domingo, 13 de novembro de 2016

Sylvio Ricciardi


1
Achou o carro roubado
e na "Loto" fez a quina!
Nasceu pra lua virado...
"Vá ter sorte assim na China!”
2
À deriva, neste mundo,
meu coração sofredor
não se esquece, um só segundo,
do teu beijo abrasador.
3
A máscara de alegria
em meu rosto com frequência,
é apenas a fantasia
no carnaval da existência
4
A Pafúncia, dorminhoca,
cozinha, vendo a novela...
e, suspirando, a coroca
deixou queimar a panela!
5
A preguiça era tamanha
que, ao te esperar na porteira,
sentei numa pedra estranha;
me estrepei! Pedra não cheira…
6
Atirado em fria estiva,
sem bússola, em pleno mar,
meu coração, à deriva,
morre de tanto te amar…
7
Deixe de orgulho e me abrace
que vai ser melhor assim!...
Tire a máscara da face,
que eu sei que és louca por mim.
8
Dentre as flores do jardim
e escondido nas ramadas,
é o espinho o espadachim
das rosas despreocupadas.
9
Ela me chamou de bobo,
porque eu olhei, da janela,
quando o vento, com afobo,
levantou a saia dela.
10
Em minha lira tão pobre,
não achei a sutileza
de uma rima ou verso nobre
para cantar-te a beleza!
11
Em tua lira, a paixão
canta meiguice e magia!
Até os anjos, na amplidão,
batem palmas de alegria!
12
Entre espinhos e entre flores,
em seus dias tão cruentos,
é nas mãos dos professores
que desabrocham talentos.
13
Falo sempre, em meu delírio,
que a natura é caprichosa!
Do lodo é que vem o lírio,
e entre espinhos surge a rosa.
14
Meu salário é tão pequeno,
não dá pra nada comprar;
não dá nem para o veneno,
se eu quiser me suicidar!
15
Meu salário,eu nem te conto!
Ele ficou tão em baixa,
que se tiram o "desconto",
fico devendo pro Caixa!
16
Nesta ansiedade aflitiva
procurei-te sem cessar...
Meu coração à deriva,
nem sabe onde procurar.
17
No cristal da fonte brilha
espelho espetacular!
E a lua cheia, andarilha,
vaidosa... vem-se espelhar…
18
O talento é dom latente,
ou melhor, ouro em jazida;
que sobressai, de repente,
entre os cascalhos da vida!
19
Partiste... e a angústia em surdina,
gerando a cumplicidade,
veio morar, clandestina,
no meu plantão de saudade.
20
Que grande dádiva encerra
a mão de Deus, onisciente,
quando acende aqui na terra
a chama do sol nascente.
21
Quero que poupem dinheiro,
comprando apenas um pão!
E passem o pão no cheiro
da panela do Chefão!
22
Triste sorte a do seu Lessa:
casou com loura "branquinha"
e hoje tem chifres à beça!
... E uma filha mulatinha…
23
Tua constante evasiva
fez de mim, ano após ano,
um barco triste, à deriva,
no mar do meu desengano…
24
Tuas mãos, tão delicadas,
sobre a lira, de mansinho,
são pombinhas namoradas
construindo um lindo ninho!

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