domingo, 9 de abril de 2017

Maria Madalena Ferreira


1
A gente não dá valor...
E a vida cobra, em verdade,
por um instante de amor,
muitas horas de saudade...
2
Algumas gotas de orvalho
e o sol da manhã radiosa
fazem de um simples cascalho
uma pedra preciosa!
3
A mais bela profecia
- o mistério mais profundo! -
se cumpriu, quando Maria
deu à luz a "luz do mundo"!
4
Após a noite chuvosa,
chora, triste, o Beija-flor,
ao contemplar sua Rosa...
–  despetalada e sem cor!...
5
Cansado, triste e carente,
meu coração é um mendigo,
buscando uma alma indulgente
que lhe conceda um abrigo.
6
- Cartas de amor! - andorinhas
riscando os céus, em vai-vem...
cruzando as saudades minhas
com as saudades de alguém!...
7
Chega ao fim a serenata...
E a Lua, mesmo cansada,
recolhe as taças de prata
das mesas da madrugada!
8
Da morte? - Sim, tenho medo,
mas temo mais pelo além...
- Esse insondável segredo
não revelado a ninguém!...
9
Da seiva da "Flor do Lácio',
tirou Caminha o matiz
com que escreveu o prefácio
da História deste País!
10
Desculpe, Amor, se me atraso
na volta ao lar... Acontece
que eu me perco, olhando o ocaso,
enquanto o sol adormece!!!
11
Desde já, meu filho, aprenda
que a vida é feito as aranhas:
disfarça em teias de renda
seus intentos e artimanhas!
12
Deus, em matéria singela,
ou seja: o barro do chão,
deu forma e vida à mais bela
das obras da Criação!
13
Dos amores infelizes
não guardo mágoa. - Em verdade,
se deixaram cicatrizes...
também deixaram saudade.
14
Eis o que resta, hoje em dia,
do que eu fui (triste verdade...):
um "fusquinha" de alegria
e um 'caminhão" de saudade!
15
Embora o dia me açoite
com seus barulhos brutais,
lá no silêncio da noite...
a solidão bate mais!...
16
É tanto, tanto, o chamego
da Maria Salomé,
que endoidece qualquer "nego"
com um simples cafuné!
17
Eu não quero despedidas
no momento em que eu morrer!
- Vou em busca de outras vidas,
onde eu possa renascer!
18
Faço tudo direitinho!
Sou “faxineira” das boas”
- Até – sobrando um tempinho...
– “limpo” as “pratas” das patroas…
19
Falassem os arvoredos...
e o mundo iria corar
ante os milhões de segredos
que o vento deixa, ao passar!...
20
Felicidade! – Eu te estudo
e não decifro a “charada”:
– Uns – infelizes com tudo…
– Outros – felizes sem nada!!!
21
Fito o espelho... e o que constato?
– Rugas... tristezas... enfim,
o verdadeiro retrato
do que a vida fez de mim!
22
Fugindo ao rol das “coroas”,
finjo ser “balzaquiana”...
- “MÁSCARA”... ENGANA AS PESSOAS!
Só que... o Tempo... não engana…
23
Moro sozinha... porém,
solidão não é castigo!
-- Se não falo com ninguém...
meu rádio fala comigo.
24
Mostrar-me um rumo é louvável,
porém, meus passos não tolhas!
Eu quero ser responsável
por minhas próprias escolhas!
25
Na caneca... o bom "verdinho"!
Caldo verde... sobre a mesa!
Pão à farta! E o meu ranchinho
é uma "casa portuguesa"!
26
Não fales mal da ilusão!
Mede as palavras que dizes!
- As ilusões são o pão
das almas dos infelizes!
27
Meu barco – velho e sem lastro –
 não sobe nem mansos rios!...
- Murcha a vela... entorta o mastro...
 (E eu, na rede... “a ver navios”...)
28
Na rebeldia da infância
não basta agir com rigor:
precisa haver tolerância,
bom exemplo e... muito amor!
29
Nenhum ourives se atreve
a imitar - nem de arremedo -
as filigranas de neve
dos galhos nus do arvoredo!
30
No meu peito há tanta mágoa
que não seria surpresa
se uma simples gota d’água
eclodisse em correnteza!
31
Olho a praça abandonada
e me ponho a imaginar
uma saudade sentada
sem ter com quem conversar!...
32
Para este amor, que a nós dois
tomou – assim de improviso –,
não houve “antes” nem “depois”;
houve o “momento preciso”!
33
Perco a conta das pegadas
dos sonhos que vão passando,
nas eternas madrugadas
em que fico te esperando!
34
Portugal, jamais me escondas
qualquer chance – por mais rara –
de eu tentar rasgar as ondas
deste mar que nos separa!
35
Portugal, reafirma os laços
do teu amor mais profundo:
toma o Brasil em teus braços
e mostra teu filho ao mundo!
36
Pressenti, desde o começo,
- insensatez de te amar -
que esta saudade era o preço
que eu teria que pagar!...
37
Qual foi a forma?! – Define-a!,
pois, mesmo sem transfusão,
pela corrente sanguínea
entraste em meu coração!
38
Quem quiser ter livre acesso
ao peito de um sonhador
basta trazer como ingresso
um bilhetinho de amor!
39
Que eu sou pobre... ninguém diz!
Passo alegre os dias meus!
- Não tenho “bens de raiz”,
mas... tenho as bênçãos de Deus!!!
40
Quisera ser um mecenas,
Mas, sem dinheiro ou valia,
serei "defensor", apenas,
dos Amantes da Poesia!…
41
Razão de minha altivez;
meu orgulho mais profundo:
- Ouvir falar "português"
nos quatro cantos do mundo!
42
Recebo a idade com calma,
para evitar que o desgosto
ponha rugas em minha alma,
como já pôs no meu rosto!
43
São: - minha face enrugada
e a cabeça embranquecida,
máscara velha... – surrada
pelas “folias’ da Vida!…
44
Sou culpada, sim senhor!
Porém não peço perdão!
Porque... pecados de amor...
não merecem punição!
45
Sou "mãe branca" de uma vida,
por um milagre, entre mil,
da Senhora Aparecida!
- A Mãe Preta do Brasil!
46
Sou seresteiro perfeito!
Pois, até meu coração
se amoldou, dentro do peito,
à forma de um violão!
47
Sou um "bígamo" perfeito!
Mas... não me inveje! Em verdade,
são parceiras no meu leito
a solidão e a saudade!...
48
Triste e só, no meu fadário,
amargando a tua ausência,
sou um banco solitário
numa praça em decadência!...
49
Vives só me provocando!
Depois eu é que me enrasco!
- Vou mesmo acabar virando...
“espeto” do teu churrasco!
50
Volta o barco... e o pescador
- após a noite em vigília -
exibe, em gestos de amor,
o sustento da família!
51
Zune o vento – na janela...
Zumbe a abelha – no jardim...
Zarpa a nau – rumo à procela...
- Zomba a saudade... de mim!...

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