1
Acalme a ira em seu sangue
e as injustiças suporte,
pois a ofensa é um bumerangue
que sempre volta mais forte!
2
A fé, de crenças tamanhas,
é um rio largo e bendito
que vai transpondo montanhas
e deságua no infinito!
3
Ainda vejo da varanda,
em frente à Igreja Matriz,
o meu pai regendo a banda
e a praça inteira feliz!
4
A mentira mais fingida
que aprendi, quando criança,
foi ouvir que pela vida
quem espera sempre alcança.
5
Ao devolver minhas cartas,
o carteiro nem sabia
que, além de saudades fartas,
os meus sonhos devolvia!
6
A saudade se embaraça
e a paixão se intensifica...
- Não pelo instante que passa,
mas pelo instante que fica!
7
A vingança não me agride,
pois tenho de prontidão
as armas para o revide:
- o entendimento e o perdão!
8
Bate a neblina... Em meu quarto,
na solidão que me invade,
a saudade inventa um parto...
e nasce uma outra saudade!
9
Corroendo o coração
e a cabeça endoidecendo,
o ciúme é a sensação
do que se vê... não se vendo!
10
Durmo tranquila e feliz
na madrugada sem lei,
quando meu filho entra e diz:
- A bênção, mãe, eu cheguei!!!
11
Em minha filosofia
o amor é um barco ao relento:
- soberbo na calmaria...
- e incauto à fúria do vento!!!
12
Em pouco mais que um segundo,
e sem quaisquer cantilenas,
a trova canta este mundo
em quatro versos apenas!
13
Meu pai, que venero tanto,
e não sai dos sonhos meus,
foi muito mais do que um santo,
foi cá na Terra o meu Deus!
14
Minha assanhada vizinha,
enrugada e sem calor,
parece um velho "fusquinha"
já "rateando" o motor.
15
Minhas saudades, no estágio
de tantos sonhos em vão,
até hoje pagam ágio
no guichê da solidão!
16
Não te rendas nunca à dor,
se o teu bem tem rumo incerto,
pois, muitas vezes, no amor,
esse longe é muito perto!
17
Na viagem da ilusão,
pela tarde azul e morna,
vivo a esperar na estação
um trem que nunca retorna!
18
Neném... Zé Gordo... Tuinha...
Zeca saci... (Que distância!)
- Cadê a turma que eu tinha
na rua da minha infância"?
19
No engenho do desencanto
vou moendo a soledade
e destilando o meu pranto
no alambique da saudade!
20
No leilão do teu amor,
se a prenda for um romance,
eu pago qualquer penhor
e cubro o último lance!
21
No trem da vida prossigo
e, à luz da terceira idade,
eu vou levando comigo
um vagão só de saudade!
22
No verão, alguns maridos
caem nos blocos da cidade...
Pintam lábios, põem vestidos
e assumem a outra metade!
23
O homem conquista e arrebanha
mais altura e põe-se em pé,
quando desce da "montanha"
e professa a sua fé!!!
24
O inverno fecunda o chão
com sêmens de orvalho e espera
as flores que brotarão
do ventre da primavera!
25
O medo que me intimida,
ante o terror e o poder,
é o medo da própria vida
que não se pode viver.
26
O meu sonho misantropo,
deslizando na subida,
até hoje busca o topo
do pau-de-sebo da vida!
27
O nosso amor, cuja essência
é uma volúpia banal,
parece até reticência
com ar de ponto final!
28
"O que é o amor?" me perguntas,
e, em coro, os anjos entoam:
"são duas pessoas juntas
que se amam e se perdoam!”
29
Os meus sonhos vão ao léu,
pelas asas da ilusão...
- Plantando flores no céu...
- Colhendo estrelas no chão!
30
O sonho que me incendeia
à luz da terceira idade
parece uma lua cheia
no infinito da saudade!
31
Por mais que eu galgue as montanhas
dos sonhos, dos ideais,
vem uma voz das entranhas
e me ordena: "SUBA MAIS"!!!
32
Por ser caboclo do mato,
de capina a vida inteira,
meu mundo tem o formato
de uma roça sem fronteira!
33
Recordações na parede,
cacos de sonhos no chão
e o passado, numa rede,
embalando a solidão!
34
Sua história... seus desterros...
Minas, de formas Gerais,
apesar de muitos erros
nos deu acertos demais!
35
Tendo a paixão como escolta
e o coração em sentido,
saudade é um sonho que volta,
sem que nunca tenha ido!
36
Um aroma diferente
envolve a terceira idade:
– é quando o olfato da gente
sente o cheiro da saudade!
37
Vaga o meu sonho ao luar
num dilema permanente:
- se pesca a estrela-do-mar...
- se colhe a estrela cadente!!!
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