quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Haroldo de Castro (1936 - 2003)


1
A saudade não me abala
nem tristeza me corrói.
O desprezo é que avassala,
e meu coração destrói.
2
Ausência, palavra amarga,
saudade não sei de quem;
tristeza que não se apaga,
nesse amor que vai-e-vem.
3
Com a língua portuguesa
vou trovando com ardor.
Nossa Pátria, que beleza,
Deus nos deu com muito amor!
4
Dentro de meu pensamento
uma ilusão pé fincou:
- Amar-te por um momento,
sonhar que ninguém te amou.
5
Eu tenho em mim  a saudade
de um coração bem sofrido
que não sabe o que é vaidade
e nunca foi compreendido.
6
Foi com Deus no pensamento
que vi nosso amor nascer.
Senti, naquele momento,
o motivo de viver.
7
Mágoas? Tenho-as em constante,
ao longo de minha vida,
desde aquele triste instante
que foste embora… querida!
8
Nem sempre a briga é conflito,
quando o bom senso a conduz;
certas pedras, em atrito,
soltam centelhas de luz!
9
O beijo que tu me deste,
teve jeito de oração,
pois com ele tu vieste
dar-me a força do perdão!
10
O desprezo que me dás,
negando amor e carinho,
é maldade, não se faz,
com quem vive tão sozinho!
11
Ódio, traição, covardia,
é triste ter que dizer:
É a parte do dia a dia
dos covardes no poder…
12
Oh! saudade matadeira,
traz de volta, por favor,
a minha paz verdadeira,
dada por Nosso Senhor!
13
Olhando o mar eu versejo,
fazendo mais esta trova:
Nas águas verdes te vejo
e o mar feliz, se renova.
14
Os passos que foram dados,
no furor de minha vida,
foram todos reciclados
de uma vivência perdida.
15
Quando apertado em teus braços,
sinto enorme calafrio,
pois eu tenho teus abraços
mas num abraço vazio...
16
Quando partires, querida,
não leves meu coração.
Leva apenas a ferida,
deixa só minha ilusão!
17
Quando temos esperança
o sol é mais radiante,
e até no olhar da criança
a paz se mostra constante.
18
Quem disse que o pensamento
não é leve como a luz,
não teve em nenhum momento
as graças do bom Jesus.
19
Quem no futuro não crer,
na vida, na paz, no amor,
não tem esperança em ter
a paz de Nosso Senhor!
20
Quem perde seu tempo em vão
com coisa pequena e fútil,
já bem sabe, de antemão,
que nada fará de útil.
21
Só quando existe esperança,
na vida de um sofredor,
é que ele vê na criança,
o quanto é belo o amor!
22
Sou poeta trovador,
na trova sou bem capaz:
Faço trovas com amor
que muito me satisfaz.
23
Tenho meu passo cansado,
de caminhar pela vida,
neste mundo já abalado
e de vida mal vivida.
24
Tens a doçura do mel,
a claridade da Lua.
És uma estrela do céu
vivendo na minha rua.
25
Valeu, Mestre, eu vos proclamo,
no reino dos sabedores,
um  amigo que muito amo,
– professor dos professores!

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