terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sérgio Ferreira da Silva


1
A brisa traz, de antemão,
seu perfume pela rua…
e eu chego a ter a impressão,
de que é você que flutua!
2
A inocência, em teu semblante
num contraste, se desfaz,
por ser a prova flagrante
de que me roubaste… a paz!
3
Alguns homens, imprudentes,
fazem lembrar certos rios:
nascem em boas vertentes,
mas se perdem... nos desvios!
4
Alheia ao calor eterno,
a Sogra, por vocação,
tão logo chegou no Inferno,
assumiu... a Direção !
5
A mesma brisa que à noite,
sugere encanto e poesia
pode ser, também, o açoite
dos que não têm moradia.
6
Amigo é aquele artesão
que, sem receios, lapida -–
com o cinzel do perdão
as pedras brutas… da vida!
7
A minha sogra me deu
um troféu e uma medalha...
e, no diploma, escreveu:
"VENCEDOR - TEMA: CANALHA"
8
Ao chegar no beleléu,
mostra, o bebum, seu espanto:
- Não tem boteco no céu"?
E as pingas que eu dei pro santo ?!?
9
As contas que compartilhas,
Contador, justas e boas,
são a expressão, em planilhas,
da justeza das pessoas.
10
As dores e os desencantos
não foram tantos assim…
Tua boca e os teus encantos
calaram bem mais… em mim!
11
A sogra entrega o genrinho
ao faminto canibal:
“Cuida dele com carinho...
mas... vê se tá bom de sal!”
12
À solidão condenada,
na Praça da Eternidade,
minha súplica é chamada
de Monumento… à Saudade!
13
Caloteiro e bem sacana! - ,
não tem vergonha na cara
e, até quando paga em grana,
cola um papel de "BOM PARA..."
14
Choveu... e, agora, a enxurrada
leva as coisas, feito alguém
que, ao partir, numa alvorada,
levou minha alma,... também!
15
Com vontade, o velho espia
os contornos da beldade...
mas a vontade, hoje em dia,
já não passa de... vontade!
16
Confusão na madrugada,
que o bebum transforma em drama:
atira... na namorada
e leva a sogra pra cama !
17
Confuso, o dono do empório,
não anda bem da veneta:
na orelha, um supositório,
mas nem sinal da caneta !
18
Confuso, o rapaz se espicha
e grita, pois não suporta:
"- Remédio pra matar bicha ?!?
Não tomo isso ai... NEM MORTA !!!”
19
Depois de tantas tristezas,
tantas promessas e ausências,
eu grafo as tuas "certezas..."
com aspas e reticências.
20
Desejo é o jovem arrais
que, em vez das embarcações,
suplica encontrar um cais
para ancorar ilusões!
21
Diz o dentista: - Está pronta...
a dentadura escolhida!
E a velhinha, ao ver a conta:
- Nossa, doutor, que “mordida”!
22
Dois bêbados, num boteco:
- Esse "treco" me fez mal...
- Qual o nome desse "treco"?
- Não-sei-o-quê... mineral!
23
Domingão tradicional...
e eu num canto, desolado,
lembro que Adão foi o “tal”,
sem sogro, sogra, ou cunhado !
24
Do sonho compartilhado,
agora, somente resta
um convite, amarelado,
marcando o dia da festa...
25
Em minha infância, eu fazia
ser, meu sonho, tão real,
que uma fazenda cabia
no fundo do meu quintal!
26
Em noites de nostalgia,
quando a rimar eu me atrevo,
tua ausência, em parceria,
dita os versos que eu escrevo !
27
Em sua breve existência,
não pode a brisa supor
que, trazendo a tua essência
me traz a essência do Amor…
28
É pescador de primeira…
mas, antes que alguém se queixe,
leva no bolso a carteira
e o fone do disque-peixe!
29
Essa lágrima que corta
teu semblante, sem favor,
é uma gota, mas comporta
um Oceano… de dor!
30
Escrito de próprio punho,
mas na gaveta guardado,
o meu amor é um rascunho
que nunca foi publicado!
31
Essa ternura que exalas,
e os meus receios acalma,
faz um voo, sem escalas,
da tua pele... à minh’alma!
32
Este teu querer incerto,
imprevisível demais,
fez de minh'alma um deserto,
com chuvas... ocasionais.
33
É tanta fome que eu sinto
(parece coisa de louco!),
que eu só vou ficar faminto
depois de comer um pouco!
34
Eu suplico, a todo instante,
por tua volta… é verdade.
Mas, a súplica constante
não é súplica… é Saudade!
35
Faminto, não vi, querida,
talvez, por eu ser tão moço,
que eras fruta proibida
e a tua mãe… o caroço!
36
Garoa, a sua leveza
quase nos diz, quando vem,
que, até mesmo a natureza
chora baixinho... também!
37
Houve um tremendo Banzé,
na sala de cirurgia...
e, hoje, o velho e bom José
é a velha e boa... Maria.
38
Leve, Noel, com cuidado,
desde que o saco suporte,
minha sogra e meu cunhado
pr’os quintos... do Pólo Norte!
49
“Me diga, velha cigana
(que sabe a sorte do mundo),
o que eu faço pra ter grana???”
- Vai trabalhar... vagabundo!!!
40
Nada mais nos aproxima...
e, nessa ausência de afeto,
nós somos trova sem rima
e sem sentido completo!
41
Na gravidez, minha tia
queria (tanto)uma filha,
que o meu priminho, hoje em dia,
adoooora... usar sapatilha!
42
“Não tenha pressa, querido,...
meu marido ainda demora !”
E apanhou : .. era o marido
que estava com ela, agora...
43
Na prova de português,
dançou, colando, o guri:
“Joãozinho, o que você fez?”
“Eu tava fora... de si!”
44
Naqueles tempos de outrora,
eu tinha grana à vontade...
mas, se o tema é grana, agora,
faço trovas... de saudade!
45
Nas noites frias, um drama
que a miséria perpetua :
alguns chamarem de cama,
o que outros chamam de... rua !
46
No compasso das batidas,
o meu coração suplica,
pelo bem de nossas vidas:
Fica...ca! Fi...ca! Fi...ca! Fi...ca!
47
No curso de nossas vidas
por diferentes estradas,
nossas almas, distraídas,
continuam de mãos dadas.
48
Nos braços da noite calma,
entre lençóis e desvelos,
sinto que afagas minh'alma,
quando afagas meus cabelos...
49
Nossas crianças carentes
devem ser salvas agora:
Não haverá mais poentes
se nós matarmos... a aurora!
50
No velório, a confusão
quando o genro, num rompante,
chegou com pinga, limão,
cerveja e refrigerante.
51
O abismo: convidativo...
A sogra: na beiradinha...
O momento: decisivo...
e a sogra: não era a minha!
52
O coveiro disse, enfim:
“Não quero ser encrenqueiro...
Eu enterro a sogra, sim,...
Mas,... tem que morrer primeiro!
53
O especialista em micróbio
explica, todo pomposo :
“Dá-se o nome de macróbio,
ao micróbio mais idoso !”
54
Os poetas e os vulcões
têm almas de mesma essência:
a calma em seus corações
é calma... só na aparência.
55
Pergunta o Demo,descrente:
"- Tanto calor, não te arrasa?"
E o pecador diz : "- Óxente,
eu tô me sentindo em casa !"
56
Por ser humana, a inconstância
induz ao erro e ao rancor,
tornando curta a distância
entre o réu... e o julgador !
57
Quando a Morte, então, chegou
trazendo o eterno conforto,
o preguiçoso exclamou :
"Passa amanhã, que eu tô morto !"
58
- Que fome, mãe! Tem comida?
- Temos sopa de letrinhas...
Grita a filha mais sabida:
- As maiúsculas são minhas!
59
“Sempre tua...” e, em meus palpites,
eu suponho, um tanto louco,
que, em meu amor sem limites,
“Para sempre...” é muito pouco!
60
Tentar desfazer as mágoas
que o meu peito guarda e sente,
é como querer que as águas
corram da foz... à vertente!
61
Tô faminto... e não tem bóia!
Eu num guento esse jejum!!!
Fome Zero??? Uma pinóia:
minha fome... é MENOS UM!
62
Trambicando a todo instante,
Jacó, na esmola, revolta:
pois, usando de um barbante,
puxa a moeda de volta !
63
Transformei meus descaminhos
em fortunas grandiosas:
quem não navega entre espinhos,
não encontra o Mar de Rosas!
64
Tua alma desperta em mim
tanta calma e tanto ardor,
que, se o amor não for assim,
eu mudo o nome do amor!
65
Vão meus sonhos, num batel,
buscar certezas... em vão:
Os meus barcos de papel
são, apenas... o que são!

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