quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Olympio da Cruz Simões Coutinho

 
 
1
A ciência se renova,
é a senhora da razão;
e o que melhor a comprova
é a grandeza do perdão.
2
Alegria em plenitude
cultiva dentro do peito
quem dá valor à virtude
e menospreza o defeito.
3
Amor cigano, utopia,
triste  busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
4
Ante as barreiras não paro
e minha crença eu não mudo:
- Que valor teria o claro
se não existisse o escuro?
5
Ante tanta aberração
num mundo fora dos trilhos
pergunto ao meu coração:
- O que eu ensino aos meus filhos?
6
Ao homem Deus deu a Terra
e veja o que o homem faz:
cria as hienas da guerra
e mata as pombas da paz.
7
A superfície do mar
belo cenário formata
quando o clarão do luar
lhe veste um manto de prata.
8
A velhinha no jardim
filosofava sorrindo:
- Não julgo o mundo ruim,
ainda há rosas se abrindo.
9
Bem malandro é o Ademar,
de “fogo”, quase caindo,
entra de costa em seu lar
pra fingir que está saindo.
10
Bem se vê pelos olhares
que se cruzam no salão
que na cabeça dos pares
também dança… a tentação.
11
Buscando alcançar o céu,
entre as nuvens eu me ponho;
sigo assim, vivendo ao léu,
pela estrada do meu sonho.
12
Busque sempre renovar
toda sua trajetória;
os que resolvem ousar
são os que fazem a história.
13
“Cada vez mais pobre fico…”
diz, num lamento, o agiota;
e vai ficando mais rico
quanto mais conta lorota.
14
Casamento é um triste ato
que já começa no “amém”:
dois presos por um contrato
que não dá lucro a ninguém.
15
Corações são assoprados
para outro mundo, virtual…
Será que estamos frustrados
com nosso mundo real?
16
Com olhares tu fizeste
do coração uma cela,
e com teus beijos puseste
meu coração dentro dela.
17
Cultiva a fraternidade
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.
18
Cultive a fraternidade
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.
19
Curvas no curso dos rios
nos dão lição exemplar:
mesmo enfrentando desvios
eles sempre chegam ao mar.
20
Da infância levanto o véu
de uma alegre brincadeira:
descobrir bichos no céu
numa nuvem passageira.
21
Da vida, na falsidade,
nossos olhos têm magia;
ninguém encobre a verdade,
pois o olhar a denuncia.
22
De meu pai, a honestidade,
de minha mãe, a ternura:
por isso, em meio à maldade,
mantenho minha alma pura.
23
Desprezo eu senti de fato
ao ver em seus escaninhos
aquele nosso retrato
rasgado em mil pedacinhos.
24
Detento muito gabola
dá drible no seu revés:
- Eu controlo bem a bola,
mesmo com duas nos pés.
25
Diga não ou diga sim,
revele logo o que pensa;
o seu talvez para mim
é pior que a indiferença.
26
Do poeta o maior sofrer
assim pode ser descrito:
é a luta para escrever
o que nunca foi escrito.
27
Em meu leito de abandono,
eu, mulher, só penso em ti;
se sem ti eu perco o sono,
que será contigo aqui?
28
Enrubesceste, engraçado,
porque, amor, te beijei;
imagino o teu estado
se eu fizesse o que pensei…
29
Eram alegres os meus olhos
e tristes eram os teus,
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus.
30
Essas rosas que florescem
em jardins de casas pobres
são as mesmas que fenecem
enfeitando covas nobres?
31
Esta dor que me devora
em dois versos se resume:
gostei de muitas e agora
de todas tenho ciúme.
32
Este abismo que o rancor
instalou na humanidade
só poderemos transpor
pela ponte da amizade.
33
Eu, a rede e a namorada,
nós curtindo o entardecer.
Amar é isso e mais nada…
poucos sabem perceber.
34
Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade…
- Não sou louco… Eu sou poeta!
35
Eu não lamento a saudade
que a tudo invade porque
é tão bom sentir saudade
quando a saudade é você.
36
Eu não tenho o que queria,
mas sou feliz mesmo assim;
faço a minha terapia
na mesa do botequim.
37
Existe um grande desgosto
na lágrima, que a brilhar,
vai rolando pelo rosto
dos que não querem chorar.
38
Felicidade… encontrei,
depois de buscar a esmo,
naquele dia em que olhei
para dentro de mim mesmo.
39
Felicidade, um ranchinho
e, dentro dele, nós dois;
nove meses de carinho
e um molequinho depois.
40
Feliz de quem não permite
que o domínio da razão
seja mais forte e limite
o que sente o coração.
41
Finges desprezo e eu não ligo,
vejo amor no teu olhar;
como diz ditado antigo:
“Quem desdenha quer comprar”.
42
Hoje em dia pouco resta
do nosso amor, que passou:
tristes restos de uma festa
depois que a festa acabou.
43
Indiferença de leve
percebi nos olhos teus:
Tua boca disse: “Até breve!”
Teu coração disse: “Adeus!”
44
Juventude, o procurar
permanente de viver,
enquanto a busca durar
ninguém vai envelhecer.
45
Leva a palha com carinho
e, depois, leva alimento;
assim é que o passarinho
mostra seu devotamento.
46
Luiz Otávio com a trova,
deste encontro o amor nasceu;
e o tempo passa e comprova
como este amor floresceu…
47
Meu coração desprezado
por alguém que não o quis
apesar de abandonado
busca a luz pra ser feliz.
48
Meu coração prisioneiro
sofre por ser infeliz
mas se nunca fui inteiro
é porque ele não quis.
49
Meu pai, que eu nunca esqueci,
veja em mim a tua glória;
segui teus passos, venci,
é tua a minha vitória!
50
Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim;
só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim,
51
Na escuridão, o farol
os bons caminhos ensina;
assim como a luz do sol
a nossa vida ilumina.
52
Na garganta ficou preso
o grito do meu desgosto
ao perceber que o desprezo
dói mais que tapa no rosto.
53
Na imensidão do universo
tenho, em minha pequenez,
toda a grandeza de um verso
de um poema que Deus fez.
54
Não fuja dos seus caminhos
nem busque atalhos a esmo;
quem tem medo dos espinhos
não acha a flor em si mesmo.
55
Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta sua
à minha sombra abraçada.
56
Neste teatro que é a vida
(e a vida é uma somente)
prefiro o palco, querida,
do que ser mero assistente.
57
No alpendre do casarão,
em comovente vigília,
Dirceu cantava a paixão
em versos para Marília.
58
Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
a noite triste e sombria
sem luar e sem violão.
59
Nunca ofereça amizade
quando a mulher quer amor;
é como dar caridade
a quem lhe pede um favor.
60
O barquinho vai zarpar…
E me lembro, entristecida,
que por ter medo de amar
perdi o barco da vida.
61
Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta,
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
62
Olhando o escorregador,
palco da infância sem pressa,
filosofa o trovador:
 – Os anos passam depressa!
63
Olho os guris abraçados
e o meu pesar é profundo;
sei que serão separados
pela aspereza do mundo.
64
O trabalho do banqueiro
está no seu jogo impuro:
tem lucro com meu dinheiro
e ainda me cobra juro.
65
O trem da vida ao destino
chega no horário marcado;
- Por que não desce o menino
que embarcou tão animado?
66
Papai Noel, a cegonha,
lendas que mamãe contou;
deixei de crer, por vergonha,
e a minha infância acabou.
67
Partiu o trem, me deixando
com mala e chapéu na mão;
meu amor se foi, levando
minha alma e meu coração.
68
Partiste, mas, na saudade,
eu só peço ao Criador
que a tua felicidade
seja igual à minha dor.
69
Perdida não é a bala,
que gera um medo profundo,
mas aquele que se cala
ante a violência do mundo.
70
Por mais que esta vida o açoite
prossiga na caminhada;
depois do negror da noite
sempre surge a alvorada.
71
Por muito amar-te perdi
metade da minha vida
e agora perco, esperando,
a outra metade, querida.
72
Privado da liberdade,
o passarinho, a cantar,
exprime a dor da saudade,
já que não sabe chorar.
73
Qual duas taças de vinho
em perfeita simetria;
que seja assim o caminho
do nosso amor, que inebria.
74
Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.
75
- “Querido, diga porque
acorda sempre risonho?”
-“Um sonho lindo, você,
enfeita sempre o meu sonho”.
76
Remorso rude, mesquinho,
está ferindo o meu peito;
chamou-me “filho” um velhinho
com quem faltei ao respeito.
77
Siga sempre em linha reta
e não se desvie na estrada;
felicidade é uma meta
a ser sempre procurada.
78
Sigo na estrada da vida
sem temer tristeza e dores;
só me ameaçam, querida,
chuvas de folhas e flores.
79
Simbolizam essas mãos
que buscam erguer a Terra
um movimento de irmãos
pela paz e contra a guerra.
80
Sob a luz do lampião,
Kelly na chuva cantando
acordam em meu coração
os sonhos que andei sonhando.
81
Sorria a todo momento
por pior que esteja a vida;
quem sorri no sofrimento
torna a dor mais resumida.
82
Sou prisioneiro feliz
e não busco outros espaços;
esta sorte eu sempre quis:
ficar preso nos teus braços.
83
Tenho ciúmes da lua,
 ciúmes loucos, meu bem,
 pois passeia em tua rua…
 e no teu corpo também.
84
Trate todos como gente,
pois somos todos iguais;
nenhum ser é diferente
por ter pouco ou por ter mais.
85
Uma lágrima infinita
surgindo nos olhos teus…
Foi a forma mais bonita
de você dizer-me adeus.
86
Um eremita perfeito
eu encontrei certo dia…
Era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
87
Um mau negócio o turista
faz no Rio de Janeiro,
pois enquanto vê a vista
fica a prazo sem dinheiro.
88
Viver não é passatempo
e um paradoxo encerra:
a gente é que mata o tempo,
e o tempo é que nos enterra.

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