quarta-feira, 29 de março de 2017

Carlos Guimarães


1
"A coisa está toda errada"
- diz o pescador Romão -
"No mar, peixinhos de nada,
na praia, cada peixão!"
2
A confusão foi tamanha...
Móveis quebrados... Berreiro,,,
É que a sogra do Saldanha
baixou naquele terreiro.
3
A minha comadre Clara
está bonita e feliz:
gastou os olhos da cara,
mas consertou o nariz.
4
A minha mão, estendida
ao teu aperto de mão,
revela a mágoa esquecida,
mostra a paz no coração.
5
A minha sogra é uma bola
e meu sogro já dizia:
- Dorme até sem camisola,
pra fazer economia.
6
Ante o desquite, maroto,
segreda o primo da Berta:
- Velho casado com "broto",
tem que "dar galho", na certa.
7
Ao meu sogro, ninguém logra
vencer em azar, ninguém,
pois atura a minha sogra
e a sogra dele, também.
8
Ao vê-la cheia de graça,
vizinhas contam piadas,
mas, se é o marido quem passa,
há explosões de gargalhadas.
9
Ao vê-la, na cova, inerme,
roliça qual um presunto,
segreda um verme a outro verme:
- que abundância de defunto!
10
Ao vê-la na igreja entrar,
bamboleante, os braços nus,
Santo Antônio, em seu altar,
cobre os olhos de Jesus!
11
Ao vê-lo descer inerme,
em meio a tanto aparato,
disse um verme a um outro verme
- Vou comprar bicarbonato...
12
Ao ver a loura passar,
diz um luso muito vivo:
- Espero ainda encontrar
esse "troço" em negativo.
13
A poça d'água da rua
- igual a certas pessoas -
pensa ao refletir a lua,
ser a maior das lagoas.
14
Aqui Jaz o Godofredo,
porque o vizinho, avisado,
chegou um pouco mais cedo
do que havia combinado.
15
"Aqui Jaz Zé das Boêmias".
E os vermes, por precaução,
não permitiram que as fêmeas
visitassem-lhe, o caixão...
16
As vezes, a gente canta
para a si mesmo enganar,
sentindo um nó na garganta,
com vontade de chorar.
17
Até parece pilhéria,
ouvir, de certa pessoa,
a informação de que és séria,
só porque não ris à toa...
18
Boa de bola e aguerrida,
chutando bem, a Lalá
é sempre muito aplaudida,
nas cabeçadas que dá.
19
Boa mulata, a Anacleta
diz por piada, talvez,
que, apesar de analfabeta,
conhece bem português.
20
Cai a chuva escassa e mansa,
no sertão de sol ardente:
- reticências de esperança,
que Deus manda àquela gente.
21
Cansado, desiludido,
chego ao fim da minha estrada,
sem horizonte, perdido,
entre as brumas da jornada
22
Cão de marujo, também,
por mais perigos que arroste,
imita o seu dono e tem
um amor em cada poste.
23
Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
que a coroa é minha sogra.
24
Casou-se o pobre Peçanha,
com mulher feia e sem graça:
Para quem não tem champanha,
vale um trago de cachaça...
25
Cheque sem fundos, o Meira
recebeu naquele dia:
- Vendendo uma geladeira,
o coitado "entrou em fria"
26
Começou mal a semana
o beberrão azarado:
abusou tanto da cana,
que acabou sendo "encanado".
27
Como pode, Madalena,
nem sei como acreditar,
pílula assim tão pequena
nosso segredo guardar...
28
Comprou, na Agência Postal,
o menor selo que havia,
deu-lhe um jeito de avental
e eis a tanga de Maria !
29
Com todo o senso de artista
e, apesar de todo o zelo,
não sou bom filatelista,
no entanto, procuro "sê-lo"
30
Da gravata à borboleta,
que eu usei esta semana,
a minha prima, Julieta,
fez um biquíni bacana.
31
Da ingente lida cansada,
velha cegonha matreira,
hoje, vive, aposentada,
a assustar moça solteira.
32
Datilógrafa, a Maria
é "boa" como ninguém:
mesmo em datilografia,
tem seus méritos, também.
33
Declara, em meio à homenagem,
o astronauta, herói da Nasa
- Prova mesmo de coragem
vou dar voltando pra casa!
34
De fazenda é tão escasso
o biquíni da Julieta,
que até não sobrou espaço
pra colocar a etiqueta...
35
Deixei minha namorada,
numa agonia tremenda:
escondi, na mão fechada,
o seu biquíni de renda.
36
Dentro do meu coração,
na minha radiografia,
o doutor - que indiscrição! -
viu tua fotografia!
37
Deu-me tanta bola a Berta,
com sorrisos e olhar doce,
que eu fui em frente na certa:
aí, a Berta trancou-se !
38
Diz a mulata Maria,
sem explicar a razão
que o luso da padaria
é pão vendendo outro pão....
39
Diz que detesta covarde
e odeia os homens pecatos;
da coragem, faz alarde
e, em casa, é quem lava os pratos...
40
Do amor fervorosa crente,
a mulher do seu Tomás,
sendo uma cara pra frente,
vive a passá-lo pra trás...
41
Do espelho da tua sala,
procura o exemplo seguir:
ele reflete e não fala,
tu falas sem refletir...
42
Eis um conceito maroto,
que aos quatro cantos espalho:
se todo o galho foi broto,
nem todo o "broto" "dá galho".
43
Ela é séria e não dá bola,
chega a ser ultrapassada...
Com tantas curvas, Carola,
afinal, é tão quadrada...
44
Ela vive no oculista
e ele é motivo de troça,
pois se ela trata, da vista,
ele faz a vista grossa...
45
Em perfeita comunhão,
na vila de Santarém,
a mulher do sacristão
ajuda ao padre, também.
46
Entra a esposa bem idosa
e uma "gatinha" assanhada,
o macumbeiro Barbosa
vive numa encruzilhada.
47
Entre um branca gelada
e uma preta bem quentinha,
topo as duas, camarada:
- não perco uma cervejinha.
48
Estendido sobre a cama,
na brancura do lençol,
que saudades meu pijama
sente do teu "baby-doll"!
49
Eu tenho quatro vizinhas
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...
50
Explica a mulher a alguém,
que seu marido é pintor:
é por isso, que ela tem
um filho de cada cor...
51
Explica cheia de sestro,
que não engana a ninguém:
sendo mulher de maestro,
faz seus "arranjos", também.
52
Felicidade, querida,
assim posso enunciar:
- moeda falsa que a vida
insiste em querer passar.
53
Imploraste a Santo Antônio
um casamento, Maria:
deu-te o santo o matrimônio
mas fui eu que "entrou em fria"...
54
Já pronto para o transplante,
pergunta, aflito, o ancião:
- Fico em forma, doutor Dante,
só trocando o coração?
55
Jogador inveterado,
morre o amigo Zé do Taco...
Vai entrar, pobre coitado,
no seu último buraco...
56
Louvado sejas, Senhor,
pela crença que me dás,
pelo que eu logro em Amor,
pelo que recebo em Paz,
57
Maria, a minha Maria,
põe nos beijos tal calor,
que a noite pode ser fria
e eu não uso cobertor...
58
Maria, ao jogar "pelada",
me dá bola a tarde inteira
e porque joga avançada,
terminamos na "banheira"...
59
Meu amigo, Zé da Mota,
fala mal da sogra à toa,
pois eu conheço a velhota
e ela até que é muito boa!
60
Meu gato sumiu e o fato
deixa a gata tiririca,
lamentando, sempre, o gato,
ao ouvir certa cuíca.
61
Minha sogra sempre anota
meus atrasos num caderno:
se essa "coroa" empacota,
vai ser porteira do inferno...
62
Morre a sogra e, comovido
o meu compadre Tomás,
na coroa, distraído,
escreveu: "Descanso em paz"!
63
Morreu lutando, e aqui jaz
Chico Bomba, o corajoso...
E esse epitáfio, quem faz
é o seu primo: o Zé Medroso...
64
Muito embora não se esgote
todo assunto que é você,
pelo V do seu decote
quanta coisa a gente vê!
65
Mulata boa, essa Helena,
que afirma ser tua prima...
Sempre que passa, me acena
de polegar para cima.
66
Na bebida, a minha mágoa
procuro ver afogada...
Já me chamam de pau-d'água,
mas, a minha mágoa... nada...
67
Namorei a Margarida,
mas como me deu trabalho!
Nunca vi, na minha vida,
um broto dar tanto galho...
68
Não fez o menor sarilho
meu amigo Vivaldino
e deu, ao décimo filho,
o nome de PILULINO...
69
Não vende móveis, Maria,
mas, segundo as faladeiras,
atrai boa freguesia
com seu "jogo de cadeiras"
70
No banheiro, de surpresa,
ao entrar, reparo bem,
que até no banho, Teresa
é enxuta como ninguém.
71
Num biquíni diferente,
pôs fogo na praia inteira,
ao desfilar imponente,
só de peruca e piteira...
72
O Machado é grande amigo,
que eu tenho, sempre, ao meu lado:
qualquer problema comigo,
quem "quebra o galho" é o Machado.
73
O que eu desejo, sem pressa,
consigo sempre, Maria...
Hoje, me dás, sem que eu peça,
o que me negaste um dia...
74
O rapaz tanto bebia,
que, um mês depois de enterrado,
nenhum verme conseguia
fazer "quatro", nem deitado...
75
Pão duro a mais não poder,
o meu compadre Zulmiro,
em vez de dar, quis vender
o seu último suspiro.
76
Para casar, o Joaquim
tornou bruta carraspana:
Esse cara só diz "sim",
com a cara cheia de "cana".
77
Para evitar confusão,
afirma, sempre o Ramalho,
que não tem superstição:
tem alergia ao trabalho...
78
Pelo olhar de antipatia,
que o vigário me lançou,
estou certo que Maria,
de manhã se confessou.
79
Pensam que caí num logro,
mas, aviso a quem quiser
- pelo dinheiro do sogro,
aturo sogra e mulher.
80
Perdão, Senhor, mas não posso
resistir à tentação
de, ao rezar o Padre-Nosso,
pedir manteiga no pão.
81
Pões tal feitiço na ginga,
que, ao sambar, eu me atrapalho:
és tu, mulata, o coringa,
que faltava em meu baralho
82
Por bigamia, garanto,
castigo do céu não logras:
deve ter honras de santo,
quem aturou duas sogras...
83
Por mera superstição
Zé Cachaça explica bem:
Bebe antes da refeição,
durante e depois, também.
84
Porque a mulher é de morte,
estranha o compadre Osmar,
que o chamemos de "consorte",
se ele viva é "com azar".
85
Porque a mulher do goleiro,
jogando um tanto avançada,
me deu bola o dia inteiro,
entrei, também, na pelada....
86
Quando bebo mais um pouco,
uma coisa me maltrata
e me deixa quase louco:
- é ver sogra em duplicata...
87
Quando ela passa, divina,
penso ao ver-lhe a majestade:
- Ah! Se eu pudesse, menina,
dividir por dois a idade! ...
88
Quando eu morrer, a mulher
em apuros, que não fique:
se na cova eu não couber,
que me enterre no alambique...
89
Quando minha sogra entrou
no inferno, em grande escarcéu,
o Demônio se assustou
e se mandou para o Céu.
90
Quando ouviu o Pai-de-Santo
falar, em "trabalho", o Augusto
que é folgado, tremeu tanto
e quase morreu de susto...
91
Que importa meu dia-a-dia
seja de mágoa e tristonho:
nas asas da fantasia,
vivo momentos de sonho.
92
Quem usa como remédio
a solidão, na verdade,
não cura os males do tédio
só aumenta a dor da saudade.
93
Se a vida tem algo errado,
a própria vida conserta;
vejam só: o Zé Trancado,
ontem, casou-se com a Berta.
94
Se meus apelos comovem
ao senhor, eu peço, então,
que transplante um corpo jovem,
no meu velho coração...
95
Soldador de profissão,
vive a soldar Zé Trancado
e a mulher, por distração,
vai namorando um "soldado".
96
Superstição esquisita
essa que tem Dona Aurora,
pois só recebe visita,
quando o marido está fora.
97
Tanto mente o Zé Patranha,
faz tanto rolo e trapaça,
que se estoura uma champanha,
há quem jure que é cachaça.
98
Tem, o Zé, vida apertada
e a má sorte a castigá-lo:
se a mulher dá cabeçada,
é nele que nasce o galo...
99
Tem tanto medo da bronca
da mulher, o meu vizinho,
que até mesmo quando ronca,
o seu ronco sai fininho.
100
"Tenho coragem" dizia
e provou do que é capaz,
ao correr naquele dia
com o marido "dela" atrás.
101
Trazendo a Prudência ao lado,
eu demonstro inteligência,
pois viajo sossegado,
se dirijo com "prudência" .....
102
Vem gente de todo o lado,
ver minha prima Janete,
num "triquini" muito ousado:
chapéu, sandália e chiclete...
103
Vem Maria, ao meu amor,
que, com jeito, a gente arranja
botar no congelador
tuas flores de laranja.
104
Vive o Domingos feliz
sem o trabalho enfrentar,
que os "domingos" - ele diz -
são feitos pra descansar.
105
Voltou de cesta vazia,
pois não pescou nada, nada...
Mas, foi nessa pescaria,
que Benvinda foi pescada...

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