domingo, 2 de abril de 2017

Edna Ferracini


1
A mensagem dos meus lábios
em resposta à sua ofensa
tem o silêncio dos sábios,
que outra resposta dispensa!
2
Amigo é trova perfeita
que tem sentido completo;
a redondilha que enfeita
as rimas... do meu afeto!
3
Aquele adeus inconcluso,
que eu recebi como ofensa,
pôs-me ainda mais confuso:
não foi adeus... foi sentença!
4
As ondas laboriosas
urdindo em verdes teares,
desenham rendas mimosas
para as noivas de seus mares!…
5
A viola atravessada,
presa à viga da palhoça,
parece uma cruz lavrada
na alma cantante da roça!
6
Como é bom café quentinho
com broinhas de fubá,
fogão de lenha, um ranchinho
e a paz que a roça me dá!
7
Com requintes de nobreza,
na incerteza de quem vem,
ponho o vinho sobre a mesa
mas faço um brinde a ninguém…
8
Confinei meu sonho ousado
nas fronteiras que tracei,
mas o sonho revoltado
tornou-se um fora-da-lei!
9
Criei um muro entre a gente,
pensando em me defender...
Mas teu semblante, insistente,
pula o muro e vem me ver!...
10
Em sonhos, acorrentado,
entre regressos sem fim,
vivo vidas do passado,
vividas dentro de mim.
11
Flores na ponta do pé
que o vento agita e lidera,
entram dançando balé
no palco da primavera!...
12
Nas manhãs cheias de cores
quando o Sol se manifesta,
os ninhos se enchem de amores
e a vida brinca de festa!!!
13
O espetáculo termina
e o dia encerra a função.
A noite estende a cortina
nos varais da solidão!
14
O motivo é tão perfeito...
Meia-lua... o céu em festa...
que o sonho sonha no leito
da rede que a lua empresta!
15
O teu semblante lembrado
entre um luar e uma rede,
hoje é sonho emoldurado
que eu pendurei na parede!
16
Quem só cuida do semblante
e se furta ao bom conselho,
mostra na alma agonizante
o que não mostra ao espelho.
17
Quero beijar-te... e, distante,
grafo estes beijos à mão.
Se não tenho o teu semblante,
que viva a imaginação!
18
Refúgio que não consola,
mas engana de verdade,
é beber uma viola
degustando uma saudade!
19
Se a palavra vem vazia
ou vem ferindo demais,
mil vezes a companhia
do silêncio e nada mais!
20
Sendo o silêncio uma prece,
eu nem preciso rezar...
Se a minha alma se entristece,
faço o silêncio falar!
21
Sou uma roça enflorada
quando ao sol de teu olhar,
me amanheço em alvorada
com meus sonhos a espigar!
22
Tento agarrar teu semblante
na ilusão de ser verdade.
Mas percebo neste instante
que foi troça da saudade...
23
Vai a tarde, agonizante,
gotejando a luz do dia...
e num golpe fulminante,
a noite estanca a sangria!

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