domingo, 5 de março de 2017

Ieda Lucimar Mastrângelo Corrêa


1
Anunciou: "É um assalto!"
com voz grossa, de machão,
sem tirar o salto alto,
...e aquele gesto de mão!…
2
Contam meus olhos vermelhos
que sofro, à tua passagem...
São teus olhos dois espelhos
que recusam minha imagem!...
3
Dona Cocota, que é "crente",
fica toda enfezadinha
se o seu velho diz, fremente:
- Vem cá, minha "cocotinha"!
4
Do tempo que passa, queixa-se
o velhinho, que é um espeto,
mas ouviu a ordem: "Mexa-se"...
e desmontou o esqueleto!
5
Eu te perdoo, confesso,
pelas recusas constantes:
É com "nãos" que eu sempre meço
a estrada azul dos amantes…
6
Hoje que a vaca Mimosa
'pula a cerca" e "esconde o leite",
o touro, perdendo a prosa,
instaurou um "Chifregate'…
7
Meu peito é casa vazia,
onde a incerteza, covarde,
bane a esperança do dia
achando sempre que é tarde...
8
Nada adianta tua escusa!
Cada não é novo ensejo:
- Vou, de recusa em recusa,
escalando o teu desejo!
9
Na minha sina vadia,
onde do tedio estou farto,
tu regressas cada dia,
entre as sombras do meu quarto.
10
Não meça nunca o tormento
pelo clamor mais pungente:
- Meu bem... o pior lamento
morre no leito... Silente!
11
Não peças perdão agora,
nem me fites de olhar triste:
- Regressa quem foi embora...
Tu, daqui, nunca partiste...
12
Nas nossas vidas amantes
a minha história se lê,
dividida toda em antes
ou em depois de você!
13
Na vida se descortina
o mais sublime mister:
- Num momento... ainda menina,
noutro momento... a mulher!
14
Nesta eterna sinfonia
de amanhãs, o grande mal
é esperar, a cada dia,
o som do acorde final!...
15
No leito de amor tão farto,
mesmo o dia mais cinzento
põe luzes dentro do quarto,
brilhando em cada momento.
16
Nosso amor, tal qual a prece
que a paz emana e irradia,
espalha um ar de quermesse
nas tardes de qualquer dia!
17
O amanhã não tem direito
de truncar nossos caminhos...
como pode o amor perfeito
medrar por entre os espinhos?...
18
O sonho talvez fugisse
da Humanidade descrente,
se um "depois" não existisse
na vida de tanta gente!
19
Outro cigarro... e a fumaça
dançando em meu devaneio,
lembra a mágoa que não passa,
lembra você... que não veio!
20
Palmilhando os descaminhos,
eu me cansei na viagem:
Mendigo de mil carinhos,
mil recusas na bagagem...
21
Teu desdém, naquele adeus,
fez-me este ser que padece,
tão infeliz, que até Deus
recusou a minha prece!
22
Toda mulher se concentre
nesta glória desmedida...
de ter no altar do seu ventre
o amanhã de nova vida!
23
Vida que sempre ensinais,
deusa potente que sois,
fazei que o meu "nunca mais"
tenha o sabor de um "depois"!
24
Volto à casa que é tão tua,
buscando amor em teus braços,
e até as pedras da rua
já reconhecem meus passos!

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