domingo, 19 de fevereiro de 2017

José Valdez de Castro Moura


1
Anseio, na noite calma,
seu retorno, sem tardança;
pois, se a sedução tem alma
ela se chama esperança!
2
As afrontas do passado
não guardo! Vou esquecê-las!
Pois bem sei que um céu nublado
não me deixa ver estrelas!
3
As reticências discretas
do meu sofrer, a chorar,
mostram mágoas tão secretas
que eu não ouso revelar…
4
Bendigo a Trova que aflora
na minh’ alma ! Que alegria !
E, sinto luzes da aurora,
no final de cada dia !
5
Cante a paz, o amor fecundo,
torne a vida mais risonha
e sem mágoas, porque o mundo
não perdoa a quem não sonha!
6
Chego a perder a esperança,
vendo ao relento, a dormir,
uma sofrida criança
sem lar, sem paz, sem porvir!
7
Chico Anísio, teu labor
 de alegria é tua glória!
 – Contar a história do humor
 é contar a tua história!
8
Contemplo o correr dos anos
e, o que fere e faz sofrer
não é somar desenganos,
é a mentira em meu viver!
9
Coração, inda pranteias
tantas perdas, nostalgias...
E, de angústias estão cheias
as minhas noites vazias!
10
Discórdia, sonhos frustrados
e as mágoas não resolvidas
são os nós não desatados
das cordas das nossas vidas...
11
Diz “aguarde”, na amargura
da mensagem enviada,
prefiro o “não” que tortura
do que promessa adiada!
12
Ela voltou! Mas, em vão,
porque minh’alma reclama
da terrível sensação
de uma estranha em minha cama…
13
Enfrento a dor tão constante
deste sofrer que é demais:
quero a volta de um instante
que não volta nunca mais…
14
Enfrento a mais dura prova
que o destino apresentar,
ouvindo o cantar da trova,
que é fonte do meu cantar.
15
Guarde respeito à vitória,
não humilhe os perdedores,
porque a soberba da glória
marca o fim dos vencedores.
16
Heróis em tantas batalhas,
sem glórias, sem monumento,
quantos tombam sem medalhas
no abismo do esquecimento!
17
Jamais busco o falso atalho
da glória não merecida...
É no suor do trabalho
que se constrói uma vida!
18
Já na planície, alquebrada,
transcendo tempo e distância:
procuro a duna encantada
dos sonhos da minha infância!
19
Luz débil que bruxuleia,
mesmo assim ela persiste:
- a minha paz é candeia
no viver de um homem triste !
20
Malgrado as tristes lembranças
prossigo a viver sonhando,
acalentando esperanças
que a tristeza foi matando...
21
Maranguape… o rio… a serra…
 Quanta imagem na distância!
 Mundo evocado que encerra
 o mundo da minha infância!
22
Na ampulheta, a areia desce,
passa o tempo sem tardança...
Cada grão que cai parece
a morte de uma esperança...
23
Nada reclamo, querida,
se trilho sendas de espinho...
-São reticências da vida
que Deus pôs em meu caminho…
24
Na força do bem sê crente,
quando a maldade te assalta,
que vento açoita inclemente
a palmeira que é mais alta!
25
Não és rima do meu verso,
 Chico Anísio é bem verdade!
 Tu rimas com Universo
 no Universo da Saudade!
26
Não lastime as tristes horas
da viagem que angustia...
Viver é criar auroras
no ocaso de cada dia...
27
Não reclames dos espinhos
na estrada do teu fadário...
Jesus tinha outros caminhos
mas escolheu o Calvário.
28
Na praça da minha vida,
unidas, vi, a chorar,
abraçada à despedida
a saudade a soluçar...
29
Na praça da minha vida
vi, de joelhos, em vão,
uma ofensa arrependida
pedindo abraço ao perdão...
30
Naquele instante sofrido
em que tudo perde o encanto,
ajuda é lenço estendido
para enxugar nosso pranto...
31
Nas lutas do seu viver
guarde o troféu merecido.
Virtude é saber viver
sem humilhar o vencido!
32
Nesses tempos de cobiça,
em que cresce o preconceito,
cidadania é justiça,
é o resgate do direito!
33
No momento dos conflitos,
devotamento não falha:
no silêncio dos contritos,
na fibra de quem batalha!
34
Nos garimpos desta vida,
que o destino abandonou,
eu sou bateia esquecida
que nem cascalho pegou.
35
No sofrer que vai e volta,
vive em paz! Confia em Deus,
quando o fogo da revolta
sepultar os sonhos teus…
36
O destino nos ensina
mensagens que são verdades:
- Quem só enfrenta neblina
fraqueja nas tempestades !...
37
Ó Deus, justiça ao menino...
no mar da vida atirado,
que vive o triste destino
do menor abandonado!
38
O fim do amor principia
se a discórdia vem rondar
e a gente perde a magia
de não poder mais gostar...
39
O rumo de ser feliz
quantas vezes se elucida,
num mero traço de giz,
no quadro negro da vida !
40
Os santos do meu fadário,
triste, busquei nos irmãos.
Vi poucos indo ao Calvário,
e muitos lavando as mãos!
41
O tempo, só por maldade,
deixou marcas do desgosto,
nas rugas de ansiedade
que hoje trago no meu rosto.
42
Partiu, deixando o seu traço
no meu caminho dos sós...
- A saudade é esse espaço
que existe sempre entre nós.
43
Passa o tempo e, amargurado,
trilhando sendas de espinhos,
vivo pagando pecado
no delírio dos sozinhos.
44
Procure a paz, sem tardança,
no infinito dos seus ais...
Prefira o sempre-esperança
à tortura do jamais!
45
Quando há corações armados
motivando acordos vãos,
por que abraços apertados
e tanto aperto de mãos?
46
Quem, no Universo do Mal,
 sempre insiste, sofre em vão!
 Vira folha em vendaval,
 carta rasgada no chão !
47
Quem o equilíbrio cultua,
não vive vagando ao léu;
percebe que a prece sua
alcança mais cedo o céu!
48
Reflito no dia-a-dia,
que o amanhã, no meu ocaso,
com seus tons de nostalgia,
é a vida encerrando um prazo.
49
Retornei, minha Cidade
Poema, que acolhe e abraça…
Vejo rostos de saudade
me sorrindo em cada praça…
(Para São Fidélis, Cidade-Poema)
50
Rogo em gritos reprimidos
o resgate do direito:
libertai os excluídos
dos grilhões do preconceito!
51
Saudade, que dor enorme,
é triste o nosso sentir:
você se deita e não dorme
e nem me deixa dormir!
52
Se no presente o sofrer
às vezes dói, refleti:
- Lutando para viver
eu posso dizer: vivi!
53
Sob a marquise silente,
sem futuro, ao rés do chão,
dorme o menino carente,
sem lar, sem porvir, sem pão.
54
Sou, nas praias dessa vida,
que o destino desprezou,
fugaz espuma esquecida
que o mar, na areia, deixou!
55
Sou, no retorno ao passado,
– meu teatro de deslizes,
um mero ator fracassado
no palco dos infelizes!
56
Tanta mentira e incerteza
vivi nessa vida e, assim,
eu constato, com tristeza,
que a vida passou por mim...
57
Tropeçando nos fracassos
dos frustrados sonhos meus,
sinto ciúme dos passos,
nos passos que não são teus...
58
Tua astúcia em minha sina
é uma cruz que Deus me deu.
Não lamento, ela me ensina
ser também um Cireneu!
59
Tuas missivas de ofensa
têm reticências demais...
– Queixas em cada sentença
que me dizem:” Nunca mais ! “
60
Voltei feliz, eu suponho,
malgrado a alma cansada,
pois trouxe restos de um sonho
que larguei em minha estrada...

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