quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Sérgio Corrêa Miranda Filho



1
A glória não mais me acena...
Mas, por amor à ribalta,
eu sou artista que encena,
mesmo se o público falta!…
2
Ao ver, com creme vermelho,
da esposa o rosto emplastado,
teve impressão o Botelho
de que entrou no inferno errado!
3
A vida nada me entrega...
mas quando durmo, a teu lado,
sonho ter o que ela nega
sempre que sonho acordado!!!
4
Carteiro, que se desculpa
por frustrar o meu anseio,
esquece... Tu não tens culpa
se a carta dela não veio!…
5
Celular eu não tolero
desde um pré-pago que eu tinha,
que tocou "Mamãe eu quero..."
no velório da vizinha!
6
Comprovo, num pranto mudo,
após a espera frustrada,
que o depois promete tudo
mas não cumpre quase nada!
7
Depois de um sonho frustrado
que a própria vida desfez,
insiste... volta ao passado
e sonha tudo outra vez!…
8
"Depois", disseste... E apreensivo,
lembrando o amor de nós dois,
hoje eu sinto que só vivo
porque espero esse depois!
9
Depois... muralha inclemente
que insiste em nos separar
do sonho de amor que a gente
não pode ainda alcançar!…
10
Desde o namoro ao casório,
a sogra foi sentinela.
E hoje, enfim, no seu velório,
sou eu quem "segura a vela"!…
11
Envelhecemos... Nós dois...
E hoje é que voltas, por fim...
Não pensei que o teu "depois"
fosse tão depois assim…
12
Falta-me a fé...e, na estrada
onde sigo, não me iludo,
pois não me faltando nada
eu sei que me falta tudo!…
13
Feitos de instantes tristonhos,
se os meus dias são banais,
não é porque faltam sonhos,
mas porque há mágoas demais!…
14
Fico ante a vida calado,
sem pergunta... sem proposta...
- Meu sonho já está cansado
de ouvir 'não" como resposta!
15
Meu sonho, num louco intento,
quis o céu e, em gesto aflito,
prendeu-se à pipa que o vento
despedaçou no infinito!…
16
Na campa do tal rapaz
que no batuque era um bamba,
em vez de pôr: – "Aqui jaz"...
alguém gravou: – "Aqui samba"…
17
Na espera a angústia me invade...
E depois, num devaneio,
vejo chegar a saudade,
trazendo alguém que não veio!…
18
Na festa de caridade,
Zé, com cara de tragédia,
tirando a média de idade,
foi parar na Idade Média!
19
Nas cavalgadas que eu faço
quando a insônia não aceito,
apanho os sonhos a laço
e arrasto o sono a meu leito!…
20
Nas horas de desencanto,
não me falta um bom amigo
que, se não seca o meu pranto,
ao menos, chora comigo!…
21
Num sonho envolto em ternura,
de tua ausência hoje farto,
viajo à tua procura,
sem deixar o nosso quarto!…
22
O candidato: - Em quem votas?
- Em você!, diz, sem engodos...
E explica: - Dos idiotas,
prefiro o maior de todos…
23
O Pacote é bom, Batista?
- Pra mim é, pois dá dinheiro...
- Ah, o amigo é economista?
q Não, senhor... sou pipoqueiro!
24
O Zé segue o enterro... E ao ver
seu rosto, um verme diz, sério:
– Quando esse "troço" morrer,
eu fujo do cemitério!…
25
Piada foi quando o Augusto
entrou no armário, apressado,
e quase morreu de susto
quando alguém disse: - Ocupado!
26
"Procuro amor"... deixo escrito
no meu sonho... mas, quem vê,
se eu ponho este anúncio aflito
num jornal que ninguém lê?!
27
Quando um cão grã-fino olhou
sua cadela, de esguelha,
meu cão pulguento ficou
"com a pulga atrás da orelha"!
28
Se estás num sonho indagando
se te adoro, e eu digo sim,
crê, amor, mesmo sonhando,
no que o sonho diz por mim!
29
Sempre que a vida me assalta,
eu luto com tanto empenho,
que é quando a força me falta
que eu meço a força que tenho!
30
Se o meu sonho vem errado,
acordo... e, insone, bendigo
poder sonhar acordado
um sonho inteiro contigo!…
31
Silêncio!  Dorme a saudade
e acordá-la não convém...
Já é demais a ansiedade
para esperar quem não vem!
32
Tudo alcancei, com ardor...
E, hoje, a mágoa que me assalta
é sentir falta de amor
quando mais nada me falta!…
33
Velório estranho, comadre,
o da sogra do Miranda...
em vez de chamar um padre
ele chamou uma banda!

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