1
A minha casa aparenta
o quartel de um batalhão:
- quanto mais a “tropa” aumenta,
mais aumenta a “prontidão”.
2
A minha vida hoje é feia,
neste exílio que me imponho.
Porém minha alma vagueia
pelas veredas do sonho…
3
Aquele fantasma, quando
o sono demora a vir,
combate a insônia contando
caveiras para dormir.
4
A solteirona não nega
a sua satisfação
ao ver que, na Noruega,
'coroa" tem cotação.
5
Cai a velha na lagoa
sendo a custo resgatada,
mas seu genro não perdoa:
– tanto barulho por nada?!!!
6
Em meio às paixões fictícias
de minha vida agitada,
comprei milhões de carícias
e continuo sem nada.
7
É o maior dos pesadelos
a afligir nossa nação:
- mãozinhas fazendo apelos
por um pedaço de pão.
8
Hoje, velhinhos que somos,
são nossos olhos em festa,
um santuário onde pomos
toda a ternura que resta.
9
Morre a sogra tão amada,
mas não muda a situação;
o fantasma da danada
prossegue a sua missão.
10
Nas veredas do destino
que trilhei quando rapaz,
sonho grande ou pequenino,
deixei tudo para trás.
11
Nesta vida o que eu queria
(muito embora não reclame)
era ter a mordomia
de um cachorro de madame.
12
Neste mar de falsidade,
um sorriso de criança
se assemelha, na verdade,
a uma ilha de esperança.
13
No cemitério a caveira,
entre suspiros bisonhos,
diz que encontrou, prazenteira,
o fantasma de seus sonhos!
14
No inferno, o recém-chegado
a lamentar seu fadário:
- Tudo por ter espirrado
quando escondido no armário!
15
O Bem, que a guerra desfaz,
há de colher às mancheias
quem a semente da paz
planta em searas alheias.
16
Pela seara que lavras
na vida, entre mil boatos,
não te entristeçam palavras
se desprovidas de fatos.
17
Quanto mais se torna rara
neste mundo a sensatez,
menos frutos da seara
na mesa do camponês.
18
Quebrado o grilhão do agravo
o júbilo então me invade.
Porém continuo escravo:
– escravo da liberdade.
19
Quem nasceu com a desventura
de não ver a luz do dia,
do olhar transfere a ternura
para a mão que acaricia.
20
Sempre que está de pirraça
a mulher do "seu" Vavá,
o pobre, por mais que faça,
tem que dormir no sofá.
21
Sofre o carteiro, na mata,
um arranjo repentino.
Muita carta, nessa data,
não chegou ao seu destino...
22
Só quem amou compreende
este ditado exemplar:
– a mulher que a dois pretende,
a três deseja enganar.
23
Sou da ilusão jardineiro;
e após mil sonhos desfeitos,
trago no peito um canteiro
de desamores-perfeitos.
24
Um carteiro dedicado,
em um dia de atropelo,
acabou sendo chamado
de relaxado, sem sê-lo!
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