quinta-feira, 6 de abril de 2017

Milton Nunes Loureiro (1923 - 2011)


1
A bebida que me invade,
parecendo não ter fim,
é a tristeza de uma grade
que se fecha dentro em mim...
2
A ciência me conduz
a pensar desta maneira:
do excesso, às vezes, de luz,
pode nascer a cegueira...
3
Amanhã... Depois... Depois...
Foi assim a vida inteira...
E entre os sonhos de nós dois,
a intransponível fronteira...
4
A penumbra que me invade
e que nunca chega ao fim,
é a janela da saudade
fechada dentro de mim...
5
Apesar dos solavancos
em minha vida sem cor,
adornei, com lírios brancos,
nossos segundos de amor...
6
A tristeza que me invade
e que nunca chega ao fim,
é a esquina de uma saudade
que eu dobro dentro de mim...
7
A tristeza que me invade
e que nunca chega ao fim,
é uma história de saudade
que existe dentro de mim...
8
A tristeza que me invade,
parecendo não ter fim,
é o cantar de uma saudade
que eu ouço dentro de mim...
9
A tristeza que me invade,
parecendo não ter fim,
é um passado de saudade,
que chora dentro de mim...
10
A vida às vezes revela
certos contrastes assim:
eu – enredado por ela;
e ela – a tramar contra mim!
11
Chegaste, os braços abertos
após as tuas andanças
E trouxeste aos meus desertos
mil motivos de esperanças...
12
Chegaste, os braços abertos,
tranquila... em tuas andanças,
e plantaste em meus desertos
mil sementes de esperanças...
13
De tanto sofrer na vida,
eu peço a Deus, sem revolta:
- Abra as porteiras da ida,
feche as porteiras da volta!...
14
Do poder tens o infinito,
à fortuna tens direito,
mas não sufoques o grito
do amor que vive em teu peito...
15
Embora colhendo espinhos
em meu viver malogrado,
semeio pelos caminhos
bem-me-quer por todo lado...
16
Embora sempre tristonhos,
são os teus olhos, querida,
dois candelabros de sonhos
pondo luz em minha vida.
17
Encerrando a caminhada
que anuncia o fim da vida,
corajoso na escalada,
tenho medo da descida...
18
Enquanto a noite vagueia
pela minha solidão,
a distância mais ateia
o fogo desta paixão...
19
Entardece e a caminhada
leva ao outono da vida…
Se a subida é quase nada,
é dolorosa a descida!…
20
Entre caminhos, frementes,
os meus lábios, em volteios,
dançam valsas diferentes
na vereda dos teus seios...
21
Esperança, não me peças
que acredite em tuas juras...
Já me cansei de promessas
e me perdi nas procuras...
22
Essa angústia que me invade,
parecendo não ter fim,
é a triste rua-saudade,
que chora dentro de mim...
23
Esta carta que ora mando
a você, com muita ânsia.
é a saudade soluçando
sobre os trilhos da distância.
24
Esta cautela, querida,
que persiste entre nós dois,
dá mais vida à nossa vida
e mais crença no “depois” ...
25
Esta pergunta te faço,
meu coração sonhador:
- se possuis tão pouco espaço,
como guardas tanto amor?...
26
Eu não entendo, Senhor,
a diferença das ruas:
- Umas, repletas de amor,..
outras, de amor, sempre nuas.
27
Eu não sei, meu Deus, por que,
tendo a vida em desalinho,
encontro sempre você
ao longo do meu caminho.
28
Fronteira é a mais desumana
das humanas criações:
desiguala e desirmana
homens de iguais corações!
29
Imagens difusas... Sonho
irrealizado, sofrido,
que eu componho e recomponho
na dor de te haver perdido...
30
Liberta este amor profundo
dos grilhões dos teus desertos,
que o maior Homem do mundo
morreu de braços abertos.
31
Não quero o poder que esmaga
o sonho com seu furor..
Eu quero o poder que afaga
nossos momentos de amor ...
32
Neste mundo passageiro,
a vida, que vai fluindo,
é um intervalo ligeiro,
dois silêncios dividindo...
33
No amor é bom ter cuidados
para evitar dissabor...
Nem sempre em beijos trocados
trocam-se beijos de amor.
34
O amanhã, que importa agora?
Que nos importa o depois?...
Vamos viver, vida afora,
o imenso amor de nós dois!...
35
O poeta em sua lida,
ainda que o mundo o afronte,
nos devaneios da vida
vai muito além do horizonte...
36
O poeta em sua lida,
ainda que o mundo o afronte,
tem sempre o aceno da vida,
que o leva além do horizonte...
37
O poeta em sua lida,
ainda que o mundo o afronte,
tem sempre um sopro de vida
que o leva além do horizonte...
38
O poeta em sua lida,
ainda que o mundo o afronte,
vence as distâncias da vida
e vai além... do horizonte...
39
O tormento que me invade,
parecendo não ter fim,
é o sininho da saudade,
que plange dentro de mim!
40
Primaveris e frementes
os meus lábios, em volteios,
trocam passos diferentes
sob o manto dos teus seios...
41
Profano, sem horizonte,
caminho, sedento e triste,
à procura de uma fonte
que eu nem mesmo sei se existe...
42
Sem direito de sonhar,
vagando no mundo, a esmo,
nem sequer pude marcar
encontro comigo mesmo!
43
Sem jamais fazer menção
ao destino que a conduz,
a raiz, na escuridão,
mantém os ramos na luz!...
44
Senhor, escuta os cicios
dos excluídos, sem teto...
Troca seus ninhos vazios
por ninhos cheios de afeto!
45
Se o meu tempo está marcado
e da saudade eu disponho,
invento alguém ao meu lado,
cerro meus olhos e sonho...
46
Somente tristes lembranças
vão comigo pela estrada...
Eu, que plantei esperanças,
colho derrotas... mais nada...
47
Talvez exista, suponho,
no pensar que em mim se espalma,
razões para achar que o sonho
é sempre o cinema da alma.
48
Tanta ternura mostrando,
teus olhos – juro por Deus –
são mil promessas bailando
na valsa do nosso adeus...
49
Tarde demais...e as lembranças
vão comigo pela estrada...
eu que plantei esperanças
vivo de sonhos... mais nada...
50
Teu poder de sedução
e a magia dos teus braços,
levam minha solidão
a percorrer os teus passos ...
51
Todas as pedras, querida,
que a vida atira em nós dois,
dão mais vida à nossa vida
e mais crença no "depois"...
52
Uma verdade patente,
que não tem contestação:
abrir ESCOLA é semente
que fecha muita prisão.

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