sexta-feira, 28 de abril de 2017

Elbea Priscila de Souza e Silva


1
A banda toca um dobrado
e a multidão se eletriza,
mas mantém o olhar colado
no “shortinho” da baliza !
2
Adeus! A sentença triste
minha vida desalinha,
e a saudade, dedo em riste,
vem dizer que a culpa é minha!
3
A distância bem que tenta
retardar minha chegada,
e parece que acrescenta
mais quilômetros na estrada...
4
A escolha do par perfeito,
farei nesta... em qualquer vida,
ao resgatar de outro peito,
minha metade perdida!
5
Agitado ou não, valente,
radiante, às vezes sombrio,
tens por meta o sonho à frente:
- Coração... teu nome é rio!
6
A Humanidade atracada
ao seu orgulho e avareza
agride o meio e degrada
sua própria natureza...
7
Alegre, meiga, estouvada,
em constante movimento,
tão inconseqüente e amada,
a brisa é a infância do vento...
8
Ao redor deles se agrupam
o mundo, risos e achaques,
porém... relógios se ocupam
apenas de tique-taques...
9
Aquela amiga, a saudade,
ah, quantas vezes descarto,
pois, cheia de intimidade,
só quer dormir no meu quarto...
10
Aquele tomate ousado
diz à alface bem amada:
- Nosso encontro está marcado
às seis... na mesma salada!
11
Às suas falas dispense
o respeito mais profundo,
que o silêncio nos pertence
mas a palavra é do mundo.
12
A tristeza, sim, me arrasa...
expulsá-la de que jeito,
se é marca de ferro em brasa,
indelével no meu peito!?
13
Bem aqui na banda esquerda
do meu peito há uma inscrição:
"Cansado de tanta perda
foi-se embora um coração".
14
Com as palavras esgrima,
me estoca e brada: Touché!...
Astúcia é a matéria-prima
da qual emergiu você!
15
Com extrema sutileza,
vertendo mel nas amarras,
a sedução faz a presa
se aprazer em suas garras.
16
De assombração tenho medo,
da morte, então, quem não tem?
Vou te contar um segredo:
quando era vivo... eu, também!
17
Dispenso festas, mantenho
com elas pouca amizade,
pois quem tem o amor que eu tenho
só pensa em privacidade...
18
Do peito tranco o portão
por sofrer e em desagravo
penduro nele a inscrição:
- Cuidado! Coração bravo!!!
19
Ela passa se sorrio,
se choro vai, nem me vê:
desconfio que este rio
tem muito a ver com você!
20
Embora dela me esquive,
a saudade, tão ladina,
tem manhas de detetive
e me espreita em cada esquina...
21
Em meu peito, sorrateira,
a saudade se detém,
fincando a sua bandeira,
já que a terra é de ninguém !
22
É o trabalho um aliado
no caminho para a luz:
encare-o como um cajado,
jamais o transforme em cruz!
23
- Esta pimenta é de cheiro?
Pergunta com azedume,
e o garçom fala ligeiro:
- Se não é... boto perfume!!!
24
– Eu era um burro, doutor,
que pesadelo medonho!
E o médico, gozador:
- Tens certeza que era um sonho?...
25
Frio, cruel e arrogante,
O mal na discórdia aposta
e o mundo beligerante
Está "como o diabo gosta".
26
Gostosa! – diz, leviano.
- Ela é minha filha Ester…
- Perdão, é a outra, que engano!
- A outra é minha mulher.
27
- Homem que é homem dá duro,
procure um trabalho, diacho!
- Procurar até procuro,
mas, graças a Deus… não acho!
28
Já tive família e nome,
posição...luxo também,
mas, de mim fiz um pronome
indefinido: ninguém!
29
– Meu genro prêmios conquista
em nossa Feira Anual.
- Ele é grande pecuarista?
Não... um perfeito animal!
30
Minha angústia, aprisionada,
num grito agudo se solta
e um eco, só por caçoada,
traz-me esse grito de volta!
31
Minhas mágoas disciplino
com a força da oração:
tenho um médico divino
que jamais deixa o plantão!
32
Moleque feliz, sadio,
nadando em tua água fria,
acreditei, velho rio,
que eu nunca envelheceria...
33
Morre a sogra do Herculano,
e o mesmo, por prevenção,
para que não haja engano,
põe cadeado no caixão!
34
Na mais franca intimidade,
desta volúpia à mercê,
perdemos a identidade:
quem sou eu, quem é você?
35
Não me bastasse a poeirenta
e dura trilha que faço,
vem a saudade e acrescenta
mais um fardo em meu cansaço...
36
No meu Natal é rotina
deixar tudo no "capricho":
no peito faço faxina
e jogo as mágoas no lixo!
37
Nossa antiga foto presa
na moldura sem verniz
hoje é a única certeza
de que um dia eu fui feliz!
38
Numa visita diária
a um coração em carência,
a saudade solidária
tenta suprir tua ausência...
39
Num desabafo insincero,
chorando em teu ombro amigo,
digo coisas que não quero,
quero coisas que não digo…
40
Num minúsculo vestido,
samba e a galera faz festa
e Cornélio, seu marido
“dança” enquanto coça a testa!
41
O beijo da chuva fria
no chão, ressequido e ardente,
num milagre, propicia
o germinar da semente.
42
Pertenço a um tempo em que flores,       
donas de próprias linguagens,
apadrinhavam amores
com perfumadas mensagens...
43
Prantos, lamentos, gemidos...
ecos que vêm até nós...
são gritos dos excluídos
de que a dor é porta-voz!
44
Quando a natureza, insano,
degrada a seu bel-prazer,
o chamado ser humano
humano deixa de ser!
45
Quando a saudade aguilhoa
meu peito, a voz da razão
diz, baixinho: - Vai... perdoa...
Mas a altivez grita: -Não!
46
Quem criou a Natureza,
obra-prima de arte pura,
deixou que a mão da beleza
lhe forjasse a assinatura...
47
Quem da criança o labor
explora pela ganância
mistura amargo sabor
ao doce sabor da infância…
48
- Quem de astúcia é mais capaz?
Num concurso singular,
vence a mulher, Satanás
fica em segundo lugar!
49
Quem tem o regaço terno
de uma amizade sincera,
consegue sentir no inverno
ternuras de primavera…
50
Quero agarrar o presente,
mantê-lo à força, ao meu lado...
E ele se esvai... De repente,
presente já é passado!
51
Se a guerra foi declarada
e é poderoso o oponente,
faze da astúcia aliada,
que astúcia é força da mente!
52
Só tu, penumbra que invades
meu quarto, sem cerimônia,
sabes de quantas saudades
se compõe a minha insônia!
53
Tão comuns em nossa esfera
que aos tropeços se conduz,
trevas são salas de espera
onde aguardamos a luz!
54
Teu prato esfria na mesa,
olho o relógio, me apresso;
na varanda a luz acesa
espera, em vão, teu regresso...
55
Uma caixa de surpresas,
baú de contradições,
meu coração tem certezas
cercadas de indecisões
56
Vencido... todo humilhado,
meu coração se destranca
e entregando-se à saudade,
desfralda a bandeira branca!
57
Xeque-mate, sem saída,
me entrego, todo humildade,
se o tabuleiro é o da vida,
se o contendor é a saudade...

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