sábado, 22 de abril de 2017

Eduardo Toledo


1
Acalme a ira em seu sangue 
e as injustiças suporte, 
pois a ofensa é um bumerangue 
que sempre volta mais forte! 
2
A fé, de crenças tamanhas, 
é um rio largo e bendito 
que vai transpondo montanhas 
e deságua no infinito! 
3
Ainda vejo da varanda, 
em frente à Igreja Matriz, 
o meu pai regendo a banda 
e a praça inteira feliz! 
4
A mentira mais fingida 
que aprendi, quando criança, 
foi ouvir que pela vida 
quem espera sempre alcança. 
5
Ao devolver minhas cartas, 
o carteiro nem sabia 
que, além de saudades fartas, 
os meus sonhos devolvia! 
6
A saudade se embaraça 
e a paixão se intensifica... 
- Não pelo instante que passa, 
mas pelo instante que fica! 
7
A vingança não me agride, 
pois tenho de prontidão 
as armas para o revide: 
- o entendimento e o perdão! 
8
Bate a neblina... Em meu quarto, 
na solidão que me invade, 
a saudade inventa um parto... 
e nasce uma outra saudade! 
9
Corroendo o coração 
e a cabeça endoidecendo, 
o ciúme é a sensação 
do que se vê... não se vendo! 
10
Durmo tranquila e feliz 
na madrugada sem lei, 
quando meu filho entra e diz: 
- A bênção, mãe, eu cheguei!!! 
11
Em minha filosofia 
o amor é um barco ao relento: 
- soberbo na calmaria... 
- e incauto à fúria do vento!!! 
12
Em pouco mais que um segundo, 
e sem quaisquer cantilenas, 
a trova canta este mundo 
em quatro versos apenas! 
13
Meu pai, que venero tanto, 
e não sai dos sonhos meus, 
foi muito mais do que um santo, 
foi cá na Terra o meu Deus! 
14
Minha assanhada vizinha, 
enrugada e sem calor, 
parece um velho "fusquinha" 
já "rateando" o motor. 
15
Minhas saudades, no estágio 
de tantos sonhos em vão, 
até hoje pagam ágio 
no guichê da solidão! 
16
Não te rendas nunca à dor, 
se o teu bem tem rumo incerto, 
pois, muitas vezes, no amor, 
esse longe é muito perto! 
17
Na viagem da ilusão, 
pela tarde azul e morna, 
vivo a esperar na estação 
um trem que nunca retorna! 
18
Neném... Zé Gordo... Tuinha... 
Zeca saci... (Que distância!) 
- Cadê a turma que eu tinha 
na rua da minha infância"? 
19
No engenho do desencanto 
vou moendo a soledade 
e destilando o meu pranto 
no alambique da saudade! 
20
No leilão do teu amor, 
se a prenda for um romance, 
eu pago qualquer penhor 
e cubro o último lance! 
21
No trem da vida prossigo 
e, à luz da terceira idade, 
eu vou levando comigo 
um vagão só de saudade! 
22
No verão, alguns maridos 
caem nos blocos da cidade... 
Pintam lábios, põem vestidos 
e assumem a outra metade! 
23
O homem conquista e arrebanha 
mais altura e põe-se em pé, 
quando desce da "montanha" 
e professa a sua fé!!! 
24
O inverno fecunda o chão 
com sêmens de orvalho e espera 
as flores que brotarão 
do ventre da primavera! 
25
O medo que me intimida, 
ante o terror e o poder, 
é o medo da própria vida 
que não se pode viver. 
26
O meu sonho misantropo, 
deslizando na subida, 
até hoje busca o topo 
do pau-de-sebo da vida! 
27
O nosso amor, cuja essência 
é uma volúpia banal, 
parece até reticência 
com ar de ponto final! 
28
"O que é o amor?" me perguntas, 
e, em coro, os anjos entoam: 
"são duas pessoas juntas 
que se amam e se perdoam!” 
29
Os meus sonhos vão ao léu, 
pelas asas da ilusão... 
- Plantando flores no céu... 
- Colhendo estrelas no chão! 
30
O sonho que me incendeia 
à luz da terceira idade 
parece uma lua cheia 
no infinito da saudade! 
31
Por mais que eu galgue as montanhas 
dos sonhos, dos ideais, 
vem uma voz das entranhas 
e me ordena: "SUBA MAIS"!!! 
32
Por ser caboclo do mato, 
de capina a vida inteira, 
meu mundo tem o formato 
de uma roça sem fronteira! 
33
Recordações na parede, 
cacos de sonhos no chão 
e o passado, numa rede, 
embalando a solidão! 
34
Sua história... seus desterros... 
Minas, de formas Gerais, 
apesar de muitos erros 
nos deu acertos demais! 
35
Tendo a paixão como escolta 
e o coração em sentido, 
saudade é um sonho que volta, 
sem que nunca tenha ido! 
36
Um aroma diferente 
envolve a terceira idade: 
– é quando o olfato da gente 
sente o cheiro da saudade! 
37
Vaga o meu sonho ao luar 
num dilema permanente: 
- se pesca a estrela-do-mar... 
- se colhe a estrela cadente!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

José Valdez de Castro Moura (Trovas em Preto & Branco)

  por José Feldman Análise das trovas e relação de suas temáticas com literatos brasileiros e estrangeiros de diversas épocas e suas caracte...