1
A dor que trago em meu peito
e transparece em meu pranto
me faz sentir o direito
de ser feliz quando canto.
2
A inteligência encerra
tudo quanto a força faz…
Da força resulta a guerra;
da inteligência, a paz.
3
Antes, nem dava importância
às "loucuras" que fazia.
Hoje, lembro a minha infância
com saudade e nostalgia.
4
Aprendi, desde criança,
a lutar pelo que quero.
Não hei de deixar herança
e nem receber espero.
5
Aprendi, desde menino:
Pra ser homem, de verdade,
não mentir, nem falar fino…
Precisa autenticidade.
6
À sombra do anonimato
somente os covardes agem.
Nunca, um cidadão sensato.
Nunca, um homem de coragem.
7
Caicó, quando o sertão
festeja teu centenário,
faço do meu coração
presente de aniversário.
8
Chegar pertinho de mim?
Como é que você se arrisca?
O incêndio começa assim:
basta haver uma faísca.
9
Contemplando um beija-flor,
ave de rara beleza,
percebi quanto primor
existe na natureza.
10
Costuma existir malícia
no carinho da mulher.
Sempre que nos faz carícia,
alguma coisa ela quer.
11
Cumpre bem a sua norma
em prol da sociedade
o jornalista que informa
sem distorcer a verdade.
12
De batalhar não desisto.
Hei de vencer algum dia.
Creio no poder de Cristo,
na Santa Virgem Maria.
13
De grandeza, desconfio
ser este o sonho da fonte:
ser, um dia, um grande rio,
todo coberto de ponte.
14
Deus, que fez o fogo, a água,
o vento, o frio, o calor...
misturou prazer e mágoa
na fabricação do amor.
15
Deus, no grande paraíso
que aos cegos reservais,
apenas se faz preciso
fazê-los ver. Nada mais.
16
Dura, suada e sofrida
quase sempre é a trajetória
de quem consegue, na vida,
a tão sonhada vitória.
17
Educar é a grande herança
que um pai consegue deixar,
mesmo que o filho, criança,
não consiga avaliar.
18
É na surdina, eu suponho,
juntinho à mulher querida,
que a vida se torna sonho
e o sonho se torna vida.
19
É nos teus olhos que leio
teus sonhos, tua mensagem.
Neles, um simples passeio
vale mais que uma viagem.
20
Enquanto eu viver na terra,
não quero julgar ninguém,
não quero punir quem erra,
nem ser carrasco de alguém.
21
Eu planto flor, colho hera.
Planto calor, nasce frio...
Isto não me desespera.
Insisto no meu plantio.
22
Eu quero ter, como herança
da pessoa mais querida,
somente a boa lembrança
do bem que me fez em vida.
23
Fruta - só da estação.
Mulher - se não for casada.
Trabalho - sem ter patrão.
Comida - sem ser salgada.
24
Guarapari, com certeza,
é a Cidade Saúde.
Terra de rara beleza.
Perfeição em plenitude.
25
Há muita gente que acha
que cachaça é coisa boa,
mas eu, se beber cachaça,
vou perder minha "patroa".
26
Há muito cego sabido
que nada de cego tem.
Se o vento sobe um vestido,
como o ceguinho vê bem!
27
Impor a força, o receio,
fazer uso de agressão…
não é este o melhor meio
de mostrar quem tem razão.
28
Língua pátria, espezinhada,
sem ter chances de defesa.
Mal escrita e mal falada,
nossa língua portuguesa.
29
Maria, os meus dissabores
espero ver desfazeres.
Não és Maria das Dores,
és Maria dos Prazeres.
30
Minha mãe, analfabeta,
sozinha aprendeu a ler,
mas fez seu filho, poeta,
muitas lições aprender.
31
Minha pacífica alma
merece a comparação
da fonte, que vence, calma,
os pedregulhos do chão.
32
Mulher, semelhante nossa,
uma “costela” qualquer…
mas não há homem que possa
viver feliz sem mulher.
33
Nada existe mais sagrado
que a demonstração de afeto
naquele abraço apertado
que recebo do meu neto.
34
Nada expressa mais tristeza,
nem há vida mais tristonha,
que a de quem sofre a pobreza,
sem realizar o que sonha…
35
Não gosto de estardalhaço,
nem sou de fazer barulho,
mas tudo de bom que faço
me deixa um pouco de orgulho.
36
Não há nas canções de agora
sentimento ou poesia.
Prefiro, sempre, as de outrora,
com seu tom de nostalgia.
37
Não quer para si, não faça
o mal a outra pessoa.
Quem vive a fazer trapaça
a si mesmo amaldiçoa.
38
Nem sempre faço o que penso,
para evitar embaraço,
mas, por questão de bom senso,
penso sempre no que faço.
39
No Dia dos Namorados,
fiz algo surpreendente:
gastei todos meus “trocados”
para te dar um presente.
40
Nosso amor ninguém desmente,
nem aprova ou recrimina,
pois eu sinto e você sente
discretamente, em surdina.
41
Numa fonte que desliza,
cristalina, pelo chão,
a natureza improvisa
sua forma de canção.
42
O futuro é resultado
do plantio no presente.
Da semente do passado
nasce o futuro da gente.
43
O poeta é quem descreve,
de maneira inteligente:
trova é o meio mais breve
de se dizer o que sente.
44
O rancor não engrandece
o passado de ninguém.
A gente prospera e cresce
amando e fazendo o bem.
45
O teu narigão vermelho,
que parece um pimentão,
espanta qualquer espelho
que não sofra da visão…
46
Para mudar a imagem
do Nordeste brasileiro,
falta dinheiro e coragem,
principalmente dinheiro.
47
Partir... voltar... não me queixo.
Isto faz parte da vida.
Saudade eu carrego e deixo,
no momento da partida.
48
Precisa de inteligência
dar inestimáveis provas
quem julga ter competência
para um concurso de trovas.
49
Qual faminto sem comida,
o ser sem inteligência,
sem saber, imita a vida
da flor que não tem essência.
50
Quem erra e assume o que faz
revela autenticidade,
mas pouca gente é capaz
de ter tamanha hombridade.
51
Quem me vê falar sozinho
não pense que falo a esmo.
Às vezes, faço, baixinho,
repreensões a mim mesmo.
52
Quem muito a si mesmo cobra
ou de si mesmo é juiz,
no pouco tempo que sobra
não dá para ser feliz.
53
Quem quer algo conquistar
precisa compreender:
ter esperança é sonhar,
ter ousadia é fazer.
54
Quem quer bens materiais
de uma forma desmedida
mostra egoísmo demais.
Não sabe viver a vida.
55
Rui Barbosa, num sorriso,
ao morrer, disse à Ciência:
“Vou mostrar no paraíso
o que é inteligência” .
56
São os sonhos, com certeza,
que à vida tornam risonha.
Por isto, esquece a tristeza.
Sonha, sonha, sonha, sonha…
57
Se eu fosse um passarinho,
desses que vivem perdidos,
iria fazer meu ninho
nos teus cabelos compridos.
58
Sentimento de criança
não comporta explicação.
Oscila como balança,
explode como vulcão.
59
Ser pobre não é defeito.
Falta, apenas, quem lhe ajude.
O que mostra o bom sujeito
é sua boa atitude.
60
Seu Padre, seja sensato:
não reclame a Santo Antônio!
Mais vale um bom celibato
do que um mau matrimônio.
61
Sofro fome, sede e peste,
sem saber o que é dinheiro,
mas não troco o meu Nordeste
pelo Rio de Janeiro.
62
Sujeito que fala fino,
sem qualquer explicação,
pode, até, ser nordestino,
mas não nasceu no sertão.
63
Tem mar morto, mar azul,
mar de toda qualidade.
Em Cachoeira do Sul,
um mar de felicidade.
64
Ter fé é ter esperança
numa conquista qualquer.
É com fé que a gente alcança
aquilo que a gente quer.
65
Uma estação... um apito...
uma partida de um trem...
No meu coração aflito,
a saudade do meu bem.
66
Vale bem mais ser ousado
que ter a vida vazia.
O sucesso é resultado
de uma dose de ousadia.
67
Volta, cigana bonita,
tu, que leste a minha mão.
Volta! Teu laço de fita
prendeu-se ao meu coração.
____________________________
Julimar Andrade Vieira nasceu em Teixeira/PB, em 1949. Desde os onze anos de idade escreve poesias, por influência do seu falecido pai, também poeta, Júlio Rodrigues Vieira. Integrou as equipes de radiojornalismo da Emissora de Educação Rural de Caicó (RN) e Rádio Arapuan, de João Pessoa (PB). Trabalhou durante quase 30 anos no Banco do Nordeste do Brasil, onde atuou, até pouco antes de aposentar-se, como Advogado, Assessor da Presidência e Chefe da Assessoria de Assuntos Institucionais, em Brasília-DF, órgão vinculado ao Gabinete da Presidência. Aposentado em 1998, exerceu a advocacia sem vínculo empregatício e ocupou o cargo de Chefe de Gabinete do Procurador-Geral do Estado de Sergipe (2007/2010).
No campo literário, foi colaborador do jornal “A Folha” , de Caicó, onde foi Presidente da União Estudantil e sócio-fundador do Clube dos Trovadores do Seridó. No BNB, foi redator do jornal interno Comunicado ao Funcionalismo.
Publicou o livro de poesias Coisas da Vida (1981). Fez parte do Coral do Carmo, em Recife-PE. Participou, também, de algumas antologias poéticas de âmbito nacional e vem participando, com razoável êxito, de vários concursos literários.
É delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Aracaju (SE), onde reside atualmente.
Fonte:
União Brasileira de Trovadores Porto Alegre - RS.
Trovas de Julimar Andrade Vieira e Júlio Rodrigues Vieira.
Coleção Terra e Céu. vol. LXXIV. Porto Alegre/RS: texto Certo, 2016
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