bela e faceira:
- Por isto passei sonhando
contigo a semana inteira.
6
Eu te julguei um brilhante
ao cantares de sereia.
Mas vi, um pouco adiante,
que eras só um grão de areia.
7
Junto de mim um instante
esteve a Felicidade.
Desde então segue os meus passos
o seu perfume: a saudade.
8
“Longe estás”, assim dizia
meu caderno de lembrança.
Enquanto houver luz do dia,
sempre haverá a esperança.
9
Não te quero, nem me queres,
é tudo exato talvez.
Mas se me encontrar preferes,
fico feliz se me vês.
10
Nem tudo na vida é ouro
e tudo passa ligeiro:
Só o sonho é duradouro,
só o sonho é verdadeiro.
11
Nos barcos, os pescadores
ao passar dizem adeus.
Como doces são amores
quando vejo os olhos teus!
12
O amor é cego e há quem fale
que tem mandinga ou magia;
pois é o cego que me vale,
pois é o cego que me guia.
13
Penso, até nas horas mortas,
que nosso seja o porvir.
Teu coração não tem portas
por onde eu possa sair.
14
Por que é que Deus escreveu
– só com isto não atino -
O meu nome junto ao teu
no alfarrábio do Destino!
15
Quando Deus fez a mulher,
de um osso bem duro fê-la.
Assim, saiba quem quiser:
Jamais podemos torcê-la.
16
Quando falas eu te escuto
como a um cântico divino.
Se teu convívio desfruto,
tem gorjeios meu destino.
17
Quanta dor por onde vamos,
quanta mágoa emudecida!
Sem amor, nós naufragamos
nas águas negras da vida.
18
Querida, teu amor canta
e cantará longamente.
Na voz de beleza tanta
Deus costuma estar presente.
19
Saudade de ti eu tenho…
Como é nostálgico o luar!
De longe, bem longe venho:
Fui e vim sem te encontrar.
20
Se te dei a despedida,
ela deixou-me amargor,
porque és ainda, querida,
a dona de meu amor.
21
Teus olhos que são mais sábios
dizem-me sempre que sim.
Mas não pergunto aos teus lábios
o que eles pensam de mim.
22
Um genro, um pobre coitado,
de vez em quando dizia:
“Com minha sogra ao meu lado,
quanta paz não perderia!”
23
Vem o mar suavemente
cantar na onda vadia.
O sonho triste da gente
vem cantar numa elegia.
24
Vendo da estrela o fulgor,
acha rumo o peregrino.
Foste a Estrela do Pastor
para encontrar meu destino.

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