quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Luiz Machado Stábile

1
A causa não foi à toa
de tão grande quebradeira:
– era o “gato” da patroa
e a “gata” da cozinheira.…
2
A criança abandonada,
sem pai, sem teto, sem pão,
tem a violência estampada
no rosto e no coração.
3
A dúvida do velhinho,
quanto ao filho da mulher,
é saber se é do vizinho,
do mordomo ou do chofer…
4
A mãe, mulata de festa,
o pai, português do Minho,
e a grande surpresa é esta:
– o filho nasceu loirinho…
5
A patroa se consome
ao descobrir que a empregada
sendo Pimenta no nome,
tem a língua apimentada…
6
A surpresa foi danada
para o pai, pois disse o filho:
-Tá curta, velho, a mesada,
vê se dispara o gatilho!.
7
A tua volta, querida,
é força que me renova,
põe amor em minha vida
e euforia em minha trova.
8
Chora a viúva do Honório
que morreu envenenado;
e o "veneno", no velório,
"mata" qualquer convidado!
9
Dançamos de passos certos,
mas a dança não nos faz
corrigir passos incertos
de tantos anos atrás.
10
Diante dos outros - carinhos.
Perto de estranhos - afagos.
E surra, se estão sozinhos,
depois de dois ou três tragos!
11
Ela tem barriga d'água?
pergunta a mãe, preocupada,
e o médico, sem ter frágua:
- Mas o peixinho já nada...
12
Eu sinto que este chamego
por ti é mais do que isso;
é mais do que amor e chego
a crer que é puro feitiço.
13
Eu duvidei, na verdade,
de tudo quanto afirmaste,
mas hoje, nesta saudade,
sinto que me enfeitiçaste.
14
Fazer trova com humor,
sobre escuro... não sei, não!...
Previna-se o trovador:
- é "humor negro" - eles dirão...
15
Fazia gato e sapato
com o marido. Coitado!
Mas, uma noite, seu “gato”
miou em outro telhado!…
16
Iniciou-se muito cedo
nossa história bela e grata
e o que pareceu brinquedo,
são hoje bodas de prata.
17
Mãe e filha são Pimenta,
e o velho, que é "vermelhão",
com santa paciência aguenta
a alcunha de "Pimentão".
18
Marujo, velho marujo,
na lábia dela não vais.
Conheces o dito cujo”
e é por isso que não cais.
19
Mesmo sendo pequenina,
com ela ninguém se meta,
pois sua língua ferina
é pimenta malagueta!
20
Na dança de roda existe
uma alegria sem fim,
que acorda a criança triste
que dorme dentro de mim.
21
Ninguém mais olhava a fita,
que o namorado e a Jurema
faziam cena inaudita
no escurinho do cinema!
22
Numa tarde fria e turva,
foi dar uma fugidinha:
Aí... “derrapou na curva”
na “condução” da vizinha…
23
O fandango dos Menezes
foi tão bem organizado,
que no fim de nove meses
começa a dar resultados…
24
O marujo acostumado
às ondas jamais tonteia,
mas na terra, se ‘molhado”,
anda tonto, volta e meia.
25
O patrão, com muita sede,
procurava água gelada,
mas foi achado na rede
lá no quarto da empregada.
26
O vizinho, eletricista,
ela, dada a calafrios,
bastou-lhe um golpe de vista
pra ter choques e arrepios…
27
Prometeu tudo pra ela:
– das joias à lua até.
Casados, deu-lhe panela
e um fogão com chaminé!
28
Quando daqui tu partiste,
de modo algum me abalei;
só uma coisa me fez triste:
– a surra que não te dei!
29
Quando partes, fico em trevas
e não sei se minhas queixas
vêm dos sorrisos que levas
ou das tristezas que deixas!
30
Que importa a dança das horas
que vão céleres passar?
Importa, quando demoras,
a hora em que vais voltar.
31
Querendo afogar as mágoas
vai à pinga, vai ao bar,
mas, como vive nas águas
elas já sabem nadar…
32
Se um dia calar meu canto
e eu não puder mais lutar,
que não me falte, no entanto,
coragem para sonhar.
33
Teus olhos são, em verdade,
a minha fonte de vida:
– são dois faróis de bondade
na minha noite sofrida…
34
Todos sabem que assim é,
como eu próprio também sei:
– vive o cristão, pela fé,
muito mais que pela lei.
35
Veloz, corria na praia,
despreocupado e ao léu...
Viu uma “curva” sem saia,
e só acordou no céu…
36
“Volto em breve” – eis a promessa
de todo marujo esperto,
e como promete à beça,
não volta nunca, por certo.

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