quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Dinair Leite



1
A dor o meu peito invade,
ao ver tudo assim deserto
Mas lembro a sua saudade
de ouvir estrelas de perto
2
A mão que corta a madeira,
também corta o coração,
dessa floresta altaneira,
parte de um verde pulmão.
3
A nuvem azul-hortência
que se abriu para o poeta
deixou passar em cadência,
trovas da lira seleta.
4
Aquela trova me encanta,
ao declarar num só traço,
que o mal, a justiça espanta
e, em sigilo, ganha espaço!
5
A trova que chora a dor,
mas é com lirismo dita,
acaba enfeitando o amor,
com róseo laço de fita.
6
A raiz que nutre a flor,
desabrochada e feliz,
lembra o homem que rega o amor
que a mulher sonha e bendiz!
7
A voragem da paixão
é como um barco sem rumo,
deriva sem direção,
sem timoneiro e sem prumo…
8
Da inocência e da virtude
Deus capacitou o ser,
e deu-lhe franca atitude
do livre-arbítrio exercer!
9
Essa mão que lavra a terra
planta no chão a semente.
A benção de Deus encerra,
pois mata a fome da gente.
10
Extinguiu-se a flor do lume
Do poeta expira o canto
Qual menino vaga-lume,
chega ao céu e vira encanto
11
Inocência adorna a fronte
de toda pessoa nova,
depois se esvai no horizonte
mas, volta perto da cova.
12
Mulher que trabalha e sonha
mudar a realidade,
mesmo cansada é risonha,
pois planta a felicidade!
13
Murchou rosa, chorou trova
e o poeta emudeceu…
Despertou em vida nova,
onde a rosa reviveu
14
Na floreira pequenina
floresceu rosinha nova,
que então gravei na retina
e imortalizei na trova…
15
Não pule do trem do tempo
em desembarque apressado.
Viaje sem contratempo
e não pare adiantado.
16
Naquela trova que eu lia,
senti minha redenção,
pois sem punir, redimia,
mostrando a libertação.
17
No morno sopro do vento,
passarinho em revoada,
para viver novo evento,
cantar a Deus em toada.
18
No último canto o queixume,
por ele que foi embora
Na terra a flor, e o perfume
um anjo recolhe agora.
19
O destino foi a mó
e jardineiro da estrada
e o vento varreu o pó,
das pedras da caminhada.
20
O meu pai, bom trovador,
trovava como ninguém,
hoje faz trova ao Senhor
nos campos azuis, além.
21
Os dois velhinhos no ocaso
relembram com nostalgia,
noites tórridas e o caso
de amor que inda hoje existia.
22
Pela Maria da Penha,
lei-justiça conquistada,
quebro pau e queimo lenha
mas, congraço a mulherada!
23
Poesia é a arte maior
de um Espírito divino
– nossa alma sabe de cor -
aflorada em sons de sino.
24
Quando o poeta atravessa
para o outro lado da vida
Chega ao céu leve e com pressa
de prosseguir sua lida.
25
Quando seu trem dá partida,
já saindo da estação,
seu destino é outra vida,
deixando atrás a ilusão.
26
Quem nasceu pra dar amor
fraternal e compaixão,
é feliz se tira a dor
do que é seu próximo irmão.
27
Quem só visa o próprio bem,
agredindo a Natureza,
com desrespeito e desdém,
sei que é um tolo, com certeza!     
28
Quero ser sempre a criança
com desejo de estudar,
curiosa e na esperança
de nunca me completar…
29
Raiz? O que são raízes?
São alinhavos de Deus,
juntando os homens felizes,
quer sejam cristãos ou ateus…
30
Se a violência o esfola,
tristeza no peito cresce
de quem fez do crime escola
sem ver, que o que sobe desce…
31
Trovador e passarinho,
dois arautos da poesia:
Se perdem amor ou ninho
gorjeiam dor…todavia.
32
Trovador fica sedento,
quando a inspiração renova.
Bebe da alma o sentimento
e o derrama em sua trova.
33
Trovador por ironia,
quando a trova terminou,
da pena viu que escorria
pranto que a trova borrou.
34
Trovador quando ama a rosa
respeitando seus espinhos,
da flor carinho ele goza
perfumando seus caminhos.
35
Você que não me respeita,
a você eu sempre arrosto:
- Sai de perto, não me peita,
pois respeito é bom e eu gosto!

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