A trova se valoriza pelo achado, pelo inusitado - algo que surpreende no momento da criação. É uma nova forma de dizer o que já foi mil vezes dito; uma ideia diferente para expressar alguma coisa comum. Pode ser um jogo de palavras, uma metáfora, uma rima original. O achado é uma descoberta.
Como elementos de valorização da trova, merecem atenção especial as figuras de estilo, recursos que dão ao verso maior colorido e fulgor.
Elas são muitas e se dividem em figuras de palavras (ou tropos), figuras de pensamento e figuras de construção.
Entre as figuras de palavras, temos
a metáfora (e suas modalidades, como personificação, símbolo, sinestesia),
a comparação e a metonímia.
Entre as figuras de pensamento, estão
a antítese ou contraste,
o paradoxo,
o eufemismo,
o trocadilho.
Entre as de construção temos
a onomatopeia,
a aliteração,
a elipse,
a reticência,
a repetição.
Muitas vezes esses termos se confundem e simplificadamente são chamados de figuras, imagens ou metáforas em sentido lato.
Na metáfora, em sentido estrito, a imagem se revela por si só, de modo implícito. Sem nenhum suporte para sua expressão, o que a torna mais viva e dinâmica que na comparação. Assim:
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a Finados.
BELMIRO BRAGA
Faz contraste com o céu
o pinheiro verdejante;
é uma taça erguida ao léu
em louvor do caminhante!
MAFALDA DE SOTTI LOPES
No ocaso, em tarde sombria,
que à saudade nos conduz,
a sombra é o pranto do dia ,
chorando a ausência de luz.
FERREIRA NOBRE
Disse-me a fonte na mata,
nos ternos cânticos seus:
- O Poeta é a flauta de prata,
o Poema - o sopro de Deus!
LEONARDO HENKE
Na comparação ou símile, a imagem se revela com auxílio das palavras como, tal como, tal qual, qual, parece, e, por ser explícita, perde em geral um pouco de sua força. Eis um exemplo:
Meu coração, quando o ninas
com tuas juras de amor,
parece um templo em ruínas
todo coberto de flor!
LILINHA FERNANDES
Personificação, que também é denominada prosopopéia, animismo e animizaçâo, é a figura de linguagem em que seres inanimados ou irracionais agem como se fossem seres humanos:
Ao sol, as rosas vermelhas,
sensuais, tontas de luz,
à carícia das abelhas,
vão expondo os colos nus!
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
Símbolo é quando se toma, sistematicamente, uma coisa, de valorização universal, por outra, a exemplo de cruz, que pode simbolizar o Cristianismo, a dor, a morte; ou regaço, que pode referir-se a colo materno:
A vida é apenas um traço
com jogos de sombra e luz,
que partindo de um regaço
vai terminar numa cruz.
VERA VARGAS
Sinestesia é quando se confundem os planos sensoriais, usando-se de um sentido por outro, para um determinado efeito. Como nos versos:
Vê-se o canto da araponga.
Ouve-se a luz da manhã.
Enxerga-lhe a cor da voz.
Metonímia é quando se diz uma coisa por outra, o efeito pela causa e vice-versa:
cãs, por velhice;
primaveras, por anos;
suor, por trabalho.
É bastante comum na trova e a enriquece sobremaneira:
As cãs mostravam o tempo.
Na primavera da vida.
Suores de muitos anos.
Na antítese ou contraste, juntam-se ideias opostas pelo sentido:
Trouxe-me grande valia
a verdade que aprendi:
toda pessoa vazia
é sempre cheia de si...
DELMAR BARRÃO
No paradoxo, as ideias são contraditórias, a sugerir erro, mas podendo conter uma verdade:
Meu olhar vago relata,
numa tristeza incontida,
que o grande amor que me mata
é o mesmo que me dá vida.
LEOPOLDINA DIAS SARAIVA
Quando preso num recinto,
desejo livres espaços.
Porém, mais livre me sinto
quando preso nos teus braços.
MÁRIO BARRETO FRANÇA
O eufemismo é uma maneira de suavizar uma realidade desagradável, é quando se diz uma coisa por outra menos contundente:
Foi para o mundo estelar - faleceu.
No trocadilho, há palavras de sons semelhantes e sentido aparentemente dúbio, às vezes com o intuito de fazer graça:
Foste uma flor de papel / fazendo papel de flor.
Na elipse, um ou mais termos ficam subentendidos na frase:
Rosa é flor, também mulher.
Na reticência, há uma suspensão propositada do pensamento:
Era um amor sem controle...
Repetição é quando se usa uma expressão por mais de uma vez, para o efeito de realce:
Branca a nuvem, branca a paz.
A onomatopeia e a aliteração, termos que muitas vezes se confundem, podem trazer muita originalidade à trova.
Aliteração é a repetição de fonemas iguais ou parecidos para, através do som, sugerir uma ideia:
Onda redonda assomou.
A aliteração aproxima-se muito da onomatopeia, que, em sentido estrito, é quando um único vocábulo dá a ideia acústica:
o marulho das ondas,
o farfalhar das ramagens.
Em sentido lato, a onomatopeia refere-se a todos os processos e efeitos que levem a sugerir um determinado ruído.
Bate o vento, o vento bate.
A assibilizaçâo (sons sibilantes, excesso de s e z), que normalmente se condena, pode também servir à aliteração:
Zunem com asas de brisa.
Várias imagens podem aparecer com frequência em uma mesma trova, e seus nomes também muitas vezes se confundem.
Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009
Como elementos de valorização da trova, merecem atenção especial as figuras de estilo, recursos que dão ao verso maior colorido e fulgor.
Elas são muitas e se dividem em figuras de palavras (ou tropos), figuras de pensamento e figuras de construção.
Entre as figuras de palavras, temos
a metáfora (e suas modalidades, como personificação, símbolo, sinestesia),
a comparação e a metonímia.
Entre as figuras de pensamento, estão
a antítese ou contraste,
o paradoxo,
o eufemismo,
o trocadilho.
Entre as de construção temos
a onomatopeia,
a aliteração,
a elipse,
a reticência,
a repetição.
Muitas vezes esses termos se confundem e simplificadamente são chamados de figuras, imagens ou metáforas em sentido lato.
Na metáfora, em sentido estrito, a imagem se revela por si só, de modo implícito. Sem nenhum suporte para sua expressão, o que a torna mais viva e dinâmica que na comparação. Assim:
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a Finados.
BELMIRO BRAGA
Faz contraste com o céu
o pinheiro verdejante;
é uma taça erguida ao léu
em louvor do caminhante!
MAFALDA DE SOTTI LOPES
No ocaso, em tarde sombria,
que à saudade nos conduz,
a sombra é o pranto do dia ,
chorando a ausência de luz.
FERREIRA NOBRE
Disse-me a fonte na mata,
nos ternos cânticos seus:
- O Poeta é a flauta de prata,
o Poema - o sopro de Deus!
LEONARDO HENKE
Na comparação ou símile, a imagem se revela com auxílio das palavras como, tal como, tal qual, qual, parece, e, por ser explícita, perde em geral um pouco de sua força. Eis um exemplo:
Meu coração, quando o ninas
com tuas juras de amor,
parece um templo em ruínas
todo coberto de flor!
LILINHA FERNANDES
Personificação, que também é denominada prosopopéia, animismo e animizaçâo, é a figura de linguagem em que seres inanimados ou irracionais agem como se fossem seres humanos:
Ao sol, as rosas vermelhas,
sensuais, tontas de luz,
à carícia das abelhas,
vão expondo os colos nus!
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
Símbolo é quando se toma, sistematicamente, uma coisa, de valorização universal, por outra, a exemplo de cruz, que pode simbolizar o Cristianismo, a dor, a morte; ou regaço, que pode referir-se a colo materno:
A vida é apenas um traço
com jogos de sombra e luz,
que partindo de um regaço
vai terminar numa cruz.
VERA VARGAS
Sinestesia é quando se confundem os planos sensoriais, usando-se de um sentido por outro, para um determinado efeito. Como nos versos:
Vê-se o canto da araponga.
Ouve-se a luz da manhã.
Enxerga-lhe a cor da voz.
Metonímia é quando se diz uma coisa por outra, o efeito pela causa e vice-versa:
cãs, por velhice;
primaveras, por anos;
suor, por trabalho.
É bastante comum na trova e a enriquece sobremaneira:
As cãs mostravam o tempo.
Na primavera da vida.
Suores de muitos anos.
Na antítese ou contraste, juntam-se ideias opostas pelo sentido:
Trouxe-me grande valia
a verdade que aprendi:
toda pessoa vazia
é sempre cheia de si...
DELMAR BARRÃO
No paradoxo, as ideias são contraditórias, a sugerir erro, mas podendo conter uma verdade:
Meu olhar vago relata,
numa tristeza incontida,
que o grande amor que me mata
é o mesmo que me dá vida.
LEOPOLDINA DIAS SARAIVA
Quando preso num recinto,
desejo livres espaços.
Porém, mais livre me sinto
quando preso nos teus braços.
MÁRIO BARRETO FRANÇA
O eufemismo é uma maneira de suavizar uma realidade desagradável, é quando se diz uma coisa por outra menos contundente:
Foi para o mundo estelar - faleceu.
No trocadilho, há palavras de sons semelhantes e sentido aparentemente dúbio, às vezes com o intuito de fazer graça:
Foste uma flor de papel / fazendo papel de flor.
Na elipse, um ou mais termos ficam subentendidos na frase:
Rosa é flor, também mulher.
Na reticência, há uma suspensão propositada do pensamento:
Era um amor sem controle...
Repetição é quando se usa uma expressão por mais de uma vez, para o efeito de realce:
Branca a nuvem, branca a paz.
A onomatopeia e a aliteração, termos que muitas vezes se confundem, podem trazer muita originalidade à trova.
Aliteração é a repetição de fonemas iguais ou parecidos para, através do som, sugerir uma ideia:
Onda redonda assomou.
A aliteração aproxima-se muito da onomatopeia, que, em sentido estrito, é quando um único vocábulo dá a ideia acústica:
o marulho das ondas,
o farfalhar das ramagens.
Em sentido lato, a onomatopeia refere-se a todos os processos e efeitos que levem a sugerir um determinado ruído.
Bate o vento, o vento bate.
A assibilizaçâo (sons sibilantes, excesso de s e z), que normalmente se condena, pode também servir à aliteração:
Zunem com asas de brisa.
Várias imagens podem aparecer com frequência em uma mesma trova, e seus nomes também muitas vezes se confundem.
Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009
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