sábado, 1 de abril de 2017

Diamantino Ferreira


1
À mesa…  taças de vinho…
Alívio de um sofredor.
Já não vive mais sozinho
quem encontrou novo amor.
2
A trova, de qualquer jeito,
chega forte e vai bem fundo.
Em seu contexto perfeito,
já percorreu todo o mundo.
3
A velhinha nem repara
na dança da bailarina:
seu tempo há muito passara…
- Pobre dela!  Triste sina!
4
Beijo nas faces, carícias
- como tantas, inocentes;
mas abraços são primícias
dos desejos mais ardentes!
5
Bonecos… acorrentados!
Libertar-se?  Isso em vão!
Se um tem os lábios selados,
reclamar da escravidão?!
6
Em noite de lua cheia,
tanta luz por sobre o mar…
Bem mais que o dia, clareia
bela noite de luar!
7
Escrevem tanta besteira!
Parem com isso, de vez!
Pois quem des…fralda  bandeira
de… frauda   o  bom  português!…
8
Gente na rua protesta,
mas nem pensa em trabalhar.
Diz que o governo não presta,
nada faz para ajudar…
9
Havia só uma ponte!
- Ao chegar, já vejo duas!
Que o progresso mais desponte...
Saudades de minhas ruas!
10
Lento barquinho que, às cegas
no mar da vida, encrespado,
sem menor temor – navegas
em busca do ser amado!
11
Lua, que vagas, serena,
na amplidão do azul celeste,
traz consolo à minha pena,
leva a dor que me trouxeste!
12
Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
13
Na mesma rede embalados…
Porém a vida é tão dura!
– No que pensam namorados
se não na vida futura?!
14
Não há palavra nenhuma
tão grande quanto “saudade”
que em sete letras resuma
a dor e a felicidade.
15
Não me negues teu retrato,
que isso é tola precaução,
pois já o tenho, de fato,
gravado no coração!
16
Não sou ave, nem sou peixe;
nunca aprendi a nadar,
mas peço a Deus que me deixe
um dia destes voar!
17
Nunca fui águia altaneira,
como nunca fui condor:
– remédios à cabeceira,
somente um velho… com dor.
18
Os meus garbosos oitenta
jamais pensei alcançar:
será que a carcaça agüenta
uns outros mais a chegar?
19
Para nos meter o malho,
como se fosse inimigo,
Deus inventou o trabalho,
deu-nos sogra por castigo!
20
Praia…  Sentado na areia,
sem nuvens de tempestade,
enquanto a mente vagueia
alguém chora de saudade!
21
Quando a mãe beija seu filho
- tesouro herdado de Deus! -
quanto fulgor! Quanto brilho
se espelha nos olhos seus!
22
Quão  tola a galanteria
que, em bailes, a multidão
exibe, falsa alegria
que não tem no coração!
23
Sendo unidos, todos nós,
podemos salvar  o mundo.
Vamos juntar-nos e, após,
nenhum prazer mais profundo!
24
Ser feliz é ser poeta;
mais feliz, só trovador:
ambos, sendo um só esteta,
dizem tudo com amor!
25
Sofrem tantos na agonia
do delírio, dito "amor";
isso tudo acaba um dia,
faz frio após o calor...
26
Tantos anos, e eu daqui,
cuidei da vida lá fora;
fiquei moço, envelheci...
- Mas estou voltando agora!
27
Temperança é sobriedade,
em tudo, moderação;
não usar à saciedade
o pouco que tem na mão.
28
Trovador!  Que trova fazes?
– Amigo, nem sei dizer!
Com ela, já fiz as pazes,
casados até morrer!
29
Uma placa numa estrada
deseja felicidade.
Mas, não sendo respeitada,
vem a morte… a eternidade…
30
Um casal apaixonado 
que anseia por se casar, 
vendo o relógio parado, 
cansou de tanto esperar…

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