quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Jacinto Campos (1900 - 1972)


1
A alegria desta vida
é balão que a gente solta.
Mas, a tristeza, querida,
é ave que vai e volta.
2
A saudade em nossa vida
dilacera o coração!
Mas... não dói como a ferida
da palavra Ingratidão!
3
A sorte sempre se atrasa
quando busca o meu caminho...
Erra, depois, minha casa;
entra em casa do vizinho...
4
A vida começa cedo,
mas a morte, essa covarde,
ninguém lhe sabe o segredo:
– se chega ela cedo ou tarde…
5
Belos rosais que florescem
em Maio, de tantas flores,
olhai as mães que padecem
neste Universo de dores!
6
Buscando felicidades,
não me sobra coisa alguma...
Mas, recontando saudades,
o meu pranto se avoluma.
7
Deixa o egoísmo profundo!…
Esta é a voz das profecias!
Todo mundo deixa o mundo,
mas vai com as mãos vazias!...
8
Do teu amor que se escombra,
à noite, eu sinto, surpreso,
que a sombra que mais me assombra
é a sombra do teu desprezo…
9
E quando eu me for findando,
minha Musa, sem alarde,
em ti ficará cantando,
tristeza morna da tarde…
10
Esta verdade ultrapassa
outra verdade qualquer:
– O amor é como a fumaça
no coração da mulher.
11
Evolei-me ao céu das trovas
repontilhando de estrelas...
Voltei cortado de pena
de quem não pode trazê-las.
12
Fraternidade é a pureza
que em nossas almas se expande…
E mostra, ao mundo, a beleza
de um coração leve… e grande!
13
Meu Deus! Fazei que a bondade,
sempre em minha alma se integre.
Pois sinto felicidade
quando vejo um pobre alegre.
14
Minha filha, honra teu pai,
mais um amor que te resta...
Vê que o ipê, quando cai,
faz grande falta à floresta.
15
Na celeste Imensidade,
quanta luz! Que maravilha!
cada estrela é uma saudade
que na minha alma rebrilha.
16
No mar tem sombras… parece,
de algum noivado falaz…
Pois, quando o sol desfalece,
as ondas gemem demais!…
17
O coração desprezado
pelo amor que lhe convém,
é relógio complicado:
– nunca mais trabalha bem!
18
O meu bom tempo passou!
Debalde o procuro, a esmo…
Depois, vejo que não sou
nem a sombra de mim mesmo!
19
Prometeste, entre refolhos,
aclarar minha ilusão…
Mas… tens tanta luz nos olhos
e sombras no coração!
20
Quem, da flor, nega o perfume,
não pode ser jardineiro…
– Amor, que não tem ciúme,
não pode ser verdadeiro.
21
Rosal de netos risonhos,
na alegria que produz,
enche minha alma de sonhos,
enche meus sonhos de luz!
22
Saudade, sombra difusa
que cai sobre a solidão…
tu és a divina Musa
cantando em meu coração.
23
Sempre uma nuvem tristonha
encobrindo as serranias…
É que o Sol já tem vergonha
da Terra dos nossos dias!
24
Subi à Mansão Serena:
fiz trovas cheias de estrelas…
Voltei cortado de pena
de quem não soube fazê-las!
25
Teu declinar, tarde mansa,
tantos langores conduz,
que nos traz a semelhança
de uma noiva ao pé da cruz…
26
Vai, barqueiro, com bonança,
sem tremores da procela,
que Deus solta uma esperança
quando desliza uma vela…
27
Vendo saúde e sou forte!
Removo montes até!
Incendeio o Polo Norte 
com o fogo ardente da Fé!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...