Trovadores em Ordem Alfabética

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domingo, 24 de agosto de 2025

Neide Rocha Portugal (Bandeirantes/PR)

1
A carranca, na janela,
tanto medo produzia,
que ao passar em frente dela
o diabo se benzia...!
2
A família, com seus “trancos”,
às vezes não é perfeita...
Mas aplainando os “barrancos”
com jeitinho ela se ajeita!...
3
- A fechadura enguiçou!
Grita o bêbado na rua;
Quando um vizinho alertou:
- Esta casa não é sua!...
4
A glória, em nenhum momento,
vale pela caminhada
de quem, sem discernimento,
pisa os fracos pela estrada!
5
A mulher, em vigilância,
põe o “gajo” no porão,
pois conhece, na distância,
o ronco do caminhão!...
6
Ante a decisão errada
de um momento, em desatino,
a resposta não pensada
altera qualquer destino!
7
Ante a dor e a nostalgia
surge a luz... e, de repente
parece que um novo dia
surge na vida da gente!
8
Ao ler “FECHADO POR LUTO”
o bebum se envaideceu:
- eu bebi todo o “produto”...
e o boteco é que morreu!
9
A primavera dá cores
e o destino me dá tranco,
por isso é que as minhas flores
são todas em preto e branco!...
10
Até o destino chorou
ao ver tantos embaraços
que depressa colocou
você de novo em meus braços!!
11
A velha revirou tudo,
mas no escuro ela não via
que atrás do criado-mudo
a dentadura... sorria!!!
12
A vida parece um rio
neste universo sem fim;
quanto mais me distancio
mais eu me afasto de mim!
13
Caminho em qualquer estrada,
atento aos princípios meus:
- nem sempre aquilo que agrada,
agrada aos olhos de Deus!...
14
Causa tristeza maior,
ante o muito que se almeja,
quando a surpresa é menor
que aquilo que se deseja!
15
Caxias, em luta armada,
mostra que ao pacificar,
quem quer a paz esperada
precisa saber lutar!...
16
Contemplando, ao fim da vida,
só lembranças... nada mais,
a minha alma, entristecida,
ronda sempre o mesmo cais!
17
- Dei um suspiro, mais nada!
Mas o filhinho, matreiro,
pergunta, dando risada:
- Mamãe, suspiro tem cheiro???
18
Dilemas, frases mesquinhas,
melhor que acabem de vez,
se existem duas rainhas
no teu jogo de xadrez!...
19
Diz o doutor, sem mancada:
- Tire a blusa de veludo.
E a velha bem assanhada:
- Não é melhor tirar tudo?
20
Em conversa, me dizia,
Zé Fernandes, o Doutor,
que o sonho que mais queria
era ser um trovador!
21
Em nosso mundo restrito,
a liberdade é criança
que ergue os pés para o infinito
mas o braço não alcança!!!
22
Entre o barro e o pó da estrada
das lavouras de onde eu venho,
minha herança, na jornada,
são esses calos que eu tenho!
23
Esperança é um galho torto
numa floresta esquecida:
por fora, parece morto;
por dentro, cheio de vida!
24
- Fazer prédio? Desperdício!
Diz o caipira a sorrir:
- Se embaixo diz “Edifício”,
como é que se vai subir?
25
Foi tão falso o teu apreço,
que no instante em que fui tua,
esqueceste o endereço,
o meu nome... e a minha rua!
26
Lá no asilo começaram
a briga, e nas “bofetadas”,
os velhinhos acordaram
de dentaduras...trocadas!
27
Lutando em busca de espaço,
naqueles tempos de outrora,
era menor o cansaço
do que o cansaço de agora!
28
Mantendo a calma, na espera
pelo teu amor eterno,
minha vida é primavera
que nem se lembra do inverno!
29
Meus filhos, que eu não renego,
mesmo que os dias feneçam,
são primaveras que eu rego,
para que sempre floresçam!
30
Não bastam as mãos erguidas
pedindo paz e união:
- as distâncias são vencidas
quando a ponte é o coração.
31
Não chore e nem perca a calma,
querendo um rosto perfeito;
quem traz a meiguice na alma,
não mostra nenhum defeito!...
32
Não entendo olhares falsos
que desviam, nos caminhos,
quando encontram pés descalços...
sangrando sobre os espinhos!
33
Não faça de um nó no peito
motivo de pessimismo:
- é graças a um nó bem feito
que se transpõe um abismo!
34
Não há paixão que descarte
a despedida sem mágoas:
todo veleiro que parte,
deixa um rastro sobre as águas!
35
Não me assuste se eu te assusto,
que dois sustos assustados,
vão provocar grande susto
em dois sustos desmaiados!
36
Não me peças esperanças
Perdidas em vendavais,
se eu não posso ter lembranças
do que eu já nem lembro mais!
37
Não me prendo à realidade
mais por questão de direito:
- quem chega na minha idade
já fez tudo... e fez bem feito!...
38
Não sou artista, sequer,
nem tenho vida notória,
mas o teu corpo, mulher,
eu esculpo na memória!
39
Nas madrugadas de frio,
o circo deixa a cidade...
E, no terreno vazio,
Sobram restos de saudade!...
40
No casório da vizinha,
uma invejosa insinua:
- quem nasceu pra ser galinha,
nunca chega a ser perua!
41
No Norte, o povo valente
pede a chuva em oração
para que brote a semente
e que nunca falte o pão!
42
No velho sonho dourado,
a liberdade é ilusão:
- seja qual for o reinado,
quem manda é sempre o leão!
43
O caixão do aposentado
era curto, e ele, comprido:
na vida... foi “apertado”
na morte... foi “espremido”!
44
O rio passa...arrebenta,
causando estragos, desgostos,
e, quando passa a tormenta,
brotam riachos... nos rostos.
45
Os agrados de verdade
que você me prometeu,
me fazem sentir saudade
do que não aconteceu!...
46
O tempo, em suas mensagens,
poliu tanto o camafeu,
que eu não sei, nestas imagens,
quem é você...quem sou eu!
47
- O teu ovo... não repico!
Diz a galinha peteca.
- Menor que o do tico-tico
e dentro não tem meleca!
48
O velho mar sente o cheiro
e redobra o seu carinho
ao perceber que o cargueiro
está transportando vinho!
49
O vinho, em nosso passado,
por mais tinto que ele fosse,
em nosso beijo, molhado,
não era tinto... era doce!
50
Para rever quem ficou,
voltei à mesma janela.
E o tempo, que em mim passou,
nem tocou no rosto dela!...
51
Pelo mapa, ninguém nega,
e ao medir os seus assombros,
vê que o gaúcho carrega
todo o Brasil em seus ombros!...
52
Quando a sogra sente dor,
o genro bem “solidário”,
nunca lhe traz o doutor,
traz sempre o veterinário!
53
Quando a vida não descora
a identidade dos brilhos,
o nosso brilho de outrora
se reflete em nossos filhos.
54
Quando penso estar partindo
por estar velho e sozinho,
o tempo vai permitindo
que eu viva mais um pouquinho!...
55
Quanta energia perdida
ao longo de uma jornada,
de quem passou pela vida,
teve tempo... e não fez nada!
56
- Quanto custa a dentadura?
- Eu cobro vinte por dente.
E a velhinha, na “pindura”:
- Então põe só os da frente!...
57
Quem vive igual “parafuso”
só no “aperto”, vive em pânico:
de oficina, não faz uso...
e desvia de mecânico!!!
58
Se agora vivo sozinho
carrego a culpa, fui falho,
ao trocar o bom caminho
pela ilusão de um atalho!...
59
Sem ver o pão sobre a mesa,
eu não reclamo, porque,
em meio a tanta pobreza,
minha fortuna é você!...
60
Silêncio nas madrugadas...
e enquanto adormece a flor,
brotam searas molhadas
dos nossos beijos de amor!
61
Sinto, aos apelos em vão,
quando minha mão acena,
que aos homens falta visão...
ou minha mão é pequena!
62
Solidão, cerveja quente
e espera de quem não vem...
somente quem prova... sente
o gosto amargo que tem!
63
Sorrateiro... sem fumaça,
arrasador, inclemente,
é aquele fogo que passa...
- Queimando os sonhos da gente!
64
Teu adeus foi muito grave,
mas o destino conforta:
perdeste a cópia da chave
e voltaste à mesma porta!...
65
Tua cantiga de amor
adormece em tempos idos,
mas o vento, a meu favor,
vem soprá-la em meus ouvidos!
66
Vem Trovador, vem correndo
ao meu Paraná, porquê,
o Pinheiro está morrendo...
-De saudades de você!

Olavo Dantas Itapicuru Coelho (Crisópolis/BA, 1901 – 1997, Rio de Janeiro/RJ)

1
Ao dormir de ti me esqueço
e parece singular:
- No momento em que adormeço,
só contigo vou sonhar.
2
Com o lenço que retirei
de tuas mãos, todo alvor,
minhas lágrimas sequei,
disse adeus ao teu amor.
3
Em cada adeus que te dou,
um suspiro vai voando.
Como é longo, certo estou
que ele vai te acompanhando.
4
Entrei na vida querendo
riquezas, fama e louvor.
A vida é, fiquei sabendo,
sonhos, trabalhos e amor.
5
Estavas alegre quando
eu te vi bela e faceira:
- Por isto passei sonhando
contigo a semana inteira.
6
Eu te julguei um brilhante
ao cantares de sereia.
Mas vi, um pouco adiante,
que eras só um grão de areia.
7
Junto de mim um instante
esteve a Felicidade.
Desde então segue os meus passos
o seu perfume: a saudade.
8
“Longe estás”, assim dizia
meu caderno de lembrança.
Enquanto houver luz do dia,
sempre haverá a esperança.
9
Não te quero, nem me queres,
é tudo exato talvez.
Mas se me encontrar preferes,
fico feliz se me vês.
10
Nem tudo na vida é ouro
e tudo passa ligeiro:
Só o sonho é duradouro,
só o sonho é verdadeiro.
11
Nos barcos, os pescadores
ao passar dizem adeus.
Como doces são amores
quando vejo os olhos teus!
12
O amor é cego e há quem fale
que tem mandinga ou magia;
pois é o cego que me vale,
pois é o cego que me guia.
13
Penso, até nas horas mortas,
que nosso seja o porvir.
Teu coração não tem portas
por onde eu possa sair.
14
Por que é que Deus escreveu
– só com isto não atino -
O meu nome junto ao teu
no alfarrábio do Destino!
15
Quando Deus fez a mulher,
de um osso bem duro fê-la.
Assim, saiba quem quiser:
Jamais podemos torcê-la.
16
Quando falas eu te escuto
como a um cântico divino.
Se teu convívio desfruto,
tem gorjeios meu destino.
17
Quanta dor por onde vamos,
quanta mágoa emudecida!
Sem amor, nós naufragamos
nas águas negras da vida.
18
Querida, teu amor canta
e cantará longamente.
Na voz de beleza tanta
Deus costuma estar presente.
19
Saudade de ti eu tenho…
Como é nostálgico o luar!
De longe, bem longe venho:
Fui e vim sem te encontrar.
20
Se te dei a despedida,
ela deixou-me amargor,
porque és ainda, querida,
a dona de meu amor.
21
Teus olhos que são mais sábios
dizem-me sempre que sim.
Mas não pergunto aos teus lábios
o que eles pensam de mim.
22
Um genro, um pobre coitado,
de vez em quando dizia:
“Com minha sogra ao meu lado,
quanta paz não perderia!”
23
Vem o mar suavemente
cantar na onda vadia.
O sonho triste da gente
vem cantar numa elegia.
24
Vendo da estrela o fulgor,
acha rumo o peregrino.
Foste a Estrela do Pastor
para encontrar meu destino.

Octávio Babo Filho (Rio de Janeiro/RJ, 1915 – 2003)

1
A diferença que vejo
entre a virtude e o pecado:
– virtuoso - peca a varejo,
pecador - por atacado.
2
A facilidade imensa
com que os homens são julgados
simboliza bem a crença
de sermos todos culpados.
3
A força do inevitável,
já pela força que tem,
faz o destino imutável,
sem indagar quem é quem.
4
Ante a vinda inesperada
da indesejável cegonha,
de susto morre a empregada,
morre o patrão... de vergonha!
5
Ao partires, mãe querida,
deixaste a imagem comigo:
nem durante toda a vida
eu te segui como sigo!
6
A paz verdadeira e pura,
que a consciência enobrece,
é a que sente a criatura
que, para subir, não desce.
7
As desventuras da vida,
eu não as conto a ninguém,
pois mágoa, que é transmitida,
se multiplica por cem.
8
Bem que procuro ser santo,
mas não consigo, porque
eu encontro em cada canto
alguém que lembra você...
9
Buscando falsa razão
para razão que não tem,
ninguém ilude o irmão
sem iludir-se também.
10
Construíste mil castelos...
E a tua imaginação,
depois de sonhos tão belos,
quis morar num barracão...
11
Convém às vezes fugir,
porque a presença frequente   
não deixa a gente sentir
se sentem falta da gente.
12
Creio que ninguém duvida
desta inconteste verdade:
há mundo, mas não há vida,
quando falta a liberdade!
13
Dentro da imensa tristeza
que a minha alma sempre invade,
o que me mata é a certeza
de não sentires saudade.
14
Dois destinos são iguais,
na proporção em que dois,
sofrendo menos ou mais,
sofrerão juntos, depois.
15
Enquanto os povos discutem
a teoria da paz,
os mais fracos se desnutrem
e os mais fortes comem mais…
16
Esta Fé que hoje me invade,
traz tanto alento à minha alma
que, dentro da tempestade
sinto a natureza calma!
17
Eu perdi muita amizade,
defendendo injustiçados.
- É que o vento da maldade
sopra de todos os lados.
18
Eu rezo em casa, na igreja,
na rua, em qualquer lugar...
Duvido Deus não esteja
onde costumo rezar!
19
Façamos logo um acordo,
sem queixa, mágoa ou rancor:
– dividamos o ciúme,
multipliquemos o amor.
20
Gosto de moça formosa,
sabendo embora o perigo
- Eu não desprezo uma rosa,
temendo o espinho inimigo…
21
Mãe - é palavra sem rima,
buscá-la é inútil, não tente,
pois mãe está muito acima
de tudo, coisas e gente.
22
Minha mulher não perdoa
a quem me faça maldade.
Não porque ela seja boa:
– pretende é exclusividade!  
23
Na mentira a se perder,
não sabe aquele infeliz
que ele nunca se faz crer
nem nas verdades que diz.
24
Não dou ouvido ao lamento
e não escondo o porquê:
tudo, na vida, é um momento
- e o meu momento é você...
25
Não há calvários iguais,
toda cruz é diferente,
e as cruzes que pesam mais
são sempre as cruzes da gente.
26
Não lhe adivinhando o nome,
batizei-a de Maria.
E o remorso me consome:
– nunca vi tanta heresia!
27
Não nos feneçam os sonhos,
deles precisamos tanto!
Mudam pensares tristonhos
e secam fontes de pranto.
28
Nascemos sentenciados:
“Os que vierem se vão”.
E nem somos informados
do dia da execução...
29
Os santos de antigamente
só foram santos, porque,
conhecendo tanta gente,
não conheceram você...
30
Penetrei fundo demais
no poço das ambições.
Vejo, agora, o mal que faz
um sonho sem proporções.
31
Poeta mau não conheço,
mau poeta ah, isto sim!
Conheço e digo onde mora:
bem aqui… dentro de mim.
32
Por que será que você,
tendo os defeitos que tem,
os seus defeitos não vê,
vendo os dos outros tão bem?
33
Quando penso em falsidade,
teu nome logo me vem:
Teu nome: Felicidade!
- Felicidade? De quem?...
34
Quanta alegria semeia
quem vive sempre contente:
- A felicidade alheia
também faz feliz a gente.
35
Quem da riqueza faz praça,
muito cedo se esqueceu
de que Deus tira de graça
o que, de graça, nos deu.
36
Quem constrói seu barracão
no do vizinho apoiado,
pelo sim e pelo não,
confia... desconfiado!
37
Saber não ocupa espaço,
mas é preciso que a gente,
ao caminhar, passo a passo,
modere o passo da frente...
38
Saudade, o mundo embalando,
dói, de modo tão diverso,
que o poeta, mesmo chorando,
pode cantá-la em seu verso.
39
Se a morte nos avisasse
a respeito do seu dia,
não creio que nos matasse:
a gente é que morreria...
40
Se é por simples gentileza
que a mim você se anuncia,
não me leve a mal, Tristeza!
Prefiro a casa vazia!
41
Se o trabalho me enfastia,
eu dele logo me vingo,
fazendo, de cada dia,
a sucursal de domingo…
42
Se querer fazer mistério
de coisas tão triviais:
- É na paz do cemitério
que vivem todos em paz…
43
Se toda gente soubesse
como custa querer bem,
quanta gente gostaria
de não gostar de ninguém!
44
Tenham medo é dos medrosos
- fugidios, reticentes -,
mil vezes mais perigosos
que os atrevidos valentes...
45
Teus encantos, criatura,
mexeram tanto comigo
que eu vivo da desventura
de sonhar sempre contigo…
46
Toda mulher tem seu quê,
tem um encanto qualquer.
Não tendo, é o que a gente vê
naquela que a gente quer.
47
Trabalho, sem me cansar.
E é tão bom que seja assim!
- Chego, às vezes, a pensar
que Deus trabalha por mim.
48
Ventura... Felicidade...
Duas palavras vazias
que, depois de certa idade,
não enchem mais nossos dias.

Chafariz de Trovas * 1 *