1
Abraços, beijos de fogo,
em vez de aplacar o amor
que anseia por desafogo,
mais aumentam seu furor.
2
Abro os meus olhos e vejo
que a manhã radiosa avança,
borrifando a natureza
com o orvalho da esperança!
3
A esperança é uma criança
que ninguém pode com ela:
nem bem saiu pela porta,
torna entrar pela janela.
4
A flor que eu contemplo agora,
em meu ser quer pendurar,
insiste em ficar no foco
do meu deslumbrado olhar.
5
A gente em geral tropeça
naquilo que há de través:
Mas aquele que tem pressa,
tropeça em seus próprios pés.
6
Amigos, são todos eles
como aves de arribação:
- Se faz bom tempo, eles vêm...
- Se faz mau tempo, eles vão...
7
A mulher e sua saia
não conseguem combinar:
A mulher vai se assentando,
a saia quer levantar…
8
Ao homem sempre se fala
que escute a voz da razão;
mas é que a razão se cala,
quando fala o coração.
9
Aquele olhar suplicante
penetra em nossos refolhos:
Sem dar sequer um latido,
o cão implora com os olhos!
10
A raiva maior que tive,
eu tive porque sonhei
que estava quase a beijar-te
e de repente acordei!
11
Às vezes, durante a missa,
voando vinha de fora
uma veloz andorinha
visitar Nossa Senhora.
12
Coração não tem memória,
é um ditado verdadeiro:
o amor que temos por último,
parece ser o primeiro.
13
Cresceu demais minha aldeia,
Meu Deus, que desilusão:
Hoje, tão grande e tão cheia,
não cabe em meu coração.
14
Das dores todas da vida,
não pode haver maior dor
que passar a vida inteira
sem dor nenhuma de amor.
15
De querer-te como quero,
que culpa é que posso ter?
Bem sabes que sou sincero,
se te quero é sem querer.
16
Ele recusa comida,
ainda que seja pouca,
para não ter o trabalho
de ter que levá-la à boca …
17
Em qualquer lugar que estejas,
entre flores ou abrolhos,
a mesma distância, ó vate,
separa do céu teus olhos!
18
Em travesseiro de nuvens
repouso a minha cabeça:
Na companhia dos anjos,
queira Deus que eu adormeça.
19
Eu amava uma palmeira,
lá longe, no entardecer…
Veio a noite traiçoeira,
não vi mais meu bem-querer!
20
É uma troca de carinho
a amizade: basta ver
um burro coçando o outro,
como tremem de prazer.
21
Eu nunca pedi um beijo,
não gosto de beijo dado:
Pra matar o meu desejo
tem que ser beijo roubado.
22
"Felicidade é quimera!"
Costuma a gente exclamar.
Porém, lá dentro, baixinho,
nunca a deixa de esperar.
23
Juntos, ficamos calados.
Também, para que falar?
Entre dois enamorados,
basta a linguagem do olhar.
24
Na clara manhã de Minas,
a andorinha de asas pretas
é uma criança traquinas
dando no céu piruetas!
25
Não gosto de fazer contas,
a conta sai sempre errada.
Por isto virei poeta,
não faço conta de nada …
26
Não tem idade alguma,
quem tem apenas metade:
a liberdade, ou é inteira,
ou não é liberdade.
27
Não ter amor e fingir
é difícil a valer;
mas acho que é mais difícil
ter um amor e esconder.
28
Nem mesmo a joia mais cara
prova toda a gratidão:
Tem algo que só se paga
dando o próprio coração.
29
Nenhum valor ia ter,
para nós, a gratidão,
se não se pudesse ser
ingrato sem punição.
30
Nesta casa com janelas
a minh’alma fez morada:
Mas a casa não é dela,
é só uma casa alugada.
31
Ó canarinho de outrora,
meu canarinho querido,
parece que eu te ouço agora
cantando no meu ouvido!
32
O cão, teu fiel amigo,
mostra mais satisfação
ao ver que trazes contigo
um bom pedaço de pão.
33
Ó chá de malva cheirosa,
- folha com nome de flor -
cujo perfume de rosa
se transfigura em sabor.
34
O lampião, noite escura,
lá no fundo do sertão,
filtra uma luz doce e pura
que enternece o coração.
35
Olho o céu, olho as montanhas,
olho uma nuvem passar…
e acabo me convencendo
que a alma é função do olhar.
36
O nosso amor à justiça
vem do medo que se sente
de que algum dia a injustiça
possa sobrar para a gente.
37
O poeta é uma pessoa
que vive sempre ocupada:
Faz versos andando à toa,
mas julgam que não faz nada.
38
Ó sino de alma de bronze,
indiferente da sorte,
tanto celebras a vida
como celebras a morte.
39
Os profetas, com ameaças,
ganham fama onde aparecem,
já que não faltam desgraças,
que todo dia acontecem.
40
Os quadros que foi juntando
ao pintor devem pesar
talvez mais que as obras primas
que ele deixou de pintar …
41
Para os outros, sou feliz.
Deixa que pensem assim:
Seja eu feliz para os outros,
já que o não sou para mim.
42
Pecados de amor, só são
pecados de dar horror,
se forem, na ocasião,
praticados sem amor.
43
Pode fazer-se um favor,
fazer dois e mesmo três,
que apenas será lembrado
aquele que não se fez.
44
Por mais alto que cheguemos,
sempre a ambição é mais alta:
nunca vemos o que temos,
só vemos o que nos falta.
45
Por que a esperança é verde?
– É verde porque a ventura
que ela promete na vida
jamais se encontra madura.
46
Provérbios temos aos centos,
este é dos mais verdadeiros:
– Deus criou os alimentos
e o Diabo, os cozinheiros …
47
Quem perdeu a namorada,
não se queixe nem reclame:
Se não tem mais a que amava,
procure outra a quem ame.
48
Quero dizer-te um segredo
em uma linguagem louca:
não dê boca para ouvido,
mas de boca para boca....
49
Que teu amigo não entre
do teu lar na intimidade:
onde começa a mulher,
aí termina a amizade.
50
Quisera, sem ter morrido,
no éter viver disperso,
Eeser simplesmente o ouvido
que escuta a voz do Universo
51
Saudade, vaga presença,
coisa que bem não se explica:
algo de nós, que alguém leva...
algo de alguém, que nos fica.
52
Se quer cativar alguém,
use palavras de mel.
Que nem as moscas, ninguém
costuma gostar de fel…
53
Se solto alguma tolice,
eu mesmo, depois de tudo,
me envergonho do que disse,
melhor ter nascido mudo.
54
Tão doce é a prisão do amor
que, em vez de sentir saudade,
eu hoje lamento os dias
que passei em liberdade.
55
Tenho um punhado de netos
que acho o maior dos baratos:
São lindos quando estão quietos
e sorrindo nos retratos …
56
Toda a água que existia
sumiu dos sertões distantes,
para brotar, em seguida,
dos olhos dos retirantes!
57
Todo mundo quer ser nobre,
ter parentesco com os ricos.
Só um era irmão dos pobres:
chamava-se São Francisco.
58
Tu, ó Maria da Glória,
que tanta graça irradias,
mais que Maria da Glória,
és a glória das Marias!
59
Uma árvore longa e seca,
perdida no chapadão,
foi a imagem mais perfeita
que já vi da solidão.
60
Vieste, Felicidade;
mas, ai de mim, só agora
fiquei sabendo quem eras,
depois que te foste embora.
61
Vive o homem mergulhado
no trabalho, em louco afã ,
do céu deixando o cuidado
para o dia de amanhã.
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