1
A brisa bateu na porta
naquela noite abatida...
Trouxe uma esperança morta
pra minha face sem vida...
2
A cascata me interpela
questões das mais resolutas.
Por que a água doce e bela
cai beijando as pedras brutas??
3
A noite sai do espetáculo,
inerme, discreta e estranha;
o sol por trás de um pináculo
eriça a luz na montanha… (…)
4
Ao chegar neste recinto
das terras de Caicó,
com todo fervor eu sinto
que aqui não me sinto só.
5
Ao rever a sua imagem
N’alma abri minhas cortinas
e retoquei a tatuagem
feita nas minhas retinas!
6
A trova levou-me aos céus,
pois entre joios e trigos
perdi pequenos troféus
mas ganhei grandes amigos.
7
A velhice, em tom sarcástico,
gosta de mostrar que sou
restos de sonhos de plástico
que o trem do tempo esmagou.
8
Cada gole de aguardente
traz um ardor vitalício,
queimando as queixas da mente
dentro do fogo do vício…!
9
Com desespero e irritado,
apertou devagarzinho…
– Quem é você seu safado?????
– Eu sou Raimundo, o mudiiinho!!!!
10
Covarde, pobre e mesquinho;
quem durante a caminhada
ante às pedras do caminho,
decreta o final da estrada.
11
Disse a velha sem orgulho:
– no quarto, em horas de amor,
o velho que faz barulho
é só meu ventilador…
12
É duro olhar para o lado
em meio ao redemoinho,
no vento mais conturbado
e ver… Eu estou sozinho!
13
É inverno… Choveu na mata…
E a lua, deusa sem fama,
penteia as tranças de prata
pelos espelhos de lama.
14
É queimada a Dona Benta
no bairro de Botafogo,
por já passar dos oitenta
e não ter baixado o fogo…!
15
– Já passaste, Primavera?!
Nenhuma flor me marcou!
Querendo ser quem eu era,
nunca mais fui quem eu sou...
16
Joguei na fonte a moeda…
Por ser a única que eu tinha,
antes que eu ouvisse a queda,
pedi pra você ser minha!
17
Joguei moedas no lago...,
mas meu desejo afundou
com as esmolas de afago
que você me renegou.
18
Junta-se o poeta aos loucos;
um diário vivo em versos,
expressando como poucos
os sentimentos diversos.
19
Na entrevista com rigor
que o tempo insiste em fazer,
se a pergunta é sobre amor,
eu me nego a responder…
20
Na madrugada sem fim,
a saudade, desvairada,
acende um confronto em mim
entre um ninguém e um nada!…
21
Não vens. Sozinho na sala,
na espera à luz do ciúme,
meu coração despetala,
mas não perde teu perfume.
22
Na realidade, o pecado
que me faz vagar a esmo,
foi na vida ter amado
outro alguém mais que a mim mesmo!
23
No lago seco onde o sol,
racha o chão e se esparrama,
o pobre de um rouxinol
bica fiapos de lama…
24
Nosso fim está, talvez
como um segredo escondido,
nas entranhas dos “porquês”
que você deu sem sentido…
25
No trem, a vida é mesquinha.
Pare! Não tema empecilhos.
Não há quem ande na linha
neste planeta sem trilhos.
26
Nunca temerei fracassos,
chegarei mesmo sozinho.
Quem segue do pai os passos
sabe as curvas do caminho…
27
O barco é movido a remos …
E hoje, pai, longe de ti,
eu só sei dizer: vencemos;
é injusto eu dizer: venci.
28
Olhos fundos; enfadonhos,
tez crestada, mão ferida…
Só você, pai, por meus sonhos,
foi capaz de dar a vida…!
29
Passastes, trem, mas por que
deixastes ficar assim?!
Vagões cheios em você;
vagões vazios em mim…?!
30
Peço a “Noel”, com leveza,
que ao chegar do polo norte,
bote ao menos pão na mesa
dos que nasceram sem sorte.
31
Pela dor da decepção
eu já me recuperei,
só falta a devolução
de um amor que eu te entreguei!
32
Pode ir embora, querida...
Que eu guardo a dor compulsória
de ter que arrancar da vida
quem tatuei na memória.
33
Por uma acusação falsa
fui levado pra cadeia.
Lá ganhei a meia calça
depois de uma surra e meia…!
34
Puseste-me na clausura!
E hoje, em sonhos sem sentido,
eu me alimento da jura
que murmuras noutro ouvido…
35
Quando a dor de raivas breves,
de ti, musa, não tem fim,
escreves com traços leves
mil versos de amor em mim…
36
Quando a família é rompida
por atos cegos, tiranos,
deixa destroços de vida,
restos de seres humanos...
37
Quando o céu, em nuvens rotas,
derrama a chuva em cascata,
as gotas dedilham notas
nas verdes liras da mata…
38
Sê cidadão! Pois é rara,
a virtude de quem sonha
em primeiro por na cara
os adornos da vergonha.
39
Se foi feitiço ou segredo,
pra mim não adianta, é tarde!
Quando alguém ama com medo,
esculpe um amor covarde!
40
Sempre te amei como um louco
bem mais do que se permite;
para quem é amado, é pouco,
pra quem ama é sem limite!
41
Sem saber o que fazer,
a prostituta, perdida,
vende prazer p’ra viver,
mesmo sem prazer na vida…!
42
Ser literato ele soube,
com "Os Sertões", obra lendária.
Foi tão grande que não coube
numa escola literária.
43
Seu olhar de sinceridade,
crava paz nesse meu peito.
Nosso laço de amizade
tem as fitas do respeito!
44
Sobre a estante, na sala,
teu velho retrato, mudo,
mostra que a saudade fala
num silêncio... que diz tudo!!
45
Sou como as uvas pisadas
pra fazer vinho e licor,
que mesmo sendo esmagadas
dão de presente o sabor.
46
Sua imagem é minha escolha,
dela assumo ser devoto,
pois por mais que eu vire a folha,
eu só vejo a mesma foto!
47
Sua imagem, na lembrança,
em mim se consolidou
num retrato de esperança
que a vida não revelou...
48
Tantas lágrimas na face
de tantos que a vida ignora.
E cada aurora que nasce,
é apenas mais uma aurora.
49
Toda família suspende
em seu pilar, os fracassos;
quando um filho dela pende,
sempre se ampara em seus braços!
50
Trinam pássaros nos galhos,
a brisa é leve e sombria;
a aurora sobre os orvalhos,
abre as cortinas do dia.
51
Vim do chão de um interior
e hoje tenho visões novas.
Quão feliz é o Trovador
que vai das Trevas às Trovas…
52
Viro a chave...E a nostalgia
da solidão que me corta
é impressa na melodia
do lento ranger da porta…
53
Voando em sonhos dispersos,
sigo em louca diretriz
no céu do rastro dos versos
das trovas que nunca fiz.
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