sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Selma Patti Spínelli


1
A crise nos invadiu…

pindaíba nacional:

não sei se o real caiu

ou se eu “caí na real”…

2

Amor de perdas e danos,

triste contabilidade:

resgate dos desenganos,

sobras de caixa da saudade!

3

Ao pecador, decaído,

se não podes fazer nada,

estende a mão, decidido,

e ajuda na caminhada!

4

Ao ver a filha enjeitada,

o “coronel manda-chuva”

diz:” – Não quero desquitada:

filha minha só viúva!”

5

A plateia se espantou:

o ator saiu do roteiro,

desesperado, e gritou:

“Meu reino por um banheiro!”

6

A Professora parece

um lavrador a colher

ouro puro em sua messe

no garimpo do Saber!

7

Aqueles a quem indago,

- e a resposta não me vem –

Será que apito de gago

a-pi-pi-ta assim tam-bém?

8

A ratazana e o ratinho

brigaram feio, de fato:

foi ciúme do vizinho,

que, na verdade, era um “gato”!

9

A saudade é, certamente,

sentimento eternizado,

um recado que o presente

manda de volta ao passado!

10

A semente, pequenina,

sob a terra protegida,

é assinatura divina

no grande livro da vida.

11

Até no “terreiro” em prece,

é preguiçoso, o farsante:

quando o “santo” dele desce,

só vem de escada rolante!

12

Brindemos à despedida,

que em nosso gesto imaturo,

ela é a única saída

para um amor sem futuro!

13

Carinhos de filhos, quero!

Fazem bem ao coração:

São frutos do amor sincero;

São frutos da gratidão!

14

Com a bagunça rolando,

sem ter mais o que falar,

chilique, de vez em quando,

bota tudo no lugar!

15

Com tanta delicadeza,

um gato a serra desce…

E eu tenho quase certeza

que a própria serra agradece!

16

Com todo dinheiro em jogo,

seguro não cobre a casa:

marido sempre ‘de fogo”,

e a mulher “mandando brasa”!

17

Das estrelas não esperes

mais que palavras ao vento;

as estrelas são mulheres

que piscam sem sentimento.

18

Deixa a lágrima rolar…

Deixa teu pranto fluir…

Quem nunca sabe chorar

não é capaz de sorrir.

19

De manhã sou funcionária,

à tarde mãe e chofer,

cozinheira, secretária…

À noite, enfim, sou mulher!

20

Desavenças de rotina;

palavras duras ao leito

o casamento termina

quando termina o respeito!

21

Disfarço meu sonho triste

nas cordas do bandolim,

porém o chorinho insiste,

sem querer, fala por mim!

22

Ela tarda mas não falha;

enfrentá-la é meu fadário...

A noite é como navalha

na carne do solitário!

23

Estou só… Mas sou feliz;

vou vivendo mesmo assim:

por escolhas que não fiz,

mas a vida fez por mim!

24

É tão esnobe, tão tolo,

o doutor, entre os decanos,

que até na vela do bolo

põe algarismos romanos!

25

Imagino a cena inteira:

um piano, um vinho quente,

nós dois ao pé da lareira,

e tudo que o amor consente!

26

Marinheiro! Escolhe o rumo!

Porque a vida é um mar errante...

Somente com o barco a prumo

é que se pode ir adiante!

27

Meu destino foi traçado

quando a onda, no convés,

veio forte, e de bom grado,

me fez cair aos teus pés!

28

Morena, que te amo tanto,

e desprezas meus desejos:

deixa afogar o meu pranto

nas ondas dos teus cabelos…

29

Na dança, que pantomima.

Deu-se o maior esculacho:

a moça era “tudo em cima”,

mas não tinha nada embaixo!

30

Não atires ao desterro

o teu irmão que pecou…

É bom combater o erro,

mas não aquele que errou!

31

Nas cartas, sê verdadeiro!

Cuida bem tudo o que dizes:

pois cartas são travesseiro

nas noites dos infelizes.

32

Nas fendas que o sol calcina,

da seca em rude aspereza,

os pingos da chuva fina

são beijos da natureza!

33

Nela é bonito, elegante…

Nele… esquisito, incomum:

gingada é interessante,

Mas não é pra qualquer um !!!

34

No embalo da serenata,

quisera ser como a lua

vestindo com tons de prata

os homens tristes da rua!

35

No lar do pobre indefeso,

relegado em agonia,

esperança é o fogo aceso

na panela ao fim do dia!

36

No refúgio desmanchamos,

quando ficamos a sós,

esses nós que carregamos

no fundo de todos nós!

37

Num concurso de comida,

quem concorreu foi otário,

porque o prêmio, ao fim da lida,

era um vaso sanitário!

38

Num concurso de embolada,

capricharam tanto, os dois,

que a dupla foi premiada

aos nove meses depois!

39

O dentista dedicado,

capricha na dentadura...

Mas não se dá por achado:

capricha mais na fatura!

40

O Poder, às vezes, cega...

e uma injustiça acontece;

mas a vida se encarrega

do castigo a quem merece!

41

O vento leve do estio

espalha as folhas do outono;

e a terra, fofa, no cio,

se entrega aos braços do outono.

42

O vento, zéfiro alado,

cavalga a onda e ponteia:

e a onda, num rendilhado,

vem descansar sobre a areia.

43

Paixão, por quem não esqueço;

(lembrança boa e ruim)

por quem me viro do avesso

e nem se lembra de mim!

44

Qual rio que em seu começo

procura um curso, um regaço,

no teu braço eu adormeço

e me esqueço do cansaço…

45

Quando a inspiração vagueia

à procura de um motivo,

o meu passado passeia

em cada verso que eu vivo.

46

Quando me pego tristonho,

de pensamento disperso,

tiro um sonho de outro sonho,

vou passear no universo!

47

Quando o pecado acontece

por algum amor insano,

o ser humano parece

que se torna mais humano!

48

- Que dança é essa, Maria,

que você se espatifou?

- Nós treinamos todo dia;

desta vez o Rock errou.

49

Quem dera se a vida fosse

mais simples de ser vivida:

nem todo regresso é doce,

nem sempre é amarga a partida…

50

Quem, no rumo desta vida,

se distrai na caminhada

pode acertar na partida,

mas pode errar na chegada.

51

Que tu sejas, nos teus brios,

quando buscares a glória,

altivo nos desafios

mas humilde na vitória!

52

Se é verdadeiro que é o cão

maior amigo da gente,

amigo de comilão

deve ser “cachorro quente”!

53

Segredos, quem não os tem?

Os meus segredos bendigo:

os maus – não conto a ninguém;

os bons – eu guardo comigo!

54

Ser dotado de Razão,

Um homem adulto sabe:

-não há virtude em vão;

-nem vício que não se acabe!

55

Serras íngremes, carpadas,

tão difíceis na subida,

são metáforas caladas

dos infortúnios da vida!

56

Sou fiel e não te nego

este dever que é uma lei:

Não pelo amor que foi cego,

mas pelo “sim” que te dei!

57

Sozinha em meu devaneio,

saudosa no meu queixume,

eu brindo ao vento que veio

devolver-me o teu perfume!

58

Tu chegas de madrugada,

cabisbaixo e sempre mudo…

E o silêncio da chegada,

sem palavras, já diz tudo!

59

Tu choravas... eu partia...

Os sonhos despedaçados;

e a garoa que insistia

em ter meus olhos molhados!

60

Tu lês os versos que eu faço,

e nem sequer adivinhas

o segredo que eu te passo

no espaço das entrelinhas…

61

- Vai um chopinho? É do bom!

- Eu só bebo destilado.

E o otário do garçom

pôs o copo do outro lado.

62

Vejo em frente, ali na praça,

só lixo, trapos e panos;

e, para a minha desgraça,

no meio – seres humanos!

63

Vendo o luxo da cigarra,

que não trabalha… faz “ponto”,

a formiga quer, na marra, 
alterar aquele conto!

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