quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Neide Rocha Portugal


1
A carranca, na janela,
tanto medo produzia,
que ao passar em frente dela
o diabo se benzia...!
2
A família, com seus “trancos”,
às vezes não é perfeita...
Mas aplainando os “barrancos”
com jeitinho ela se ajeita!...
3
- A fechadura enguiçou!
Grita o bêbado na rua;
Quando um vizinho alertou:
- Esta casa não é sua!...
4
A glória, em nenhum momento,
vale pela caminhada
de quem, sem discernimento,
pisa os fracos pela estrada!
5
A mulher, em vigilância,
põe o “gajo” no porão,
pois conhece, na distância,
o ronco do caminhão!...
6
Ante a decisão errada
de um momento, em desatino,
a resposta não pensada
altera qualquer destino!
7
Ante a dor e a nostalgia
surge a luz... e, de repente
parece que um novo dia
surge na vida da gente!
8
Ao ler “FECHADO POR LUTO”
o bebum se envaideceu:
- eu bebi todo o “produto”...
e o boteco é que morreu!
9
A primavera dá cores
e o destino me dá tranco,
por isso é que as minhas flores
são todas em preto e branco!...
10
Até o destino chorou
ao ver tantos embaraços
que depressa colocou
você de novo em meus braços!!
11
A velha revirou tudo,
mas no escuro ela não via
que atrás do criado-mudo
a dentadura... sorria!!!
12
A vida parece um rio
neste universo sem fim;
quanto mais me distancio
mais eu me afasto de mim!
13
Caminho em qualquer estrada,
atento aos princípios meus:
- nem sempre aquilo que agrada,
agrada aos olhos de Deus!...
14
Causa tristeza maior,
ante o muito que se almeja,
quando a surpresa é menor
que aquilo que se deseja!
15
Caxias, em luta armada,
mostra que ao pacificar,
quem quer a paz esperada
precisa saber lutar!...
16
Contemplando, ao fim da vida,
só lembranças... nada mais,
a minha alma, entristecida,
ronda sempre o mesmo cais!
17
- Dei um suspiro, mais nada!
Mas o filhinho, matreiro,
pergunta, dando risada:
- Mamãe, suspiro tem cheiro???
18
Dilemas, frases mesquinhas,
melhor que acabem de vez,
se existem duas rainhas
no teu jogo de xadrez!...
19
Diz o doutor, sem mancada:
- Tire a blusa de veludo.
E a velha bem assanhada:
- Não é melhor tirar tudo?
20
Em conversa, me dizia,
Zé Fernandes, o Doutor,
que o sonho que mais queria
era ser um trovador!
21
Em nosso mundo restrito,
a liberdade é criança
que ergue os pés para o infinito
mas o braço não alcança!!!
22
Entre o barro e o pó da estrada
das lavouras de onde eu venho,
minha herança, na jornada,
são esses calos que eu tenho!
23
Esperança é um galho torto
numa floresta esquecida:
por fora, parece morto;
por dentro, cheio de vida!
24
- Fazer prédio? Desperdício!
Diz o caipira a sorrir:
- Se embaixo diz “Edifício”,
como é que se vai subir?
25
Foi tão falso o teu apreço,
que no instante em que fui tua,
esqueceste o endereço,
o meu nome... e a minha rua!
26
Lá no asilo começaram
a briga, e nas “bofetadas”,
os velhinhos acordaram
de dentaduras...trocadas!
27
Lutando em busca de espaço,
naqueles tempos de outrora,
era menor o cansaço
do que o cansaço de agora!
28
Mantendo a calma, na espera
pelo teu amor eterno,
minha vida é primavera
que nem se lembra do inverno!
29
Meus filhos, que eu não renego,
mesmo que os dias feneçam,
são primaveras que eu rego,
para que sempre floresçam!
30
Não bastam as mãos erguidas
pedindo paz e união:
- as distâncias são vencidas
quando a ponte é o coração.
31
Não chore e nem perca a calma,
querendo um rosto perfeito;
quem traz a meiguice na alma,
não mostra nenhum defeito!...
32
Não entendo olhares falsos
que desviam, nos caminhos,
quando encontram pés descalços...
sangrando sobre os espinhos!
33
Não faça de um nó no peito
motivo de pessimismo:
- é graças a um nó bem feito
que se transpõe um abismo!
34
Não há paixão que descarte
a despedida sem mágoas:
todo veleiro que parte,
deixa um rastro sobre as águas!
35
Não me assuste se eu te assusto,
que dois sustos assustados,
vão provocar grande susto
em dois sustos desmaiados!
36
Não me peças esperanças
Perdidas em vendavais,
se eu não posso ter lembranças
do que eu já nem lembro mais!
37
Não me prendo à realidade
mais por questão de direito:
- quem chega na minha idade
já fez tudo... e fez bem feito!...
38
Não sou artista, sequer,
nem tenho vida notória,
mas o teu corpo, mulher,
eu esculpo na memória!
39
Nas madrugadas de frio,
o circo deixa a cidade...
E, no terreno vazio,
Sobram restos de saudade!...
40
No casório da vizinha,
uma invejosa insinua:
- quem nasceu pra ser galinha,
nunca chega a ser perua!
41
No Norte, o povo valente
pede a chuva em oração
para que brote a semente
e que nunca falte o pão!
42
No velho sonho dourado,
a liberdade é ilusão:
- seja qual for o reinado,
quem manda é sempre o leão!
43
O caixão do aposentado
era curto, e ele, comprido:
na vida... foi “apertado”
na morte... foi “espremido”!
44
O rio passa...arrebenta,
causando estragos, desgostos,
e, quando passa a tormenta,
brotam riachos... nos rostos.
45
Os agrados de verdade
que você me prometeu,
me fazem sentir saudade
do que não aconteceu!...
46
O tempo, em suas mensagens,
poliu tanto o camafeu,
que eu não sei, nestas imagens,
quem é você...quem sou eu!
47
- O teu ovo... não repico!
Diz a galinha peteca.
- Menor que o do tico-tico
e dentro não tem meleca!
48
O velho mar sente o cheiro
e redobra o seu carinho
ao perceber que o cargueiro
está transportando vinho!
49
O vinho, em nosso passado,
por mais tinto que ele fosse,
em nosso beijo, molhado,
não era tinto... era doce!
50
Para rever quem ficou,
voltei à mesma janela.
E o tempo, que em mim passou,
nem tocou no rosto dela!...
51
Pelo mapa, ninguém nega,
e ao medir os seus assombros,
vê que o gaúcho carrega
todo o Brasil em seus ombros!...
52
Quando a sogra sente dor,
o genro bem “solidário”,
nunca lhe traz o doutor,
traz sempre o veterinário!
53
Quando a vida não descora
a identidade dos brilhos,
o nosso brilho de outrora
se reflete em nossos filhos.
54
Quando penso estar partindo
por estar velho e sozinho,
o tempo vai permitindo
que eu viva mais um pouquinho!...
55
Quanta energia perdida
ao longo de uma jornada,
de quem passou pela vida,
teve tempo... e não fez nada!
56
- Quanto custa a dentadura?
- Eu cobro vinte por dente.
E a velhinha, na “pindura”:
- Então põe só os da frente!...
57
Quem vive igual “parafuso”
só no “aperto”, vive em pânico:
de oficina, não faz uso...
e desvia de mecânico!!!
58
Se agora vivo sozinho
carrego a culpa, fui falho,
ao trocar o bom caminho
pela ilusão de um atalho!...
59
Sem ver o pão sobre a mesa,
eu não reclamo, porque,
em meio a tanta pobreza,
minha fortuna é você!...
60
Silêncio nas madrugadas...
e enquanto adormece a flor,
brotam searas molhadas
dos nossos beijos de amor!
61
Sinto, aos apelos em vão,
quando minha mão acena,
que aos homens falta visão...
ou minha mão é pequena!
62
Solidão, cerveja quente
e espera de quem não vem...
somente quem prova... sente
o gosto amargo que tem!
63
Sorrateiro... sem fumaça,
arrasador, inclemente,
é aquele fogo que passa...
- Queimando os sonhos da gente!
64
Teu adeus foi muito grave,
mas o destino conforta:
perdeste a cópia da chave
e voltaste à mesma porta!...
65
Tua cantiga de amor
adormece em tempos idos,
mas o vento, a meu favor,
vem soprá-la em meus ouvidos!
66
Vem Trovador, vem correndo
ao meu Paraná, porquê,
o Pinheiro está morrendo...
-De saudades de você!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cézar Augusto Defilippo (Zé Gute) Trovas em Preto & Branco

  1 Ao ver-te mãe, insegura, percebo em meio à pobreza que o teu olhar de ternura tem muito mais de tristeza.  2 Canoeiro chora ao marco da ...