1
Aquela criatura louca,
que é razão do meu desejo,
vive tanto em minha boca,
mas nunca me deu um beijo.
2
A todo mundo insinuas
que não mando no que é teu,
mas tenho saudades tuas
e o dono delas sou eu!
3
A vida, às vezes, resume
contrastes deste teor:
só se morre de ciúme
quando se vive de amor.
4
Bebe-se tanto, meu chapa,
aguardente no Brasil,
que até mesmo o nosso mapa
tem a forma de um funil.
5
Beijei-te e, ardendo em desejos,
disseste (que hipocrisia!)
que era o teu primeiro beijo.
Só se foi naquele dia...
6
Bendigo minhas conquistas,
quando percebo depois
a inveja dos moralistas,
que falam mal de nós dois.
7
Berra a esposa, o filho berra!
E, apesar desse berreiro,
não troco meu lar em guerra
pela paz do mundo inteiro!
8
Chegaste toda elegante,
quando eu pensava ir-me embora.
“Vou ficar mais um instante.”
... E fiquei até agora.
9
Com tanto gringo passeias
e, de fato, nem supões
que a liga das tuas meias
virou Liga das Nações!
10
Corrigindo um velho erro,
aos brotos tecendo loas,
nem mesmo no meu enterro
quero saber de “coroas”.
11
Dando-me tanto trabalho,
sem me poupar um segundo,
o meu filho, esse pirralho,
é o melhor patrão do mundo.
12
Desce o viúvo ao jazigo
e uma voz familiar
repete o sermão antigo:
- Isto é hora de chegar?
13
D. Juan que, volta e meia,
mulher casada procura,
tem um pé na casa alheia
e outro pé na sepultura.
14
Doutor - peço que me ajude
nesta dúvida inclemente:
Se isto é Casa de Saúde,
como pode ter doente?!...
15
Em meio a tanta desdita,
tanta gente estende as mãos,
que a gente nem acredita
que somos todos irmãos.
16
Enquanto o sino da igreja
dobra, tristonho, a finados,
a liberdade rasteja
por entre arames farpados.
17
Entre o homem e a natureza,
há contrastes sem medida:
o pôr-do-sol – que beleza!
Que tristeza o pôr-da-vida...
18
Éramos dois indecisos
que vagávamos sem pressa...
Um sorriso... dois sorrisos...
E uma história que começa!…
19
Eu bendigo a luz da lua
e os passarinhos nos ramos:
brilha mais em nossa rua...
cantam mais quando passamos…
20
Eu não sei se o sol desponta
ou se ainda é madrugada...
Quando estou por tua conta
não dou conta de mais nada.
21
Eu quis, na cara ou coroa,
saber se és minha ou do Zé.
Fiquei na mesma. Esta é boa!
- O níquel caiu em pé!
22
Eu, sentado na beirada,
ela, junto da janela.
- Graças às curvas da estrada,
vou sentindo as curvas dela!
23
Eu sigo na minha rota
vencido, cheio de dor.
Causaram minha derrota
minhas vitórias de amor.
24
Eu sinto, vagando à toa
nos derradeiros degraus,
que a vida seria boa,
se os homens não fossem maus!
25
Meu coração, por despeito,
depois que te conheci,
vai batendo no meu peito,
enquanto apanha de ti.
26
Nas vitrinas de brinquedos,
o meu pranto tem lavado
as marcas de cinco dedos
de um menino abandonado.
27
Neste Salão elegante,
para ficar diferente,
mesmo a mulher inconstante
manda fazer... permanente...
28
Noivado, no mundo inteiro,
foi sempre assim entre os dois:
o noivo espera primeiro;
a noiva espera depois...
29
O amor seria mais brando
e o mundo seria lindo,
se Deus me visse chorando,
se Deus te visse sorrindo.
30
O cego sente desgosto
de não ver o que Deus pinta,
porque nunca viu o rosto
de uma criança faminta.
31
O confessor da capela
foi confessar-se depois...
Os pecados que ouviu dela
eram todos deles dois.
32
O mais doce dos abrigos,
minha casa é uma beleza:
aberta para os amigos,
fechada para a tristeza!
33
Passei a crer nos amigos
e em bondade ainda creio,
depois que vi dois mendigos
repartindo um pão ao meio.
34
"Perca a esperança", - disseste.
Cegamente, obedeci.
E tu mesma me trouxeste
a esperança que perdi.
35
Percebo, na trajetória
de um romance inconsequente,
que, às vezes, a mesma história
tem o enredo diferente.
36
Põe nos olhos uma venda,
se algo queres me ocultar,
porque embora não te entenda,
sempre entendo o teu olhar.
37
Por diabruras e um rebento,
naquele eterno noivado,
a festa do casamento
foi depois do batizado.
38
Por mais longe que passares,
há de ver o mundo inteiro,
que o mais falso dos olhares
é o teu olhar verdadeiro.
39
Por minha vida sem graça
passaste tão de repente...
Muitas vezes a que passa
é que fica eternamente!
40
Quando a gente perde o tino,
como perdi de repente,
uma mulher sem destino
faz o destino da gente.
41
Senta-te aqui ao meu lado,
ó anjo do meu desejo!
Santifica o meu pecado
com a pureza do teu beijo.
42
Se, ao confessar-se, a Teresa
disse tintim por tintim,
o vigário, com certeza,
sentiu inveja de mim.
43
Se de fato não me amaste,
de tudo o que me fizeste,
o beijo que me negaste
foi o melhor que me deste.
44
Se esta existência me cansa
é porque, na minha dor,
não me sobra em esperança
o que te falta em amor.
45
Se pudesse calcular
o transtorno que me deu,
Deus que fez o teu olhar
não teria feito o meu.
46
Sinto a maior das revoltas,
talvez você não presuma,
ao ver o mundo dar voltas
e nós não darmos nenhuma.
47
Sonho – punhado de areia
que a gente aperta na mão,
sem perceber a mão cheia
vazando de grão em grão.
48
Surpreendido de mansinho,
sem a fibra dos heróis,
naqueles lençóis de linho
eu me vi em maus lençóis.
49
Tão grande é minha saudade,
que voltarias, não minto,
se sentisses a metade
desta saudade que sinto.
50
Tenho dó do linguarudo
que, por gosto ou por maldade,
de nós dois já disse tudo
- e não sabe da metade.
51
Tenho tudo aqui na terra,
e tenho, apenas, o que?
- uma casinha na serra,
minha viola e você!
52
Vejo, após anos passados
de uma história que morreu,
que, entre sorrisos trocados,
acabei perdendo o meu.
53
Velho, nas minhas andanças,
já calejado de insultos,
tenho pena das crianças
num mundo cheio de adultos.
54
Vingativo, por maldade,
rogo-te pragas, meu bem:
que sintas esta saudade
multiplicada por cem.
55
Vivendo nos estribilhos
das colunas sociais,
muitos pais dão a seus filhos
noção de filhos sem pais.
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