segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Belmiro Braga (1872 - 1937)


1
A beleza não te atrai?
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
que morreu velho e... solteiro.
2
A caridade... Consola         
ao vermos que ela é perfeita,
não por ser grande a esmola,
mas no modo por que é feita.
3
A mãe que aperta no seio
um filho de seu amor,      
tudo enfrente sem receio   
a calúnia, a injúria e a dor.
4
A mãe que a um filho acalenta
- tal o seu amor profundo -
tem a impressão que sustenta
em seus braços todo um mundo.
5
Amigos... E quanta gente
não crê na verdade atroz
que, no mundo, há somente:
- Aquele que existe em nós.
6
A mulher, além de terna,
faz tudo com perfeição,
que até nos passando a perna,
tem a nossa gratidão...
7
Aquele que dá esmola
tem duas vezes a palma:
- Primeiro, o pobre consola,
depois, consola a sua alma.
8
As almas de muita gente
são como o rio profundo:
-a face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!...
9
Assim como brotam flores
do triste, empedrado chão,
em rima brotam-me as dores
que trago no coração.      
10
A vida, pelo que vejo,
hoje é  vale e amanhã cimo:
-A quantos pobres invejo
e a quantos ricos lastimo!
11
Casa em março Ester Macedo
e em julho é mãe... Ora, o alarde!
O filho não veio cedo,
o esposo é que veio tarde...
12
Chegaste, afinal ! Chegaste
no instante mais preciso;  
vens trazer a quem mataste
as rosas de um teu sorriso...
13
Com juiz, reto e calmo
posso afirmar sem receio:
- Mulher de boca de palmo
tem língua de palmo e meio
14
Coração, bate de leve;
deixa os teus sonhos horríveis,
que um coração nunca deve
sonhar coisas impossíveis.
15
Desilusões, desenganos,
tudo a velhice nos traz,
mas existe, além dos anos,
a eterna bênção da paz...
16
Dizem que a lágrima nasce
do fundo do coração...
Ah! se a lágrima falasse,
que doce consolação!
17
Do berço à tumba há um caminho
que todos tem de transpor:
de passo a passo - um espinho,
de légua em légua - uma flor.
18
Dos beijos me lembro, Glória,
mas não do sabor, meu bem.
Por que a fronte tem memória
e a minha boca não tem ?
19
Em ti, minha mãe, se encerra
todo o meu maior troféu:
- guardas num corpo de terra
uma alma feita de céu.
20
Entre o berço e a sepultura
um relâmpago fugaz,
mas que século perdura
pelo que nele se faz!
21
Eu morro por Filomena,
Filomena por Joaquim,
o Joaquim por Madalena
e Madalena por mim.
22
Eu não lamento o revés
do morto que se fez pó;
do vivo, que espera a vez
desse sim, eu tenho dó.
23
Fiz na vida o meu escudo
desta verdade sagrada:
- o nada com Deus é tudo
e tudo sem Deus é nada.
24
Há dois poderes no mundo
que tudo movem. Primeiro:
- Mulher bonita. Segundo:
dinheiro, muito dinheiro.
25
Há no livro uma luz calma
que torna o mundo maior:
- quem vê pelos olhos da alma,
vê mais longe e vê melhor.
26
(Mãe) Acima de tudo, acima
do céu, te devemos por:
o teu nome não tem rima,
nem limite o teu amor.
27
Meu coração é uma ermida
toda enfeitada de flores,
onde conservo escondida
Nossa Senhora das Dores.
28
Minha vida é uma jangada
num mar revolto de escolhos,
baloiçando sossegada
à doce luz dos teus olhos.
29
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a finados.
30
Muito mais desenxabido
que a goiaba sem queijo,
é te abraçar, bem querido,
e não poder dar-te um beijo.
31
Muitos supõe a ventura
ver em meus olhos brilhar,
quando esse brilho é tortura
de não poder chorar.
32
Mulheres que eu vi no banho,
vejo-as depois no salão!
-Se pelo rosto as estranho,
pelas pernas sei quem são.
33
Na justiça tem confiança
e verás depois, surpreso
que, por ter venda e balança,
ela te rouba no peso.
34
Não conhecem mesmo os sábios
este caso singular :
- Fala a mente pelos lábios
e o coração pelo olhar.
35
Na terra que te consome,
nem uma triste inscrição!
Pudera! Porque teu nome
não me sai do coração.
36
Na vida, maior ventura
nada nos pode causar
do que a tépida ternura
que nos vem de um doce olhar.
37
(À Maria Teresinha)
Nestes dois nomes se encerra
um rutilante troféu:
- Se Maria é a flor da Terra,
Teresinha é a flor do céu.
38
No anel que me deste, pego
e vejo que é falso, crê.
- Se o amor verdadeiro é cego,
também falso é o amor que vê...
39
Noite de núpcias. O Gama
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama :
— Posso, enfim, ver-te vestida!
40
Num tronco seco, sem vida
minha mão teu nome abriu
e o tronco seco, em seguida,
reverdeceu e floriu.
41
Olhos pretos, dois acesos
e rescendentes carvões:
- Par de algemas que traz presos
corações e corações.
42
O noivo, da noiva outrora
via o rosto e nada mais;
se o rosto não vê agora,
todo o resto vê demais...
43
O que perdemos na vida,
procuramos sem achar,
exceto a mulher perdida,
que achamos sem procurar...
44
Os beijos, segundo os sábios,
dados com muita afeição,
não deixam sinal nos lábios,
mas deixam no coração.
45
Ouvindo-a falar da vida
dos próprios pais, tive pena
de ver língua tão comprida
numa boca tão pequena.
46
Para ser feliz, um louco
costuma me aconselhar:
- deverás desejar pouco   
e quase nada esperar...     
47
Pobre de mim! Por desgraça
meu coração é um coador:
nele, o riso escorre e passa
e fica o que é dor.
48
Por ver-me alegre e contente,
julga-me o mundo feliz:
nem sempre o coração sente
aquilo que a boca diz…
49
Prezado amigo, perdoa
a resposta demorada:
tu sabes, quem vive à toa,
não tem tempo para nada.
50
Quanta vez junta a um jazigo
alguém murmura de leve:
- Adeus para sempre, amigo!
E diz-lhe o morto: - Até breve!
51
Quantas vezes tenho ouvido:
- como ele ri de prazer!        
Quando esse riso é um gemido
que aos lábios me vem morrer...  
52
Que grande, triste verdade
me sussurra o coração:
- a dor é uma realidade,
a alegria - uma ilusão...
53
Quem maldiz a vida, prova
não conhecer que ela é vã:
- no espaço do berço à cova
há ontem, hoje, amanhã.
54
Quem, mesmo nas alegrias,
de lastimar não se furta
de ver tão longos dias,
para uma vida tão curta?..
55
Quis a sorte que te visse,
quis o amor que eu te adorasse,
quis o dever que eu partisse,
quis a paixão que eu ficasse.
56
Saudade... palavra linda,
de sete letras... Saudade
é noite que tem ainda
lampejos de claridade.
57
Sobre o triste chão de abrolhos
em que tu vieste ficar,
meus tristes, cansados olhos,
não se cansam de chorar.
58
Tenho um neto e essa ventura
veio florir os meus dias,
que um neto é um sol que fulgura
num céu de nuvens sombrias.
59
Teu coração é morada
que não atrai, felizmente:
– Quem nele arranja pousada
encontra a cama ainda quente.
60
Teus olhos, Rosália amada,
me recordam dois ladrões,
sob a pálpebra rosada
tocaiando corações...
61
Tu não vês que vivo louco
por causa desta afeição ?
Coração, sossega um pouco,
coração sem coração !
62
Uma princesa parece
pelos trajes do alto preço,
mas quanta gente conhece
seus vestido pelo avesso!…
63
Vi teus braços... que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
Que eu quero ver o teu rosto.
64
Vivo, encheu (a História o prova)
com suas glórias o mundo,
e, morto, não enche a cova
de quatro palmos de fundo.
_______________________
NOTA: As trovas tem por regras a obrigatoriedade da rima do 2. com o 4. verso, mas não existe a necessidade de rimar o 1. e 3. versos, contudo para os Concursos de Trovas, é obrigado o 1. rimar com o 3. e o 2. rimar com o 4.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Cornélio Pires


1
A boca do maldizente
que vive de reprovar;
é igual à boca da noite,
que ninguém pode fechar.
2
Afirmação que interessa
tanto ao fraco quanto ao forte:
Quem açambarca a fortuna,
desconhece a lei da morte.
3
Amor puro é qual diamante
de beleza singular,
mas se é vendido ou tem preço,
qualquer um pode comprar.
4
Ante a Lei de Causa e Efeito
que nos libera ou detém,
há muito bem que faz mal,
muito mal produz o bem.
5
Ao morrer, disse Romário:
“volto já…”, falando a custo.
Após seis meses, voltou…
A esposa caiu de susto.
6
A pessoa ponderada
aceita o dever, age e pensa;
Não exagera perguntas,
falar demais é doença.
7
As minhas trovas de agora;
não guardam nada de novo,
são pensamentos dos sábios;
com pensamentos do povo.
8
Até que haja na Terra
limpeza de alma segura,
todos nós carregaremos
um pouquinho de loucura.
9
Baixo os olhos desta altura...
O passado... ai! O passado...
A minha alma era tão pura;
não tinha nem um pecado…
10
Branca, amarela ou morena
nos sofrimentos da estrada
se é mão que dá socorro
será sempre abençoada.
11
Computador é progresso,
facilidade de ação,
prodígio da inteligência,
mas precisa direção.
12
Convidado para a festa
não se adianta, nem demora,
nunca surge tarde ou cedo,
dará presença na hora.
13
Da multidão dos enfermos
que sempre busco rever
o doente mais doente
é o que não sabe sofrer.
14
Diz o mundo que a nobreza
nasce de berço opulento,
mas qualquer pessoa é nobre,
conforme o procedimento.
15
Em qualquer grupo racista
de sábios crentes e ateus,
perguntemos seriamente,
de que forma é a cor de Deus.
16
Em questões de livre-arbítrio,
discernimento é preciso;
todos temos liberdade,
o que nos falta é juízo.
17
Eis uma dupla correta
que na vida é sempre clara:
O sofrimento nos une,
a opinião nos separa.
18
Ele ajuntou prata e ouro,
porém, não achou transporte,
quando buscou pensativo,
a grande agência da morte.
19
Estes versos me nasceram
na intimidade do peito,
se alguém lhes der atenção;
fico grato e satisfeito.
20
Existem casos ocultos
nos corações intranquilos
que, a benefício dos outros,
não se deve descobri-los.
21
Existem homens famosos,
e muitos deles ateus,
esquecidos de que moram
no grande mundo de Deus.
22
Fenômeno admirável
para os crentes e os ateus;
notar em cada pessoa
a paciência de Deus.
23
Foi-se a infância fugidia...
Choro - a saudade é um açoite -
o tempo em que amava o dia
e tinha medo da noite!
24
Há mulheres arruinadas
na luta em que se consomem.
não por fraqueza ou maldade,
mas por desprezo do homem.
25
Já que o mal nasce de nós
como vem e quando vem,
bendita seja a pessoa
que apóia a força do bem.
26
Males pequenos em nós,
não são frágeis como julgas;
até um leão feroz,
tem de lutar contra as pulgas.
27
Matrimônio, companheiro,
exige muito cuidado;
pai Adão dormiu solteiro,
depois acordou casado.
28
Não te irrites, nem fraquejes;
quando mais te desconfortas,
a tua vida é uma casa
com saída de cem portas.
29
Não te revoltes se levas
uma existência sofrida,
a provação, quando chega,
age em defesa da vida.
30
No corre-corre dos homens
há quadros fenomenais.
Anota: Quem sabe menos;
é que fala muito mais.
31
No que fazer e fizeste
registra em paz o que tens;
há muitos bens que são males,
muitos males que são bens.
32
Observando a mim mesmo,
anoto em linhas gerais;
os nossos irmãos mais loucos
estão fora de hospitais.
33
O dono de muitas capas
da mais rica às mais singelas
nas horas de frio ou chuva
veste somente uma delas.
34
“O homem deixou milhões”
falei ao sábio Jomar.
Disse-me o sábio: “Deixou
porque não pode levar”.
35
O orgulho é uma enfermidade
na pessoa a que se aferra,
doença que a vida cura
usando emplastros de terra.
36
Para quem pensa e trabalha
em benefícios reais
qualquer barulho atrapalha,
silêncio nunca é demais.
37
Provérbio antigo que achei,
entre nobres companheiros:
“O avarento passa fome
para luxo dos herdeiros “.
38
Quem quiser auxiliar
de qualquer modo auxilia;
quem não quer, manda fazer
ou deixa para outro dia.
39
Quem quiser saber o início
das grandes obras do bem,
procure ajudar aos outros,
nem fale mal de ninguém.
40
Quem quiser ter vida longa
pelos caminhos terrenos,
no curso do dia a dia
coma pouco e fale menos.
41
Registro esta nota sábia
do doutor Joaquim de Malta:
“Riqueza não traz ventura,
mas o dinheiro faz falta.”
42
Sabedoria só age
no que for justo e preciso;
mas a ciência, por vezes,
age fora do juízo.
43
Sem sofrimento em nós mesmos,
não se sabe o que se é,
não se sabe da ingenuidade
nem se sabe se tem fé.
44
Silêncio é um amigo certo,
guardando virtudes raras,
no entanto, a palavra livre,
às vezes, tem muitas caras.
45
Sociedade é um jardim
de expressão risonha e bela;
entretanto, a convivência
exige muita cautela.
46
Vinha do enterro do avô,
mas jogou na loteria;
ganhando cem mil reais,
Antônio chorava e ria.
____________________________

NOTA: As trovas tem por regra a obrigatoriedade da rima do 2. com o 4. verso, mas não existe a necessidade de rimar o 1. e 3. versos, contudo para os Concursos de Trovas, é obrigado o 1. rimar com o 3. e o 2. rimar com o 4.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Dáguima Verônica


1
A expressão dos sentimentos,
no  compasso da canção,
transfigura  os movimentos
em magia e sedução.
2
Amor, senhor da utopia;
Tempo, senhor da razão.
Mas, nessa eterna porfia,
sempre vence o coração.
3
Ao soltar pipa, a criança
desata as peias do sonho
e acende a luz da esperança
para um futuro risonho.
4
Coração duro, fechado,
prenhe de angústia e rancor,
constrói cárcere privado
com grades feitas de dor.
5
Coração, vê se te aquieta
não bebas desse pecado,
cuidado, que ele é poeta...
não fiques apaixonado!
6
Da minha terra encantada
eu guardo a estação mais bela,
o canto da passarada
e os meus sonhos de janela!
7
Deixaste sobre o deserto
pegadas de tua andança;
o vento virá, por certo,
dissipar qualquer lembrança.
8
Desafiando a ciência,
superando meus fracassos
eu quebrei o elo da ausência
só para ter-te em meus braços!
9
Desde as janelas de outrora
ao mais novo monitor,
da noite ao romper da aurora,
corremos atrás do amor.
10
Destemida, aventureira,
meu destino é caminhar;
Não tem ponte nem porteira
que eu não possa atravessar.
11
Deus, o Artista, se revela
e sua obra prima alcança
na amizade mais singela,
no abraço de uma criança.
12
Dois amigos, um caminho...
Uma história de amizade;
num contexto de carinho
constrói-se a felicidade.
13
Duas taças, dois amantes,
roupas jogadas no chão...
Velhos lustres, tremulantes,
testemunhas da paixão.
14
Em pensamentos risonhos,
naveguei pelos espaços
numa gôndola de sonhos,
feliz cativa em teus braços!
15
Enfrento o escuro da noite
singrando os mares da lida
e a solidão, feito açoite,
me lança aos braços da vida.
16
Entre a multidão imensa,
eu vejo pelas calçadas,
solidão e indiferença
caminhando de mãos dadas.
17
É setembro! É Primavera!
Deus, o artista das mudanças,
em seu ofício se esmera
para alegrar as crianças.
18
Eu perco o chão dos meus pés
num rodopio em teus braços!...
Em degradê ou viés
o amor vai tecendo laços.
19
Farol altivo que guia
o meu barco,  a navegar,
rasgue o véu da nostalgia,
faça o meu amor voltar!
20
Folhas migradas de outono,
tais quais meus sonhos trincados,
vagam pelo chão, sem sono,
à demanda de outros prados...
21
Gerando empregos, divisas,
a floresta exuberante
move o mundo das pesquisas,
dá vida a cada habitante.
22
Jamais se perde o contato
de um lar se, sobre a mobília,
existe um porta-retrato,
que imortaliza a família.
23
Jorra a luz feito cascata,
pelas mãos do Criador,
quando a lua, Eros de prata,
abre a janela do amor.
24
Mãos que se irmanam nas lidas,
dos irmãos sanando os ais,
embora não parecidas,
pelo amor tornam-se iguais.
25
Meu amor, não me abandone
que as lembranças me devassam
e eu passo as horas insone
nessas horas que não passam...
26
Meu verso é barco largado
na pauta da inspiração;
tendo Deus sempre ao meu lado
não temo nem furacão!
27
Na corda bamba da vida,
eu  venci! O meu segredo?
Foi, sob a  pressão da lida,
derrotar meu próprio medo.
28
Não desista ante empecilhos
que o segredo é acreditar;
quem corre a favor dos trilhos,
cedo ou tarde há de chegar!
29
Não recue ante a fileira
de tantas portas fechadas,
que a persistência é a bandeira
que as tornam escancaradas!
30
Não se compra, tendo em vista
que não se vende alegria;
felicidade é conquista
que se faz no dia a dia.
31
Não se quede ante as mazelas,
seja terno e pertinaz,
que  caminhos são janelas
que conduzem  para a paz.
32
Não teme, nunca, o amanhã
quem toma a nobre atitude
de guardar na alma anciã
os sonhos da juventude!
33
Nas mãos ungidas por Deus,
repousa o Espírito Santo
mostrando, a crentes e ateus,
que é tempo de um novo encanto.
34
Na tarde que se desfaz
borda, o sol, rendas no mar
com linhas de amor e paz
para o meu sonho enfeitar.
35
No emaranhado das linhas,
pelo avesso desta lida,
descobri, nas entrelinhas,
Deus bordando o chão da vida.
36
Noiva mineira exigente,
do tipo que não debanda,
traz o noivo na corrente
só para mostrar que manda!
37
No silêncio do meu grito
ouço a voz da solidão...
Nos meus versos deixo escrito
como está meu coração.
38
Nos vagões de um mesmo Trem,
por sobre trilhos em flor,
sou peregrina do além,
sou mensageira do Amor!
39
Numa rede um sonho a dois
sob as cores do arrebol:
— Fazer amor e depois
deleitar-se à luz do sol.
40
O céu pinta de esperança
o cenário da injustiça:
- Meu  Brasil, desde criança,
explorado por cobiça.
41
O meu tema preferido
 é trovar minha saudade,
dessa forma faz sentido
minha “ausência” na cidade.
42
O passado e seus escombros
de preces que a Deus eu fiz.
Um vazio sobre os ombros
dos sonhos que Ele não quis.
43
Pedi a Deus, tanto, tanto
que a resposta Ele me lança:
– A saudade enxuga o pranto
no grosso véu da esperança!
44
Poluição, violência e medo...
O Planeta pede aliança:
desenhe um sol no rochedo,
acenda a luz da esperança!
45
Prego o bem por onde passo,
paz e amor semeio ao léu
e em cada trova que faço
chego mais perto do céu.
46
Presente na mente sã,
a diversidade é bela!
Parece o sol da manhã
desenhando uma aquarela.
47
Quando a minha inspiração
se retira e vai embora,
eu procuro a solução
descobrindo onde ela mora.
48
Quando pensei que eras meu
- no poder daquele olhar -
o imprevisto aconteceu:
– Era filme o meu sonhar!
49
Quem da luta tira o pão
trabalha feito formiga,
pois sabe que o pobre irmão
depende da mão amiga.
50
Quem já foi um prisioneiro
- se não der uma guinada
permanece em cativeiro,
mesmo a porta escancarada.
51
Que mundo maravilhoso
e em verso deixo meu grito:
- É Deus, pintor primoroso,
pondo cores no infinito!...
52
Quero envelhecer sem medo,
arrolar-me  na esperança.
Das rugas não ter segredo...
Ser na vida uma criança!
53
Seja em qualquer situação
- com fartura  ou sem guarida -
basta amor e uma canção,
para  transformar a vida!
54
Se perder o chão dos pés,
não chore, pois, em verdade,
muitas vezes num revés
se encontra a felicidade.
55
Sou feliz, estou amando!
Minha vida é só cantar,
na chuva vivo bailando
nos braços do verbo amar.
56
Trabalhe sobre si mesmo,
fazendo da alma cinzel.
Quem não leva a vida a esmo,
vence a luta mais cruel.
57
Tuas cartas eu rasguei,
recortei em mil pedaços,
cada bilhete eu colei
desenhando os teus abraços.
58
Um pequenino poema,
das artes, a mais formosa;
a trova é mais que um emblema:
– é uma crença religiosa!...
59
Voando sobre a amplidão
qual belo cartão postal,
araras em extinção,
pedem vida ao Pantanal.

Cézar Augusto Defilippo (Zé Gute) Trovas em Preto & Branco

  1 Ao ver-te mãe, insegura, percebo em meio à pobreza que o teu olhar de ternura tem muito mais de tristeza.  2 Canoeiro chora ao marco da ...