domingo, 27 de junho de 2021

Antonio Carlos Teixeira Pinto (Brasília/DF)

"Adeus!" - Tu disseste, rindo.
"Não voltes!" - disse eu, depois.
- Dois covardes se agredindo;
morrendo de amor, os dois!...

A funerária vivia
com o movimento bem fraco...
E como ninguém morria,
a firma foi pro buraco!

Ah, por favor, não me peças
promessas, que me pões tonto...
- Quem ama não faz promessas,
entrega-se todo... e pronto!

A noite é de apoteose
pois, no horizonte, o luar
alveja a linha que cose,
ponto a ponto... céu e mar!

Ao voltar antes da hora,
acha a mulher se benzendo...
nem percebe que, lá fora,
seu pijama sai correndo!

A praia estava lotada,
ao surgir a confusão.
Gritaram: “Mulher pelada!”
— E foi aquele arrastão…

A primavera da vida
vi morrer, ardendo em ânsia,
naquela calça comprida
que encurtou a minha infância!

A vigília me tem dado
muita dor... Fazer o quê?!
Passo as noites acordado,
esperando por você!

Com a cachaça proibida,
é xadrez toda semana:
— Como não larga a bebida,
dá  um jeito e “vai em cana”.

Com mulher sempre se alterna
minha sorte, eis a questão
- Quando uma me passa a perna,
outra me deixa na mão!

Como te amei! Fui covarde
em não seguir os teus passos:
quando tentei, muito tarde,
eras manhã noutros braços!...

Covardia é tu dizeres
que minha dor é fingida,
e eu ser, de todos os seres,
quem mais apanha na vida!

De certa caça ele guarda
saudosa recordação,
pois, hoje, a sua espingarda
aponta só para o chão!

Eu como demais, não minto;
e que sede! Bebo bem...
Na verdade, sou faminto
e “sedentário” também.

Eu não consigo, alvorada,
de forma alguma entendê-la:
a cada flor despertada,
ter de morrer uma estrela.

Eu te amo! E ainda perguntas
se há jura em minhas respostas...
Não vês que as nossas mãos juntas
valem mais do que mãos postas?

Eu trouxe tanta saudade,
tanta saudade deixei,
que há um dilema de verdade:
será que eu vim, ou fiquei ?!

É vigarista atuante,
faz do xadrez o seu lar;
é réu “primário”, garante,
só  fez o Grupo Escolar…

Faltou-me talvez coragem,
e, por medo de chorar,
não abri sua mensagem.
- E ela queria voltar...

Fibra, amor, eu tive um dia:
foi triste a separação...
- Apertei-te a mão vazia
e enchi de adeus minha mão!

"Isso é hora de chegar?!
E molhado!..." - ela reclama.
"por que não dormiu no bar?"
"Vim pegar o meu pijama".

Já temendo um desengano,
fui ver meu circo de outrora:
saí por baixo do pano
e vim chorar aqui fora!

Minha mãe não teve escola,
sempre a lutar, noite e dia,
mas a vida lhe deu cola
de toda a sabedoria!

Minha vigília, querida,
não é por falta de sono,
é o preço que impõe a vida
pelas noites de abandono.

Não sei, covardia ou não,
se alguém faria o que fiz:
- Abrir mão da tua mão,
para que fosses feliz!...

No corpo-a-corpo com a vida,
em combates desiguais,
e mesmo de alma ferida,
não me acovardo jamais!

No meu prédio, o rebuliço
ganha maior consistência,
quando a entrada de serviço
é saída de emergência !

Nossas letras iniciais,
no centro do coração,
também são restos mortais
de um carcomido portão!

Nosso amor é um retrocesso,
pelo orgulho que nos cega:
- eu desejo... mas não peço;
ela quer... mas não se entrega.

Nosso amor já não importa,
pois fizeste a covardia
de fechar a tua porta
a quem os braços te abria!

Num ato de covardia,
ela, de mim já bem farta,
beijou-me, enquanto partia,
e mandou-me o adeus por carta!

Num enterro de segunda
houve tanta confusão
que uma parte da Raimunda
foi por fora do caixão...

O abandono era patente,
no abraço da solidão:
- duas voltas de corrente
num velho e tosco portão...

Olho o portão .. vejo as horas
nem sei há quanto te espero,
ansioso - porque demoras,
sofrendo - porque te quero!

Passou na cadeia um mês...
E, com saudades da cela,
veste-se, hoje, de escocês
e pôs grade na janela.

Ponho fora os meus cansaços,
a vigília a me nutrir,
pois, quando a tenho em meus braços,
como é que eu posso dormir?!

Por mais que seja insensata
minha forma de viver,
bendigo a dor que me mata,
mas deixa o verso nascer...

Pudesse, mãe, a lembrança
recompor o antigo lar...
Eu -- voltar a ser criança;
você... somente voltar!

Quando é bem forte a topada,
quem puder que fique mudo...
- É melhor não falar nada
que dizer... aquilo tudo!

Quando em cismas eu mergulho,
dando um balanço na dor,
ponho na conta do orgulho
minha falência no amor!

Queria vencer na vida,
só faltava um "empurrão"
que veio... em plena Avenida,
na frente de um rabecão!

Ruínas, teias de aranha,
o silêncio do quintal...
Se esta dor não me acompanha,
o abandono era total...

Se era uma fuga a viagem,
fui mais covarde na hora:
- a saudade, na bagagem,
não deixou que eu fosse embora!

Se tu jamais foste minha,
se nunca fui teu também,
posso ir só, que irás sozinha...
Ninguém perde o que não tem!

Seu adeus, naquela hora,
revelou-a para mim:
- quem quer de fato ir embora
não bate o portão assim!...

Tinha no olhar tanto brilho,
tal força nos firmes passos,
que não carregava um filho:
- levava o mundo em seus braços!...

Toda a minha teimosia
em me calar, foi em vão,
porque, na Delegacia,
me deram voz... de prisão

Topada feia! Pois é...
não tive colher de chá:
- o dedão veio no pé,
mas a unha... ficou lá!

Trouxe-me a brisa, bem mansa,
uma canção de embalar...
Com ela veio a criança
que a saudade foi buscar!

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